AliciaAbro o Instagram e rolo o feed, abro a câmera e tiro uma selfie para postar nos stories, sendo grata por um ótimo dia de trabalho. Logo começo a receber reacts e ignoro cada um deles, já anoiteceu. Vejo que estamos na rua do meu prédio, percebo que o meu novo motorista fez um bom trabalho, o que é o mínimo, claro. Assim que ele para o carro, me apresso em tirar o cinto. — Pode ir para casa — digo abrindo a porta, não iria esperar que ele o fizesse. Saio sem esperar por qualquer resposta e sigo caminhando rapidamente em linha reta na direção da portaria, quando sinto um aperto no meu braço junto a um puxão, que me faz virar para trás. — Que merda você pensa que está fazendo, Liv? — Paul me encara, apertando meu braço com força, seu olhar está nublado de ódio. — O que você está fazendo? — pergunto, tentando me soltar. — Por que proibiu a minha entrada no prédio? — Aperta meu braço com mais força, me fazendo gemer de dor. — Paul, não temos mais nada e eu quero você longe
Pablo RodriguézPor um motivo que não entendia, olhei na direção de Alicia antes de ligar o carro para ir embora, foi quando a vi acuada com aquele homem a sacudindo. Jamais ficaria quieto vendo uma mulher em uma situação como aquela, então, sem pensar duas vezes, abri o carro e fui até lá para tirar Alicia das garras daquele covarde.Não esperava que meu primeiro dia no novo emprego fosse recheado de adrenalina, também não imaginava ver Alicia praticamente sendo abusada por um cretino. Ver a forma violenta que ele puxou seus cabelos fez meu estômago embrulhar, enquanto meu corpo era acometido por um ódio fora do normal. Desde que voltei da Síria, tive alguns problemas para controlar minha fúria, fui parar em uma cela na delegacia na maioria das brigas em que entrei por passar dos limites, acabei levando alguns caras para o hospital e fui dormir na cadeia.Dando trabalho para Brenda, por ter que me tirar de lá.O medo refletido nos olhos de Alicia foi o que me impediu de quebrar al
Pablo RodriguézEstou com uma irritabilidade acima do normal, sem falar nas dores de cabeça constantes. Sei que tudo isso é derivado da abstinência, mas mesmo que isso me incomode, preciso me manter firme e dizer não às fraquezas. Meus avós e Brenda precisam de mim, e sóbrio. Outro lado ruim de estar limpo é voltar a sentir a dor que o álcool e as drogas anestesiavam.Já era sexta-feira e, por um milagre do universo, eu tinha continuado no trabalho, talvez por ter me esforçado ao máximo para não ser escorraçado por Alicia .Tinha passado por inúmeras guerras, visto cenas aterrorizantes, não esperava terminar como um motorista de gente rica, carregando inúmeras sacolas de marca, buscando café...Depois do episódio em frente ao prédio, Alicia evitou ao máximo olhar na minha direção, e eu busquei fazer o mesmo, ainda que minha curiosidade sobre quem era o cretino fosse grande, eu sabia que não era da minha conta e isso não deveria ocupar espaço na minha mente. Eu não era nada além do
Alicia PamukPassei toda a semana evitando Pablo, temendo que ele dissesse algo sobre o que aconteceu com Paul. Não que ele precisasse de uma explicação, não é como se eu me importasse com o que meu motorista pensa. A única coisa que explicaria meu incômodo é a falta de sanidade.Agora eu estou batendo o pé no chão do elevador, tentando não me ridicularizar por ter dito boa noite para meu motorista e ele não só ter ignorado, mas ainda debochado. Eu não consegui formular uma frase para responder sua prepotência.Nunca hesitei em demitir qualquer funcionário, mas agora teimava em manter o sujeito.Qual é o meu problema?É cansaço, apenas isso. A discussão com um dos fornecedores Turcaes me desgastou muito e isso não estava me deixando pensar com exatidão.Só precisava da minha banheira e de uma taça do meu melhor vinho para relaxar. Talvez uma barra de chocolate também...A claridade faz meus olhos arderem, então cubro meu rosto com o travesseiro. — Que horas são? — pergunto em voz
