Oliver se encontrava em sua sala enorme e aconchegante. Os documentos a frente indicavam que ele tinha trabalho a fazer, e mesmo assim não conseguia se concentrar; viajava mais e mais nos momentos felizes que já tivera com a esposa. Por anos, eles tiveram uma vida feliz apesar das pequenas e bobas discussões. Jamais se imaginou em um momento tão horrível com a mulher que amava. E isso o fez pensar no bebê que nasceria em alguns dias se não estivesse morto. Ele sentia raiva por ter acontecido aquele aborto, sentia raiva por não conseguir nem mesmo adentrar o quarto no qual foi feito com todo carinho para a criança dele e de Felicity, sentia raiva por não conseguir se controlar e acabar brigando com a esposa ao chegar em casa e ouvir todos os insultos que ela tinha para lhe dizer. E a última havia sido a pior. Ela havia o acusado de ter sido o culpado pela perda do bebê deles; ele não estava na cidade no dia e ela esteve por quase cinco dias, sozinha, por conta de uma conferência importante na qual ele tinha de estar. E ouvir aquelas palavras o machucou tanto, que pela primeira vez não gritou de volta com palavras grosseiras, apenas a olhou cheio de mágoa e raiva após dizer palavras cheia de dor, e a deixou sozinha na sala, adentrando seu quarto, tomando um longo banho e caminhando para um dos quartos de hóspedes daquele seu lado da casa; desde que tudo aconteceu ele ficava com o corredor no qual ficava o quarto de e da esposa e ela ficava com o corredor no qual ficava o quarto do bebê deles, porque ela era a única que conseguia adentrar aquele lugar. Não se falaram por dois dias, nem mesmo se olharam, e se perguntou se aquele dia seria diferente. Pedia internamente que ela estivesse dormindo para que não brigassem novamente; toda aquela situação estava o machucando demais.
Oliver havia conversado com o irmão sobre a situação que estava passando com a esposa. Ele tinha Thomy como um conselheiro. Sempre havia sido assim, desde bem pequeno, principalmente porque seu pai viajava muito, então não tinham um laço tão forte como tinha com o avô, mas isso não o fazia ter raiva de Nathaniel Barbieri, muito menos remorso. O irmão mais velho havia dito que ele precisava se sentar com Felicity e conversar, dialogar, sem brigas, sem acusações, sem olhares raivosos, e o mais novo sabia que o irmão estava certo, só não conseguia fazer isso quando ela começava com as discussões. Ele não compreendia como uma perda de bebê, que deveria unir um casal que se ama, estava era separando. Havia acontecido com o primeiro herdeiro de seu irmão. Era um menino e havia nascido com OI – Osteogénese Imperfeita. Havia sido horrível. Viu sua cunhada e seu irmão sofrerem por ter de antecipar o parto aos cinco meses e meio de gestação, a viu segurar seu garotinho, lhe dar um nome enquanto era abraçada pelo marido e vê-lo partir. Ela ficou depressiva após isso, e Thomy esteve ao seu lado o tempo todo, até mesmo nos dias nos quais a amada havia sido internada por conta da situação tensa. Lembrava-se do primeiro dia no qual sua cunhada ficou internada. Seu irmão quebrou tudo que se encontrava em seu escritório que ficava em casa, e o tempo todo, Oliver esteve ao seu lado; não disse uma palavra, apenas estava ali para o que ele precisasse. E mesmo com tudo isso, marido e mulher conseguiram superar, conseguiram se apoiar, e agora eles tinham uma linda garotinha de três anos e prestes a ter outra.
E infelizmente Oliver sentia uma pontinha de ciúmes.
E ao mesmo tempo, se recriminava por isso, se culpava por sentir-se assim, porque era seu irmão, e não deveria estar sentindo ciúmes e inveja de seu amado irmão.
