Alicia PamukMinha boca está seca, estou com medo da conversa que terei com meu pai, mas decido confiar em Pablo, ele parecia certo de si quando disse que tudo ficaria bem.— Sobre o que quer conversar? Deve ser algo muito importante para fazer você vir aqui tão cedo. — Cruzo os braços e ele ajeita a postura. — Sua mãe me contou que veio aqui ontem — diz e rio sem humor.— Então é esse o motivo da visita? Minha mãe? Você veio me expulsar daqui ou dizer para eu sair da empresa? — Filha, você entendeu errado... — Não entendi nada errado! Minha mãe prometeu e o senhor veio cumprir. E quer saber? Eu vou me virar sozinha — afirmo, sentindo um nó se formar em minha garganta.— Alicia , me ouve...— Ouvir o que, papai? Que minha mãe não queria ter dito aquilo? Que no fundo ela é uma boa pessoa? ELA NÃO É! — grito, fazendo Stark latir assustado.— EU PEDI O DIVÓRCIO! — ele grita, me olhando fixamente.Paro, pensando se ouvi corretamente o que ele acabou de dizer.— O senhor fez o quê?— Eu
Alicia PamukUm mês depois.Minhas mãos estão suando e praticamente escorregam no volante, minhas pernas tremem e eu não sei como estou conseguindo tal façanha.Volto a repetir o mantra na mente: É só um carro, não preciso ter medo.Sinto a mão de Pablo sobre a minha coxa, um sinal de que já fiz o suficiente, então eu paro, mas meu coração ainda está acelerado e duvido que diminuirá o ritmo.— Quase um quilômetro, amor. — Ele puxa meu rosto e beija minha testa, então segura minha mão e me encara. — Estão suadas — digo sem graça, mas ele se abaixa e beija cada uma delas.— Não precisa ter medo, é um processo lento, mas você já conseguiu muito. Quase um quilômetro, eu estou orgulhoso. — Sorri.Há três semanas, Pablo tem me levado até uma estrada isolada com o objetivo de fazer com que eu volte a dirigir. Eu voltei para a terapia e acabei comentando com ele sobre a sugestão em uma sessão sobre superação de traumas, aonde a terapeuta falou sobre enfrentar um dos maiores causadores, e é c
Alicia Pamuk Estou mais nervosa do que parece, talvez nunca tenha ficado tão ansiosa por um lançamento, não só pelo fato de estar colocando no mercado uma linha de produtos mais acessível, mas também por ser o primeiro evento que vou estar oficialmente com Pablo Rodriguéz ao meu lado.O frio na barriga é recorrente. Deixei toda a organização do lançamento aos cuidados da equipe de marketing e de Mili e, mesmo tendo aprovado cada detalhe, o medo de não sair como planejado ronda a minha mente. Me despeço dos profissionais do salão de beleza e saio, sabendo que Pablo me espera no estacionamento, então meu coração começa a acelerar do nada, mas percebo que ele só estava antecipando minha reação ao ver Pablo de smoking. Meu único desejo nesse momento é sentar nesse homem. Como ele conseguiu ficar ainda mais gostoso? Ele se aproxima e sinto minhas pernas virando gelatina.— Meu Deus, como você está linda! — Seus olhos brilhando me faz crer que ele gostou do meu vestido preto, um que D
Alicia PamukMeu corpo ainda está tremendo, o nó em minha garganta me sufoca. Eu quero chorar e desabar. Estava tudo perfeito e Paul tinha que aparecer para estragar tudo. Por que ele não consegue me deixar em paz? Por um momento, pensei que ele tinha desistido, ido viver a sua vida de merda e me deixado em paz. O silêncio dentro do carro é sepulcral. Brenda está assustada, as mãos de Pablo estão sujas de sangue e ele sequer olhou em minha direção, sua mandíbula travada deixa claro que ele ainda está com muita raiva e sei que as palavras ditas por Paul o afetaram, tenho medo de pensar no que elas podem ter causado, tenho medo de ele abrir mão de nós. Não quero pensar na possibilidade de Paul ir até polícia por conta da sua cara destruída. Não posso negar que vê-lo naquele estado foi satisfatório, me arrisco a dizer que não foi nem um terço do que ele merece. Passo as mãos suadas pelo tecido do vestido, puxando o ar com força. Fecho os olhos e tento me concentrar na minha respiraç
