Capítulo 7 - Preparativos

Lorenzo Salvatore

Uma semana depois...

A sala de reuniões da mansão Ricciardi estava silenciosa, exceto pelo som das vozes firmes de meus homens enquanto discutimos os detalhes finais da segurança para a viagem. Uma grande movimentação como essa exigia planejamento impecável, e eu não tolerava falhas. A fazenda da família Ricciardi, localizada em uma região isolada do interior, era grandiosa e cheia de história, mas também um alvo perfeito para qualquer um que quisesse causar problemas.

Minha responsabilidade era garantir que nada acontecesse.

— Quero que as escoltas sejam divididas em dois grupos — expliquei, apontando para o mapa sobre a mesa. — Um à frente do comboio, monitorando qualquer movimento suspeito na estrada, e outro na retaguarda, para evitar surpresas.

Os homens assentiram, absorvendo cada instrução. Domenico estava sentado à cabeceira da mesa, silencioso, mas com o olhar atento. Eu sabia que ele confiava plenamente em mim, mas ainda assim, era impossível ignorar a presença dele.

— A segurança na fazenda será reforçada com nossa equipe local — continuei. — Eles já conhecem o terreno, mas quero que nossa equipe revise tudo. Vamos instalar câmeras adicionais, e pelo menos três homens farão patrulhas constantes no perímetro.

— E se algo der errado durante o casamento? — perguntou um dos homens.

— Nada vai dar errado. — Minha voz foi cortante, mas segui com calma. — Mas se acontecer, quero saídas estratégicas e veículos preparados para evacuação imediata.

Quando finalizei as instruções, Domenico fez um gesto para os homens saírem, deixando apenas nós dois na sala. Assim que a porta se fechou, ele se levantou da cadeira, caminhando lentamente até mim.

— Lorenzo, preciso dizer que você nunca deixa de me impressionar — começou ele, com um leve sorriso. — Cada detalhe, cada possibilidade, tudo pensado com perfeição.

— Apenas faço o que precisa ser feito, Domenico — respondi, sincero.

— Não, você faz muito mais do que isso. — Ele parou ao meu lado, colocando uma mão firme em meu ombro. — Sabe, você é um dos melhores acertos que já fiz. Não só para os negócios, mas como um amigo também.

Domenico raramente demonstrava afeto de forma explícita, mas naquele momento, suas palavras eram claras e sinceras. Ele realmente me considerava parte de algo maior.

— E eu agradeço por isso. — murmurei, sem saber muito bem como responder.

— Como está sua mãe? E sua irmã? — ele perguntou, mudando o tom para algo mais casual.

— Estão bem. Minha mãe está trabalhando menos agora, e Anna está animada com uma viagem da escola para um acampamento.

— Bom. Elas merecem o melhor.

Ele caminhou até uma gaveta em um aparador próximo, retirando dois envelopes. Voltando até mim, entregou-os com um sorriso discreto.

— Este é para elas. Um presente simples, mas de coração. — Ele entregou o primeiro envelope. — E este é para você.

Olhei para ele, um pouco surpreso, mas aceitei os envelopes.

— Não precisava, Domenico.

— Eu sei que não precisava, Lorenzo. Mas faço porque quero. Porque você merece.

Fiquei em silêncio por um momento, observando-o. Domenico Ricciardi era um homem perigoso e calculista, mas também leal e generoso com aqueles que estavam ao seu lado. E ele nunca fazia nada sem motivo.

— Além disso, você é mais do que segurança nesta viagem — continuou ele. — É um dos padrinhos. Eu sei da sua amizade com Luis, e seria bom para você aproveitar um pouco o casamento.

Assenti, guardando os envelopes no bolso interno da jaqueta.

— Vou tentar — comentei e ele sorriu concordando — Obrigado de novo

— Não precisa agradecer. — Ele fez um gesto despreocupado com a mão antes de caminhar em direção à porta. — Agora, se me der licença, preciso lidar com outras coisas, acho que existe a possibilidade de Francesca ficar noiva nesse final de semana.

— Que ótimo!

Assim que ele saiu, fiquei sozinho na sala. Peguei os envelopes e os abri. O primeiro, destinado à minha mãe e irmã, continha uma quantia significativa em dinheiro. Já o segundo era ainda maior, um valor que poderia resolver problemas que eu nem sequer tinha.

Por um momento, deixei os envelopes sobre a mesa e sentei-me na cadeira, pensando na minha vida. Domenico não era apenas meu chefe. Ele me via como alguém além dos negócios, algo que às vezes era um conforto, mas outras vezes, uma enorme pressão. Sentia que devia ser ainda mais perfeito, para não desapontar ele.

Eu sabia que essa viagem seria mais uma missão, mas talvez, por um breve momento, pudesse permitir-me aproveitar. Afinal, Luis era um amigo de longa data, alguém com quem eu poderia relaxar sem a tensão constante que me acompanhava.