Não conseguia deixar de se recriminar, e ao mesmo tempo, se sentir no direito de ter sentimentos como aquele. Estava cansado. Chateado. Não era assim que ele imaginou sua vida. Não depois de descobrir estar apaixonado completamente por Felicity. Nunca nem tinha a visto de qualquer forma, afinal, nem como uma amiga. Eles apenas tinham amigos em comum. Não conversavam, não saíam... Não até ela pasar mal. Se lembrava de como foi descobrir que ela tinha sofrido um acidente anos atrás. Quando só ela sobreviveu. Se lembrava de como se sentiu penalizado, mesmo sem ser muito próximo a ela. Se lembrava de como começou a observá-la sempre que estavam todos os amigos reunidos. Se sentia confuso por estar preocupado com ela. E ao mesmo tempo, se negava a ficar muito próximo, porque sabia que poderia criar sentimentos que ele tanto se negava a ter. E a culpa era de uma única garota. Eles tinham quase dezesseis, e ele estava mesmo apaixonado. Ou achou que estava. Bem, foi duro pegá-la na cama com outro. Ou descobrir que aquela não tinha sido a primeira vez. Ou o único cara. Ele realmente se fechou por causa dela. Pelo que ela fez. Se ela não se sentia como ele, então por qual motivo continuava em um relacionamento sério com ele? E ele percebeu, que o motivo, era ele ser um Barbiere. Era sempre esse o motivo das pessoas se aproximarem dele. Ele era filho de um homem poderoso, afinal. Mesmo assim, ele conseguiu se sentir apaixonado novamente. E só após uma conversa sincera com seu melhor amigo e seu único irmão, percebeu que não devia se esconder daqueles sentimentos ou ignorá-los, apenas por estar com medo de ser traído novamente. E por isso confessou a ela. Felicity. Disse que a amava, e então começaram a namorar, noivaram, se casaram... e anos depois...
Bem, ele não queria pensar no "anos depois". Porque "anos depois" aconteceu a pior tragédia que poderia acontecer. Eles, que eram tão felizes. Eles, que confiavam um no outro, e que se amavam tanto. Eles, que tinham uma vida tão perfeita...
Era doloroso pensar na vida que poderiam estar tendo se não fosse por aquela m*****a tragédia que ocorreu com eles. E injusto estar vivendo daquela forma com alguém que ele tanto amava. Sim, apesar de tudo, ele a amava demais. Estava sendo complicado estar ao lado dela, mas sentia sua falta quando não estava. E sentia saudades dos sorrisos e dos abraços calorosos. E dos beijos. Desde que tudo aconteceu, ele não a tocava. Ou dormia ao lado dela. Ela não deixava. Era só brigas. E discussões. E gritos. E isso era muito cansativo. Principalmente quando odiava olhar para ela e sentir que ela parecia mesmo odiá-lo.
Se jogou na cadeira aconchegante e chutou a mesa, fazendo com que sua carteira, que se encontrava em cima da mesma caísse no chão, aberta. E então ele encontrou a primeira ultrassom; Felicity estava completando o segundo mês. Estavam tão felizes. Pegou a mesma, devagar, como se temesse tomar aquele papel entre as mãos e sentir uma angústia jamais sentida antes, a não ser quando soube da perda do bebê. E foi o que aconteceu. Mas mais que isso, ele sentiu raiva. Trincou os dentes, apertou o papel entre os dedos, mas sem amassar, e então olhou para o teto.
— Por que? – Perguntou em sussurro. – Pode me responder por que fez isso? Por que tirou de mim e de minha esposa esse filho? – Sua voz passou a ficar mais alterada, mas ele não gritava. – Você diz que casamento é para sempre, diz que família é importante, e você nos tira o que tínhamos de mais valioso. – Seu corpo inteiro tremia. – Por que?! – Sua voz acabou ficando mais alta do que deveria, mas ele não se importou.
— Oliver.
E então ele levou um susto ao ouvir uma voz o chamando. Em um momento estava esbravejando com Deus, pedindo por respostas, e então alguém o chama, do nada. Olhou para a porta e encontrou a pessoa na qual havia o atrapalhado.
