Giulia Ricciardi
O som de batidas suaves na porta me tirou do sono. Com esforço, abri os olhos, vendo a luz da manhã já entrando pelas cortinas entreabertas. — Senhorita Giulia — chamou a voz de Sílvia, uma das empregadas da casa. — Seu pai pediu para avisar que a senhorita deve descer em dez minutos para o café da manhã. Suspirei profundamente, sentindo o peso da obrigação logo ao acordar. — Obrigada, Sílvia. Já estou descendo — respondi, minha voz ainda rouca de sono. Levantei-me, sentindo a preguiça do corpo após a noite anterior. Fui direto para o banheiro, onde tomei um banho rápido e frio para despertar de vez. Enquanto a água escorria pelo meu corpo, meus pensamentos vagavam para o que me esperava no dia. A aula do curso de moda começaria hoje, e eu estava animada. Era uma pequena fuga para um mundo só meu, ainda que temporária. Depois do banho, escolhi uma roupa prática: uma calça jeans justa, uma regata branca e uma jaqueta jeans que completava o visual. Coloquei alguns acessórios simples, prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto e finalizei com uma maquiagem leve e um toque do meu perfume favorito. Olhei no espelho e sorri. Era um visual confortável e casual, mas que ainda transmitia confiança. Desci as escadas com passos tranquilos, tentando adiar mentalmente qualquer surpresa que papà pudesse ter planejado para mim. Quando entrei na sala de jantar, fui recebida pela visão de Matteo Moretti sentado à mesa com meu pai. "Ótimo", pensei, revirando os olhos internamente. Claro que papà não perderia tempo. Matteo era filho de um dos aliados mais próximos de papà, um homem influente e com uma boa reputação. — Giulia, quero que conheça Matteo Moretti — disse papà com um sorriso orgulhoso, gesticulando para o homem ao seu lado. — Ele é filho de um grande amigo. Achei que vocês poderiam se conhecer melhor. — É um prazer conhecê-la, Giulia — disse Matteo, levantando-se e estendendo a mão. Ele parecia educado e tinha um sorriso simpático, mas algo nele não despertava meu interesse. Sentei-me à mesa, lançando um olhar discreto para Matteo enquanto meu pai continuava a falar. Foi então que me lembrei de Francesca. Minha irmã tinha demonstrado interesse nele quando viu ele na festa. Algo me dizia que essa situação poderia ser facilmente resolvida. Assim que papà saiu da sala, deixando-nos a sós, virei-me para Matteo. — Não quero parecer rude, Matteo, mas acho que não deveria estar aqui — comecei, direta, mas com um tom amigável. — Na verdade, quem tem interesse em você é a minha irmã, Francesca. Matteo pareceu surpreso, mas logo relaxou, soltando um leve riso. — Bem, isso faz sentido. Para ser sincero, quando meu pai mencionou que eu deveria conhecer uma das filhas de Domenico Ricciardi, pensei que ele estava falando de Francesca. Ela me chamou a atenção na festa. Sorri, sentindo um alívio inesperado. Ao menos ele parecia estar na mesma página que eu. Peguei meu celular rapidamente e mandei uma mensagem para Francesca: "Se arrume e desça para a sala de jantar agora. Matteo está aqui e ele parece interessado em você." Pouco tempo depois, Francesca entrou na sala, usando um vestido simples, mas elegante, e um sorriso que deixava claro o quanto estava feliz. Ela lançou um olhar para mim, como se pedisse permissão, e eu apenas balancei a cabeça, indicando que estava tudo bem. — Matteo, esta é Francesca — apresentei, levantando-me da mesa. — Acho que vocês têm muito o que conversar. Sem esperar pela resposta de nenhum dos dois, saí da sala, sentindo-me satisfeita. Ao menos Francesca teria a chance de conhecer alguém que realmente gostava, e talvez até tivesse sorte em um possível casamento arranjado. Peguei minhas coisas e segui para o carro, já ansiosa para chegar à aula do curso de moda. Sentia-me leve, como se ao menos um peso tivesse sido retirado dos meus ombros. A ideia de que Francesca poderia ter algo que desejava de verdade me deixou sorridente durante o caminho inteiro. Cheguei à escola de moda alguns minutos antes da aula começar, pronta para mergulhar em algo que, ao menos por algumas horas, me faria esquecer os