Pablo RodriguézTive que fazer um grande esforço para não rir da cara de Alicia ao vê-la constatando que estava descalça, aparentemente ele não está em um dia muito normal, assim como eu.Não esperava que fosse subir no apartamento da minha chefe, muito menos que a encontraria somente de toalha.Tudo bem, ela estava de roupão, mas na minha mente aquilo era uma toalha. Quase tive um infarto na hora, meu coração começou a bater em um ritmo fora do normal, ao mesmo tempo que meu pau acordou. Eu sou o cara mais ferrado da face da terra. Seria mais fácil ser motorista de uma senhora de mais de sessenta anos. Por que Alicia tinha que ser tão bonita? Eu poderia ter ficado por horas olhando para ela, do jeito que ela estava quando abriu a porta, sem toda aquela maquiagem, com as pequenas sardas na área das bochechas, algo que achei um charme, até suas olheiras são bonitas.Ela é linda...E por que Alicia teve que ser gentil justo hoje? Ela deveria ter me escorraçado da porta do seu apar
Pablo RodriguézIria enlouquecer se passasse mais uma hora parado nesse maldito estacionamento de grã-finos, que olham na minha direção como se eu fosse lixo.E o mais engraçado é que os motoristas dessa gente também se acham ricos. Já são quase dez horas da noite e eu estou começando a ficar com fome e sede, comi todos os sanduíches e sequei a garrafa de água. Talvez sair e comprar algo não seja uma boa ideia, porque a qualquer momento Alicia pode sair e requisitar os meus serviços, e eu já aguentei uma semana inteira para perder meu emprego no final de uma noite de sábado. Um sentimento estranho se apossa de mim quando a possibilidade de não ser mais o motorista de Alicia Pamuk passa pela minha mente, me forço a acreditar que tudo é pelo bom salário e para não decepcionar Brenda, que agora conta comigo.Vejo alguma movimentação na porta do lugar, saio do carro na esperança de que Alicia saia, ledo engano. Uso todo o estoque que tenho de paciência. Algumas pessoas caminham em di
Pablo RodriguézOuvir sobre a vida de Christiny era estranho, sentia como se ela estivesse traindo meu amigo e eu sei que sou um egoísta por pensar em tudo dessa forma. Ela seguiu em frente, viveu seu luto, criou sua própria marca de roupas e agora está noiva de um italiano.Ela está feliz e é isso que importa, tinha que, no mínimo, ficar contente por ela ter refeito sua vida. — Eu soube da sua esposa, eu sinto muito — diz afagando meu braço. Ouvir as pessoas falando de Clarice é como se uma ferida quase cicatrizada fosse reaberta, eu não falava sobre ela porque trazia lembranças de momentos que nunca mais iriam se repetir —, mas o que você tem feito? Me desculpe tocar nesse assunto. — Está tudo bem — minto. — Você não me disse o que faz aqui? Você estava no evento? — Eu? Em um evento cheio de almofadinhas? — digo, me arrependendo ao lembrar que ela tinha saído do mesmo lugar que Alicia tinha entrado. — Sem ofensas. — Christiny ri do meu desconcerto. — Sou motorista de uma dondoc
Alicia PamukMeu corpo ainda treme por causa de todo o contato com Pablo. Não esperava uma atitude como aquela vinda dele. Não sei descrever o que senti, um misto de medo e excitação, a forma como ele me olhou e me tocou trouxe um frio na barriga diferente de todos os que já tive.Ele é um ogro, um brutamontes, e eu sou sua chefe, aonde ele tinha visto que poderia me tratar daquela forma e ainda permanecer no emprego? Mas por que eu me recusava a demiti-lo aos gritos? Jogo minha bolsa no banco e percebo que tem uma espécie de revista ao lado, sei que não pertence a mim, imagino ser coisa do motorista. Movida pela curiosidade em saber do que se trata, pego e começo a folhear, descobrindo se tratar de palavras cruzadas, praticamente toda preenchida.Quem ainda faz palavras cruzadas em pleno 2023? Um sorriso brota nos meus lábios ao saber dessa peculiaridade a respeito do brutamontes do meu motorista. — Eu trouxe para matar o tempo — diz, me olhando pelo espelho retrovisor, como se