Alicia PamukPassei toda a semana evitando Pablo, temendo que ele dissesse algo sobre o que aconteceu com Paul. Não que ele precisasse de uma explicação, não é como se eu me importasse com o que meu motorista pensa. A única coisa que explicaria meu incômodo é a falta de sanidade.Agora eu estou batendo o pé no chão do elevador, tentando não me ridicularizar por ter dito boa noite para meu motorista e ele não só ter ignorado, mas ainda debochado. Eu não consegui formular uma frase para responder sua prepotência.Nunca hesitei em demitir qualquer funcionário, mas agora teimava em manter o sujeito.Qual é o meu problema?É cansaço, apenas isso. A discussão com um dos fornecedores Turcaes me desgastou muito e isso não estava me deixando pensar com exatidão.Só precisava da minha banheira e de uma taça do meu melhor vinho para relaxar. Talvez uma barra de chocolate também...A claridade faz meus olhos arderem, então cubro meu rosto com o travesseiro. — Que horas são? — pergunto em voz
Pablo RodriguézTive que fazer um grande esforço para não rir da cara de Alicia ao vê-la constatando que estava descalça, aparentemente ele não está em um dia muito normal, assim como eu.Não esperava que fosse subir no apartamento da minha chefe, muito menos que a encontraria somente de toalha.Tudo bem, ela estava de roupão, mas na minha mente aquilo era uma toalha. Quase tive um infarto na hora, meu coração começou a bater em um ritmo fora do normal, ao mesmo tempo que meu pau acordou. Eu sou o cara mais ferrado da face da terra. Seria mais fácil ser motorista de uma senhora de mais de sessenta anos. Por que Alicia tinha que ser tão bonita? Eu poderia ter ficado por horas olhando para ela, do jeito que ela estava quando abriu a porta, sem toda aquela maquiagem, com as pequenas sardas na área das bochechas, algo que achei um charme, até suas olheiras são bonitas.Ela é linda...E por que Alicia teve que ser gentil justo hoje? Ela deveria ter me escorraçado da porta do seu apar
Pablo RodriguézIria enlouquecer se passasse mais uma hora parado nesse maldito estacionamento de grã-finos, que olham na minha direção como se eu fosse lixo.E o mais engraçado é que os motoristas dessa gente também se acham ricos. Já são quase dez horas da noite e eu estou começando a ficar com fome e sede, comi todos os sanduíches e sequei a garrafa de água. Talvez sair e comprar algo não seja uma boa ideia, porque a qualquer momento Alicia pode sair e requisitar os meus serviços, e eu já aguentei uma semana inteira para perder meu emprego no final de uma noite de sábado. Um sentimento estranho se apossa de mim quando a possibilidade de não ser mais o motorista de Alicia Pamuk passa pela minha mente, me forço a acreditar que tudo é pelo bom salário e para não decepcionar Brenda, que agora conta comigo.Vejo alguma movimentação na porta do lugar, saio do carro na esperança de que Alicia saia, ledo engano. Uso todo o estoque que tenho de paciência. Algumas pessoas caminham em di
Pablo RodriguézOuvir sobre a vida de Christiny era estranho, sentia como se ela estivesse traindo meu amigo e eu sei que sou um egoísta por pensar em tudo dessa forma. Ela seguiu em frente, viveu seu luto, criou sua própria marca de roupas e agora está noiva de um italiano.Ela está feliz e é isso que importa, tinha que, no mínimo, ficar contente por ela ter refeito sua vida. — Eu soube da sua esposa, eu sinto muito — diz afagando meu braço. Ouvir as pessoas falando de Clarice é como se uma ferida quase cicatrizada fosse reaberta, eu não falava sobre ela porque trazia lembranças de momentos que nunca mais iriam se repetir —, mas o que você tem feito? Me desculpe tocar nesse assunto. — Está tudo bem — minto. — Você não me disse o que faz aqui? Você estava no evento? — Eu? Em um evento cheio de almofadinhas? — digo, me arrependendo ao lembrar que ela tinha saído do mesmo lugar que Alicia tinha entrado. — Sem ofensas. — Christiny ri do meu desconcerto. — Sou motorista de uma dondoc