problemas e as expectativas sufocantes da minha família. Capítulo 9: Giulia Ricciardi O dia estava claro e vibrante quando estacionei o carro em frente à escola de moda. A ansiedade misturada com excitação fez meu coração bater mais rápido enquanto eu entrava no prédio moderno. Uma recepcionista simpática me indicou a sala, e quando entrei, notei imediatamente o ambiente acolhedor e descontraído. Várias pessoas já estavam lá, sentadas em mesas dispostas em pequenos grupos, algumas organizando materiais e outras apenas conversando. Escolhi um lugar mais ao fundo e comecei a arrumar minhas coisas. Estava empolgada para começar algo novo, algo só meu. Logo, uma garota morena de cabelos cacheados, olhos vivazes e um sorriso amigável se aproximou. — Você é nova por aqui, não é? — perguntou, inclinando a cabeça. — Sim, sou Giulia. É meu primeiro dia. — Prazer, Giulia. Sou Liz. Posso me sentar com você? — Claro! A conversa fluiu naturalmente desde o início. Descobri que Liz também tinha 27 anos e estava no curso há algumas semanas. Ela me contou sobre os professores, as matérias e até alguns desafios que enfrentou no início. Aos poucos, eu me sentia mais confortável, e logo estávamos rindo juntas de alguma história engraçada que ela contou sobre um dos alunos mais desajeitados da turma. Durante o intervalo, sentamos juntas para tomar um café, e foi nesse momento que uma revelação interessante surgiu. — Então, Giulia, qual o seu sobrenome? — perguntou Liz, enquanto mexia no cappuccino com uma colher. — Ricciardi. — Observei uma expressão de surpresa passar pelo rosto dela. — Ricciardi? Meu irmão mencionou você hoje. — Seu irmão? — Matteo Moretti. Minha surpresa foi evidente, mas Liz logo riu, balançando a cabeça. — Não se preocupe, ele me disse que a situação era sobre Francesca, sua irmã. Achei engraçado que estamos nos conhecendo logo depois disso. — Que coincidência! — exclamei, relaxando ao perceber que não havia nenhum desconforto na conversa. — Bom, isso só facilita nossa amizade, não é? — Com certeza. O restante das aulas passou rapidamente. Aprendemos sobre técnicas de ilustração de moda, combinando tecidos e cores. Era fascinante e envolvente, exatamente o tipo de coisa que me fazia sentir viva e livre, mesmo que temporariamente. Quando o dia terminou, Liz sugeriu que fôssemos juntas comprar materiais de estudo. Aceitei prontamente, pois ainda precisava de algumas coisas. Paramos em uma loja especializada, cheia de cadernos de desenho, lápis de cor, marcadores, réguas e tudo que qualquer aspirante a designer de moda poderia desejar. Enquanto escolhíamos nossos materiais, conversamos sobre tudo: família, sonhos, música, e até mesmo sobre o curso. Liz era uma pessoa leve, alguém que eu sentia que poderia me abrir sem receios. Trocar contatos foi natural, e combinamos de nos encontrar no próximo dia de aula para estudar juntas. Quando finalmente voltamos para nossas casas, eu estava exausta, mas feliz. Era raro eu ter um dia tão bom, onde nada parecia pesado ou complicado. Estacionei o carro na garagem de casa e caminhei pelo jardim, ainda sorrindo enquanto pensava nas conversas que tive com Liz. Quando entrei no saguão, notei Lorenzo parado próximo à escadaria, conversando no telefone, enquanto me aproximava foi o tempo dele desligar o celular, e então ele me viu. Senti seus olhos percorrem a mim por cima a baixo, mas logo indo para minhas sacolas e depois para meu rosto. — Voltando tarde hoje, senhorita Giulia? — Sim. Estava na aula. E por favor Lorenzo, nada de senhorita, você sabe que eu odeio isso — comentei seria e vejo ele dá um leve sorriso. — Um curso novo? — perguntou ele, erguendo uma sobrancelha, demonstrando um interesse genuíno. — Sim, de moda. Lorenzo pareceu ponderar por um momento antes de responder. — Combina com você. Senti minhas bochechas aquecerem ligeiramente, mas mantive o sorriso sereno. — Obrigada. Ele deu um passo para o lado, olhando para o relógio no pulso. — Preciso resolver algumas coisas agora. Bons estudos! — Obrigada — respondi, observando enquanto ele se afastava pelo corredor. Enquanto subia as escadas para