04: Livre

Olivia Fernandes

Dante acelerou o carro, exibindo um grande sorriso no rosto. Ele parecia se divertir fazendo manobras arriscadas, usando a estrada vazia como se fosse seu próprio parque de diversões ao ar livre.

Eu sentia um misto de sensações confusas e inquietantes se revirando dentro de mim, e honestamente, eu não sabia o que fazer em relação a isso. No entanto, decidi que essa seria minha maior loucura até então. Pela primeira vez na vida, permiti-me ser imprudente e confiar minha integridade a esse homem estranho.

Havia algo nele que me fazia querer confiar. Talvez fosse o jeito que suas digitais tinham tocado minha pele, me causando uma sensação completamente nova e inesperada. Não sabia explicar exatamente o que era, mas, de algum modo, não parecia ser algo ruim.

— Desistiu de resistir? — Ele perguntou, notando minha tranquilidade diante da situação.

— Seria uma perda de energia, não acha? — respondi, tentando soar calma.

— Certamente. — Ele sorriu de lado, ajeitando os óculos com uma confiança tranquila, antes de pegar outro chiclete. — Acho que não vai se importar em fazer uma pequena viagem, então.

Quando vi a placa indicando que estávamos saindo da cidade de Vale Dália, arregalei os olhos, surpresa.

— O que vamos fazer em Caliandra a essa hora? — perguntei, sem esconder minha curiosidade.

— Confie em mim, Olivia — ele disse, com um olhar sério que me desarmou.

— Você mesmo não disse que seria burrice fazer isso? — rebati, meio brincando, meio desafiando.

— Você é esperta, mas, só dessa vez, confie em mim. Deixe-me guiá-la por uma noite.

— Certo, Dante. — Falei seu nome, experimentando como soava em minha boca. Gostei da sensação. — Me guie, apenas por uma noite.

A chuva parou logo após entrarmos na cidade de Caliandra. A paisagem mudou drasticamente: prédios altos, pouca vegetação e um mar de luzes. Era uma cidade grande, movimentada, cheia de casas noturnas e eventos culturais. O tipo de lugar ideal para quem adora socializar, o que definitivamente não era meu caso.

Desde que me mudei para Vale Dália, só havia visitado Caliandra uma vez, e foi com Lucas. Lembro que ele passou a noite tentando encontrar caras para mim em uma boate, sem perceber que ele próprio era o único que me interessava. Pelo menos até eu conhecer Dante.

Eu não sabia praticamente nada sobre ele. Qual era sua idade, embora fosse claramente mais velho que eu, onde trabalhava, quais eram seus interesses ou até se era casado — o que eu sinceramente esperava que não fosse o caso. E isso me deixava inquieta. Estar vulnerável no carro de um completo estranho me aterrorizava tanto quanto me intrigava. Eu queria conhecê-lo, mesmo que o contexto em que estávamos não fosse nada convencional.

— Pode abrir as janelas, por favor? — pedi, e ele atendeu sem hesitar.

Senti o vento frio tocar minha pele quando apoiei o braço na janela aberta. Olhei meu reflexo no retrovisor, aliviada por ainda estar apresentável, apesar de ter ficado quase encharcada com a chuva.

Apoiei a cabeça no braço e fechei os olhos, aproveitando aquele momento inesperado de liberdade. E, de forma paradoxal, me senti completamente livre ali, ao lado dele.

— Chegamos — Dante anunciou, quebrando o silêncio enquanto me olhava de uma forma que me fez arrepiar.

— E onde estamos, exatamente? — perguntei, sem saber o que esperar.

— Você vai descobrir — ele disse, estacionando o carro em frente a um prédio escuro que não parecia nada seguro. Contra todo o bom senso, saí do carro e o segui.

Caminhamos até a parte de trás do prédio e entramos por uma passagem que nos levou a uma porta verde, que abria para um elevador. Dante apertou o botão, e as portas se abriram tão rápido que nem tive tempo de questioná-lo. Ele estendeu a mão para mim, e eu hesitei. Mas, quando ergui a mão para pegar a dele, as portas começaram a se fechar. Num movimento rápido, ele me puxou para dentro, chocando meu corpo contra o dele com uma intensidade que me deixou sem fôlego.

Ficamos tão próximos que o calor entre nós era quase insuportável. Ele segurava minha mão contra suas costas, enquanto o outro braço me mantinha firmemente presa a ele. Meus olhos subiram, encontrando os dele, e, por um momento, o mundo ao nosso redor pareceu desaparecer. Ele era absurdamente bonito.

Dante me olhou de volta com a mesma intensidade, como se estivesse gravando cada detalhe do meu rosto. O impacto de estarmos tão próximos foi esmagador, e só quando as portas do elevador se abriram no quinto andar ele me soltou com cuidado. Lutando contra a vontade de manter aquela proximidade, ele se afastou.

E eu, bem... estava disposta a deixar que ele fizesse o que quisesse comigo naquele momento. O que senti era assustador. Pela primeira vez, eu queria me entregar completamente a alguém, e isso me aterrorizava.

Quando me virei para seguir Dante, me deparei com um loft lindamente decorado, cheio de telas com pinturas espalhadas. Ao olhar mais de perto, percebi que eram do mesmo artista que Lucas tinha na casa dele — as mesmas pinturas sensuais e provocativas, feitas com um jogo de luzes e cores incrivelmente bem trabalhado.

— Elas são lindas — sussurrei, encantada com a beleza das obras.

— Vi como você as observou na festa — Dante comentou, se aproximando de mim. — Parecia fascinada, e isso me cativou.

Olhei para ele, curiosa, tentando lembrar de cada detalhe da festa. Como eu não o tinha visto lá? E, afinal, quem era esse homem?

— Quem é você, afinal? 

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