02: Tempestade

Olivia Fernandes

Majestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.

Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.

Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.

Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.

Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.

— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — Preto combina muito com você, Liv. Está incrível.

As palavras se formaram na minha boca, mas o ar simplesmente não saía. Eu estava hipnotizada pelo sorriso largo de Lucas, exibindo seus dentes perfeitamente alinhados e brancos. Meus olhos vacilaram ao notar o abdômen definido sob a camisa colada, e foi como se meu fôlego desaparecesse vez ou outra.

Isso tudo parecia um sonho. Um daqueles sonhos que eu tive nos últimos dias.

Mas, nem todo sonho é só coisa boa. Alguns se tornam pesadelos. E ali, naquele momento, o sonho virou um pesadelo.

Ela surgiu. Uma mulher deslumbrante, caminhando entre a multidão como se tivesse luz própria. Seus cabelos ruivos ondulados desciam graciosamente sobre o busto farto, e o batom vermelho intenso nos lábios combinava com a cor vibrante de seu vestido.

Era como se a própria Jessica Rabbit tivesse se materializado ali, tomando para si toda a atenção do lugar. Inclusive a dele, de Lucas, que ficou paralisado, embasbacado, sem nem piscar.

E como se não pudesse piorar, ele desfez a expressão surpresa e abriu aquele lindo sorriso familiar para a mulher, que o abraçou com todo o corpo antes de lhe dar um beijo intenso, embora rápido.

O estrondo do lado de fora soou como se as minhas emoções tivessem se manifestado através da tempestade, ecoando mais alto do que a música estridente ao redor. Todos se assustaram, mas eu mal registrei o susto alheio.

— Lucas? — Foi tudo o que consegui dizer, confusa, e a decepção era nítida na minha voz.

Ele me olhou com um sorriso tímido no canto dos lábios, enquanto trazia a mulher ruiva pela cintura, colando o corpo dela ao dele.

— Olivia, essa é a Luara. Minha ex-namorada… Bom, acho que posso dizer namorada agora, não é? — falou, antes de dar outro beijo rápido nos lábios dela.

Isso só podia ser um pesadelo!

Essa palavra martelou na minha mente incontáveis vezes em um curto espaço de tempo. Nunca tinha ouvido o nome dessa mulher. Nunca soube que ele tinha tido uma namorada.

Algo não parecia certo, mas agora, não importava mais. Meu coração estava em mil pedaços, e todos os meus planos desmoronavam, escorrendo junto com a água da chuva que caía lá fora, implacável.

— É um prazer te conhecer, Luara — murmurei, tentando manter a compostura enquanto outros amigos chamavam a atenção do casal, que se despediu educadamente e seguiu em direção ao canto oposto do salão.

As vozes ao meu redor ficaram distantes, como um zumbido abafado, enquanto eu lutava para conter as lágrimas que ameaçavam escorrer pelos meus olhos. Era uma mistura de vergonha e humilhação. Parecia que todo mundo ali sabia o que tinha acabado de acontecer. Era como se tudo ao meu redor tivesse saído do controle, transformando-se no pior dos pesadelos.

Sem saber o que fazer, só conseguia pensar em uma coisa: fugir. Eu não podia gritar com ele, não podia xingá-lo, não podia explodir como queria. Tudo o que me restava era escapar dali o mais rápido possível.

Caminhei furiosa até a saída, me esquivando das pessoas bêbadas que pioravam a sensação de sufocamento que crescia dentro de mim. A cena dele, beijando aquela mulher, repetia-se sem parar na minha cabeça.

Quando finalmente cheguei à saída, ignorei completamente os olhares dos funcionários, preocupados com a minha saída apressada em meio à chuva torrencial.

Eu não me importava. Não me importava mais com nada. Nem com meu cabelo e maquiagem que levaram horas para ficar prontos, nem com o vestido impecável ou os meus pertences que a bolsa mal protegia.

Tudo o que eu ouvia era o som dos meus saltos batendo no chão, enquanto caminhava pelo caminho aparentemente interminável até os portões imensos da entrada após o jardim.

Mas, antes que eu pudesse chegar aos portões, um carro começou a acompanhar meus passos, andando na mesma velocidade. Meu coração acelerou, e por um momento, pensei que fosse Lucas.

A chuva estava tão intensa que mal conseguia enxergar direito, mas aquele carro... Era igual ao dele. Para não dizer idêntico. Por mais que a tempestade dificultasse minha visão, eu tinha certeza de que era Lucas.

Por um breve momento, meu coração acelerou. Será que ele tinha percebido que saí correndo? Será que estava vindo atrás de mim para se desculpar, para tentar consertar tudo?

Me agarrei a essa esperança. Claro que era ele. Só podia ser.

Sem pensar muito, corri em direção ao carro e abri a porta, ansiosa para me livrar da chuva impetuosa e, talvez, ouvir as palavras que tanto precisava. Mas, no segundo em que me sentei no banco e olhei para frente, meu mundo desabou de novo.

Não era Lucas.

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