OliviaEu não fui até ele.Foi ele quem veio até mim.Vi Lucas atravessando o pátio da faculdade com as mãos no bolso, passos lentos, como quem estava medindo cada metro de distância que ainda nos separava. De longe, parecia o mesmo. Mas, conforme ele se aproximava, percebi: alguma coisa nele tinha mudado. Ou talvez fosse eu que estivesse diferente demais pra ver o que via antes.Ele parou a uns dois passos de distância, sem sorrir de imediato. Me olhou como se não soubesse se podia ou devia.— Achei que talvez... fosse difícil te encontrar no meio da multidão — disse, enfiando ainda mais as mãos no bolso da calça jeans.Eu apenas assenti, sem me apressar em preencher o silêncio.Lucas respirou fundo.— Eu soube o que aconteceu. — Sua voz era baixa, como se quisesse ser gentil. — Sinto muito, Liv.Fechei a beca com mais firmeza nos ombros, não por vergonha, mas como se me blindasse.— Obrigada.Foi só o que respondi. Simples. Sincero. Sem abrir espaço pra mais.Ele deu um meio sorriso
DanteVi Olivia descer do palco radiante, com o diploma nas mãos e aquele sorriso pequeno — o sorriso dela, reservado e iluminado ao mesmo tempo.Segurando Leo agora no bebê-conforto, não pensei duas vezes. Caminhei até ela e a puxei para um beijo, sem me importar com quem estivesse olhando. Não era mais hora de esconder o que a gente tinha.Era nosso. Só nosso.Senti ela sorrir contra minha boca e sorri também.Estava tudo bem. Ia ficar tudo bem.Até eu ouvir aquela voz.— Que bonito.Me virei devagar, ainda segurando Olivia pela cintura.Ester.A bengala na mão direita, o corpo ainda frágil da recuperação, mas o olhar… O olhar era o mesmo. Aquele brilho gelado, arrogante, venenoso.Leo resmungou baixinho dentro do bebê-conforto. Como se sentisse a tensão.Olivia endureceu ao meu lado. Eu apenas soltei um longo suspiro interno e me virei por completo, ficando entre as duas.— O que você tá fazendo aqui, Ester? — perguntei, a voz baixa, mas firme.Ela deu um sorriso cínico.— Achei qu
OliviaA vida estava começando a encontrar seu próprio ritmo de novo. Depois de choros intermináveis, sensações eufóricas de recomeços e um medo avassalador... tudo parecia estar se encaminhando para o normal.Depois da formatura, aquele susto com Ester aparecendo mesmo debilitada e os primeiros passos após deixar a Glass para trás, Dante e eu finalmente pudemos respirar um pouco longe de toda essa bolha caótica. Ou pelo menos foi o que tentamos acreditar para não enlouquecer sem conseguir prever qual seria o próximo passo do jogo que chamamos de vida.Fiz algumas entrevistas de emprego. Empresas grandes, outras menores. E depois da indicação do namorado de Zayn - é, estava sério assim - eu visitei o colégio onde ele trabalha como contador. É uma escola particular, nada gigantesco ou cheio de gamour como o estágio na Glass, mas de alguma forma, me cativou. Era um prédio bonito, crianças correndo pelos correndo pelos corredores, professores exaustos e sorridentes enquanto os menores os
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Olivia FernandesMajestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — P
Olivia FernandesA frustração que senti durou menos de um milésimo de segundo, tempo suficiente para que meu cérebro processasse a imagem diante dos meus olhos. E, pela segunda vez naquela noite, eu fiquei sem palavras.Meus olhos percorreram o corpo dele, absorvendo cada detalhe. O braço estendido, segurando o volante com firmeza. As veias salientes no antebraço subindo até o bíceps definido sob a camisa levemente molhada. Seu peito marcado pela camisa social branca, igualmente úmida, algumas gotas descendo pela clavícula. Os óculos estavam um pouco embaçados, e o cabelo preto, com alguns fios grisalhos, estava molhado, colado à testa. A barba por fazer completava a cena. Ele parecia ter saído direto de um filme.Por alguns segundos, eu só consegui observá-lo. Queria gravar aquela imagem, como se ele fosse desaparecer a qualquer momento. Eu precisava me lembrar daquele rosto, daquela estrutura hipnotizante. Mas então, o silêncio que se formava me trouxe de volta à realidade. O que eu
Olivia FernandesDante acelerou o carro, exibindo um grande sorriso no rosto. Ele parecia se divertir fazendo manobras arriscadas, usando a estrada vazia como se fosse seu próprio parque de diversões ao ar livre.Eu sentia um misto de sensações confusas e inquietantes se revirando dentro de mim, e honestamente, eu não sabia o que fazer em relação a isso. No entanto, decidi que essa seria minha maior loucura até então. Pela primeira vez na vida, permiti-me ser imprudente e confiar minha integridade a esse homem estranho.Havia algo nele que me fazia querer confiar. Talvez fosse o jeito que suas digitais tinham tocado minha pele, me causando uma sensação completamente nova e inesperada. Não sabia explicar exatamente o que era, mas, de algum modo, não parecia ser algo ruim.— Desistiu de resistir? — Ele perguntou, notando minha tranquilidade diante da situação.— Seria uma perda de energia, não acha? — respondi, tentando soar calma.— Certamente. — Ele sorriu de lado, ajeitando os óculos
Olivia FernandesDante não me respondeu, mantendo o suspense sobre sua identidade. Apenas sorriu, o mesmo sorriso largo e bonito que me fez vacilar no primeiro instante em que o conheci. — Seu sorriso é bonito, mas não vai ser o suficiente para evitar que eu faça mais perguntas — disparei, pegando-o de surpresa.— Se o meu sorriso não for o suficiente, posso tentar te dissuadir de outras formas — ele respondeu, ajeitando uma mecha do meu cabelo e a colocando atrás da minha orelha. O toque perdurou, como se ele quisesse prolongar aquele momento, deslizando o dedo pelo meu lóbulo, até alcançar meu pescoço e, finalmente, a minha nuca. Meu corpo reagiu ao toque de Dante de uma forma que eu não esperava. Aquilo não era só um toque. Era íntimo, quase possessivo. O tipo de toque que me fazia sentir exposta, mas curiosamente segura.Antes que pudesse me controlar, as palavras escaparam:— O que você viu em mim?Eu odiava a forma como me sentia nessas horas, como se nunca fosse suficiente. E,