Olivia Fernandes
Dante acelerou o carro, exibindo um grande sorriso no rosto. Ele parecia se divertir fazendo manobras arriscadas, usando a estrada vazia como se fosse seu próprio parque de diversões ao ar livre.
Eu sentia um misto de sensações confusas e inquietantes se revirando dentro de mim, e honestamente, eu não sabia o que fazer em relação a isso. No entanto, decidi que essa seria minha maior loucura até então. Pela primeira vez na vida, permiti-me ser imprudente e confiar minha integridade a esse homem estranho.
Havia algo nele que me fazia querer confiar. Talvez fosse o jeito que suas digitais tinham tocado minha pele, me causando uma sensação completamente nova e inesperada. Não sabia explicar exatamente o que era, mas, de algum modo, não parecia ser algo ruim.
— Desistiu de resistir? — Ele perguntou, notando minha tranquilidade diante da situação.
— Seria uma perda de energia, não acha? — respondi, tentando soar calma.
— Certamente. — Ele sorriu de lado, ajeitando os óculos com uma confiança tranquila, antes de pegar outro chiclete. — Acho que não vai se importar em fazer uma pequena viagem, então.
Quando vi a placa indicando que estávamos saindo da cidade de Vale Dália, arregalei os olhos, surpresa.
— O que vamos fazer em Caliandra a essa hora? — perguntei, sem esconder minha curiosidade.
— Confie em mim, Olivia — ele disse, com um olhar sério que me desarmou.
— Você mesmo não disse que seria burrice fazer isso? — rebati, meio brincando, meio desafiando.
— Você é esperta, mas, só dessa vez, confie em mim. Deixe-me guiá-la por uma noite.
— Certo, Dante. — Falei seu nome, experimentando como soava em minha boca. Gostei da sensação. — Me guie, apenas por uma noite.
A chuva parou logo após entrarmos na cidade de Caliandra. A paisagem mudou drasticamente: prédios altos, pouca vegetação e um mar de luzes. Era uma cidade grande, movimentada, cheia de casas noturnas e eventos culturais. O tipo de lugar ideal para quem adora socializar, o que definitivamente não era meu caso.
Desde que me mudei para Vale Dália, só havia visitado Caliandra uma vez, e foi com Lucas. Lembro que ele passou a noite tentando encontrar caras para mim em uma boate, sem perceber que ele próprio era o único que me interessava. Pelo menos até eu conhecer Dante.
Eu não sabia praticamente nada sobre ele. Qual era sua idade, embora fosse claramente mais velho que eu, onde trabalhava, quais eram seus interesses ou até se era casado — o que eu sinceramente esperava que não fosse o caso. E isso me deixava inquieta. Estar vulnerável no carro de um completo estranho me aterrorizava tanto quanto me intrigava. Eu queria conhecê-lo, mesmo que o contexto em que estávamos não fosse nada convencional.
— Pode abrir as janelas, por favor? — pedi, e ele atendeu sem hesitar.
Senti o vento frio tocar minha pele quando apoiei o braço na janela aberta. Olhei meu reflexo no retrovisor, aliviada por ainda estar apresentável, apesar de ter ficado quase encharcada com a chuva.
Apoiei a cabeça no braço e fechei os olhos, aproveitando aquele momento inesperado de liberdade. E, de forma paradoxal, me senti completamente livre ali, ao lado dele.
— Chegamos — Dante anunciou, quebrando o silêncio enquanto me olhava de uma forma que me fez arrepiar.
— E onde estamos, exatamente? — perguntei, sem saber o que esperar.
— Você vai descobrir — ele disse, estacionando o carro em frente a um prédio escuro que não parecia nada seguro. Contra todo o bom senso, saí do carro e o segui.
Caminhamos até a parte de trás do prédio e entramos por uma passagem que nos levou a uma porta verde, que abria para um elevador. Dante apertou o botão, e as portas se abriram tão rápido que nem tive tempo de questioná-lo. Ele estendeu a mão para mim, e eu hesitei. Mas, quando ergui a mão para pegar a dele, as portas começaram a se fechar. Num movimento rápido, ele me puxou para dentro, chocando meu corpo contra o dele com uma intensidade que me deixou sem fôlego.
Ficamos tão próximos que o calor entre nós era quase insuportável. Ele segurava minha mão contra suas costas, enquanto o outro braço me mantinha firmemente presa a ele. Meus olhos subiram, encontrando os dele, e, por um momento, o mundo ao nosso redor pareceu desaparecer. Ele era absurdamente bonito.
Dante me olhou de volta com a mesma intensidade, como se estivesse gravando cada detalhe do meu rosto. O impacto de estarmos tão próximos foi esmagador, e só quando as portas do elevador se abriram no quinto andar ele me soltou com cuidado. Lutando contra a vontade de manter aquela proximidade, ele se afastou.
