OliviaNa primeira manhã com Leo aqui, eu acordei com um silêncio diferente.Não era o tipo de silêncio que pesa. Era um silêncio novo. Quase doce. O tipo que precede algo importante.Dante já estava de pé, andando pela sala com o bebê nos braços como se tivesse feito isso a vida toda. A cabeça dele tombada levemente pra frente, murmurando qualquer coisa sobre “futuros jogadores de tênis que ainda babam na fralda”.Fiquei alguns minutos só observando, com o rosto meio afundado no travesseiro. A luz suave da manhã entrava pela fresta da cortina, e o mundo parecia suspenso naquele instante. Era estranho — bonito, mas estranho — ver meu espaço invadido por outra rotina que não era só minha. Pela primeira vez em muito tempo, não era o som do despertador ou do meu celular que me fazia abrir os olhos. Era um bebê. E Dante.E, de alguma forma, aquilo parecia certo.— Bom dia — falei baixinho, me sentando.Dante virou na hora, com um sorriso leve, os olhos cansados, mas cheios de alguma coisa
OliviaO sol da tarde entrava pelas frestas da cortina como se quisesse me convencer de que tudo ainda estava no lugar. Que nada fugiria do controle. Eu tentava acreditar nisso. Mas havia algo dentro de mim, vindo do âmago, que arrepiava a espinha e dizia que aquilo era bom demais. Os dias eram calmos, mesmo com um bebê junto. O cansaço da rotina habitual ao ter noites de sono mal dormidas não se comparava ao caos que eu prefiro evitar – adultos maldosos, fofocas, intrigas. Isso era melhor, não fácil, mas melhor.Essa bolha era confortável, me trazia um ar fresco. Leo estava acordado, mas tranquilo. Deitado no tapetinho, resmungava umas sílabas desconexas que só ele entendia. Sorri sem pensar, estendendo a mão até ele, que logo segurou meu dedo com força.Era quase engraçado o quanto aquele bebê já fazia parte da minha rotina, mesmo que houvesse chegado há tão pouco tempo. Eu ainda não sabia exatamente o que sentia. Mas sentia. Algo novo, frágil e vivo. Um cuidado silencioso, mas me
Dante SalvatoreOlivia estava no banco de trás, deitada, com a cabeça apoiada sobre uma das almofadas do sofá que peguei às pressas. Ela não dizia nada, mas também não dormia. Respirava fundo, os olhos fixos em algum ponto do teto do carro, como se quisesse se convencer de que aquilo era só um susto. Como se quisesse me convencer também.Mas eu vi o sangue e a dor. E vi o terror em seus olhos no instante em que ela o viu também. Ela parecia perdida, como se estivesse que estar fazendo algo pra impedir aquilo. Eu não sabia que dava pra dirigir e tentar rezar ao mesmo tempo, mas foi o que fiz. As mãos no volante, o coração na garganta. Mesmo correndo todos os sinais, com o pisca-alerta ligado e as mãos cerradas no volante, parecia que o mundo inteiro estava se movendo devagar — menos o medo. Esse, andava rápido. Corria pelas minhas veias, sufocava meu peito. Eu não rezei. Não sou bom com isso, na verdade. Mas fechei os olhos entre um sinal e outro pensei em tudo que eu queria que ela
Olivia FernandesAcordei assustada. Sentei-me na cama, ofegante, esfregando as mãos sobre o rosto na tentativa de afastar os pensamentos torturantes que me consumiam. Por sete dias consecutivos, eu acordava desse mesmo jeito. Atordoada, desconcertada, com vergonha e suando de calor.Ao fechar os olhos, conseguia lembrar nitidamente do sonho realista que vinha tendo quase todos os dias por uma semana. Lembrava-me da intensidade dos toques, do cheiro dele, das sensações avassaladoras que me consumiam ao me permitir ter um gosto do que poderia viver, caso não fosse tão… medrosa.Era assim que me sentia toda vez que o via.Lucas, meu melhor amigo da faculdade. O garoto popular que é o sonho de todas as garotas do ensino médio, mas que, diferente dos que conheci durante a época do colégio, era bonito, gentil e inteligente.Por isso, sempre acreditei que deveria ser uma armadilha. Algo Lucas deveria esconder atrás de todas as coisas boas que permitia que os outros vissem sobre si. Um compor
