03: Dante

A frustração que sentiu durou menos de um milésimo de segundo, tempo o suficiente para processar a imagem estática diante de seus olhos. 

E, pela segunda vez naquela a noite, Olivia se encontrou sem palavras. 

Seus olhos percorreram por todo o corpo dele, passando pelo braço estendido com as mãos segurando o volante em um toque firme e quase palpável. 

As veias salientes e marcadas em todo o antebraço, subindo para o bíceps visivelmente definido sob a manga da blusa levemente úmida.

Viu o peitoral marcado com a camisa branca social igualmente molhada, algumas gotas marcando sua clavícula, e os óculos um tanto embaçados. A barba por fazer e o cabelo preto molhado, com alguns poucos fios grisalhos indicando sua maturidade. 

Olivia pensou que ele facilmente poderia ter saído de um filme. 

Durante os primeiros segundos, só conseguiu observá-lo. Queria de alguma forma gravar a imagem do homem a sua frente, como se ele pudesse desaparecer a qualquer momento. 

Precisava se lembrar daquele rosto, de toda estrutura hipnotizante diante de si. 

Mas antes que o silêncio perdurasse, ela finalmente caiu em si, e se deu conta de tudo o que estava acontecendo. 

— Quem é você? — perguntou assustada ao perceber estar na frente de um estranho. 

— Você está no meu carro, acho que eu que deveria fazer essa pergunta. — O homem misterioso abriu um sorriso. Um daqueles que Olivia quase achou familiar apenas pelo modo como a derreteu inteira.

— Meu Deus do céu! — Exclamou ao cair em si. Estava no carro de alguém que nem conhecia. Naquele instante, teve certeza de que estava fora de si.

Culpava Lucas por isso.

A universitária abriu a porta em um impulso rápido, torcendo para o momento constrangedor acabar quanto antes. Porém, quando colocou a cabeça para fora do veículo e se preparou para sair, a mão do homem que o dirigia alcançou seu pulso.

O toque firme e ao mesmo tempo cuidadoso fez Olívia se arrepiar. Mas ela não admitiria ser ele o responsável por tal fato, culparia a chuva por isso. Olivia sempre gostou de culpar tudo ao redor para esconder de si alguns fatos que eram óbvios. E, naquele momento, era óbvio que aquele homem que sequer havia dito seu nome estava a deixando nervosa. 

— Não posso deixar você sair sozinha nessa chuva. — Os dedos dele a soltaram e ela deu um gemido frustrado ao sentir a ausência do toque.

Mas apesar da inebriante sensação que a acometeu no instante em que o viu, Olivia ainda era a mesma menina insuportavelmente controlada de sempre.

— Olha, eu não quero ser mal-educada, mas eu nem te conheço. Acho que é mais seguro eu ir à chuva do que ficar no carro de um desconhecido. 

Ele deu um sorriso ladino e ergueu uma das sobrancelhas, ajeitando os óculos que pendiam em seu nariz.

— Sou Dante, muito prazer. — Ele estendeu a mão em direção à garota, que se manteve retraída no banco de couro bege.

Apesar de tentada a tocá-lo de novo apenas para sentir o toque eletrizante dele sobre sua pele, Olivia resistiu, pois estava firme em suas opiniões. 

— Olivia. — disse curta e grossa. — Saber seu nome não é o suficiente para eu confiar em você, Dante. 

— Seria burra se confiasse, Olivia. — Ele colocou o cinto de segurança e travou o carro, dando partida até os portões da mansão. 

— O que está fazendo? — Indagou irritada. — Você só pode ser maluco!

Ele riu, ajeitando os cabelos ao olhar pelo retrovisor. 

— Coloque o cinto e me passe o seu endereço. Te solto quando estiver segura na sua casa. — Dante soou firme. 

Olivia olhou os seguranças da mansão de Lucas através do vidro fumê, sem conseguir pedir ajuda, ainda que batesse incessantemente na janela do carro.

— O vidro é blindado. — Ele caçoou, acelerando no momento em que saíram do lugar. Ligou o som, colocando uma estação de rádio qualquer e abriu o porta luvas, pegando um chiclete de melancia. 

Ofereceu um para Olivia, que afastou sua mão ao vê-la perto de seu rosto. 

— Eu não sei o que você quer ou o que pretende, mas eu tenho um chip de localização que podem usar para me rastrear. — Ele gargalhou ao ouvi-la.

— Eu só quero te levar para casa em segurança, Olivia. — Ele afirmou novamente, tocando no pulso dela mais uma vez. 

Ela fechou os olhos e respirou fundo ao sentir as digitais quentes sobre sua pele fria pela tempestade.

Por que é tão bom quando ele faz isso?

Olivia balançou a cabeça ao sentir aquilo novamente, e pela primeira vez, Dante notou que não era apenas ele quem sentia a sensação estranha que ocorria quando eles se tocavam. 

Após isso, ele não disse mais nenhuma palavra. Não conseguiu, ficou intrigado com o estranhamento que surgiu ao dar um simples toque na mão daquela moça até então desconhecida no banco do carona de seu carro. 

Então, ele apenas apontou em direção ao GPS e indicou para que Olivia digitasse o endereço, e ainda relutante, ela colocou um endereço qualquer, decidida a não contar ao homem insistente que basicamente a prendeu ali onde morava.

Após algum tempo, onde eles ficaram dando voltas e mais voltas com o carro, sem ter um rumo definido, Dante achou esquisito o local onde o mapa apontava o destino desejado. 

Desconfiado, ergueu uma das sobrancelhas e bufou, irritado, notando que Olivia o fez e bobo durante todo o tempo em que passearam pela cidade.

— Tudo bem, Olivia. Já que não quer dizer para onde devo te levar, então escolherei para onde iremos.

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