Capítulo 3

Oliver se encontrava em sua sala enorme e aconchegante. Os documentos a frente indicavam que ele tinha trabalho a fazer, e mesmo assim não conseguia se concentrar; viajava mais e mais nos momentos felizes que já tivera com a esposa. Por anos, eles tiveram uma vida feliz apesar das pequenas e bobas discussões. Jamais se imaginou em um momento tão horrível com a mulher que amava. E isso o fez pensar no bebê que nasceria em alguns dias se não estivesse morto. Ele sentia raiva por ter acontecido aquele aborto, sentia raiva por não conseguir nem mesmo adentrar o quarto no qual foi feito com todo carinho para a criança dele e de Felicity, sentia raiva por não conseguir se controlar e acabar brigando com a esposa ao chegar em casa e ouvir todos os insultos que ela tinha para lhe dizer. E a última havia sido a pior. Ela havia o acusado de ter sido o culpado pela perda do bebê deles; ele não estava na cidade no dia e ela esteve por quase cinco dias, sozinha, por conta de uma conferência importante na qual ele tinha de estar. E ouvir aquelas palavras o machucou tanto, que pela primeira vez não gritou de volta com palavras grosseiras, apenas a olhou cheio de mágoa e raiva após dizer palavras cheia de dor, e a deixou sozinha na sala, adentrando seu quarto, tomando um longo banho e caminhando para um dos quartos de hóspedes daquele seu lado da casa; desde que tudo aconteceu ele ficava com o corredor no qual ficava o quarto de e da esposa e ela ficava com o corredor no qual ficava o quarto do bebê deles, porque ela era a única que conseguia adentrar aquele lugar. Não se falaram por dois dias, nem mesmo se olharam, e se perguntou se aquele dia seria diferente. Pedia internamente que ela estivesse dormindo para que não brigassem novamente; toda aquela situação estava o machucando demais. 

Oliver havia conversado com o irmão sobre a situação que estava passando com a esposa. Ele tinha Thomy como um conselheiro. Sempre havia sido assim, desde bem pequeno, principalmente porque seu pai viajava muito, então não tinham um laço tão forte como tinha com o avô, mas isso não o fazia ter raiva de Nathaniel Barbieri, muito menos remorso. O irmão mais velho havia dito que ele precisava se sentar com Felicity e conversar, dialogar, sem brigas, sem acusações, sem olhares raivosos, e o mais novo sabia que o irmão estava certo, só não conseguia fazer isso quando ela começava com as discussões. Ele não compreendia como uma perda de bebê, que deveria unir um casal que se ama, estava era separando. Havia acontecido com o primeiro herdeiro de seu irmão. Era um menino e havia nascido com OI – Osteogénese Imperfeita. Havia sido horrível. Viu sua cunhada e seu irmão sofrerem por ter de antecipar o parto aos cinco meses e meio de gestação, a viu segurar seu garotinho, lhe dar um nome enquanto era abraçada pelo marido e vê-lo partir. Ela ficou depressiva após isso, e Thomy esteve ao seu lado o tempo todo, até mesmo nos dias nos quais a amada havia sido internada por conta da situação tensa. Lembrava-se do primeiro dia no qual sua cunhada ficou internada. Seu irmão quebrou tudo que se encontrava em seu escritório que ficava em casa, e o tempo todo, Oliver esteve ao seu lado; não disse uma palavra, apenas estava ali para o que ele precisasse. E mesmo com tudo isso, marido e mulher conseguiram superar, conseguiram se apoiar, e agora eles tinham uma linda garotinha de três anos e prestes a ter outra.

E infelizmente Oliver sentia uma pontinha de ciúmes.

E ao mesmo tempo, se recriminava por isso, se culpava por sentir-se assim, porque era seu irmão, e não deveria estar sentindo ciúmes e inveja de seu amado irmão.