— Você está bem? E ele sentiu raiva ao ouvir aquela pergunta. — O que você acha, Liam? Acabou sendo grosso, mas não era sua intenção, e por isso suspirou. — O que você quer? – Perguntou, mais calmo. Liam pensou duas vezes antes de dizer o que foi fazer ali. Principalmente quando tinha percebido que o amigo não estava bem. O que não era uma grande surpresa. Isso vinha sendo rotineiro. Ele nunca chegava com um sorriso, mesmo que pequeno, nos lábios. Desde que perdeu a filha, ele vinha se estressando mais fácil. E não tinha paciência com ninguém, nem com os amigos, ainda que fizesse todo o esforço do mundo para não jogar sobre os ombros dele, uma culpa que eles não tinham. E os amigos o compreendiam. Apenas isso. Sabiam que ele estava passando por momentos difíceis e precisava de tempo. E de apoio. Sobretudo apoio, porque infelizmente, isso ele não vinha tendo em casa. — Eu estou com seus clientes. O moreno suspirou, bagunçando os cabelos. — Olha, eu cuido disso se quiser. Se
A coisa mais difícil foi chegar em casa. Havia dado algumas voltas pela cidade, tentando encontrar coragem para voltar para casa. Depois de uma conversa que teve com seu primo após despertar de um sono muito bom, diga-se de passagem, percebeu que o melhor a se fazer era tirar um tempo a mais por ali. Quando despertou a refeição estava pronta. Théo era daqueles que gostava de aconselhar as pessoas. E por isso Oliver gostava de conversar com ele. Principalmente quando tudo que ele mais precisava no momento, era de conselhos. Eles conversaram – ele mais que o primo –, jogaram videogame – ideia para que ele não ficasse pensando o tempo todo em seus problemas com a esposa –, e então, descansou mais um pouco. Já passava das 19h quando saiu da casa de Théo, agradecendo por tudo, e quando percebeu, estava dando voltas pela cidade, temendo, pela primeira vez, por algo em sua vida. Não queria estar em casa, muito menos quando sabia que sua esposa estava acordada. Ela odiava estar sozinha, mas o
Oliver saiu do banheiro apenas de toalha, encontrando sua esposa no closet deles ao seguir até lá para pegar uma roupa para dormir. Confortável, já que não se sentia confortável dentro de sua própria casa. Ou quarto. Ou cama. Ao menos a roupa deveria fazê-lo se sentir confortável, afinal. E de repente, antes que pudesse dar algum passo em direção a seu lado do closet, onde se encontravam suas roupas, ouviu um “achei”. Ficou curioso para saber o que ela finalmente havia encontrado. E se recriminou por isso. Nas mãos de Felicity havia uma caixinha na qual havia um colar lindo de ouro branco; havia mandado fazer quando soube que teriam uma menina. Engoliu em seco ao ler o nome na joia. “Lívia” — Por que está pegando isso? Seus olhos finalmente se encontraram, após encontrar sua voz novamente. — É da minha filha. — Nossa filha. – Retrucou. — Eu vou deixar junto de suas coisinhas no quarto. – Respondeu, andando para longe do marido. – Ela vai gostar de ver isso junto aos seus outros
Felicity não soube por quanto tempo ficou deitada de lado, na cama macia, com ambas as mãos abaixo da orelha e os olhos totalmente abertos. Ela não enxergava nada naquele momento, não estava naquele plano, e mesmo assim, podia sentir as lágrimas descendo por seu rosto. Ela não sabia que ainda tinha lágrimas, não quando havia chorado por dias e mais dias, incansavelmente, mas ali estavam elas enquanto pensava em sua filhinha. Tocou a barriga plana, fechando as mãos em cima dela, imaginando como seria se ela ainda estivesse ali. Provavelmente sua vida e a de seu marido não estaria desmoronando da forma como estava. Brigavam todos os dias, e ela sabia que era sua culpa. Mas ela não conseguia se controlar, nem com as palavras, nem com os sentimentos. Estava com raiva. E descontava no único que não tinha culpa. Sua mente sabia que ele não tinha culpa, mas seu coração, ele o culpava todos os dias por não estar junto dela quando escorregou em uma poça d’água no chão da cozinha enquanto lavav
