Pablo O trânsito tranquilo aparentemente vai permitir que eu chegue rápido no prédio de Alicia , estou ansioso para pedir perdão a ela e prometer que nunca mais a deixaria sozinha. Brenda está me ligando sem parar e me pergunto o que ela quer com tamanha urgência, aproveito que paro no farol para atender a sua ligação.Tenho uma sensação estranha.— O que foi, Brenda? — bufo.— Tem algo de errado, Pablo, tem algo de errado... — Ela está nervosa e sinto um calafrio.— O que está errado, Brenda? Está me assustando — digo firmemente. — A Alicia , Pablo, eu estava com ela no telefone... — ela fala tão rápido que custo a entender. Vejo o sinal abrir e tenho a sorte de encontrar um lugar para estacionar em frente a um quiosque.— Fale com calma, por favor — Ouço-a respirar pausadamente.— Eu estava com Alicia no telefone, dizendo que você tinha percebido que fez besteira e que estava indo vê-la. — Começo a me irritar.— Não tinha que fazer isso... — meu tom de voz deixa claro meu desagra
Alicia Pamuk — Somos nós — quase grito, indo em direção ao homem.— Como meu neto está? — Angela se apoia em meu braço e o médico dá um sorriso simpático.— Removemos a bala, por sorte ela não atingiu nenhum órgão vital. Estávamos esperando Pablo acordar da anestesia. Um sorriso se forma em meus lábios, junto com a sensação de alívio.— Podemos vê-lo? — Brenda pergunta.— Uma pessoa por vez — alerta.Não iria pedir para passar na frente da sua família.— Pode ir, filha. — Angela faz um carinho em meu braço.— A senhora tem certeza? — Vai, Alicia — Brenda diz impaciente e então sigo o médico.— Eu volto logo — digo me virando para trás.Entro no quarto, vendo Pablo escorado na cama, e corro até ele, eu quero abraçá-lo, mas tenho medo de machucá-lo. Ele está pálido e usa uma bata sem mangas do hospital, o curativo no ombro é maior do que eu imaginei. Seguro sua mão e dou um beijo rápido em seus lábios.— Está sentindo dor? — pergunto, passando os dedos por seu braço.— Você está de p
Pablo RodriguézO estrondo balança tudo ao meu redor, no mesmo instante em que abro os olhos, me sentando subitamente no sofá, sinto o suor escorrer lentamente pelo meu corpo, enquanto meu coração bate acelerado.Os pesadelos permanecem constantes e dormir se tornou meu martírio.Minha cabeça está latejando e, para piorar, tem alguém quase quebrando a minha porta de tanto bater.Me levanto e tropeço na tigela com o resto de macarrão instantâneo que está no chão. A minha sala está um lixo, vejo o resto da pizza sobre a mesinha de centro da sala e garrafas de cerveja vazias em todos os cantos.Moro em um cubículo localizado no Bronx, o apartamento é horroroso, cheio de mofo e insetos, que parecem ter superpoderes e nada mata os malditos, mas é o que posso pagar, aliás, nem isso estou fazendo já que bebi todo o dinheiro do aluguel.A batida agora vem mais forte, me deixando irritado, parece que o fato de não ouvir mais pelo lado esquerdo deixou meu ouvido bom mais sensível.— Já vou, car
Alicia PamukEu vivia em um looping infinito de “e se”...E se eu tivesse ficado naquela boate?E se eu não tivesse obrigado Aslan a ir para casa?E se eu não estivesse dirigindo?E se eu não fosse uma chata que não sabe o que é se divertir?Ver o corpo do meu irmão sem vida, em meio aos destroços do seu carro naquela noite, virou uma chave na minha cabeça e arrancou um pedaço do meu coração. A culpa me atormentaria enquanto eu vivesse, então me tornei a Alicia que Aslan gostaria de ter como irmã, alguém que ele admiraria.Aprendi a viver a vida da maneira que ele estava acostumado e isso foi como um anestésico para a minha dor.Abri mão da faculdade de medicina para me dedicar integralmente à Pamuk, passei a viver os sonhos do meu irmão, porque os meus morreram naquela maldita noite.O silêncio ecoa pelo meu quarto enquanto eu termino minha maquiagem. Tenho minha própria linha de cosméticos, milhões de seguidores no Instagram e sou figura carimbada em todos os eventos badalados de