E eu, bem... estava disposta a deixar que ele fizesse o que quisesse comigo naquele momento. O que senti era assustador. Pela primeira vez, eu queria me entregar completamente a alguém, e isso me aterrorizava.
Quando me virei para seguir Dante, me deparei com um loft lindamente decorado, cheio de telas com pinturas espalhadas. Ao olhar mais de perto, percebi que eram do mesmo artista que Lucas tinha na casa dele — as mesmas pinturas sensuais e provocativas, feitas com um jogo de luzes e cores incrivelmente bem trabalhado.
— Elas são lindas — sussurrei, encantada com a beleza das obras.
— Vi como você as observou na festa — Dante comentou, se aproximando de mim. — Parecia fascinada, e isso me cativou.
Olhei para ele, curiosa, tentando lembrar de cada detalhe da festa. Como eu não o tinha visto lá? E, afinal, quem era esse homem?
— Quem é você, afinal?
Olivia FernandesDante não me respondeu, mantendo o suspense sobre sua identidade. Apenas sorriu, o mesmo sorriso largo e bonito que me fez vacilar no primeiro instante em que o conheci. — Seu sorriso é bonito, mas não vai ser o suficiente para evitar que eu faça mais perguntas — disparei, pegando-o de surpresa.— Se o meu sorriso não for o suficiente, posso tentar te dissuadir de outras formas — ele respondeu, ajeitando uma mecha do meu cabelo e a colocando atrás da minha orelha. O toque perdurou, como se ele quisesse prolongar aquele momento, deslizando o dedo pelo meu lóbulo, até alcançar meu pescoço e, finalmente, a minha nuca. Meu corpo reagiu ao toque de Dante de uma forma que eu não esperava. Aquilo não era só um toque. Era íntimo, quase possessivo. O tipo de toque que me fazia sentir exposta, mas curiosamente segura.Antes que pudesse me controlar, as palavras escaparam:— O que você viu em mim?Eu odiava a forma como me sentia nessas horas, como se nunca fosse suficiente. E,
Olivia FernandesSe me perguntassem para me definir em uma única palavra, eu provavelmente responderia: controle. Desde muito cedo, fui ensinada a controlar todos os aspectos da minha vida. Dos detalhes mais bobos até os mais importantes. E esses, os que impactariam meu futuro, eram os que mais exigiam cautela ao tomar qualquer decisão.Eu fiz tudo certo até aqui. Fui uma boa filha, obediente, submissa, quase perfeita demais para as expectativas dos meus pais. Mas todo esse controle, essa busca pela perfeição, me custaram algo que talvez nunca consiga reparar.Qualquer um que me observasse de fora perceberia o quanto eu sofria ao tentar tomar decisões por conta própria. No meio de toda essa criação rígida e desgastante, eu perdi a capacidade de pensar por mim mesma, de saber o que realmente quero, ao invés de sempre me preocupar com o que eu deveria fazer, de acordo com meus pais ou meu irmão.Então, aos 24 anos, tomei a decisão mais importante da minha vida: me entregar a um homem.Po
Olivia FernandesA luz da lua nos envolvia em uma atmosfera quase mágica, criando um ambiente surreal enquanto eu e Dante permanecíamos parados na varanda, trocando olhares que transbordavam devoção. Ele esperava por um sinal meu. Agora, mais do que nunca, ele queria ter certeza de que o que estávamos prestes a fazer era a coisa certa.O silêncio que pairava entre nós era quase torturante. Eu guardava para mim todos os pensamentos que se atropelavam na minha cabeça. Eu o desejava com cada parte do meu ser. Queria ser a garota destemida e ousada que sempre imaginei — e invejei. Mas não sabia se conseguiria evitar a culpa esmagadora que poderia vir depois, enfrentando as consequências dos meus atos. Ainda assim, mesmo hesitante, minha mente analítica começou a pesar as possibilidades.— Nós podemos nos conhecer melhor essa noite, sem muita pressão… — Ele disse, como se pudesse ler meus pensamentos.Sorri, sentindo uma antecipação crescer em mim, mas sem ainda expressar todos os pensament
Olivia FernandesNo momento em que me vi deitada, assistindo Dante em pé à minha frente, senti como se meu coração estivesse prestes a rasgar a carne do meu peito e saltar para fora. A cada batida, parecia que ele ecoava pelo quarto, como se quisesse denunciar o frenesi que me consumia.Eu mal conseguia respirar. Meus lábios se umedeciam por reflexo, enquanto lutava para não perder a razão diante dele. Havia algo, algo inexplicável que tomava conta de mim e que eu não saberia descrever, mesmo que me perguntassem. Era mais do que desejo. Era... necessidade.— Você está bem? — Dante perguntou, ajoelhando-se diante do sofá, alcançando meus pés com uma gentileza que me fazia querer derreter.Eu apenas assenti, incapaz de pronunciar uma única palavra, vendo-o desabotoar minhas sandálias. Seus dedos percorreram meus tornozelos, subindo pela minha pele e me deixando arrepiada. Não era só o toque, era a maneira como ele me olhava, como se cada parte de mim fosse preciosa.Dante se divertia com