Pelos príximos dias, Oliver aparecia apenas para ver como ela estava, e sempre quando ela estava dormindo. Não queria mais brigas. A observava por horas, e saia de mansinho, querendo evitar que ela percebesse sua presença de alguma forma. Não queria desistir dela. Não queria deixá-la sozinha naquela casa. Mas estava quebrado. Precisava de alguma forma se recuperar ao menos um pouco. Aquela casa, aquela situação, aquelas lembranças, faziam um mal a ele, que ele não conseguia nem sequer imaginar o quanto. Mas podia sentir. Ele não queria causar mais dor em si ou na esposa, então achou melhor dar um tempo de tudo. Théo o recebeu de braços abertos e ele era muito grato. Se não fosse por ele, estaria... em um hotel. Irritantemente sozinho. E mesmo que fosse bom estar sozinho de vez em quando, ainda assim, sentia a necessidade de ter com quem conversar. Liam quase não acreditou quando soube. E mesmo que não estivesse de acordo, não disse uma palavra, e Oliver foi grato também por isso. Não
Oliver soube que havia algo de errado no instante em que não a encontrou na cozinha, como sempre, fazendo seus bolinhos, cookies ou seja lá o que fosse que não a deixasse agitada por todo o dia. Era cedo, mas nem tão cedo, e por isso imaginou que a encontraria ali, na cozinha, cozinhando, que era o que ela fazia quando estava com a cabeça cheia. Mas não foi o que encontrou ao entrar em casa. Tudo estava escuro quando subiu as escadas, e foi isso que o fez ficar em alerta pela primeira vez. Estranhou quando não ouviu seus passos ou mesmo seus sussurros; porque ela havia passado a falar sozinha desde que tudo aconteceu. Por um momento imaginou que sua esposa estivesse dormindo, mas passava das 8h e ela ainda não havia se levantado, então era impossível. Havia tido uma noite ruim e acabou se atrasando para o trabalho, mas nem por isso deixou de passar ali para vê-la. Ainda que soubesse que a encontraria desperta. Pela primeira vez em dias. Vários dias. Quinze, para ser mais exato. Seguiu
Oliver estava naquela sala de espera, angustiado, esperando por uma notícia e que ela fosse boa. Após chegar com sua esposa em seus braços, gritando desesperado por ajuda, trouxeram uma maca e a levaram, mas aquele não era o hospital no qual trabalhava Agatha Villela, a médica na qual era a chefe dos residentes sua esposa trabalha — a mesma na qual havia sido de sua esposa em sua residência no hospital Villela —, e por isso ligou para a mulher loira, pedindo para que ela comparecesse e cuidasse de Felicity. Sabia que ela era a melhor e naquele momento ele precisava da melhor. Sentia-se um pouco culpado; talvez, se não tivesse dito todas aquelas coisas, ela não tivesse feito o que fez. Ele só pensava na angústia que foi encontrá-la com o pulso fraco, completamente desmaiada sobre a cama, com aquele vidro com poucos comprimidos dentro. Quantos ela havia tomado? Por que ela faria isso sabendo o quanto era perigoso? No que ela estava pensando... E Oliver, que andava de um lado par
E então, após dizer o nome, desligou. Seus amigos também deveriam saber, mas não conseguiria ligar para mais alguém e falar com sua própria boca, então abriu o WhatsApp, abriu o grupo no qual estavam todos os seus amigos, inclusive sua esposa, e digitou rapidamente onde estava, o que havia acontecido, contou que não sabia nada de Felicity ainda e pediu para que não comparecessem, pois seria muito tumultuado; ele não conseguiria suportar naquele momento de tensão, mesmo que soubesse que os amigos seriam gentis. Prometeu notícias e então desligou a tela, dando um longo suspiro em seguida. Tinha medo do que ouviria dos médicos, mas precisava acreditar de que ela ficaria bem – do que aconteceu a pouco, claro, afinal, ela não estava bem emocionalmente e nem sabia se ficaria se não aceitasse ajuda. Não demorou muito para que seu irmão chegasse. Ele sentou-se ao seu lado e ouviu atentamente a tudo que havia acontecido, e assim como imaginou, ouviu que não era sua culpa. Thomy estava sempre