Olivia FernandesMajestosamente posicionado em meio às luzes azuis e rosa, junto de alguns amigos que eu reconhecia da faculdade, ele sorria, feliz e confortável em sua própria pele, como sempre parecia ser.Até mesmo o jeito como ele se movia parecia perfeito. Ao menos, era o que eu achava. Tudo em Lucas era encantador.Sob o meu olhar intenso, ele se virou e me viu, retribuindo com a mesma intensidade com a qual eu o observava. Franziu as sobrancelhas, com uma expressão surpresa, caminhando imediatamente em minha direção.Senti meu corpo todo estremecer, como se eu estivesse prestes a colapsar a qualquer momento. Minhas mãos tensas apertavam a pequena bolsa que carregava, e o suor fazia o material parecer escorregadio nas minhas digitais.Respirei fundo, tentando manter a sanidade enquanto o via caminhar em minha direção, tão belo quanto uma miragem, quase como se estivesse em câmera lenta.— Olivia Fernandes! — Ele segurou minha mão com delicadeza, me fazendo girar por completo. — P
Olivia FernandesA frustração que senti durou menos de um milésimo de segundo, tempo suficiente para que meu cérebro processasse a imagem diante dos meus olhos. E, pela segunda vez naquela noite, eu fiquei sem palavras.Meus olhos percorreram o corpo dele, absorvendo cada detalhe. O braço estendido, segurando o volante com firmeza. As veias salientes no antebraço subindo até o bíceps definido sob a camisa levemente molhada. Seu peito marcado pela camisa social branca, igualmente úmida, algumas gotas descendo pela clavícula. Os óculos estavam um pouco embaçados, e o cabelo preto, com alguns fios grisalhos, estava molhado, colado à testa. A barba por fazer completava a cena. Ele parecia ter saído direto de um filme.Por alguns segundos, eu só consegui observá-lo. Queria gravar aquela imagem, como se ele fosse desaparecer a qualquer momento. Eu precisava me lembrar daquele rosto, daquela estrutura hipnotizante. Mas então, o silêncio que se formava me trouxe de volta à realidade. O que eu
Olivia FernandesDante acelerou o carro, exibindo um grande sorriso no rosto. Ele parecia se divertir fazendo manobras arriscadas, usando a estrada vazia como se fosse seu próprio parque de diversões ao ar livre.Eu sentia um misto de sensações confusas e inquietantes se revirando dentro de mim, e honestamente, eu não sabia o que fazer em relação a isso. No entanto, decidi que essa seria minha maior loucura até então. Pela primeira vez na vida, permiti-me ser imprudente e confiar minha integridade a esse homem estranho.Havia algo nele que me fazia querer confiar. Talvez fosse o jeito que suas digitais tinham tocado minha pele, me causando uma sensação completamente nova e inesperada. Não sabia explicar exatamente o que era, mas, de algum modo, não parecia ser algo ruim.— Desistiu de resistir? — Ele perguntou, notando minha tranquilidade diante da situação.— Seria uma perda de energia, não acha? — respondi, tentando soar calma.— Certamente. — Ele sorriu de lado, ajeitando os óculos
Olivia FernandesDante não me respondeu, mantendo o suspense sobre sua identidade. Apenas sorriu, o mesmo sorriso largo e bonito que me fez vacilar no primeiro instante em que o conheci. — Seu sorriso é bonito, mas não vai ser o suficiente para evitar que eu faça mais perguntas — disparei, pegando-o de surpresa.— Se o meu sorriso não for o suficiente, posso tentar te dissuadir de outras formas — ele respondeu, ajeitando uma mecha do meu cabelo e a colocando atrás da minha orelha. O toque perdurou, como se ele quisesse prolongar aquele momento, deslizando o dedo pelo meu lóbulo, até alcançar meu pescoço e, finalmente, a minha nuca. Meu corpo reagiu ao toque de Dante de uma forma que eu não esperava. Aquilo não era só um toque. Era íntimo, quase possessivo. O tipo de toque que me fazia sentir exposta, mas curiosamente segura.Antes que pudesse me controlar, as palavras escaparam:— O que você viu em mim?Eu odiava a forma como me sentia nessas horas, como se nunca fosse suficiente. E,