Capítulo 6 - Um bom dia.

Giulia Ricciardi

O som de batidas suaves na porta me tirou do sono. Com esforço, abri os olhos, vendo a luz da manhã já entrando pelas cortinas entreabertas.

— Senhorita Giulia — chamou a voz de Sílvia, uma das empregadas da casa. — Seu pai pediu para avisar que a senhorita deve descer em dez minutos para o café da manhã.

Suspirei profundamente, sentindo o peso da obrigação logo ao acordar.

— Obrigada, Sílvia. Já estou descendo — respondi, minha voz ainda rouca de sono.

Levantei-me, sentindo a preguiça do corpo após a noite anterior. Fui direto para o banheiro, onde tomei um banho rápido e frio para despertar de vez. Enquanto a água escorria pelo meu corpo, meus pensamentos vagavam para o que me esperava no dia. A aula do curso de moda começaria hoje, e eu estava animada. Era uma pequena fuga para um mundo só meu, ainda que temporária.

Depois do banho, escolhi uma roupa prática: uma calça jeans justa, uma regata branca e uma jaqueta jeans que completava o visual. Coloquei alguns acessórios simples, prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto e finalizei com uma maquiagem leve e um toque do meu perfume favorito. Olhei no espelho e sorri. Era um visual confortável e casual, mas que ainda transmitia confiança.

Desci as escadas com passos tranquilos, tentando adiar mentalmente qualquer surpresa que papà pudesse ter planejado para mim. Quando entrei na sala de jantar, fui recebida pela visão de Matteo Moretti sentado à mesa com meu pai.

"Ótimo", pensei, revirando os olhos internamente. Claro que papà não perderia tempo. Matteo era filho de um dos aliados mais próximos de papà, um homem influente e com uma boa reputação.

— Giulia, quero que conheça Matteo Moretti — disse papà com um sorriso orgulhoso, gesticulando para o homem ao seu lado. — Ele é filho de um grande amigo. Achei que vocês poderiam se conhecer melhor.

— É um prazer conhecê-la, Giulia — disse Matteo, levantando-se e estendendo a mão. Ele parecia educado e tinha um sorriso simpático, mas algo nele não despertava meu interesse.

Sentei-me à mesa, lançando um olhar discreto para Matteo enquanto meu pai continuava a falar. Foi então que me lembrei de Francesca. Minha irmã tinha demonstrado interesse nele quando viu ele na festa. Algo me dizia que essa situação poderia ser facilmente resolvida.

Assim que papà saiu da sala, deixando-nos a sós, virei-me para Matteo.

— Não quero parecer rude, Matteo, mas acho que não deveria estar aqui — comecei, direta, mas com um tom amigável. — Na verdade, quem tem interesse em você é a minha irmã, Francesca.

Matteo pareceu surpreso, mas logo relaxou, soltando um leve riso.

— Bem, isso faz sentido. Para ser sincero, quando meu pai mencionou que eu deveria conhecer uma das filhas de Domenico Ricciardi, pensei que ele estava falando de Francesca. Ela me chamou a atenção na festa.

Sorri, sentindo um alívio inesperado. Ao menos ele parecia estar na mesma página que eu. Peguei meu celular rapidamente e mandei uma mensagem para Francesca: "Se arrume e desça para a sala de jantar agora. Matteo está aqui e ele parece interessado em você."

Pouco tempo depois, Francesca entrou na sala, usando um vestido simples, mas elegante, e um sorriso que deixava claro o quanto estava feliz. Ela lançou um olhar para mim, como se pedisse permissão, e eu apenas balancei a cabeça, indicando que estava tudo bem.

— Matteo, esta é Francesca — apresentei, levantando-me da mesa. — Acho que vocês têm muito o que conversar.

Sem esperar pela resposta de nenhum dos dois, saí da sala, sentindo-me satisfeita. Ao menos Francesca teria a chance de conhecer alguém que realmente gostava, e talvez até tivesse sorte em um possível casamento arranjado.

Peguei minhas coisas e segui para o carro, já ansiosa para chegar à aula do curso de moda. Sentia-me leve, como se ao menos um peso tivesse sido retirado dos meus ombros. A ideia de que Francesca poderia ter algo que desejava de verdade me deixou sorridente durante o caminho inteiro.

Cheguei à escola de moda alguns minutos antes da aula começar, pronta para mergulhar em algo que, ao menos por algumas horas, me faria esquecer os problemas e as expectativas sufocantes da minha família.