Levantei-me, recolhendo os envelopes e guardando-os novamente. Não havia tempo para hesitar ou questionar. Minha prioridade continuava sendo a segurança dos Ricciardi. E, no fundo, talvez essa fosse minha única forma de retribuir tudo o que Domenico havia feito por mim e por minha família.

Enquanto organizava os papéis na mesa e revisava mentalmente os planos para a viagem, minha mente começou a vagar. Era difícil evitar pensar em como tudo começou, em como minha vida tinha mudado tanto desde o dia em que Luis me apresentou a Domenico Ricciardi.

Na época, eu era apenas o chefe de segurança de um shopping em Milão. Um bom emprego, mas com um salário que mal dava para sustentar minha mãe e minha irmã mais nova. Meu pai já havia morrido, e as contas se acumulavam em casa. Anna era apenas uma menina, e minha mãe trabalhava como costureira, mas os dias longos e exaustivos estavam acabando com sua saúde.

Foi nesse período que Luis, meu melhor amigo e a única pessoa com quem eu podia desabafar, sugeriu algo que mudaria minha vida para sempre.

— Lorenzo, você precisa de algo maior, algo que pague melhor — disse ele uma noite, enquanto treinávamos na academia de artes marciais onde nos conhecemos anos antes. — Conheço alguém que pode ajudar.

— Quem? — perguntei, enquanto bloqueava um golpe dele.

— Domenico Ricciardi.

Naquele momento, o nome não significava nada para mim, mas o olhar de Luis era sério.

— Ele está procurando alguém confiável para a segurança pessoal dele. Já te vi em ação, e sei que você é o cara certo.

Fiquei hesitante. Trabalhar diretamente para um homem poderoso como Domenico parecia arriscado, mas Luis garantiu que eu tinha o perfil ideal e que Domenico estava disposto a pagar muito bem por um profissional de confiança.

Poucos dias depois, Luis me levou até a mansão Ricciardi. Era a primeira vez que pisava naquele lugar, e a grandiosidade me deixou desconfortável. Domenico me recebeu com frieza, mas também com curiosidade. Ele era um homem calculista, que analisava cada movimento, cada palavra.

— Então, você é o amigo do Luis? — ele perguntou, enquanto me estudava de cima a baixo.

— Sim, senhor.

— Não me chame de senhor. Domenico é suficiente. — Ele gesticulou para que eu me sentasse. — Luis fala bem de você, mas eu confio em ações, não em palavras.

O que se seguiu foram dias de testes. Domenico queria saber até onde eu iria, o quanto eu estava disposto a me sacrificar pela proteção de outros. Ele me colocou em situações desafiadoras, testando minha habilidade de resolver problemas, meu controle emocional e minha lealdade.

Com o tempo, ganhei sua confiança. Não foi algo imediato, mas gradual. Ele percebeu que eu não era apenas competente, mas também disposto a arriscar tudo pelas pessoas que amava. Domenico reconheceu isso em mim, e talvez tenha sido isso que nos aproximou.

Depois de alguns meses trabalhando para ele, Domenico fez algo que nunca esquecerei. Ele me chamou em seu escritório, entregando um conjunto de chaves.

— É para você e sua família — disse ele, de forma simples, como se não fosse nada. — A casa é sua.

Fiquei sem palavras. Minha mãe chorou quando viu o lugar, uma casa espaçosa e confortável em um bairro seguro. Domenico não só nos deu um lar, mas também frequentemente enviava alimentos, roupas e até brinquedos para Anna. Era mais do que eu poderia ter imaginado, mais do que eu poderia agradecer.

Minha lealdade a ele não era apenas profissional. Era pessoal. Domenico me deu uma chance de recomeçar, de dar à minha família uma vida que nunca tivemos antes.

E Luis... bem, ele era outra constante na minha vida. Nosso vínculo começou anos atrás, na academia de artes marciais. Nós dois éramos jovens e competitivos, sempre tentando superar um ao outro. Mas, com o tempo, a rivalidade deu lugar à amizade. Luis era como um irmão, e sempre que estávamos juntos, era como se eu pudesse respirar aliviado, esquecer o peso das responsabilidades por algumas horas.

Ele me ajudou a entrar nesse mundo, e embora soubesse dos perigos, sempre me apoiou. Agora, com o casamento dele se aproximando, eu não podia deixar de sentir uma ponta de orgulho por fazer parte de sua vida.

Minha mente voltou ao presente, ao som de passos no corredor. Peguei os envelopes e saí da sala, determinado a seguir em frente com os preparativos para a viagem. Domenico confiava em mim, e eu nunca o decepcionaria.

Mas, no fundo, eu sabia que esse vínculo, essa lealdade, era uma faca de dois gumes. Domenico era generoso e protetor com aqueles que estavam ao seu lado, mas também era implacável com quem o traía. Meu lugar ao lado dele era seguro, desde que eu continuasse merecendo sua confiança.

E eu faria de tudo para garantir isso.

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