Capítulo 05

Pablo Rodriguéz

Estava quase cochilando tamanho o meu tédio, mas o que eu estava esperando, eu era motorista de uma riquinha mimada e claro que não teria emoção alguma nisso.

Se bem que aguentar alguém arrogante como ela aparentemente não é a coisa mais fácil do mundo.

Me levanto da poltrona e começo a andar ao redor, olhando a decoração horrorosa do lugar, nunca entendi o mal gosto dos ricos.

Até aonde eu sei, Pamuk é uma fabricante de cosméticos ou algo do tipo, com filiais pelo mundo todo.

Sei pelo que Brenda me falou, afinal, eu odeio mídia e redes sociais, mas minha irmã está um tanto deslumbrada pelo meu novo martírio, quer dizer, emprego.

Acho que ela sequer imagina que minha adorável chefe respira arrogância.

E não seria eu a dizer a ela, Brenda é um dos motivos pelo qual eu ainda insistiria nesse trabalho, talvez esteja na hora de tentar ser um irmão e um neto de verdade, mesmo sendo difícil, eu preciso recuperar um pedacinho de quem eu fui um dia.

— Oi. — Dou um salto, me virando abruptamente, vendo a garota que havia nos recepcionado.

— Oi.

— Não fomos devidamente apresentados. — Estende a mão. — Sou Mili , mas pode me chamar de Any, sou a assistente da Alicia , quer dizer, senhorita Pamuk.

— Pablo Rodriguéz — falo, apertando a mão da garota que não para de falar nem para recarregar.

— Ela não gosta que eu a chame de senhorita Pamuk, prefere Alicia , mas acho que não é assim para todo mundo.

— Sua chefe não parece muito amigável — comento sem receio.

— Ela é legal, só não faz questão que as pessoas saibam disso. — Dá de ombros, com um sorriso amarelo no rosto. Ela parece boa demais para ser o saco de pancadas da poderosa Pamuk. — Você pode ficar à vontade, acredito que vai passar a maior parte do tempo aqui comigo, na diretoria — discorre indo em direção a enorme mesa em formato de rim, repleta de papéis.

— Tranquilo — respondo e puxo uma lufada de ar.

— Tem uma máquina de café no andar de baixo, o expresso é maravilhoso. Você gosta de café?

— Não muito — comento.

Não é nada com o sabor do café, mas sim com o fato da cafeína me deixar agitado, e eu já durmo mal o suficiente.

— Eu amo café — responde e com certeza ela ama, já que é perceptível sua agitação, e eu não vou julgá-la, entendo a garota, dada a chefe que temos em comum. — Eu preciso fazer umas ligações agora, para providenciar algumas coisas para você. — Vira o tablet na minha direção. — Você pode ficar parado de frente para mim? — Faço o que me é solicitado, enquanto ela parece me fotografar. — Ótimo e sem querer pedir muito ou me aproveitar de você... — Ela apoia o Ipad sobre a mesa.

— Você quer que eu te traga um café? — pergunto, já imaginando qual será o seu pedido.

— Isso! Pablo você é ótimo, seria o meu e o da Alicia . — O nome Alicia me faz torcer o nariz. — Ela não é muito exigente, é o mesmo que o meu. Um expresso duplo com duas gotas de xilitol. Eu passei a tomar o mesmo café que ela para não correr o risco de errar quando comecei a preparar, mas também tem chá e rosquinhas, elas são deliciosas.

— Tudo bem, eu trago o seu café, garota — comento antes que ela continue o falatório.

Ela é uma matraquinha, mas parece ser uma ótima pessoa e, aparentemente, não me deixaria no tédio total.

— Muito obrigado, Pablo. Você é demais, algo me diz que vamos ser bons amigos. — B**e palminhas e dá saltinhos.

Sorrio, balançado a cabeça, pronto para ir até o elevador e descer um andar para pegar o bendito café.

Meu estômago ronca e eu penso que não seria ruim uma rosquinha, já que não comi nada antes de sair de casa.

— Pode me trazer uma rosquinha com cobertura de açúcar? — pede com um sorriso amarelo.

Assinto com a cabeça e entro no elevador, em questão de segundos estou no andar que Mili disse. Noto que algumas pessoas me olham e também escuto os cochichos, aparentemente eu sou a nova atração do proletariado.

Vejo a placa indicando o café no final do corredor e aperto o passo, para não ter mais ninguém olhando na minha direção.