Não conseguia deixar de se recriminar, e ao mesmo tempo, se sentir no direito de ter sentimentos como aquele. Estava cansado. Chateado. Não era assim que ele imaginou sua vida. Não depois de descobrir estar apaixonado completamente por Felicity. Nunca nem tinha a visto de qualquer forma, afinal, nem como uma amiga. Eles apenas tinham amigos em comum. Não conversavam, não saíam... Não até ela pasar mal. Se lembrava de como foi descobrir que ela tinha sofrido um acidente anos atrás. Quando só ela sobreviveu. Se lembrava de como se sentiu penalizado, mesmo sem ser muito próximo a ela. Se lembrava de como começou a observá-la sempre que estavam todos os amigos reunidos. Se sentia confuso por estar preocupado com ela. E ao mesmo tempo, se negava a ficar muito próximo, porque sabia que poderia criar sentimentos que ele tanto se negava a ter. E a culpa era de uma única garota. Eles tinham quase dezesseis, e ele estava mesmo apaixonado. Ou achou que estava. Bem, foi duro pegá-la na cama com outro. Ou descobrir que aquela não tinha sido a primeira vez. Ou o único cara. Ele realmente se fechou por causa dela. Pelo que ela fez. Se ela não se sentia como ele, então por qual motivo continuava em um relacionamento sério com ele? E ele percebeu, que o motivo, era ele ser um Barbiere. Era sempre esse o motivo das pessoas se aproximarem dele. Ele era filho de um homem poderoso, afinal. Mesmo assim, ele conseguiu se sentir apaixonado novamente. E só após uma conversa sincera com seu melhor amigo e seu único irmão, percebeu que não devia se esconder daqueles sentimentos ou ignorá-los, apenas por estar com medo de ser traído novamente. E por isso confessou a ela. Felicity. Disse que a amava, e então começaram a namorar, noivaram, se casaram... e anos depois...

Bem, ele não queria pensar no "anos depois". Porque "anos depois" aconteceu a pior tragédia que poderia acontecer. Eles, que eram tão felizes. Eles, que confiavam um no outro, e que se amavam tanto. Eles, que tinham uma vida tão perfeita... 

Era doloroso pensar na vida que poderiam estar tendo se não fosse por aquela m*****a tragédia que ocorreu com eles. E injusto estar vivendo daquela forma com alguém que ele tanto amava. Sim, apesar de tudo, ele a amava demais. Estava sendo complicado estar ao lado dela, mas sentia sua falta quando não estava. E sentia saudades dos sorrisos e dos abraços calorosos. E dos beijos. Desde que tudo aconteceu, ele não a tocava. Ou dormia ao lado dela. Ela não deixava. Era só brigas. E discussões. E gritos. E isso era muito cansativo. Principalmente quando odiava olhar para ela e sentir que ela parecia mesmo odiá-lo.

Se jogou na cadeira aconchegante e chutou a mesa, fazendo com que sua carteira, que se encontrava em cima da mesma caísse no chão, aberta. E então ele encontrou a primeira ultrassom; Felicity estava completando o segundo mês. Estavam tão felizes. Pegou a mesma, devagar, como se temesse tomar aquele papel entre as mãos e sentir uma angústia jamais sentida antes, a não ser quando soube da perda do bebê. E foi o que aconteceu. Mas mais que isso, ele sentiu raiva. Trincou os dentes, apertou o papel entre os dedos, mas sem amassar, e então olhou para o teto. 

— Por que? – Perguntou em sussurro. – Pode me responder por que fez isso? Por que tirou de mim e de minha esposa esse filho? – Sua voz passou a ficar mais alterada, mas ele não gritava. – Você diz que casamento é para sempre, diz que família é importante, e você nos tira o que tínhamos de mais valioso. – Seu corpo inteiro tremia. – Por que?! – Sua voz acabou ficando mais alta do que deveria, mas ele não se importou.

— Oliver. 

E então ele levou um susto ao ouvir uma voz o chamando. Em um momento estava esbravejando com Deus, pedindo por respostas, e então alguém o chama, do nada. Olhou para a porta e encontrou a pessoa na qual havia o atrapalhado. 

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