A frustração que sentiu durou menos de um milésimo de segundo, tempo o suficiente para processar a imagem estática diante de seus olhos.
E, pela segunda vez naquela a noite, Olivia se encontrou sem palavras.
Seus olhos percorreram por todo o corpo dele, passando pelo braço estendido com as mãos segurando o volante em um toque firme e quase palpável.
As veias salientes e marcadas em todo o antebraço, subindo para o bíceps visivelmente definido sob a manga da blusa levemente úmida.
Viu o peitoral marcado com a camisa branca social igualmente molhada, algumas gotas marcando sua clavícula, e os óculos um tanto embaçados. A barba por fazer e o cabelo preto molhado, com alguns poucos fios grisalhos indicando sua maturidade.
Olivia pensou que ele facilmente poderia ter saído de um filme.
Durante os primeiros segundos, só conseguiu observá-lo. Queria de alguma forma gravar a imagem do homem a sua frente, como se ele pudesse desaparecer a qualquer momento.
Precisava se lembrar daquele rosto, de toda estrutura hipnotizante diante de si.
Mas antes que o silêncio perdurasse, ela finalmente caiu em si, e se deu conta de tudo o que estava acontecendo.
— Quem é você? — perguntou assustada ao perceber estar na frente de um estranho.
— Você está no meu carro, acho que eu que deveria fazer essa pergunta. — O homem misterioso abriu um sorriso. Um daqueles que Olivia quase achou familiar apenas pelo modo como a derreteu inteira.
— Meu Deus do céu! — Exclamou ao cair em si. Estava no carro de alguém que nem conhecia. Naquele instante, teve certeza de que estava fora de si.
Culpava Lucas por isso.
A universitária abriu a porta em um impulso rápido, torcendo para o momento constrangedor acabar quanto antes. Porém, quando colocou a cabeça para fora do veículo e se preparou para sair, a mão do homem que o dirigia alcançou seu pulso.
O toque firme e ao mesmo tempo cuidadoso fez Olívia se arrepiar. Mas ela não admitiria ser ele o responsável por tal fato, culparia a chuva por isso. Olivia sempre gostou de culpar tudo ao redor para esconder de si alguns fatos que eram óbvios. E, naquele momento, era óbvio que aquele homem que sequer havia dito seu nome estava a deixando nervosa.
— Não posso deixar você sair sozinha nessa chuva. — Os dedos dele a soltaram e ela deu um gemido frustrado ao sentir a ausência do toque.
Mas apesar da inebriante sensação que a acometeu no instante em que o viu, Olivia ainda era a mesma menina insuportavelmente controlada de sempre.
— Olha, eu não quero ser mal-educada, mas eu nem te conheço. Acho que é mais seguro eu ir à chuva do que ficar no carro de um desconhecido.
Ele deu um sorriso ladino e ergueu uma das sobrancelhas, ajeitando os óculos que pendiam em seu nariz.
— Sou Dante, muito prazer. — Ele estendeu a mão em direção à garota, que se manteve retraída no banco de couro bege.
Apesar de tentada a tocá-lo de novo apenas para sentir o toque eletrizante dele sobre sua pele, Olivia resistiu, pois estava firme em suas opiniões.
— Olivia. — disse curta e grossa. — Saber seu nome não é o suficiente para eu confiar em você, Dante.
— Seria burra se confiasse, Olivia. — Ele colocou o cinto de segurança e travou o carro, dando partida até os portões da mansão.
— O que está fazendo? — Indagou irritada. — Você só pode ser maluco!
Ele riu, ajeitando os cabelos ao olhar pelo retrovisor.
— Coloque o cinto e me passe o seu endereço. Te solto quando estiver segura na sua casa. — Dante soou firme.
Olivia olhou os seguranças da mansão de Lucas através do vidro fumê, sem conseguir pedir ajuda, ainda que batesse incessantemente na janela do carro.
— O vidro é blindado. — Ele caçoou, acelerando no momento em que saíram do lugar. Ligou o som, colocando uma estação de rádio qualquer e abriu o porta luvas, pegando um chiclete de melancia.
Ofereceu um para Olivia, que afastou sua mão ao vê-la perto de seu rosto.
— Eu não sei o que você quer ou o que pretende, mas eu tenho um chip de localização que podem usar para me rastrear. — Ele gargalhou ao ouvi-la.
— Eu só quero te levar para casa em segurança, Olivia. — Ele afirmou novamente, tocando no pulso dela mais uma vez.
Ela fechou os olhos e respirou fundo ao sentir as digitais quentes sobre sua pele fria pela tempestade.
Por que é tão bom quando ele faz isso?