Tem uma espécie de pâtisserie, com uma vasta opção de doces, salgados e cafés.

— Bom dia, você é o novo motorista da vibo... da senhorita Pamuk? — fala um jovem loiro com o rosto coberto de espinhas.

— Sim, vejo que as informações correm por aqui. — Rio.

— O pessoal é comunicativo. — Sorri, mostrando seu aparelho ortodôntico. — Sou o Tom.

— Pablo. — Olho para o espaço, que é praticamente uma pâtisserie de luxo. — Tudo isso é de graça? — pergunto apontando para a vitrine.

— Sim, tudo por conta da Pamuk Cosméticos.

Sem dúvida a empresa não poupa gastos, tem quase uma Starbucks dentro do prédio, tudo à disposição dos funcionários.

Peço os cafés e como uma rosquinha com cobertura de caramelo enquanto aguardo meu pedido ficar pronto.

Pego os copos e vou novamente em direção ao elevador, ainda mastigando e ignorando os cochichos.

Mili comemorou minha chegada com uma dancinha engraçada, aparentemente ela tira um pouco do peso no ambiente com sua energia excêntrica.

Volto a me sentar enquanto ela leva o café da nossa chefe e, assim que ela retorna, aparecem dois homens no escritório, que me medem dos pés à cabeça sem dizer uma palavra sequer, me olhando como se eu fosse de outro planeta, sem falar nas ofensas ao meu terno.

Depois Mili escolhe um terno que os imbecis trouxeram, um que com toda certeza custa três meses do meu salário.

— Pablo, uau! Você está ótimo, acho que agora a Alicia não vai ficar envergonhada.

— Isso foi um elogio?

— Claro que foi, amanhã eles trarão mais opções. — Se aproxima.

— Precisa mesmo disso?

— Claro que precisa, você é motorista de uma das maiores CEOs do país. Você precisa se vestir como tal. — Ajeita minha gravata. — Gostei de você, Pablo, quero muito que dure mais do que duas semanas.

— Qual o problema dela? Como alguém tem um carro daqueles e não dirige? — verbalizo o que estava passando na minha cabeça.

— Isso não...

— Any, me fale que Alicia está na sala dela. — Me viro na direção da voz estridente.

Uma mulher belíssima, com o tom de pele no mais bonito ébano, os cabelos longos e escuros são lisos, com uma franja caindo com charme em seu rosto, ela traja um vestido floral delicado e tira os óculos de sol lentamente do rosto, conforme me encara de cima a baixo.

— Senhorita Yoon, que bom vê-la — Mili fala animada.

— Que história é essa de senhorita Yoon? É Donna, só Mia.

— Que bom vê-la, Mia.

— Bem melhor. E você, quem é? Algum novo modelo? — pergunta me olhando.

Não contenho a risada.

— Ele é o Pablo, novo motorista da Alicia .

— Olha só, minha amiga acertou em cheio na escolha dessa vez. — Me estende a mão. — Donna Yoon.

— Pablo Rodriguéz. — Aperto a mão macia e delicada da mulher.

— Boa sorte com minha amiga, ela pode ser um tanto quanto difícil. — Ela sorri e se volta para Any. — Ela está aí? — pergunta.

— Sim... — Mili responde pegando o telefone.

— Não precisa me anunciar, Mili — fala indo até a porta, a abrindo e entrando sem cerimônia alguma.

Gostei dela.

— Espe... Droga, ela sempre faz isso — bufa, se levantando e pegando algo no armário que parece uma escultura de arte moderna atrás dela.

Volto meu olhar para o espelho enorme atrás das poltronas, o qual ignorei quando cheguei. O terno não ficou ruim, o que me incomoda é o fato de ter que usar algo tão caro.

— Aqui. — Mili b**e com algo no meu ombro, me viro e ela me estende uma caixa. — Pega — insiste e a olho desconfiado. — Pega, você vai gostar. Eu que escolhi — comenta empolgada demais para o meu gosto.

Pago a caixa e vejo se tratar de um iPhone de última geração.

— Você ficou doida, garota! — Tento devolver a caixa. — Não quero isso — afirmo.

— Quem não quer um iPhone desses?

— Não quero isso, porque...

— A Alicia pediu que eu lhe comprasse um, vieram entregar enquanto você se trocava, e não se trata de querer ou não, para trabalhar com ela você precisa de um celular, então fique feliz com o presentinho. — B**e no meu ombro.

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