Olivia Fernandes
A frustração que senti durou menos de um milésimo de segundo, tempo suficiente para que meu cérebro processasse a imagem diante dos meus olhos. E, pela segunda vez naquela noite, eu fiquei sem palavras.
Meus olhos percorreram o corpo dele, absorvendo cada detalhe. O braço estendido, segurando o volante com firmeza. As veias salientes no antebraço subindo até o bíceps definido sob a camisa levemente molhada. Seu peito marcado pela camisa social branca, igualmente úmida, algumas gotas descendo pela clavícula. Os óculos estavam um pouco embaçados, e o cabelo preto, com alguns fios grisalhos, estava molhado, colado à testa. A barba por fazer completava a cena. Ele parecia ter saído direto de um filme.
Por alguns segundos, eu só consegui observá-lo. Queria gravar aquela imagem, como se ele fosse desaparecer a qualquer momento. Eu precisava me lembrar daquele rosto, daquela estrutura hipnotizante. Mas então, o silêncio que se formava me trouxe de volta à realidade. O que eu estava fazendo ali?
— Quem é você? — Minha voz saiu em um tom baixo, meio assustado. Eu estava no carro de um completo estranho.
— Você está no meu carro, acho que eu que deveria fazer essa pergunta. — Ele sorriu, um sorriso que fez meu corpo inteiro se derreter, mesmo que eu não quisesse admitir.
— Meu Deus! — murmurei, finalmente percebendo a gravidade da situação. Eu estava no carro de alguém que eu nem conhecia. Como eu pude fazer algo tão impulsivo? Culpava Lucas por isso.
Rapidamente, puxei a maçaneta da porta, pronta para sair e acabar com o constrangimento o mais rápido possível. Mas, no exato momento em que tentei sair, senti uma mão firme e quente segurando meu pulso.
O toque dele me fez arrepiar dos pés à cabeça, mas não admitiria que ele fosse o responsável por isso. Não, era culpa da chuva e do frio. Sempre culpei o que estivesse ao meu redor para evitar encarar verdades incômodas. E a verdade agora era que esse homem, esse estranho, estava me deixando nervosa.
— Não posso deixar você sair sozinha nessa chuva. — A mão dele soltou meu pulso, e eu quase gemi de frustração ao sentir a ausência daquele toque.
Eu me controlei. Apesar de tudo, ainda era a mesma Olivia de sempre, a garota que mantinha as emoções sob controle.
— Olha, eu não quero ser rude, mas eu nem te conheço. Acho que é mais seguro eu sair na chuva do que ficar no carro de um desconhecido. — Tentei soar firme, mas minha voz falhou um pouco.
Ele deu um sorriso torto e levantou uma sobrancelha, ajeitando os óculos que deslizavam pelo nariz.
— Sou Dante, muito prazer. — Ele estendeu a mão na minha direção, mas eu permaneci quieta, sem saber o que fazer.
Eu estava tentada a tocar a mão dele novamente, só para sentir aquele toque eletrizante, mas resisti.
— Olivia. — Respondi, seca. — Saber o seu nome não é suficiente para eu confiar em você, Dante.
— Você seria muito ingênua se confiasse. — Ele deu uma risada curta e, sem que eu esperasse, colocou o cinto de segurança e travou as portas, ligando o carro.
— O que você está fazendo? — Fiquei irritada. — Você só pode ser louco!
Ele sorriu de canto de novo, com uma calma desconcertante.
— Coloque o cinto e me diga o seu endereço. Vou te deixar em casa, segura. — Ele soou firme, como se o que estivesse fazendo fosse a coisa mais sensata do mundo.
Olhei para os seguranças da mansão de Lucas através do vidro escurecido, tentando atrair a atenção deles batendo na janela, mas foi inútil.
— O vidro é blindado. — Ele riu, acelerando o carro enquanto saíamos de lá. Ligou o rádio, sintonizando em qualquer estação, e pegou um chiclete de melancia no porta-luvas.
Ofereceu-me um, e eu recusei, afastando a mão dele com um gesto rápido.
— Eu não sei o que você quer ou o que pretende, mas eu tenho um chip de localização. Vão me rastrear. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava, e ele soltou uma gargalhada.
— Eu só quero te levar para casa, Olivia. — Ele afirmou mais uma vez, e então, seu toque voltou ao meu pulso.
Fechei os olhos e respirei fundo ao sentir aquele calor invadindo minha pele fria pela chuva.
Por que isso é tão bom?