Olivia FernandesFoi preciso apenas um único e pequeno toque para eu sentir arrependimento. Mas, não se engane, eu não tinha arrependimento nenhum sobre Dante. Pelo menos, não ainda.O arrependimento vinha de ter esperado tanto tempo para experimentar algo assim, de ter deixado minhas inseguranças e ansiedades me impedirem. Quando o prazer intenso finalmente me atingiu, como uma tempestade, percebi que havia muito mais a descobrir.Cada nova descoberta só aumentava o meu delicioso leque de possibilidades.— Isso, Dante. Bem aí — eu tentei conter o gemido sôfrego que escapou mais alto do que o normal.— Não se contenha, por favor — ele pediu, mas eu o empurrei novamente, afundando-o no centro do meu prazer.Os beijos que trocamos me deram um gostinho de como seus lábios eram macios, assim como sua língua, que escorregava contra a minha com tanta habilidade. E toda essa habilidade foi intensificada quando ele me beijou em minha região mais íntima.Eu estava tão molhada que o lençol embai
Olivia FernandesO telefone tocou, o som alto e claro de Chopin ecoou pelo loft. Eu me assustei, e Dante estranhou o horário inoportuno para seu telefone tocar. Já era madrugada, e não era do seu costume receber telefonemas tão tarde.— Perdão, não vou demorar. — Ele deu um selo rápido nos meus lábios antes de seguir até a bancada um pouco distante do sofá onde estávamos. Pegou o celular e observou a tela com curiosidade.De longe, vi o cenho de Dante se franzir. Estava curiosa, ainda tentando assimilar tudo que tinha acontecido, lidando com o desejo intenso que corria pelo meu corpo.— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei enquanto vestia minha lingerie.Dante ergueu a mão direita, pedindo um segundo enquanto ouvia algo no celular. Naquele instante, vi sua feição mudar. Ele parecia assustado.— Precisamos ir, meu filho está com problemas — Ele falou brevemente, se aproximando de mim mais uma vez. — Sinto muito precisar interromper isso, espero que saiba que não era a minha vontade.Ele
Olivia FernandesFiquei estática por minutos. O mundo parecia girar ao meu redor enquanto eu tentava processar a nova e chocante revelação. Não conseguia fazer nada além de abrir e fechar minha boca, sem conseguir pronunciar uma única palavra.Estava absorta em meus pensamentos, convicta de que aquilo tudo não passava de um terrível pesadelo, daqueles que a gente deseja acordar o quanto antes. Sentia um nó na garganta e uma sensação de desamparo, como se o chão tivesse se aberto sob meus pés.Sabia que não tinha culpa por não saber que Dante era o pai de Lucas. Nunca tinha visto uma foto dele, e sempre ouvira todos chamarem-no apenas de Senhor Salvatore. Naquela noite, eu havia me deixado levar pelos sentimentos intensos que surgiram entre nós, sem imaginar que estava prestes a descobrir uma conexão tão inacreditável e devastadora.Parecia praticamente impossível que aquilo estivesse acontecendo comigo, justamente com alguém que sempre estive apaixonada desde o primeiro ano da faculdad
Olivia FernandesSenti o pânico crescer dentro de mim quando vi a foto de Lucas piscando na tela do celular de Dante. Sem pensar duas vezes, agarrei o telefone e desliguei a chamada com um movimento rápido, antes de colocar o celular no modo silencioso. Meu coração batia forte e minhas mãos estavam tremendo incontrolavelmente.— Tudo bem? — Dante perguntou novamente, claramente preocupado com meu comportamento estranho.— Sim, está tudo bem. — Tentei sorrir, mas o sorriso saiu forçado e sem vida.Dante franziu o cenho, evidentemente confuso, mas decidiu não pressionar mais. Ele continuou dirigindo em silêncio, enquanto eu lutava para controlar minha respiração e meus pensamentos. Cada segundo parecia uma eternidade. Eu precisava pensar em algo, qualquer coisa, para sair daquela situação antes que tudo fosse ainda mais longe do controle.— Sabe, meu filho mencionou uma pessoa especial recentemente, mas, como sempre, não deu detalhes. Às vezes é difícil ter uma simples conversa com ele.