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Capítulo 4 - Tudo por Elas.

Lorenzo Salvatore

Cheguei ao portão da casa da minha mãe e já sentia a diferença no ar. Não era apenas pelo bairro simples onde ela morava, longe das mansões e do luxo da família Ricciardi. Era o cheiro de café fresco, o som de risadas ao longe, a ausência do peso que carregava nos ombros todos os dias.

Estacionei meu carro ao lado da calçada, um sedã preto discreto. Desci, observando a fachada modesta da casa. A pintura branca estava um pouco desgastada, mas minha mãe insistia que não queria reformas. "Está boa do jeito que está, Lorenzo. Use seu dinheiro para a educação da sua irmã, não com isso."

Abri a porta da frente, e o aroma de café invadiu minhas narinas imediatamente.

— Lorenzo! — Minha mãe virou-se da pia com um sorriso caloroso no rosto. Seus cabelos grisalhos estavam presos em um coque frouxo, e ela usava o avental que eu mesmo tinha comprado para ela anos atrás.

Antes que eu pudesse responder, senti um par de braços se jogar contra mim. Minha irmã, Anna, me abraçou com força.

— Achei que ia demorar mais! — Ela sorriu, mostrando o aparelho nos dentes que eu estava pagando com orgulho.

— Achei que ia ser recebida com mais calma — brinquei, retribuindo o abraço.

Minha mãe veio em seguida, segurando meu rosto com as mãos antes de me dar um beijo na testa.

— Você está tão magro, Lorenzo. Não está se alimentando direito, não é?

— Estou bem, mamma. A senhora sabe que sou cuidadoso.

— Cuidadoso demais — ela disse, voltando para o fogão.

— Eu não estou achando ele magro não, na verdade parece até que o braço dele está maior — Anna diz, tentando fechar a mão ao redor do meu bíceps. — Olha isso! Não consigo nem tocar os dedos.

Fomos para a mesa, onde Anna começou a colocar os pratos e copos. Sempre inquieta, ela se movia com energia, o cabelo castanho preso em um rabo de cavalo balançando a cada movimento.

— Fizemos algo especial para você hoje — ela disse, animada.

— Como sempre — respondi, sentando-me.

Pouco depois, todos estávamos sentados à mesa, o café servido com pão fresco, ovos e frutas. Minha mãe sempre fazia questão de preparar tudo com carinho, mesmo quando eu insistia que ela não precisava.

— E então, Lorenzo, como vão as coisas no trabalho? — minha mãe perguntou, quebrando o silêncio confortável.

Olhei para ela, e por um momento, quase hesitei. Não era algo que eu gostava de discutir com elas, mas mentir também não era uma opção.

— Tranquilo, mamma. Tivemos uma festa ontem. Algo grande. Está tudo sob controle.

Ela assentiu, mas seus olhos carregavam a preocupação de sempre.

— Vi no noticiário algo sobre essa festa. Deve ter sido cheia de gente importante.

— Sempre é — respondi, pegando um pedaço de pão.

— O Marco Ricciardi estava lá? — Anna perguntou, com um sorriso curioso.

Minha mãe e eu olhamos para ela ao mesmo tempo.

— Anna — comecei, meu tom firme.

— Ele é tão gato, Lorenzo! — Ela riu, ignorando minha expressão.

— Ele tem trinta e um anos, e você tem dezessete — minha mãe disse, balançando a cabeça. — Nem comece com essas ideias.

— Não estou dizendo nada demais! Só estou comentando... — Ela fez um biquinho, mas se calou quando olhei diretamente para ela.

Apesar disso, um sorriso puxava o canto da minha boca. Anna era jovem, ingênua, e isso só reforçava minha determinação de proteger ela de tudo.

Terminamos o café da manhã com conversas mais leves. Minha mãe falava sobre o mercado local e os vizinhos, enquanto Anna contava sobre a escola e seus planos para o futuro. Eu ouvia tudo com atenção, contribuindo quando podia, mas mais do que isso, sentindo o conforto de estar em casa.

Depois de comer, ajudei a limpar a mesa. Era algo pequeno, mas minha mãe sempre reclamava que eu não precisava fazer. Ignorava, claro.

— Lorenzo, você pode fazer um favor para mim? — minha mãe pediu enquanto secava a louça que eu insistia em lavar.

— Claro, mamma. O que precisa?

— Tem uma toalha de mesa no quarto da sua irmã, no armário dela. Pode pegar para mim?

Assenti e segui para o quarto de Anna. O espaço pequeno estava bem organizado, com pôsteres de bandas na parede e uma pilha de livros escolares na escrivaninha. Quando abri o armário para procurar o tal pacote, algo na prateleira chamou minha atenção: um envelope com o logotipo da escola dela.

