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Capitulo 2 - O Peso da Lealdade

Lorenzo Salvatore

O barulho da festa ecoava pelo salão principal, mas para mim era apenas um ruído distante. Meus olhos percorriam cada canto, atento a cada movimento, a cada rosto. Eu sabia exatamente onde estavam as saídas, quem eram os convidados e quem poderia representar uma ameaça. Esse era o meu trabalho.

Os Ricciardi eram mais do que minha responsabilidade. Eles eram a razão pela qual eu mantinha minha posição no mundo. Proteger Domenico Ricciardi e sua família não era apenas uma obrigação; era uma honra.

— Lorenzo. — A voz grave de Domenico me tirou dos meus pensamentos. Ele se aproximou, acompanhado por alguns de seus aliados mais influentes. — Vamos para a sala de reuniões. Há algo que preciso discutir com eles.

Assenti sem hesitar, me posicionando ao lado dele enquanto atravessávamos o salão. As portas da sala de reuniões se fecharam atrás de nós, abafando o som da festa. Lá dentro, os homens se sentaram ao redor da longa mesa de madeira maciça. Eu permaneci em pé, na sombra, mas atento a cada palavra.

Domenico começou a falar sobre a expansão recente e os planos para fortalecer as alianças entre as famílias. Não era incomum que, em conversas como essa, os filhos e filhas fossem mencionados como parte das estratégias.

— Suas filhas são belíssimas, Domenico, e inteligentes, como a mãe delas — comentou um dos homens, um aliado de longa data. — Tenho certeza de que Francesca ou Giulia poderiam formar uma união forte com algum dos meus filhos.

O nome de Giulia pairou no ar, e eu senti um leve desconforto se formar no meu peito. Não era minha função me importar com quem ela se casaria ou com quem seu pai planejava uni-la, mas, mesmo assim, aquilo me incomodava.

Mantive minha postura firme, os braços cruzados nas costas, sem expressar qualquer reação. Domenico riu baixo, assentindo.

— Giulia é uma mulher notável, mas não é fácil de agradar. Ela é... como posso dizer? Determinada demais. — Ele sorriu com uma ponta de orgulho. — Francesca é mais dócil, talvez seja mais fácil de lidar.

Os homens riram, e eu fixei meu olhar na porta da sala, que estava ligeiramente aberta. Meu coração parou por um instante quando vi a figura de Giulia ali. Ela estava escondida, ouvindo.

Nossos olhares se cruzaram por um breve segundo, e foi o suficiente para perceber que seus olhos estavam marejados. Ela ouviu tudo.

Sem hesitar, me aproximei de Domenico e me inclinei para sussurrar em seu ouvido:

— Ela está ouvindo.

Domenico me olhou por um momento, a expressão de surpresa logo substituída por uma máscara de neutralidade. Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, Giulia saiu, a porta se fechando suavemente atrás dela.

Os homens continuaram a conversa, mas eu mal os ouvi. Minutos depois, quando a reunião terminou e os aliados de Domenico começaram a deixar a sala, me aproximei dele.

— Ficarei aqui com Marco e os outros — ele disse, percebendo minha inquietação. — Vá atrás de Giulia e certifique-se que ela esteja bem!

Assenti, deixando Domenico sob a proteção de outros homens de confiança, e saí da sala. Meu olhar varreu o salão, mas Giulia não estava lá. Francesca conversava com Matteo Moretti, completamente alheia ao que tinha acontecido.

Me movi rapidamente pelas áreas mais reservadas da casa, os passos firmes ecoando pelo piso de mármore. Conhecia Giulia o suficiente para saber que, quando precisava de espaço, não ficava entre a multidão.

Encontrei-a no terraço, de costas para mim, os longos cabelos negros balançando levemente com a brisa. Ela olhava para a cidade iluminada, mas seu corpo estava tenso, e eu soube que ela estava tentando controlar as emoções.

— Giulia. — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.

Ela não se virou, mas endireitou os ombros, como se estivesse se preparando para me enfrentar.

— Seu pai está lhe procurando. Preocupado com você.

Ela soltou uma risada amarga, ainda sem me olhar. — Preocupado comigo? Não foi o que pareceu a poucos minutos, quando estava falando sobre quem eu deveria me casar, como se fosse uma mercadoria. — Finalmente, ela se virou, e seus olhos escuros encontraram os meus. Havia raiva ali, mas também uma dor que ela tentava esconder. — É isso que eu sou, Lorenzo? Apenas mais um item para ser negociado?

Eu não sabia o que responder. Não era meu lugar, e qualquer palavra poderia piorar a situação. Ainda assim, a ideia de vê-la sendo tratada como uma peça em um jogo estratégico me incomodava mais do que eu estava disposto a admitir.

— Claro, você é o homem fiel dele, claro que não vai me dar razão. — ela falou baixo, dando um riso irônico — Como sou tola!

— Você não é uma mercadoria.— Foi tudo o que consegui dizer.

