Capítulo 04

Pablo Rodriguéz

Quase atropelar um adolescente não era algo que eu planejava para o meu primeiro dia de trabalho, já não bastava eu custar a dirigir o bendito do carro que mais parecia uma nave espacial e, ainda por cima, ter que lidar com essa mulher, que aparentemente não gostou nem um pouco de eu não ter aberto a porta do carro para ela entrar assim que a vi.

Me lembro das palavras de Pietro, tendo a confirmação que ela não é uma pessoa fácil de agradar e nem um pouco simpática.

Está óbvio que ela é o tipo de mulher que ama ver as pessoas lambendo o chão que ela pisa e não, eu não seria esse tipo de idiota.

Mesmo precisando do dinheiro que esse trabalho me paga, eu não vou me sujeitar a ser capacho do projeto de Barbie de nariz empinado, e que nariz bonito, a filha da mãe é um espetáculo, senti até mesmo um frio na barriga quando vi seus olhos Azuis hipnotizantes, mas aparentemente a beleza surreal que ela ostenta não se assemelha ao que ela é por dentro.

O que tem de errado com o meu terno?

A forma como ela me olhou deixou evidente o seu asco.

Estou irritado e tentando ao máximo não deixar que a raiva me domine, eu não posso estragar tudo.

Como alguém pode ser tão arrogante assim?

Estou em um dos bairros industriais mais ricos de Nova York, nunca se quer imaginei colocar os pés aqui, afinal, meus avós me ensinaram aonde é o meu lugar.

Olho para o grande letreiro em cima do enorme prédio que ostenta o sobrenome Pamuk, o que deixa evidente que ela é dona disso tudo.

Alicia caminha a passos firmes na minha frente, enquanto eu insisto em manter meu olhar no alto, para não ser tentado a encarar a bunda redonda e avantajada que casa perfeitamente com a cintura fina da infeliz.

A porta automática abre, mostrando a grandeza e o luxo daquele lugar, todos ao redor param o que estão fazendo, voltando o olhar na minha direção, mas percebo que não me olham quando começam um coro de “Bom dia, senhorita Pamuk”.

E, como eu já esperava, a minha adorável chefe ignora a todos com louvor.

— Poderia andar mais rápido, por favor — fala me olhando por cima do ombro e indo em direção ao elevador extremamente chique, que parece ter saído de um filme futurista.

Por que eu fiz essa droga de promessa para Brenda e meus avós?

A minha vontade era de dar o fora daqui e parar no primeiro bar que encontrasse, bebendo até esquecer a manhã de merda que eu estou tendo.

— O que está esperando? Um convite? — pergunta quase gritando.

Percebo que estou parado na porta do elevador.

— Me desculpe, senhorita — respondo, entrando na caixa de metal.

Depois de anos na guerra, de ver inúmeras atrocidades e perder uma parte de mim, estou usando um terno que fede a mofo e me desculpando com uma patricinha mimada.

O elevador é grande o suficiente para que eu fique longe dela, mas não impede que o cheiro frutado de seu perfume chegue até mim, ao menos o cheiro é melhor que o de mofo da minha roupa.

Alicia balança a perna, deixando clara a sua impaciência.

A porta do elevador abre e uma sala com a decoração extremamente elegante surge no mesmo instante em que ela sai em disparada, quase trombando com uma garota asiática que vinha em sua direção.

— Olhe por onde anda, Any.

— Desculpe, Alicia ... — a garota fala, parando estática. — Bom dia.

— Só se for o seu, o meu começou uma droga — fala, me fazendo engolir a saliva.

Eu tinha estragado o dia dela?

Talvez eu estivesse ali para mostrar para ela que as coisas nem sempre seriam perfeitas como ela estava acostumada, o pensamento me faz rir internamente.

— Esse é... — Aponta para mim. — Qual o seu nome mesmo?

Respiro fundo.

— Pablo — respondo, sendo ignorado por ele.

— Esse é o novo motorista, providencie um alfaiate para ele trocar esse terno horroroso...

A garota assente, segurando e escrevendo algo em seu Ipad.

— Pro... — Faz uma pausa me olhando de cima a baixo. — Venha até minha sala — pede para a garota, como se não quisesse que eu ouvisse o que ela tem para dizer. A garota dá um sorriso amarelo e a segue.

— O que eu tenho que fazer? — pergunto subitamente, sendo fuzilado com o olhar da loira.

— Esperar, pode fazer isso ou é muito difícil para você? — fala, abrindo a enorme porta que tem o seu nome escrito em letras garrafais.

Essa mulher é uma grande megera.

— Eu já retorno, senhor — a garota fala, visivelmente embaraçada.

— Não tem que dar explicações, Any, ele é meu motorista e é pago para dirigir e me esperar — comenta indo porta adentro, sendo seguida pela moça.

Ela está disposta a pisar em mim e eu estou disposto a não permitir isso, então abro meu paletó e me jogo em uma das enormes poltronas que tem ali.

Eu costumava enfrentar um inferno todos os dias, não vai ser uma dondoca mimada que vai me fazer afundar ainda mais nele.

Preciso do dinheiro que esse maldito emprego me dá, a Barbie aparentemente precisa de alguém para mostrar que o mundo não gira em torno dela.

Esses ricos acham que todos tem que lamber o chão que eles pisam, mas eu não sou desses idiotas que vivem puxando saco.

E só um emprego. E não não é difícil conseguir outro, mesmo que isso decepcione minha irmã. Algo que eu não queria fazer. Brenda acreditava em mim e eu não podia decepcionar mais uma vez.

Mesmo a contra gosto tentaria fazer o meu melhor, porque já tinha feito merda o suficiente nos outros empregos.

Mas isso não significa que vou aguentar uma mimada me humilhar.

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