Peguei o envelope e o abri, encontrando um aviso sobre uma viagem escolar. O documento explicava que os alunos fariam uma excursão para um acampamento de estudos e listava os custos de transporte e hospedagem. Não era barato, mas também não era algo que eu deixaria passar.

Mas o que realmente me incomodou foi o fato de Anna não ter mencionado nada.

Voltei para a cozinha com o envelope em mãos. Anna estava ajudando minha mãe a organizar os temperos na despensa, cantarolando baixinho.

— Anna, o que é isso? — perguntei, colocando o papel na mesa.

Ela olhou para o envelope e mordeu o lábio, visivelmente desconfortável.

— Ah, é sobre uma viagem que a escola vai fazer... Mas eu não vou, Lorenzo.

— Por que não?

— É caro — ela respondeu, dando de ombros. — Não precisa gastar com isso.

Fiquei em silêncio por um momento, analisando-a. Sabia que Anna era prática e nunca pedia nada desnecessário. Se ela estava desistindo, era apenas para me poupar.

— Anna, isso é importante para você? — perguntei, cruzando os braços.

— Não é nada demais, de verdade. É só um acampamento bobo...

— Anna. Responde.

Ela suspirou, evitando meu olhar.

— Seria legal, mas... Eu sei que você já faz muito por nós. Não quero ser um peso.

Aquelas palavras me atingiram como uma facada.

— Você nunca foi um peso para mim — disse com firmeza. Tirei a carteira do bolso e contei o dinheiro ali mesmo. Coloquei o valor exato na mesa, junto com o aviso da escola. — Aqui está.

— Lorenzo, não precisa...

— Precisa, sim. Você vai nessa viagem, e não quero ouvir mais nada sobre isso.

Anna me olhou com os olhos brilhando, claramente emocionada.

— Obrigada — sussurrou, abraçando-me com força.

— E isso não é tudo — continuei, pegando o celular. — Vou fazer uma transferência para a mamma. Assim vocês podem comprar o que precisarem para casa.

— Lorenzo, não precisa — minha mãe começou, mas a interrompi.

— Já está feito, mamma. Eu trabalho para garantir que vocês tenham o que precisam. Isso não é negociável.

Ela suspirou, mas sorriu, visivelmente tocada.

O resto da manhã passou de forma tranquila. Sentados na sala, conversamos sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Minha mãe contou sobre os vizinhos, como a senhora do final da rua finalmente tinha conseguido consertar o portão, e como o cachorro dela continuava escapando para roubar comida dos outros.

Anna falava sobre as amigas da escola e como estava animada para os próximos exames. Sua energia era contagiante, e eu me peguei sorrindo mais do que normalmente faria.

Minha mãe, como sempre, tentava me alimentar a cada quinze minutos, insistindo que eu precisava comer mais.

— Você vive rodeado de luxo, mas aposto que ninguém cozinha como eu, certo? — ela brincou.

— Certo, mamma. Ninguém se compara a você.

Por um momento, esqueci do peso da minha vida. Esqueci dos segredos, da tensão constante de trabalhar para os Ricciardi. Ali, na casa simples onde cresci, tudo parecia normal. E, por mais breve que fosse, isso era suficiente para recarregar minhas energias.

Ao olhar para Anna e minha mãe, percebi que tudo o que fazia valia a pena. Mesmo que o mundo lá fora fosse cruel e perigoso, aqui dentro, eu era apenas Lorenzo, filho de Maria e irmão mais velho de Anna.

Quando tudo estava arrumado, me sentei no sofá da pequena sala de estar. Anna se jogou ao meu lado, mexendo no celular, enquanto minha mãe entrou no quarto para buscar algo.

— Você parece cansado, Lorenzo — Anna comentou, sem tirar os olhos do telefone.

— É o trabalho, Anna. Mas não se preocupe.

— Eu sei que você faz tudo por nós. Eu só queria que você descansasse mais.

— Vou descansar quando você se formar e for para a faculdade — brinquei, bagunçando o cabelo dela.

— Muito engraçado.

Minha mãe voltou à sala com uma sacola.

— Lorenzo, comprei um bolo para você levar. É seu favorito. Sei que provavelmente não terá tempo de fazer algo assim na sua rotina corrida.

— Mamma, não precisava.

— Sempre preciso.

Peguei a sacola e agradeci com um beijo no rosto dela. Depois de algumas horas com elas, finalmente me despedi, prometendo voltar o mais rápido possível.

Enquanto dirigia de volta, o sorriso no meu rosto desaparecia gradualmente. O mundo lá fora era diferente, mais frio. Mas era por elas que eu fazia tudo. Por minha mãe e minha irmã.

Eu poderia estar imerso em um mundo de violência e poder, mas naquele lar humilde, eu ainda era apenas Lorenzo Salvatore, o filho e irmão mais velho que faria de tudo para protegê-las.

 

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