Ela me olhou por mais alguns segundos, como se procurasse algo em mim, alguma resposta que talvez eu não pudesse dar. Então, balançou a cabeça, os olhos brilhando com uma mistura de frustração e tristeza.

— Não importa. Isso é quem eu sou. Uma Ricciardi.

Ela se afastou, passando por mim sem dizer mais nada. Fiquei parado ali, olhando para o horizonte, tentando ignorar a sensação de que algo dentro de mim estava mudando.

Voltei ao salão, e meus olhos imediatamente procuraram por Giulia. Ela estava no bar, segurando um copo de uísque. Sua postura era relaxada, mas algo em seu olhar me dizia que ela estava se esforçando para parecer indiferente.

Mantive minha posição próxima à entrada, atento ao fluxo de pessoas, mas não pude evitar observá-la à distância. Ela bebia com mais frequência do que o normal, e isso não era típico dela. Giulia sempre teve autocontrole, mesmo em momentos em que a pressão parecia insuportável.

A festa continuava animada, mas a quantidade de convidados começou a diminuir à medida que a noite avançava. Os aliados de Domenico se despediam, e os mais próximos ficavam apenas o suficiente para manter as aparências. Enquanto isso, Giulia permanecia no mesmo lugar, bebendo como se estivesse tentando apagar algo dentro de si.

Mais um copo de uísque desceu pela garganta dela. Observei cada movimento, a maneira como ela inclinava a cabeça levemente para trás ao beber, o brilho de desafio em seus olhos, mesmo que não houvesse ninguém para desafiá-la naquele momento.

Eu estava a poucos metros dela quando Domenico passou por mim, murmurando:

— Certifique-se de que tudo está em ordem antes de encerrar a noite.

— Sim, senhor.

Olhei para o bar mais uma vez. Giulia ainda estava ali, agora girando o copo vazio entre os dedos, como se pensasse em pedir mais. Então, ela se levantou.

Seus passos não eram exatamente firmes, mas também não vacilantes. Ainda assim, algo em sua expressão me preocupou. Ela saiu pelo lado do salão, ignorando todos ao redor, e meu instinto me fez segui-la. Mantive uma distância segura, não queria que ela percebesse que eu estava ali... pelo menos não ainda.

Ela cruzou o jardim, a noite estava fria, mas isso não pareceu incomodá-la. Giulia seguiu em direção à parte mais afastada da propriedade, perto do lago. O som das águas agitadas pelo vento ecoava suavemente, e a luz da lua iluminava sua figura.

Eu a observei de longe, parado entre as árvores. Giulia parecia absorta em seus pensamentos, mas então sua voz cortou o silêncio:

— Sei que você está aí, Lorenzo.

Meu corpo congelou por um segundo, mas logo saí das sombras, caminhando na direção dela.

— Você deveria voltar para dentro. Já passou da hora de descansar — disse, mantendo a voz firme, mas baixa.

Ela se virou para mim, e mesmo na penumbra, seus olhos escuros brilhavam com uma intensidade que sempre me desconcertava. Ela riu, uma risada amarga que não combinava com a mulher confiante que eu conhecia.

— Descansar? — Ela deu um passo na minha direção, o vestido vermelho se movendo como um fogo vivo ao seu redor. — Talvez eu devesse mesmo. Talvez eu devesse simplesmente seguir o que meu pai manda, casar com algum idiota que ele escolheu e passar o resto da vida fingindo que sou feliz.

— Você está bêbada, Giulia — falei, tentando manter a calma.

— E você é chato. — Ela se aproximou mais, tão perto que eu podia sentir o cheiro de uísque misturado ao perfume floral que parecia ser parte dela. — O tanto que você tem de beleza, tem de chatice.

Eu fiquei imóvel, mas meu coração acelerou. Ela levantou o olhar para mim, seus olhos agora fixos nos meus. Senti o ar ao nosso redor ficar pesado, como se algo estivesse prestes a acontecer. Meu olhar caiu sobre os lábios dela, e percebi que os dela faziam o mesmo em relação aos meus.

Por um breve instante, o mundo pareceu parar. A festa, a música, as preocupações... tudo desapareceu. Mas então, antes que eu pudesse ceder ao que quer que estivesse nos puxando um para o outro, dei um passo para trás.

— Você precisa ir para o seu quarto, Giulia — disse, minha voz saindo mais dura do que eu pretendia. — Isso não vai acabar bem, e você sabe disso.

Ela piscou algumas vezes, como se minha atitude a trouxesse de volta à realidade. Então, riu de novo, mas agora sem amargura.

— Sempre tão controlado, Lorenzo. Deve ser exaustivo.

Eu não respondi. Ela deu as costas para mim, caminhando de volta para a casa sem olhar para trás. Fiquei ali por mais alguns minutos, tentando ignorar a sensação de que havia cruzado uma linha invisível, mesmo sem querer.

Quando finalmente voltei ao salão, ela já tinha desaparecido. E eu sabia que aquela noite ficaria gravada na minha mente por muito mais tempo do que eu gostaria.

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