o meu quarto, percebi que o dia tinha sido, de fato, diferente. Entre a amizade inesperada com Liz, o curso empolgante e aquele breve momento com Lorenzo, senti como se estivesse, lentamente, começando a encontrar fragmentos de uma vida que podia chamar de minha.Lorenzo SalvatoreUma semana depois...A sala de reuniões da mansão Ricciardi estava silenciosa, exceto pelo som das vozes firmes de meus homens enquanto discutimos os detalhes finais da segurança para a viagem. Uma grande movimentação como essa exigia planejamento impecável, e eu não tolerava falhas. A fazenda da família Ricciardi, localizada em uma região isolada do interior, era grandiosa e cheia de história, mas também um alvo perfeito para qualquer um que quisesse causar problemas.Minha responsabilidade era garantir que nada acontecesse.— Quero que as escoltas sejam divididas em dois grupos — expliquei, apontando para o mapa sobre a mesa. — Um à frente do comboio, monitorando qualquer movimento suspeito na estrada, e outro na retaguarda, para evitar surpresas.Os homens assentiram, absorvendo cada instrução. Domenico estava sentado à cabeceira da mesa, silencioso, mas com o olhar atento. Eu sabia que ele confiava plenamente em mim, mas ainda assim, era impossível ignorar a pres
Giulia Ricciardi Era impossível conter minha animação enquanto colocava as últimas peças na mala. Um casamento na fazenda da família significava uma pausa na rotina opressiva da casa em Milão. Alice, minha prima, sempre foi como uma irmã mais velha para mim, e agora que ela iria se casar, eu estava emocionada em fazer parte desse momento tão especial. Os vestidos das madrinhas estavam impecáveis. Meu tio, Antônio, havia contratado um estilista renomado para cuidar de tudo, e o resultado era deslumbrante. Os vestidos verde musgo, que combinavam perfeitamente com o cenário da fazenda, tinham cortes elegantes e delicados, destacando a beleza de cada uma de nós. Só de imaginar a cerimônia, cercada pela natureza, com Alice radiante em seu vestido de noiva, meu coração se enchia de felicidade. Depois de arrumar minha mala com roupas para os quatro dias, itens de higiene, sapatos e, claro, o vestido de madrinha, fui tomar um banho rápido. A água quente ajudou a relaxar meus músculos, mas
Lorenzo Salvatore Assim que desci do quarto onde havia deixado minhas coisas, fui direto procurar Luis e Alice. Eles estavam no grande salão principal, cercados por familiares e amigos, todos oferecendo parabéns e felicitações pelo casamento. Esperei um momento apropriado antes de me aproximar. — Lorenzo! — Luis me avistou primeiro, abrindo um sorriso largo enquanto se aproximava para me cumprimentar. — Que bom que veio, irmão. — Obrigado pelo convite, Luis. — Apertei sua mão firmemente antes de dar um leve abraço. — Alice, meus parabéns. Você está radiante. — Obrigada, Lorenzo. — Alice respondeu com um sorriso tímido, segurando a mão de Luis. — E obrigado por estar aqui. Luis me olhou com curiosidade, inclinando levemente a cabeça. — E sua mãe e sua irmã? Por que não as trouxe? — A Anna foi para um acampamento com a escola — expliquei, lembrando do entusiasmo dela ao falar sobre a viagem. — E minha mãe está cheia de encomendas de costura. Ela disse que mandará presentes depois
Giulia RicciardiAcordei com o som das risadas e vozes animadas de Francesca e Liz. Ainda meio grogue, demorei alguns segundos para me situar. O quarto estava iluminado pela luz da manhã que atravessava as cortinas, e as duas já estavam de pé, aparentemente discutindo o que vestir para o evento de hoje.— Finalmente! Achei que você não ia levantar nunca. — Francesca provocou, olhando para mim pelo espelho enquanto arrumava os cabelos.Liz virou-se com um sorriso caloroso.— Bom dia, dorminhoca!— Bom dia, meninas. — Respondi, esfregando os olhos. — Parece que vocês já estão animadas para o dia.— Claro que estamos! — Liz respondeu, rindo. — Hoje é o grande dia das mulheres.Lembrei-me do que Alice tinha nos contado na noite anterior: um amigo secreto “adulto”, algo ousado e divertido que ela havia organizado para nós. A ideia era que cada uma levasse um presente que pudesse ser usado por qualquer uma das participantes, sem saber para quem o presente seria. Confesso que a ideia me deix
