Pablo Rodriguéz
Quase atropelar um adolescente não era algo que eu planejava para o meu primeiro dia de trabalho, já não bastava eu custar a dirigir o bendito do carro que mais parecia uma nave espacial e, ainda por cima, ter que lidar com essa mulher, que aparentemente não gostou nem um pouco de eu não ter aberto a porta do carro para ela entrar assim que a vi.Me lembro das palavras de Pietro, tendo a confirmação que ela não é uma pessoa fácil de agradar e nem um pouco simpática.Está óbvio que ela é o tipo de mulher que ama ver as pessoas lambendo o chão que ela pisa e não, eu não seria esse tipo de idiota.Mesmo precisando do dinheiro que esse trabalho me paga, eu não vou me sujeitar a ser capacho do projeto de Barbie de nariz empinado, e que nariz bonito, a filha da mãe é um espetáculo, senti até mesmo um frio na barriga quando vi seus olhos Azuis hipnotizantes, mas aparentemente a beleza surreal que ela ostenta não se assemelha ao que ela é por dentro.O que tem de errado com o meu terno? A forma como ela me olhou deixou evidente o seu asco.Estou irritado e tentando ao máximo não deixar que a raiva me domine, eu não posso estragar tudo.Como alguém pode ser tão arrogante assim?Estou em um dos bairros industriais mais ricos de Nova York, nunca se quer imaginei colocar os pés aqui, afinal, meus avós me ensinaram aonde é o meu lugar.Olho para o grande letreiro em cima do enorme prédio que ostenta o sobrenome Pamuk, o que deixa evidente que ela é dona disso tudo.Alicia caminha a passos firmes na minha frente, enquanto eu insisto em manter meu olhar no alto, para não ser tentado a encarar a bunda redonda e avantajada que casa perfeitamente com a cintura fina da infeliz.A porta automática abre, mostrando a grandeza e o luxo daquele lugar, todos ao redor param o que estão fazendo, voltando o olhar na minha direção, mas percebo que não me olham quando começam um coro de “Bom dia, senhorita Pamuk”.E, como eu já esperava, a minha adorável chefe ignora a todos com louvor.— Poderia andar mais rápido, por favor — fala me olhando por cima do ombro e indo em direção ao elevador extremamente chique, que parece ter saído de um filme futurista.Por que eu fiz essa droga de promessa para Brenda e meus avós?A minha vontade era de dar o fora daqui e parar no primeiro bar que encontrasse, bebendo até esquecer a manhã de merda que eu estou tendo.— O que está esperando? Um convite? — pergunta quase gritando.Percebo que estou parado na porta do elevador.— Me desculpe, senhorita — respondo, entrando na caixa de metal.Depois de anos na guerra, de ver inúmeras atrocidades e perder uma parte de mim, estou usando um terno que fede a mofo e me desculpando com uma patricinha mimada.O elevador é grande o suficiente para que eu fique longe dela, mas não impede que o cheiro frutado de seu perfume chegue até mim, ao menos o cheiro é melhor que o de mofo da minha roupa.Alicia balança a perna, deixando clara a sua impaciência.A porta do elevador abre e uma sala com a decoração extremamente elegante surge no mesmo instante em que ela sai em disparada, quase trombando com uma garota asiática que vinha em sua direção.— Olhe por onde anda, Any.— Desculpe, Alicia ... — a garota fala, parando estática. — Bom dia.— Só se for o seu, o meu começou uma droga — fala, me fazendo engolir a saliva.Eu tinha estragado o dia dela?Talvez eu estivesse ali para mostrar para ela que as coisas nem sempre seriam perfeitas como ela estava acostumada, o pensamento me faz rir internamente.— Esse é... — Aponta para mim. — Qual o seu nome mesmo?Respiro fundo.— Pablo — respondo, sendo ignorado por ele.— Esse é o novo motorista, providencie um alfaiate para ele trocar esse terno horroroso...A garota assente, segurando e escrevendo algo em seu Ipad.— Pro... — Faz uma pausa me olhando de cima a baixo. — Venha até minha sala — pede para a garota, como se não quisesse que eu ouvisse o que ela tem para dizer. A garota dá um sorriso amarelo e a segue.— O que eu tenho que fazer? — pergunto subitamente, sendo fuzilado com o olhar da loira.— Esperar, pode fazer isso ou é muito difícil para você? — fala, abrindo a enorme porta que tem o seu nome escrito em letras garrafais.Essa mulher é uma grande megera.— Eu já retorno, senhor — a garota fala, visivelmente embaraçada.