Capítulo 5

A coisa mais difícil foi chegar em casa. Havia dado algumas voltas pela cidade, tentando encontrar coragem para voltar para casa. Depois de uma conversa que teve com seu primo após despertar de um sono muito bom, diga-se de passagem, percebeu que o melhor a se fazer era tirar um tempo a mais por ali. Quando despertou a refeição estava pronta. Théo era daqueles que gostava de aconselhar as pessoas. E por isso Oliver gostava de conversar com ele. Principalmente quando tudo que ele mais precisava no momento, era de conselhos. Eles conversaram – ele mais que o primo –, jogaram videogame – ideia para que ele não ficasse pensando o tempo todo em seus problemas com a esposa –, e então, descansou mais um pouco. Já passava das 19h quando saiu da casa de Théo, agradecendo por tudo, e quando percebeu, estava dando voltas pela cidade, temendo, pela primeira vez, por algo em sua vida. Não queria estar em casa, muito menos quando sabia que sua esposa estava acordada. Ela odiava estar sozinha, mas odiava ainda mais quando ele chegava tarde em casa. Na verdade, tudo era motivo para briga. Ele chegava tarde, brigavam, ele chegava cedo, brigavam, e piorava quando ele não fazia seus afazeres de casa. E naquele dia, ele tinha uma louça para lavar na qual provavelmente já estaria nos armários.

Depois de umas boas duas horas vagando pela cidade, finalmente decidiu ir para casa. Sua casa. Se é que podia chamar ela de sua ainda. Deixou o carro no estacionamento, o travou após sair e seguiu até a porta, de forma tão lenta, que ele nem mesmo percebia. Girou a chave e bem devagar, para não fazer barulho, entrou em casa. Seguiu pelo corredor extenso após fechar a porta, retirando os sapatos no meio do caminho, pegando-os com a mão livre. Deixou sua maleta em cima da poltrona, após a luz – na qual acendia quando percebia a presença de alguém –, acender, deu um longo suspiro e então começou a subir as escadas. Ao chegar ao topo, olhou para o outro corredor, se perguntando se “ela” estava dormindo. Suspirou mais uma vez e seguiu para o próprio quarto. De repente ouviu um som irritante, e mais outro e outro, e só soube o que era quando se aproximou de seu quarto. Adentrou encontrando sua esposa, abrindo as gavetas da mesa de cabeceira, parecendo procurar por algo.

— Felicity?

Ela o olhou de soslaio.

— Uau! Um record, você não chegou após as onze. 

Ele revirou os olhos, seguindo até sua cama, sentando-se nela.

— O que está procurando?

— Como se realmente se importasse. 

Ele a olhou, pronto para retrucar, mas então ouviu as palavras de seu melhor amigo em sua mente, e então respirou fundo.

— Talvez eu possa ajudar.

— Não quero sua ajuda. 

Fechou os olhos e balançou a cabeça.

Se controle, se controle, diz mentalmente, várias e várias vezes a si mesmo.

— Eu vou tomar um banho. – Diz para si, seguindo até o cômodo a frente, ainda ouvindo o som irritante de abrir e fechar gavetas. 

Oliver passou alguns minutos debaixo daquela água deliciosa; ela tocava seus ombros, suas costas, seu peito, seus cabelos, seu rosto, e de olhos fechados, ele se tentava se concentrar apenas naquela sensação, mas ficava um pouco impossível quando o som de antes, o som de quando entrou em quarto continuava a acontecer. Se ela dissesse o que procurava, se ela pelo menos perguntasse onde estava seja lá o que ela procurava, poderia acabar logo com aquela agonia; tanto dela quanto dele. 

Por algum motivo ele se lembrou de sua antiga secretária. Havia a demitido depois de sua falta de profissionalidade. Todos sabiam de sua situação com Sakura, principalmente após uma discussão entre eles na empresa em frente a todos os funcionários e amigos do casal, e por isso a mulher se achou no direito de adentrar sua sala, com uma roupa no mínimo indecente, andando até ele de forma sexy demais para uma “simples” secretária, e não só sentou em seu colo – o que o deixou bem indignado –, como também tentou beijá-lo. E como estava possesso naquele dia por conta de mais uma discussão com sua querida esposa, a humilhou completamente, a expulsou de sua sala e a demitiu por justa causa. 

Mas por que se lembrar dessa mulher?

Porque tinha meses que não tocava em nenhuma. Ele sempre teve olhos apenas para a sua amada esposa, mas com tudo que estava acontecendo, estava difícil resistir a alguns olhares, difícil de resistir de olhar para outras, principalmente quando elas estavam com roupas nas quais sua antiga secretária vestia-se no dia em que tentou “conquistá-lo”.  Mas é claro que ele não era um traidor. Já foi traído antes. Não faria isso, jamais, mesmo naquelas circunstâncias. Mas era homem, poxa, claro que tinha pensamentos intrusivos. E idiotas. E ele realmente se sentia um idiota quando acontecia. Passava o dia sozinho, ou procurava um dos amigos para lhe fazer companhia e ajudá-lo a se distrair. De tudo e todos, inclusive das mulheres. Principalmente aquelas que já tinham percebido que havia algo de errado entre ele e a esposa, e faziam questão de se insinuar. 

Se olhou no espelho por um momento, pensando nas horas que passou fora de casa. Foi um dia razoávelmente agradável. Mas ali estava ele novamente. Tenso. Dentro de sua própria casa. Será que ele se sentiria assim pelo resto da vida. Será que algum dia, sua esposa deixaria aquela amargura de lado e o deixaria se aproximar novamente? Será que eles voltariam a ser o casal apaixonado que sempre foram? Parecia que a resposta era não pela forma como ela vinha sendo "irritante". Sim, muito irritante. E de uma forma que ele nunca achou que ela seria um dia. Seu casamento estava indo pelos ares. Mas ainda assim, ele tinha certeza de que valia a pena lutar por ele. Seu casamento. Porque apesar de tudo, tudo mesmo, ele amava Felicity. 

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