Pablo O trânsito tranquilo aparentemente vai permitir que eu chegue rápido no prédio de Alicia , estou ansioso para pedir perdão a ela e prometer que nunca mais a deixaria sozinha. Brenda está me ligando sem parar e me pergunto o que ela quer com tamanha urgência, aproveito que paro no farol para atender a sua ligação.Tenho uma sensação estranha.— O que foi, Brenda? — bufo.— Tem algo de errado, Pablo, tem algo de errado... — Ela está nervosa e sinto um calafrio.— O que está errado, Brenda? Está me assustando — digo firmemente. — A Alicia , Pablo, eu estava com ela no telefone... — ela fala tão rápido que custo a entender. Vejo o sinal abrir e tenho a sorte de encontrar um lugar para estacionar em frente a um quiosque.— Fale com calma, por favor — Ouço-a respirar pausadamente.— Eu estava com Alicia no telefone, dizendo que você tinha percebido que fez besteira e que estava indo vê-la. — Começo a me irritar.— Não tinha que fazer isso... — meu tom de voz deixa claro meu desagra
Alicia Pamuk — Somos nós — quase grito, indo em direção ao homem.— Como meu neto está? — Angela se apoia em meu braço e o médico dá um sorriso simpático.— Removemos a bala, por sorte ela não atingiu nenhum órgão vital. Estávamos esperando Pablo acordar da anestesia. Um sorriso se forma em meus lábios, junto com a sensação de alívio.— Podemos vê-lo? — Brenda pergunta.— Uma pessoa por vez — alerta.Não iria pedir para passar na frente da sua família.— Pode ir, filha. — Angela faz um carinho em meu braço.— A senhora tem certeza? — Vai, Alicia — Brenda diz impaciente e então sigo o médico.— Eu volto logo — digo me virando para trás.Entro no quarto, vendo Pablo escorado na cama, e corro até ele, eu quero abraçá-lo, mas tenho medo de machucá-lo. Ele está pálido e usa uma bata sem mangas do hospital, o curativo no ombro é maior do que eu imaginei. Seguro sua mão e dou um beijo rápido em seus lábios.— Está sentindo dor? — pergunto, passando os dedos por seu braço.— Você está de p
Pablo RodriguézO estrondo balança tudo ao meu redor, no mesmo instante em que abro os olhos, me sentando subitamente no sofá, sinto o suor escorrer lentamente pelo meu corpo, enquanto meu coração bate acelerado.Os pesadelos permanecem constantes e dormir se tornou meu martírio.Minha cabeça está latejando e, para piorar, tem alguém quase quebrando a minha porta de tanto bater.Me levanto e tropeço na tigela com o resto de macarrão instantâneo que está no chão. A minha sala está um lixo, vejo o resto da pizza sobre a mesinha de centro da sala e garrafas de cerveja vazias em todos os cantos.Moro em um cubículo localizado no Bronx, o apartamento é horroroso, cheio de mofo e insetos, que parecem ter superpoderes e nada mata os malditos, mas é o que posso pagar, aliás, nem isso estou fazendo já que bebi todo o dinheiro do aluguel.A batida agora vem mais forte, me deixando irritado, parece que o fato de não ouvir mais pelo lado esquerdo deixou meu ouvido bom mais sensível.— Já vou, car
Alicia PamukEu vivia em um looping infinito de “e se”...E se eu tivesse ficado naquela boate?E se eu não tivesse obrigado Aslan a ir para casa?E se eu não estivesse dirigindo?E se eu não fosse uma chata que não sabe o que é se divertir?Ver o corpo do meu irmão sem vida, em meio aos destroços do seu carro naquela noite, virou uma chave na minha cabeça e arrancou um pedaço do meu coração. A culpa me atormentaria enquanto eu vivesse, então me tornei a Alicia que Aslan gostaria de ter como irmã, alguém que ele admiraria.Aprendi a viver a vida da maneira que ele estava acostumado e isso foi como um anestésico para a minha dor.Abri mão da faculdade de medicina para me dedicar integralmente à Pamuk, passei a viver os sonhos do meu irmão, porque os meus morreram naquela maldita noite.O silêncio ecoa pelo meu quarto enquanto eu termino minha maquiagem. Tenho minha própria linha de cosméticos, milhões de seguidores no Instagram e sou figura carimbada em todos os eventos badalados de