Eu sacudi a cabeça, tentando afastar esses pensamentos, mas ele notou. Percebeu que o toque não me afetava apenas fisicamente. Havia algo mais, e Dante pareceu intrigado com isso.
Sem dizer mais uma palavra, ele apontou para o GPS e me pediu que colocasse meu endereço. Relutante, digitei um lugar aleatório, decidida a não contar para ele onde realmente morava.
Demos voltas e mais voltas pela cidade. Quando o carro parou no local que indiquei, ele ergueu uma sobrancelha, claramente desconfiado.
— Tudo bem, Olivia. Já que você não quer me dizer para onde devo te levar, vou escolher o destino.
Olivia FernandesDante acelerou o carro, exibindo um grande sorriso no rosto. Ele parecia se divertir fazendo manobras arriscadas, usando a estrada vazia como se fosse seu próprio parque de diversões ao ar livre.Eu sentia um misto de sensações confusas e inquietantes se revirando dentro de mim, e honestamente, eu não sabia o que fazer em relação a isso. No entanto, decidi que essa seria minha maior loucura até então. Pela primeira vez na vida, permiti-me ser imprudente e confiar minha integridade a esse homem estranho.Havia algo nele que me fazia querer confiar. Talvez fosse o jeito que suas digitais tinham tocado minha pele, me causando uma sensação completamente nova e inesperada. Não sabia explicar exatamente o que era, mas, de algum modo, não parecia ser algo ruim.— Desistiu de resistir? — Ele perguntou, notando minha tranquilidade diante da situação.— Seria uma perda de energia, não acha? — respondi, tentando soar calma.— Certamente. — Ele sorriu de lado, ajeitando os óculos
Olivia FernandesDante não me respondeu, mantendo o suspense sobre sua identidade. Apenas sorriu, o mesmo sorriso largo e bonito que me fez vacilar no primeiro instante em que o conheci. — Seu sorriso é bonito, mas não vai ser o suficiente para evitar que eu faça mais perguntas — disparei, pegando-o de surpresa.— Se o meu sorriso não for o suficiente, posso tentar te dissuadir de outras formas — ele respondeu, ajeitando uma mecha do meu cabelo e a colocando atrás da minha orelha. O toque perdurou, como se ele quisesse prolongar aquele momento, deslizando o dedo pelo meu lóbulo, até alcançar meu pescoço e, finalmente, a minha nuca. Meu corpo reagiu ao toque de Dante de uma forma que eu não esperava. Aquilo não era só um toque. Era íntimo, quase possessivo. O tipo de toque que me fazia sentir exposta, mas curiosamente segura.Antes que pudesse me controlar, as palavras escaparam:— O que você viu em mim?Eu odiava a forma como me sentia nessas horas, como se nunca fosse suficiente. E,
Olivia FernandesSe me perguntassem para me definir em uma única palavra, eu provavelmente responderia: controle. Desde muito cedo, fui ensinada a controlar todos os aspectos da minha vida. Dos detalhes mais bobos até os mais importantes. E esses, os que impactariam meu futuro, eram os que mais exigiam cautela ao tomar qualquer decisão.Eu fiz tudo certo até aqui. Fui uma boa filha, obediente, submissa, quase perfeita demais para as expectativas dos meus pais. Mas todo esse controle, essa busca pela perfeição, me custaram algo que talvez nunca consiga reparar.Qualquer um que me observasse de fora perceberia o quanto eu sofria ao tentar tomar decisões por conta própria. No meio de toda essa criação rígida e desgastante, eu perdi a capacidade de pensar por mim mesma, de saber o que realmente quero, ao invés de sempre me preocupar com o que eu deveria fazer, de acordo com meus pais ou meu irmão.Então, aos 24 anos, tomei a decisão mais importante da minha vida: me entregar a um homem.Po
Olivia FernandesA luz da lua nos envolvia em uma atmosfera quase mágica, criando um ambiente surreal enquanto eu e Dante permanecíamos parados na varanda, trocando olhares que transbordavam devoção. Ele esperava por um sinal meu. Agora, mais do que nunca, ele queria ter certeza de que o que estávamos prestes a fazer era a coisa certa.O silêncio que pairava entre nós era quase torturante. Eu guardava para mim todos os pensamentos que se atropelavam na minha cabeça. Eu o desejava com cada parte do meu ser. Queria ser a garota destemida e ousada que sempre imaginei — e invejei. Mas não sabia se conseguiria evitar a culpa esmagadora que poderia vir depois, enfrentando as consequências dos meus atos. Ainda assim, mesmo hesitante, minha mente analítica começou a pesar as possibilidades.— Nós podemos nos conhecer melhor essa noite, sem muita pressão… — Ele disse, como se pudesse ler meus pensamentos.Sorri, sentindo uma antecipação crescer em mim, mas sem ainda expressar todos os pensament