Alicia PamukMeu corpo ainda treme por causa de todo o contato com Pablo. Não esperava uma atitude como aquela vinda dele. Não sei descrever o que senti, um misto de medo e excitação, a forma como ele me olhou e me tocou trouxe um frio na barriga diferente de todos os que já tive.Ele é um ogro, um brutamontes, e eu sou sua chefe, aonde ele tinha visto que poderia me tratar daquela forma e ainda permanecer no emprego? Mas por que eu me recusava a demiti-lo aos gritos? Jogo minha bolsa no banco e percebo que tem uma espécie de revista ao lado, sei que não pertence a mim, imagino ser coisa do motorista. Movida pela curiosidade em saber do que se trata, pego e começo a folhear, descobrindo se tratar de palavras cruzadas, praticamente toda preenchida.Quem ainda faz palavras cruzadas em pleno 2023? Um sorriso brota nos meus lábios ao saber dessa peculiaridade a respeito do brutamontes do meu motorista. — Eu trouxe para matar o tempo — diz, me olhando pelo espelho retrovisor, como se
Pablo RodriguézNão sei o que estou fazendo, apenas saboreio os lábios de Alicia como se minha vida dependesse disso. A forma como nossas bocas se encaixa em uma dança erótica é surreal. Não sei por que tive essa atitude tão impensada, mas não estou arrependido, não quando meus lábios sorvem o gosto de menta da boca dessa mulher. Esperava uma recusa, um empurrão, mas vi que estava enganado quando ela puxou minha nuca, colando ainda mais nossos corpos. Meu pau adquiriu vida própria e eu posso jurar que meu zíper vai estourar a qualquer momento. A luz de um farol se aproximando faz nossos corpos se separarem e eu constato a merda que acabei de fazer. Eu tinha beijado a mimadinha da minha chefe, e eu continuaria beijando se nenhum carro tivesse se aproximado. Tinha sido demitido, então de qualquer forma eu estava ferrado, não iria conseguir chegar em casa tão cedo se fosse andando e também não poderia ser idiota a ponto de deixá-la sozinha em uma rua deserta.Mesmo que isso tenha
Pablo RodriguézAinda estou um pouco anestesiado pelo que aconteceu. É difícil acreditar que Alicia não me ofendeu de todas as formas possíveis, ao invés disso, ela permitiu que eu trabalhasse amanhã.Não vou criar esperanças, é óbvio que ela não quer entrar em um táxi em pleno domingo.Afrouxo a minha gravata, atento ao trânsito e tentando não pensar no maldito beijo.Preciso me convencer que aquilo me afetou apenas por estar sóbrio, mas a lembrança das nossas línguas entrelaçadas, de suas unhas arranhando a minha nuca e das minhas mãos contornando sua cintura, deixa meu pau duro como uma rocha.Não quero me sentir como um pervertido maluco, estou apenas precisando transar, já que não sei o que é sexo sem estar bêbado ou drogado há bastante tempo.Mais uma vez questiono o porquê de não ter uma idosa ranzinza como chefe, se bem que ranzinza Alicia já é...— Ela precisava ser tão linda? — digo, entrando com o carro no meu bairro e me apressando em estacionar na garagem.Sinto a boca se
Alicia PamukOlho para o líquido preto caindo abundantemente na caneca e o cheiro do café invade a cozinha. Bocejo, tirando a caneca do suporte da cafeteira e colocando duas colheres generosas de açúcar dentro dela.Um café com bastante açúcar é tudo o que eu preciso para me manter acordada e me ajudar com a preparação para um almoço com os meus pais.Tive uma bela noite de sono, sem me culpar por ter pensado no meu motorista de uma forma muito peculiar. Sinto um frio na espinha por saber que vou encontrá-lo em algumas horas, e não conseguiria encará-lo de forma alguma.Por que eu estava sentindo esse desejo fora do normal por Pablo? Tudo o que eu sabia sobre ele era: o seu sobrenome, que ele não durou em nenhum dos seus trabalhos anteriores e que era um ogro sem classe alguma.Meu corpo se arrepia ao lembrar da forma que suas mãos firmes me puxaram para si quando sua boca reivindicou a minha.Bebo um gole generoso de café.Eu só posso estar ficando maluca, não tem probabilidade algu