Pablo RodriguézVoltar a morar com os meus avós é nostálgico, mesmo com as mudanças que eles fizeram no tempo em que fiquei longe, tudo ainda cheira como na minha juventude, me causando um nó na garganta.No entanto, busco me apegar à alegria dos meus avós por eu estar ali, eles me receberam sem nenhum questionamento, como se eu não tivesse ficado todo esse tempo afastado deles, e isso faz com que eu me sinta ainda pior, sabendo o quanto eu fui cruel ao me afastar das pessoas que sempre cuidaram de mim e não tem culpa alguma da minha desgraça.Agora estou determinado a não deixar de lado as únicas pessoas que ainda me restam, talvez eu estivesse na rua uma hora dessas se Brenda não tivesse me trazido de volta.Estou de frente para o espelho do meu quarto da adolescência, tentando fazer a droga de um nó de gravata decente por insistência de Brenda, segundo ela, tenho que estar impecável para me apresentar no meu primeiro dia.Em toda minha vida nunca imaginei que terminaria como motori
Alicia PamukNão tenho o costume de acordar atrasada, mas a noite mal dormida cobrou seu preço. Há anos que não durmo tão bem como deveria graças aos pesadelos que insistem em me levar novamente para o pior dia da minha vida, e a insônia é algo que eu já me acostumei, mas o problema é o que ela causa no meu corpo no dia seguinte, sendo que o mal humor faz parte do pacote.E claro que hoje não seria diferente. O fato de ignorar a terapia também contribuí para o meu descontrole emocional. Depois de anos falando sobre meus sentimentos para Ginny, minha psicóloga, resolvi parar por conta própria no momento que as sessões começaram a fazer com que eu deixasse a culpa que eu carregava pela morte de Aslan para trás e, por mais que pareça loucura, eu não quero me livrar dela.— A senhorita tem certeza que não quer comer nada? — Maria pergunta, estalando os dedos na frente do meu rosto.— Tenho, Maria , não estou com fome — respondo, conferindo o celular.— Nem o suco verde? — pergunta, faze
Pablo RodriguézQuase atropelar um adolescente não era algo que eu planejava para o meu primeiro dia de trabalho, já não bastava eu custar a dirigir o bendito do carro que mais parecia uma nave espacial e, ainda por cima, ter que lidar com essa mulher, que aparentemente não gostou nem um pouco de eu não ter aberto a porta do carro para ela entrar assim que a vi.Me lembro das palavras de Pietro, tendo a confirmação que ela não é uma pessoa fácil de agradar e nem um pouco simpática. Está óbvio que ela é o tipo de mulher que ama ver as pessoas lambendo o chão que ela pisa e não, eu não seria esse tipo de idiota. Mesmo precisando do dinheiro que esse trabalho me paga, eu não vou me sujeitar a ser capacho do projeto de Barbie de nariz empinado, e que nariz bonito, a filha da mãe é um espetáculo, senti até mesmo um frio na barriga quando vi seus olhos Azuis hipnotizantes, mas aparentemente a beleza surreal que ela ostenta não se assemelha ao que ela é por dentro.O que tem de errado com
Pablo RodriguézEstava quase cochilando tamanho o meu tédio, mas o que eu estava esperando, eu era motorista de uma riquinha mimada e claro que não teria emoção alguma nisso. Se bem que aguentar alguém arrogante como ela aparentemente não é a coisa mais fácil do mundo. Me levanto da poltrona e começo a andar ao redor, olhando a decoração horrorosa do lugar, nunca entendi o mal gosto dos ricos.Até aonde eu sei, Pamuk é uma fabricante de cosméticos ou algo do tipo, com filiais pelo mundo todo. Sei pelo que Brenda me falou, afinal, eu odeio mídia e redes sociais, mas minha irmã está um tanto deslumbrada pelo meu novo martírio, quer dizer, emprego. Acho que ela sequer imagina que minha adorável chefe respira arrogância.E não seria eu a dizer a ela, Brenda é um dos motivos pelo qual eu ainda insistiria nesse trabalho, talvez esteja na hora de tentar ser um irmão e um neto de verdade, mesmo sendo difícil, eu preciso recuperar um pedacinho de quem eu fui um dia.— Oi. — Dou um salto, m