— Não tem que dar explicações, Any, ele é meu motorista e é pago para dirigir e me esperar — comenta indo porta adentro, sendo seguida pela moça.Ela está disposta a pisar em mim e eu estou disposto a não permitir isso, então abro meu paletó e me jogo em uma das enormes poltronas que tem ali.Eu costumava enfrentar um inferno todos os dias, não vai ser uma dondoca mimada que vai me fazer afundar ainda mais nele.Preciso do dinheiro que esse maldito emprego me dá, a Barbie aparentemente precisa de alguém para mostrar que o mundo não gira em torno dela. Esses ricos acham que todos tem que lamber o chão que eles pisam, mas eu não sou desses idiotas que vivem puxando saco.E só um emprego. E não não é difícil conseguir outro, mesmo que isso decepcione minha irmã. Algo que eu não queria fazer. Brenda acreditava em mim e eu não podia decepcionar mais uma vez.Mesmo a contra gosto tentaria fazer o meu melhor, porque já tinha feito merda o suficiente nos outros empregos.Mas isso não significa que vou aguentar uma mimada me humilhar.Pablo RodriguézEstava quase cochilando tamanho o meu tédio, mas o que eu estava esperando, eu era motorista de uma riquinha mimada e claro que não teria emoção alguma nisso. Se bem que aguentar alguém arrogante como ela aparentemente não é a coisa mais fácil do mundo. Me levanto da poltrona e começo a andar ao redor, olhando a decoração horrorosa do lugar, nunca entendi o mal gosto dos ricos.Até aonde eu sei, Pamuk é uma fabricante de cosméticos ou algo do tipo, com filiais pelo mundo todo. Sei pelo que Brenda me falou, afinal, eu odeio mídia e redes sociais, mas minha irmã está um tanto deslumbrada pelo meu novo martírio, quer dizer, emprego. Acho que ela sequer imagina que minha adorável chefe respira arrogância.E não seria eu a dizer a ela, Brenda é um dos motivos pelo qual eu ainda insistiria nesse trabalho, talvez esteja na hora de tentar ser um irmão e um neto de verdade, mesmo sendo difícil, eu preciso recuperar um pedacinho de quem eu fui um dia.— Oi. — Dou um salto, m
Alicia PamukNão consigo entender o porquê de eu ainda estar tentando manter esse motorista, depois de ser nítida a sua incompetência, talvez eu esteja seguindo o conselho de Donna e sendo mais tolerante com as pessoas, mas não vou dar mais nenhuma chance caso ele cometa qualquer outro erro. Ainda mais com ele sendo tão debochado. Reviro os olhos lembrando da expressão enigmática no rosto do meu novo motorista, algo que ao mesmo tempo que irrita, me deixa curiosa.Eu só posso estar ficando maluca.O que alguém como ele pode ter de interessante? Me recuso a aceitar que ele é um homem bonito, ele só não é feio, é um homem comum usando um terno horroroso, que eu espero que vá para o lixo assim que Simon trouxer um novo depois de tirar suas medidas. — Pablo Rivera Rodriguéz — balbucio, olhando sua ficha sobre a minha mesa.A foto pequena deixa em evidência os círculos escuross ao redor de seus olhos Azuis.Os trabalhos anteriores foram todos temporários, todos braçais, o que talvez ex
Pablo RodriguézO celular, que agora é mais um instrumento, com certeza custou um salário-mínimo. Se eles dão um celular como esse para um motorista, com toda certeza estão nadando em dinheiro. O que é de se esperar, se tratando de uma das melhores empresas de cosméticos dos Estados Unidos.Ouço os passos de Mili vindo do corredor, o som que o salto do coturno faz ao bater no chão é inconfundível. O seu modo de vestir é um pouco peculiar, comparado ao da sua chefe, enquanto Mili parece uma e-girl, nossa chefe poderia ter saído de um desfile de moda de alta costura, não que eu preste atenção nisso. Ficar na presença da garota faz tudo ser menos tedioso, ela não para de falar um segundo sequer, e tem assunto para tudo quanto é pauta. Eu já sabia quantos membros tinha sua família, como era o seu relacionamento com a namorada, seus filmes favoritos e mais uma porrada de coisas a seu respeito. O que não me incomodava, estava sendo divertido, seu bom humor e seu falatório talvez seja o
Alicia Pamuk Não sou uma chefe ruim, me preocupo com o bem-estar dos meus funcionários, todos recebem benefícios além de um salário mais do que justo, sei a importância da mão de obra de cada um deles, seja na produção, no marketing ou em vendas.Sou exigente porque preciso ser, já decepcionei meus pais o suficiente e a Pamuk é a maior lembrança de Aslan. — Entra, Alicia, e não repare na bagunça — fala abrindo a porta do seu Audi Q8.Ela tira duas pelúcias do banco para que eu me sente. Donna se casou com vinte e três anos, quando terminava a faculdade de Relações Internacionais, com Hyon Yoon. Ele era um recém-chegado nos Estados Unidos, vindo da Coreia Sul, e se conheceram durante seu estágio em uma grande empresa de tecnologia. Há três anos tiveram um casal de gêmeos, que conseguiram anular minha aversão por crianças, eu sou completamente apaixonada por Kahi e Jon ho. Hyon e Donna são meu casal preferido, sempre irei admirar o relacionamento dos dois, mas não desejo algo assim