Olivia balançou a cabeça ao sentir aquilo novamente, e pela primeira vez, Dante notou que não era apenas ele quem sentia a sensação estranha que ocorria quando eles se tocavam.
Após isso, ele não disse mais nenhuma palavra. Não conseguiu, ficou intrigado com o estranhamento que surgiu ao dar um simples toque na mão daquela moça até então desconhecida no banco do carona de seu carro.
Então, ele apenas apontou em direção ao GPS e indicou para que Olivia digitasse o endereço, e ainda relutante, ela colocou um endereço qualquer, decidida a não contar ao homem insistente que basicamente a prendeu ali onde morava.
Após algum tempo, onde eles ficaram dando voltas e mais voltas com o carro, sem ter um rumo definido, Dante achou esquisito o local onde o mapa apontava o destino desejado.
Desconfiado, ergueu uma das sobrancelhas e bufou, irritado, notando que Olivia o fez e bobo durante todo o tempo em que passearam pela cidade.
— Tudo bem, Olivia. Já que não quer dizer para onde devo te levar, então escolherei para onde iremos.
Dante acelerou o carro, exibindo um sorriso em seu rosto. Parecia se divertir ao fazer manobras arriscadas, utilizando a estrada vazia como seu parque de diversões ao ar livre. Era um mix de sensações confusas e inquietantes que se misturavam dentro de Olivia, e acreditando que essa seria sua maior loucura e permitindo-se ser imprudente pela primeira vez na vida, ela decidiu confiar na sensação curiosa que surgiu no pouco tempo em que esteve na presença dele. Olivia não saberia descrever, afinal, nunca tinha sentido nada parecido. Mas, o que a tomou ao sentir as digitais de Dante sobre sua pele, definitivamente não parecia como uma sensação ruim. — Desistiu de resistir? — Ele perguntou, curioso ao notar sua tranquilidade diante da situação. — Seria uma perda de energia, não é mesmo? — Olivia afirmou.— Certamente. — Ele sorriu ladino, ajeitando os óculos novamente, antes de pegar mais um chiclete. — Acho que não vai se importar em fazer uma pequena viagem, então. Olivia arregalou
Dante não a respondeu, mantendo o suspense sobre sua identidade. Apenas sorriu, o mesmo sorriso largo e bonito que a fez vacilar no primeiro instante em que se conheceram. — Seu sorriso é bonito, mas não vai ser o suficiente para evitar que eu faça mais perguntas. — Olivia disparou, o pegando de surpresa. — Se o meu sorriso não for o suficiente, posso tentar te dissuadir de outras formas. — Ele ajeitou uma mecha do cabelo de Olivia, a colocando atrás da orelha. Aproveitou para perdurar o toque ao alisar seu lóbulo da orelha, deslizando o dedo até seu pescoço, seguindo até a nuca.Olivia ficou surpresa de muitas formas ao sentir o toque de Dante sobre si novamente, agora, de forma mais íntima. — O que você viu em mim? — Ela deixou o pensamento escapar. Odiava se sentir assim, insuficiente. Mas basta ver o próprio reflexo em alguma superfície para essa sensação retornar. Lidar com o próprio peso nunca foi nada fácil para Olivia, e agora, na vida adulta, sentia essa insegurança respi
Caso Olivia fosse perguntada sobre como se representar em uma única palavra, ela muito provavelmente responderia: controle. Desde muito jovem, foi ensinada a controlar todos os aspectos de sua vida. Desde os detalhes mais bobos, quanto aos mais relevantes. E esses, os que teriam impacto em sua vida em um futuro distante, eram os que mais exigiam de si algum tipo de cautela sobre quais decisões tomar. Olivia fez tudo certo durante sua vida. Foi uma boa filha, obediente, submissa, quase perfeita demais ao que se entende sobre atender as expectativas dos outros. Porém, todo esse controle e perfeição durante seu crescimento, exigiam algo de si que, talvez, fosse irreparável. Não era difícil para quem a visse de fora enxergar o quanto a universitária sofria ao precisar tomar decisões importantes por conta própria. Olivia perdeu, durante a criação dura e desgastante, a habilidade de pensar com a própria cabeça. Saber analisar o que queria, quando queria, diferente do que achava que prec