Capítulo 9: Giulia Ricciardi

O dia estava claro e vibrante quando estacionei o carro em frente à escola de moda. A ansiedade misturada com excitação fez meu coração bater mais rápido enquanto eu entrava no prédio moderno. Uma recepcionista simpática me indicou a sala, e quando entrei, notei imediatamente o ambiente acolhedor e descontraído. Várias pessoas já estavam lá, sentadas em mesas dispostas em pequenos grupos, algumas organizando materiais e outras apenas conversando.

Escolhi um lugar mais ao fundo e comecei a arrumar minhas coisas. Estava empolgada para começar algo novo, algo só meu. Logo, uma garota morena de cabelos cacheados, olhos vivazes e um sorriso amigável se aproximou.

— Você é nova por aqui, não é? — perguntou, inclinando a cabeça.

— Sim, sou Giulia. É meu primeiro dia.

— Prazer, Giulia. Sou Liz. Posso me sentar com você?

— Claro!

A conversa fluiu naturalmente desde o início. Descobri que Liz também tinha 27 anos e estava no curso há algumas semanas. Ela me contou sobre os professores, as matérias e até alguns desafios que enfrentou no início. Aos poucos, eu me sentia mais confortável, e logo estávamos rindo juntas de alguma história engraçada que ela contou sobre um dos alunos mais desajeitados da turma.

Durante o intervalo, sentamos juntas para tomar um café, e foi nesse momento que uma revelação interessante surgiu.

— Então, Giulia, qual o seu sobrenome? — perguntou Liz, enquanto mexia no cappuccino com uma colher.

— Ricciardi. — Observei uma expressão de surpresa passar pelo rosto dela.

— Ricciardi? Meu irmão mencionou você hoje.

— Seu irmão?

— Matteo Moretti.

Minha surpresa foi evidente, mas Liz logo riu, balançando a cabeça.

— Não se preocupe, ele me disse que a situação era sobre Francesca, sua irmã. Achei engraçado que estamos nos conhecendo logo depois disso.

— Que coincidência! — exclamei, relaxando ao perceber que não havia nenhum desconforto na conversa. — Bom, isso só facilita nossa amizade, não é?

— Com certeza.

O restante das aulas passou rapidamente. Aprendemos sobre técnicas de ilustração de moda, combinando tecidos e cores. Era fascinante e envolvente, exatamente o tipo de coisa que me fazia sentir viva e livre, mesmo que temporariamente.

Quando o dia terminou, Liz sugeriu que fôssemos juntas comprar materiais de estudo. Aceitei prontamente, pois ainda precisava de algumas coisas. Paramos em uma loja especializada, cheia de cadernos de desenho, lápis de cor, marcadores, réguas e tudo que qualquer aspirante a designer de moda poderia desejar.

Enquanto escolhíamos nossos materiais, conversamos sobre tudo: família, sonhos, música, e até mesmo sobre o curso. Liz era uma pessoa leve, alguém que eu sentia que poderia me abrir sem receios. Trocar contatos foi natural, e combinamos de nos encontrar no próximo dia de aula para estudar juntas.

Quando finalmente voltamos para nossas casas, eu estava exausta, mas feliz. Era raro eu ter um dia tão bom, onde nada parecia pesado ou complicado.

Estacionei o carro na garagem de casa e caminhei pelo jardim, ainda sorrindo enquanto pensava nas conversas que tive com Liz. Quando entrei no saguão, notei Lorenzo parado próximo à escadaria, conversando no telefone, enquanto me aproximava foi o tempo dele desligar o celular, e então ele me viu. Senti seus olhos percorrem a mim por cima a baixo, mas logo indo para minhas sacolas e depois para meu rosto.

— Voltando tarde hoje, senhorita Giulia?

— Sim. Estava na aula. E por favor Lorenzo, nada de senhorita, você sabe que eu odeio isso — comentei seria e vejo ele dá um leve sorriso.

— Um curso novo? — perguntou ele, erguendo uma sobrancelha, demonstrando um interesse genuíno.

— Sim, de moda.

Lorenzo pareceu ponderar por um momento antes de responder.

— Combina com você.

Senti minhas bochechas aquecerem ligeiramente, mas mantive o sorriso sereno.

— Obrigada.

Ele deu um passo para o lado, olhando para o relógio no pulso.

— Preciso resolver algumas coisas agora. Bons estudos!

— Obrigada — respondi, observando enquanto ele se afastava pelo corredor.

Enquanto subia as escadas para o meu quarto, percebi que o dia tinha sido, de fato, diferente. Entre a amizade inesperada com Liz, o curso empolgante e aquele breve momento com Lorenzo, senti como se estivesse, lentamente, começando a encontrar fragmentos de uma vida que podia chamar de minha.

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