Pablo RodriguézMantenho meu corpo inerte enquanto a dondoca permanece me olhando. Já espero o momento que ela vai abrir a boca e falar algo ácido. — Pode ir, Mili, vou pegar minha bolsa e já saio — diz indo em direção a sua sala.Mili assente com a cabeça e abre um dos armários elegantes atrás de sua mesa, tirando uma mochila preta com vários bottons coloridos. — Você sabe o que fazer, não é? — pergunta, colocando a mochila nas costas. Não sei ao que ela está se referindo especificamente, até hoje de manhã eu achava que dirigir para uma dondoca não iria ser um problema, mas depois de ver aquela tal agenda não tenho mais tanta certeza.— Claro — digo ironicamente.— Olha, eu gostei de você, então não seja demitido, por favor — pede juntando as mãos.— Está parecendo minha irmã falando — digo. — Você tem uma irmã? Não me disse nada sobre isso.— E você deu tempo para eu falar alguma coisa? — digo e ela gargalha. Ouço o barulho da porta sendo fechada e vejo Alicia sair de sua sala.
AliciaAbro o Instagram e rolo o feed, abro a câmera e tiro uma selfie para postar nos stories, sendo grata por um ótimo dia de trabalho. Logo começo a receber reacts e ignoro cada um deles, já anoiteceu. Vejo que estamos na rua do meu prédio, percebo que o meu novo motorista fez um bom trabalho, o que é o mínimo, claro. Assim que ele para o carro, me apresso em tirar o cinto. — Pode ir para casa — digo abrindo a porta, não iria esperar que ele o fizesse. Saio sem esperar por qualquer resposta e sigo caminhando rapidamente em linha reta na direção da portaria, quando sinto um aperto no meu braço junto a um puxão, que me faz virar para trás. — Que merda você pensa que está fazendo, Liv? — Paul me encara, apertando meu braço com força, seu olhar está nublado de ódio. — O que você está fazendo? — pergunto, tentando me soltar. — Por que proibiu a minha entrada no prédio? — Aperta meu braço com mais força, me fazendo gemer de dor. — Paul, não temos mais nada e eu quero você longe
Pablo RodriguézPor um motivo que não entendia, olhei na direção de Alicia antes de ligar o carro para ir embora, foi quando a vi acuada com aquele homem a sacudindo. Jamais ficaria quieto vendo uma mulher em uma situação como aquela, então, sem pensar duas vezes, abri o carro e fui até lá para tirar Alicia das garras daquele covarde.Não esperava que meu primeiro dia no novo emprego fosse recheado de adrenalina, também não imaginava ver Alicia praticamente sendo abusada por um cretino. Ver a forma violenta que ele puxou seus cabelos fez meu estômago embrulhar, enquanto meu corpo era acometido por um ódio fora do normal. Desde que voltei da Síria, tive alguns problemas para controlar minha fúria, fui parar em uma cela na delegacia na maioria das brigas em que entrei por passar dos limites, acabei levando alguns caras para o hospital e fui dormir na cadeia.Dando trabalho para Brenda, por ter que me tirar de lá.O medo refletido nos olhos de Alicia foi o que me impediu de quebrar al
Pablo RodriguézEstou com uma irritabilidade acima do normal, sem falar nas dores de cabeça constantes. Sei que tudo isso é derivado da abstinência, mas mesmo que isso me incomode, preciso me manter firme e dizer não às fraquezas. Meus avós e Brenda precisam de mim, e sóbrio. Outro lado ruim de estar limpo é voltar a sentir a dor que o álcool e as drogas anestesiavam.Já era sexta-feira e, por um milagre do universo, eu tinha continuado no trabalho, talvez por ter me esforçado ao máximo para não ser escorraçado por Alicia .Tinha passado por inúmeras guerras, visto cenas aterrorizantes, não esperava terminar como um motorista de gente rica, carregando inúmeras sacolas de marca, buscando café...Depois do episódio em frente ao prédio, Alicia evitou ao máximo olhar na minha direção, e eu busquei fazer o mesmo, ainda que minha curiosidade sobre quem era o cretino fosse grande, eu sabia que não era da minha conta e isso não deveria ocupar espaço na minha mente. Eu não era nada além do