Lorenzo SalvatoreA sala de jogos estava cheia de fumaça, risadas e o som inconfundível de copos sendo colocados na mesa com força. Era um ambiente tipicamente masculino, recheado de camaradagem e rivalidade saudável. Eu estava ali, com o controle na mão, focado na partida de videogame. A tela brilhava com intensidade enquanto Marco e eu esmagávamos Luis e Giovanni em uma partida intensa de futebol virtual.— Anda, Luis! Vai deixar o moleque passar por você assim? — gritou Stefan, rindo, enquanto tomava um gole de sua bebida e assistia ao massacre que acontecia na tela.— Ele tem sorte! Só isso! — Luis respondeu, a voz embargada pela frustração.— Sorte? É habilidade, meu caro. Aprende com os melhores — provoquei, lançando um olhar de canto para ele, enquanto Marco ria alto ao meu lado.Luis tentou recuperar o controle da situação, mas Marco marcou mais um gol, arrancando um coro de zoações dos outros homens na sala. Era um espaço de relaxamento raro, onde, apesar das tensões que todo
Giulia RicciardiSentei-me na beira da cama, ainda tentando processar o que havia acabado de acontecer. Meu coração batia descompassado, como se eu tivesse corrido uma maratona, e meu rosto queimava de vergonha e... outra coisa que eu não ousava nomear.Levantei os olhos para o quarto bagunçado, evidência clara da minha pressa anterior, e soltei um suspiro pesado. Como diabos Lorenzo tinha me pegado nessa situação? O controle do vibrador... Ah, meu Deus.Tudo começou quando Francesca e eu subimos para trocar de roupa. Ela foi rápida, sempre prática, pegou suas coisas e saiu antes de mim, dizendo algo sobre atender uma ligação importante. Fiquei sozinha no quarto, e então, o pensamento surgiu. Não era a primeira vez que eu me sentia curiosa sobre o presente que tinha recebido no amigo secreto. Aquele vibrador controlado à distância era discreto e intrigante. Eu queria saber como funcionava, se era tão poderoso quanto Alice tinha sugerido ao comprá-lo.Procurei pelo controle no fundo da
Giulia RicciardiO clima ao redor da piscina era leve e descontraído, as conversas fluíam como o vinho que, em breve, começaria a ser servido. Francesca estava ao meu lado, rindo de algo que Matteo havia dito a Giovanni, mas eu mal prestava atenção. Meu olhar teimava em buscar Lorenzo, mesmo que eu tentasse disfarçar. Ele estava com Marco e Filipe, perto da mesa, e por mais que estivesse cercado de pessoas, parecia alheio a tudo.Foi então que Liz sugeriu que todos bebessem um pouco para animar ainda mais o fim de tarde.— Ótima ideia! — Meu irmão exclamou, já se levantando. — Vamos pegar os vinhos e os uísques.Os homens se prontificaram a ir até a cozinha e à adega buscar as bebidas, enquanto nós, as mulheres, ficamos encarregadas dos petiscos. Francesca e eu fomos até a mesa no canto da varanda, onde estavam as tábuas de frios. Salames, queijos e pães foram colocados nos pratos com agilidade.— Você está estranha. — Francesca murmurou, me olhando de soslaio enquanto dividíamos o tr
Lorenzo SalvatoreA água da piscina estava morna, o suficiente para aliviar a tensão que parecia correr por todo o meu corpo. Enquanto os outros riam e brincavam ao meu redor, eu me mantinha em silêncio, observando, como sempre. Era um hábito — um reflexo do meu trabalho e da minha natureza. Mas, naquela noite, minha atenção estava fixada em uma única pessoa: Giulia Ricciardi.Ela estava radiante. O biquíni preto que usava contrastava com sua pele e acentuava suas curvas, e mesmo que eu tentasse desviar os olhos, não conseguia. Era como se ela tivesse um ímã que me atraía, algo que eu não conseguia — ou não queria — controlar.Aos poucos, as pessoas começaram a deixar a piscina. Giovani foi o primeiro, dizendo que tinha trabalho cedo na manhã seguinte. Marco e Celeste seguiram logo depois. Francesca e Matteo ainda estavam por ali, mas claramente distraídos um com o outro. Alice, a noiva de Luis, já havia bebido mais do que deveria, e Luis a levou no colo para dentro da casa, com um so