O Pai do Meu Melhor Amigo
O Pai do Meu Melhor Amigo
Por: Lia Oliver
01: A Festa

Olivia acordou assustada. Sentou-se sobre a cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o próprio rosto, tentando livrar-se dos pensamentos torturantes que a consumiam. 

Por sete dias consecutivos ela acordou desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e muito calor

Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que havia tido quase todos os dias por uma semana. Lembrava-se da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que a consumiam ao permitir-se ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa. 

Era assim que se sentia toda vez que o via. 

Lucas, seu melhor amigo da faculdade. O menino popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheceu durante a época do colégio, era bonito, gentil, e inteligente. 

Por isso, Olivia acreditava que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. 

Um comportamento tóxico, uma mania irritante, algum mau hábito de higiene, algo que não o fizesse ser tão… perfeito. 

Porém, em um ano de convivência, Olivia nunca encontrou nada. Nada que fizesse as borboletas em seu estômago desaparecerem, que cortassem de vez o sentimento pungente que surge toda vez que o vê em sua frente. 

E isso era frustrante para ela. Não porque queria descobrir algo ruim sobre ele para prejudicá-lo, mas porque queria se livrar da sensação de impotência que sentia ao não conseguir ser honesta sobre seus sentimentos. 

Não era apenas uma questão de covardia. Olivia simplesmente sentia que não podia contá-lo sobre estar provavelmente apaixonada. Achava que ele poderia rir dela, caçoar, ou algo pior.

Era difícil não acreditar que, como sempre, sua aparência atrapalharia tudo. 

Seu irmão fez um ótimo trabalho ao fazê-la acreditar que alguém nunca a acharia minimamente bonita, ainda que, para muitos, Olivia fosse uma das meninas mais bonita da classe, independente de não ser um manequim 38.

Sempre com vestidos que valorizavam suas curvas exuberantes, em sua maioria de tecidos em tons pastéis, como amava, cheios de laços e renda, em um estilo clássico e romântico ao mesmo tempo, ela costumava chamar atenção de todos.

Porém, os resquícios de um comportamento abusivo deixam marcas às vezes impossíveis de apagar. 

E, durante o dia, enquanto se preparava para a festa de 24 anos de Lucas, todas essas questões criaram raízes na mente de Olivia.

Paixão, insegurança, coragem, tudo se embolava em um ciclo interminável, onde a solução estava única a exclusivamente nas mãos da jovem mulher que se olhava em frente o espelho.

A porta do quarto se abriu e Olivia se assustou, dando um pequeno salto para trás. Sua colega de quarto a olhou de cima a baixo, boquiaberta. 

— Uau, Liv! — Exclamou Natália. — Se eu fosse solteira, poderia pensar em te dar uma chance. — Piscou ao brincar com Olivia, que sorriu envergonhada. 

Tinha dificuldade de aceitar elogios, ainda que os ouvisse com frequência. 

 — Acha que exagerei? — Olivia deslizou a mão sobre o vestido de veludo preto, tirando alguns amassados. Ele tinha uma fenda na lateral da coxa direita, com um belo decote no busto. 

 — Pelo que sabemos dos Salvatore, acho que talvez esteja arrumada de menos. — Natalia retirou um cigarro da carteira surrada e a jogou sobre a cama, apoiando-se sobre a janela do dormitório. 

Olivia franziu o cenho, preocupada ao ouvi-la, mas Natalia continuou a falar: — Você está ótima, de verdade. Eles que são exagerados. Quer dizer, a mãe do Lucas que dizem ser bem esquisitona.  

 — Todo mundo fala isso, ainda acho que pode ser um exagero. — Olivia vestiu o salto alto preto, colocando uma tiara que combinava com o vestido no topo da cabeça. 

Liv não sabia o que pensar de qualquer pessoa da família de Lucas, afinal, não tinha conhecido nenhum deles. Ao contrário de muitas famílias ricas, eles eram reservados até demais.

Não saíam em manchetes, não havia escândalos ou a mínima fofoca que seja. Seriam anônimos, se não fossem praticamente donos da faculdade pela quantia exorbitante que doavam anualmente. 

E esse era um dos motivos pela ansiedade de Olivia em ir nessa festa. Isso, e o fato de ter escolhido esse dia como a oportunidade que teria para declarar seus sentimentos para Lucas. 

Por isso se preparou quase durante o dia inteiro. Vestiu sua melhor roupa, e fez questão de ensaiar mentalmente tudo o que deveria dizer quando tivesse chance. 

Durante o caminho, continuou tentando não esquecer as palavras perfeitamente escolhidas para o momento. Porém, no instante em que o carro do motorista de aplicativo chegou no portão da residência Salvatore, foi como se Olivia tivesse entrado em um estado de dormência. 

Os seguranças verificaram o nome de Olivia na lista, e a indicaram o caminho que faria andando até a casa. Por um momento, ela acreditou que aquele fosse um segundo campus de tão grande. 

Alguns minutos foram necessários para percorrer o caminho de pedras, que, por sinal, não era nada fácil de caminhar usando um salto fino. 

E assim que o som da música agitada encontrou sua audição, ela soube que havia chegado. 

Em uma entrada alternativa, diferente da porta principal da mansão, havia alguns empregados para recepcionar os convidados. Naquele momento, Olivia entendeu o que Natalia quis dizer. 

Era tudo… extravagante demais. Cores fortes, lustres e objetos exagerados, até mesmo um tanto exóticos. Formas geométricas irregulares e quadros com pinturas artísticas um tanto ousadas

No entanto, eram tão bonitos que destoavam do restante da decoração, chamando a atenção de Olivia por um longo tempo, a mantendo presa nas cores um tanto ofuscadas pela iluminação intensa, mas ainda transmitindo a paixão vibrante nos traços. 

Olivia ficou completamente imersa nas obras expostas sem pudor algum, exibindo o amor entre um casal em sua forma mais crua. 

O ambiente abafado se enchia de mais convidados a cada segundo. Olivia se sentia deslocada em meio a tantos rostos desconhecidos, aguardando ansiosa para encontrar quem havia esperado o dia inteiro, até que ela o viu.

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