Olivia FernandesNo momento em que me vi deitada, assistindo Dante em pé à minha frente, senti como se meu coração estivesse prestes a rasgar a carne do meu peito e saltar para fora. A cada batida, parecia que ele ecoava pelo quarto, como se quisesse denunciar o frenesi que me consumia.Eu mal conseguia respirar. Meus lábios se umedeciam por reflexo, enquanto lutava para não perder a razão diante dele. Havia algo, algo inexplicável que tomava conta de mim e que eu não saberia descrever, mesmo que me perguntassem. Era mais do que desejo. Era... necessidade.— Você está bem? — Dante perguntou, ajoelhando-se diante do sofá, alcançando meus pés com uma gentileza que me fazia querer derreter.Eu apenas assenti, incapaz de pronunciar uma única palavra, vendo-o desabotoar minhas sandálias. Seus dedos percorreram meus tornozelos, subindo pela minha pele e me deixando arrepiada. Não era só o toque, era a maneira como ele me olhava, como se cada parte de mim fosse preciosa.Dante se divertia com
Olivia FernandesFoi preciso apenas um único e pequeno toque para eu sentir arrependimento. Mas, não se engane, eu não tinha arrependimento nenhum sobre Dante. Pelo menos, não ainda.O arrependimento vinha de ter esperado tanto tempo para experimentar algo assim, de ter deixado minhas inseguranças e ansiedades me impedirem. Quando o prazer intenso finalmente me atingiu, como uma tempestade, percebi que havia muito mais a descobrir.Cada nova descoberta só aumentava o meu delicioso leque de possibilidades.— Isso, Dante. Bem aí — eu tentei conter o gemido sôfrego que escapou mais alto do que o normal.— Não se contenha, por favor — ele pediu, mas eu o empurrei novamente, afundando-o no centro do meu prazer.Os beijos que trocamos me deram um gostinho de como seus lábios eram macios, assim como sua língua, que escorregava contra a minha com tanta habilidade. E toda essa habilidade foi intensificada quando ele me beijou em minha região mais íntima.Eu estava tão molhada que o lençol embai
Olivia FernandesO telefone tocou, o som alto e claro de Chopin ecoou pelo loft. Eu me assustei, e Dante estranhou o horário inoportuno para seu telefone tocar. Já era madrugada, e não era do seu costume receber telefonemas tão tarde.— Perdão, não vou demorar. — Ele deu um selo rápido nos meus lábios antes de seguir até a bancada um pouco distante do sofá onde estávamos. Pegou o celular e observou a tela com curiosidade.De longe, vi o cenho de Dante se franzir. Estava curiosa, ainda tentando assimilar tudo que tinha acontecido, lidando com o desejo intenso que corria pelo meu corpo.— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei enquanto vestia minha lingerie.Dante ergueu a mão direita, pedindo um segundo enquanto ouvia algo no celular. Naquele instante, vi sua feição mudar. Ele parecia assustado.— Precisamos ir, meu filho está com problemas — Ele falou brevemente, se aproximando de mim mais uma vez. — Sinto muito precisar interromper isso, espero que saiba que não era a minha vontade.Ele
Olivia FernandesFiquei estática por minutos. O mundo parecia girar ao meu redor enquanto eu tentava processar a nova e chocante revelação. Não conseguia fazer nada além de abrir e fechar minha boca, sem conseguir pronunciar uma única palavra.Estava absorta em meus pensamentos, convicta de que aquilo tudo não passava de um terrível pesadelo, daqueles que a gente deseja acordar o quanto antes. Sentia um nó na garganta e uma sensação de desamparo, como se o chão tivesse se aberto sob meus pés.Sabia que não tinha culpa por não saber que Dante era o pai de Lucas. Nunca tinha visto uma foto dele, e sempre ouvira todos chamarem-no apenas de Senhor Salvatore. Naquela noite, eu havia me deixado levar pelos sentimentos intensos que surgiram entre nós, sem imaginar que estava prestes a descobrir uma conexão tão inacreditável e devastadora.Parecia praticamente impossível que aquilo estivesse acontecendo comigo, justamente com alguém que sempre estive apaixonada desde o primeiro ano da faculdad