Iluminados pela luz da lua etérea, criando um ambiente lúdico e quase surreal, Dante e Olivia permaneciam parados na varanda, encarando um ao outro com um olhar de devoção em seus rostos. Dante aguardava um sinal de Olivia. Agora, mais do que nunca, queria ter certeza de que o que estavam prestes a fazer era o correto. E Olivia, em um silêncio torturante, guardava para si todos os pensamentos que a encurralavam naquela situação. Ela queria, com todo o corpo e alma, prosseguir. Queria ser a menina destemida e ousada que sempre sonhou — e invejou. Só não sabia se conseguiria evitar a culpa excessiva após ao enfrentar as consequências de seus atos. Porém, ainda que hesitante sobre um todo, sua mente analítica passou a pensar em possibilidades. — Podemos nos conhecer melhor essa noite, sem muita pressão… — Dante disse, quase como se pudesse ler os pensamentos de Olivia. Ela sorriu com antecipação, sem ainda dizer todos os pensamentos sórdidos que a entorpeceram no instante em
O momento em que se viu deitada, assistindo Dante em pé em sua direção, Olivia sentiu como se o seu coração estivesse prestes a rasgar a carne do seu peito e saltar para fora.A palpitação quase podia ser ouvida, e o frenesi que a consumiu no instante em que o assistiu tirar a camisa que vestia, a dopou.Mal conseguia respirar. Umedecia os lábios a cada segundo, buscando em si forças para resistir à sensação estranha que lhe tirava a resistência. Não sabia explicar, era algo que ia muito além do que poderia imaginar caso fosse perguntada. — Você está bem? — Ele se ajoelhou perante o sofá, alcançando os pés de Olivia.Ela assentiu, o respondendo, sem ainda dizer palavra alguma ao assisti-lo desabotoar suas sandálias com gentileza. Ele acariciou o tornozelo da morena ao repousar seus pés no chão novamente, subindo com suas digitais através da pele surpreendentemente macia. Dante se divertia ao perceber a excitação tão nítida na face de Olivia. Cada expressão entregando mais o quant
Um toque. Foi preciso apenas de um único e pequeno toque para Olivia sentir arrependimento. Mas não se engane, ela não tinha arrependimento nenhum sobre Dante. Pelo menos não ainda. Ela se arrependeu por nunca ter feito isso antes, por esperar tempo demais enquanto estava perdida em suas inseguranças e ansiedades. Quando finalmente sentiu o prazer intenso lhe atingir como uma tempestade, Olivia percebeu que ainda havia muito a descobrir. E cada descoberta nova que fazia aumentava seu delicioso leque de possibilidades. — Isso, Dante. Bem aí — Olivia tentou conter o gemido sôfrego que escapou mais alto que o normal. — Não se contenha, por favor — Dante cessou seus movimentos ao fazer o pedido, mas Olivia o empurrou novamente, o afundando no centro de seu prazer. Os beijos que trocou com Dante deram a Olivia um gosto de como seus lábios eram macios, assim como sua língua, que escorregava contra a sua com habilidade. E toda essa habilidade foi reforçada no instante em que ele a
O telefone tocou, o som alto e claro de Chopin ecoou pelo loft.Olivia se assustou, e Dante estranhou o horário inoportuno para seu telefone tocar.Já era madrugada, e não era do seu costume receber telefonemas tão tarde. — Perdão, não vou demorar. — Ele deu um selo rápido nos lábios da morena, seguindo até a bancada um pouco distante do sofá onde estavam. Pegou o celular e observou a tela com curiosidade.Olivia, de longe, viu o cenho de Dante se franzir. Estava curiosa, ainda tentando assimilar tudo que tinha acontecido, lidando com o desejo intenso que corria em seu corpo.— Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou enquanto vestia sua lingerie. Dante ergueu a mão direita, pedindo um segundo enquanto ouvia algo no celular. Naquele instante, ela viu sua feição mudar. Ele parecia assustado.— Precisamos ir, meu filho está com problemas — Ele falou brevemente, se aproximando de Olivia mais uma vez. — Sinto muito precisar interromper isso, espero que saiba que não era a minha vontade.
Olivia ficou estática por minutos. Não conseguia fazer nada que não fosse abrir e fechar sua boca, sem conseguir dizer palavra alguma. Estava absorta em seus pensamentos, convicta de que aquilo tudo não passava de um terrível pesadelo. Sabia que não tinha culpa por não saber que Dante era o pai de Lucas, afinal, ela nunca viu uma foto dele sequer, e sobre seu nome, sempre ouvia todos o chamarem de Senhor Salvatore.Parecia praticamente impossível e contra todas as possibilidades que aquilo tivesse acontecido justamente com Olivia, que era apaixonada por Lucas desde o primeiro ano da faculdade. De repente, parecia que tudo estava desmoronando. Desde o momento em que encontrou Lucas acompanhado de Luara, até o instante em que ela descobriu que Dante, o homem que passou a noite o conhecendo, era o pai de seu melhor amigo. — Isso só pode ser um pesadelo! — Quase gritou dentro do carro abafado, ainda esperando Dante liberar Lucas da delegacia para irem embora. E então, quando parecia