02: Tempestade

Majestosamente posicionado em meio as luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que Olivia reconheceu da faculdade, ele sorria, evidentemente feliz e confortável em sua própria pele, como sempre demonstrava ser. 

Até mesmo o jeito como se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que Olivia achava. Tudo em Lucas era encantador. 

E sob o intenso olhar de sua amiga, ele se virou e a viu, retribuindo a intensidade da qual era observado ao fitá-la. Franziu as sobrancelhas, seguido de uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em direção a ela. 

Olivia sentiu seu corpo todo estremecer, parecia estar prestes a colapsar a qualquer momento. Suas mãos tensas pressionando a pequena bolsa que carregava, ao mesmo tempo que sentia o suor tornando o material escorregadio quando em contato com suas digitais. 

Ela respirou fundo e tentou se manter sã ao vê-lo caminhar tão belo quanto uma miragem, quase andando em câmera lenta em sua direção. 

 — Olivia Fernandes! — Ele segurou a mão dela com delicadeza, a fazendo dar um giro completo.  — Preto combina muito bem com você, Liv. Está incrível.

As palavras da universitária se formaram em sua boca, mas o ar simplesmente não saía. Ela estava focada no sorriso largo de Lucas em sua direção, exibindo os dentes alinhados e perfeitamente brancos. Vacilou algumas vezes em notar o abdome definido sob a camisa colada, buscando de volta o fôlego que desaparecia vez ou outra. 

Parecia um sonho. Tudo aquilo parecia um sonho dos que havia tido durante os últimos dias. 

Porém, nem todo sonho é composto apenas por partes boas. Alguns se tornam pesadelos, e naquele momento, foi o que virou para Olivia. Um grande pesadelo. 

Uma mulher deslumbrante surgiu, caminhando entre a multidão como se tivesse luz própria. Cabelos ruivos ondulados enfeitavam o busto farto, nos lábios, um batom vermelho intenso assim como a cor de seu vestido. 

Era como se a própria Jessica Rabbit tivesse se materializado naquele espaço, tomando para si toda a atenção do local. Inclusive a de Lucas, que embasbacado, nem sequer piscou ao vê-la. 

E como se não pudesse piorar, Lucas desfez a feição surpresa, abrindo o mesmo lindo sorriso familiar em direção à mulher misteriosa, que o abraçou com todo o corpo, antes de lhe dar um beijo intenso, embora rápido. 

O estrondo que fez do lado de fora soou como se as emoções de Olivia se manifestassem através da tempestade, ultrapassando até mesmo a barreira do som estridente da música no local, assustando todos ao redor. 

 — Lucas? — Foi tudo o que Olivia conseguiu dizer. Uma pergunta confusa, a decepção nítida em sua voz. 

Ele a fitou com um sorriso tímido no canto dos lábios, trazendo a mulher ruiva pela cintura, colando o corpo no dela. 

 — Olivia, essa é a Luara. Minha ex-namorada… Bom, acho que posso dizer namorada agora, não é? — Falou ao dar outro selo rápido nos lábios da então namorada

Isso só poderia ser um pesadelo!

Olivia deve ter repetido a tal palavra milhares de vezes em um curto período de tempo. Nunca tinha ouvido o nome dessa mulher, muito menos sabia sobre ele ter tido uma namorada.

Algo não parecia certo, mas agora, não importava. O coração de Olivia estava partido em mil pedaços, e todos os seus planos se desfizeram, escoando junto da água da chuva que caía lá fora, intensa e impiedosa.

— É um prazer te conhecer, Luara. — Olivia falou, antes de outros amigos chamarem a atenção do casal, que se despediu educadamente antes de irem em direção ao canto oposto do salão.

As vozes das pessoas ao redor tornaram-se distantes como um zumbido, enquanto ela se esforçava para conter as lágrimas que se forçavam a sair de seus olhos.

Era uma mistura de vergonha e humilhação, como se todos ao redor soubessem o que havia acontecido no exato momento. Tudo deu errado da pior forma possível, e nada que Olivia pudesse imaginar chegaria aos pes de tal tragédia.

Perdida e sem saber como agir diante de tal situação, Olivia só enxergava uma solução para o momento: fugir. 

Por não poder gritar com Lucas, espernear, xingá-lo com todos os palavrões possíveis, era a melhor saída diante de algo tão torturante. 

A universitária caminhou, furiosa, até a saída, se desvencilhando das pessoas já bêbadas ao redor, piorando a sensação de sufocamento que aumentava conforme as cenas de seu melhor amigo se repetiam em sua cabeça. 

Tudo estava fora do controle, e para Olivia, isso era como o pior de seus pesadelos. 

Ao conseguir chegar na saída, ignorou completamente o amparo dos funcionários, que ficaram preocupados com a jovem saindo tão atordoada mesmo em meio a chuva estrondosa que caía. 

Olivia não se importou. Havia deixado de se importar com tudo naquele momento. Seu cabelo e maquiagem que duraram horas para ficarem prontos, seu vestido impecável e seus pertences que a bolsa pouco protegia.

Só conseguia ouvir o barulho de seu salto se chocando contra o chão conforme fazia o caminho que parecia infinito até os portões imensos da entrada após o jardim.

Porém, antes que pudesse finalizar seu trajeto, um carro passou a acompanhá-la na mesma velocidade de seus passos. Olivia reparou, e ao constatar qual carro seria, teve esperança de que fosse Lucas. 

Era um carro similar ao que ele usava, para não dizer idêntico. Mas a chuva era intensa e não facilitava para que Olivia observasse com atenção.

Então, confiante de que ele havia percebido sua ausência, ela teve certeza de que era ele em uma tentativa de redenção.  

Por isso, ao abrir a porta do carro e finalmente se livrar da tempestade impetuosa, as expectativas de Olivia foram quebradas no momento em que viu outra pessoa diante de si. 

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