Dividido

Anderson Narrando

O pedido de casamento havia sido perfeito. Luz estava com os olhos brilhando, emocionada, e eu senti o peso de uma responsabilidade que nunca imaginei carregar antes. Ela estava tão feliz, tão cheia de esperança, e eu, por dentro, tentava convencer a mim mesmo de que estava fazendo a coisa certa. No fundo, uma parte de mim sentia que ela era a mulher com quem eu queria construir uma vida, mas algo em mim, uma sensação inquietante, ainda me perseguia. Algo que não conseguia entender.

O que acontecia dentro de mim? A noção de que eu estava prestes a dar um passo tão definitivo para a frente me aterrorizava, mas ao mesmo tempo, o sorriso de Luz, seu carinho e a entrega que ela demonstrava, me faziam querer acreditar que eu poderia fazer isso funcionar. Que ela poderia ser a mulher com quem eu passaria o resto da minha vida.

Mas, como sempre, havia outra parte de mim, uma parte mais obscura, que me deixava inquieto. Eu pensava em Helena. Pensava nas vezes em que ela estava ali, ao meu lado, nos momentos de tentação, naquilo que não era certo, mas que, de alguma forma, parecia preencher um vazio dentro de mim. Era algo que eu não sabia explicar direito, algo que me envolvia de uma forma tão intensa que parecia difícil resistir.

Depois do pedido de casamento, não pude deixar de pensar nas escolhas que fiz. Luz estava tão tranquila, tão plena em sua felicidade. E eu… eu me sentia confuso. Como poderia estar fazendo isso com ela, se uma parte de mim ainda sentia uma atração irresistível por Helena?

Aquela noite, com Luz, foi mágica, cheia de amor e promessas de um futuro que parecia perfeito. Mas, na minha mente, ainda ecoavam os momentos com Helena, e eu me sentia culpado, sem saber como escapar dessa sensação. Eu amava Luz. Eu queria que tudo fosse certo. Mas então, por que meu coração ainda se dividia?

A manhã seguinte chegou mais rápido do que eu esperava. Luz estava ao meu lado, seu cabelo desarrumado e um sorriso sereno no rosto, algo tão genuíno que me deixou com um peso no peito. Ela estava radiante, falando sobre a cerimônia, sobre os planos para o futuro. Seus olhos brilhavam quando mencionava a ideia de nossa vida juntos, nossa casa, nossos filhos. Eu deveria ser grato, sentir orgulho, e de certa forma eu sentia. Mas também havia uma parte de mim que estava distante, uma parte que me assombrava.

Quando ela me beijou, sorrindo e me agradecendo por termos feito aquele momento especial, senti o gosto da felicidade dela em meus lábios. Mas ao mesmo tempo, como um eco distante, a lembrança de Helena estava em minha mente. O que havia acontecido entre nós não tinha sido apenas uma falha. Era algo mais profundo, algo que eu não conseguia entender direito, mas que me consumia. Eu olhava para Luz, com todo o seu amor e confiança, e me perguntava se isso era suficiente. Se eu realmente estava pronto para ser o homem que ela acreditava que eu fosse.

Helena… ela continuava ali, em algum lugar do meu passado e, de certa forma, ainda em meus pensamentos. Os encontros com ela, as palavras não ditas, a química entre nós. Eu sabia que, no fundo, o que aconteceu entre nós não era algo simples. Helena não era só uma diversão passageira. Havia algo nela que me atraía, que mexia comigo de uma maneira que eu não podia ignorar. Algo perigoso, algo que sabia que não deveria sentir, mas que, paradoxalmente, era tão viciante.

Poderia amar Luz e, ao mesmo tempo, continuar sendo atraído por Helena? O que isso significava para mim? Para nós?

Eu estava prestes a começar uma nova vida, com a mulher que eu acreditava que seria minha esposa, mas algo dentro de mim me puxava para o lado oposto. Eu não sabia mais como lidar com isso. Cada vez que pensava em minha futura vida com Luz, meu coração batia mais forte. Mas, ao mesmo tempo, eu me sentia encurralado pela dúvida, pela necessidade de algo que não sabia mais como controlar.

Era o dilema da minha vida. Luz era tudo o que eu sempre quis, mas por que havia algo dentro de mim que ainda se mantinha vinculado ao passado? Eu não entendia. Eu não sabia o que fazer com esses sentimentos.

Os dias seguiram como uma sucessão de momentos encantadores com Luz. Ela estava em um estado de felicidade plena, e a cada dia que passava, parecia mais animada com os preparativos para o casamento. Eu tentava me entregar a essa felicidade dela, tentando me convencer de que estava pronto para essa nova fase da minha vida. Mas, em algum lugar dentro de mim, havia uma fissura. Algo que não se calava. A ideia de que eu poderia estar perdendo algo, ou alguém, continuava a me consumir.

E então, o telefonema de Luz me pegou de surpresa. Ela estava animada, quase eufórica, e me pediu para que a encontrasse na sala de estar.

— Anderson, eu já falei com a Helena — ela disse, com aquele sorriso encantador que sempre me fazia derreter. Eu a olhei, sem entender muito bem.

— A Helena? — Perguntei, tentando manter a calma. Sabia que ela estava próxima de Luz, mas não esperava que o nome dela surgisse naquele momento.

— Sim! Ela é uma das pessoas mais importantes na minha vida. E… eu sei que vamos fazer nossa festa de casamento grandiosa, com todos aqueles que amamos, e ela… bem, ela merece estar ao nosso lado. Eu a convidei para ser madrinha do nosso casamento. Acho que seria perfeito, não acha? — Luz olhou para mim, sua expressão era radiante. Eu não sabia o que responder imediatamente.

Minha mente girava. Helena. Como eu deveria me sentir em relação a isso? Eu sabia que Luz não desconfiava de nada. Para ela, Helena era apenas uma amiga, uma pessoa especial. E talvez, se eu fosse completamente honesto comigo mesmo, eu gostaria de ver Helena lá. No entanto, uma parte de mim me sentia… desconfortável. Como eu poderia pedir para ela ser madrinha do nosso casamento, quando a mesma mulher havia sido um dos maiores motivos de incerteza na minha vida?

Eu respirei fundo, tentando esconder o turbilhão que se passava dentro de mim, e olhei para Luz. Ela estava tão feliz, tão certa de suas escolhas. Aquela era a mulher que eu amava, não era?

— Eu… claro, Luz. Se você acha que é o melhor, então tudo bem. Claro que ela será uma madrinha linda para nosso casamento.

Mas dentro de mim, o nó na garganta estava apertado. A palavra “Helena” soava como uma sombra pairando sobre mim, uma sombra que eu não sabia como afastar. Eu queria ser honesto com Luz, mas algo dentro de mim me dizia para esconder o que sentia. Para seguir em frente e fingir que tudo estava bem. Afinal, isso era o que ela merecia, não era? Uma vida perfeita, sem complicações, sem sombras.

Ela sorriu, tocando a minha mão com ternura.

— Eu sabia que você ia entender, querido. Helena é tão especial para mim, e sei que ela ficará feliz em ser madrinha. Vai ser perfeito!

Mas, à medida que ela falava, eu sentia meu coração bater mais rápido. Cada palavra de Luz me fazia ver o quanto eu estava envolvido com ela, o quanto eu queria que fosse real. Mas a dúvida continuava, incessante, corroendo um canto de mim que não sabia mais como lidar.

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