Pablo RodriguézO celular, que agora é mais um instrumento, com certeza custou um salário-mínimo. Se eles dão um celular como esse para um motorista, com toda certeza estão nadando em dinheiro. O que é de se esperar, se tratando de uma das melhores empresas de cosméticos dos Estados Unidos.Ouço os passos de Mili vindo do corredor, o som que o salto do coturno faz ao bater no chão é inconfundível. O seu modo de vestir é um pouco peculiar, comparado ao da sua chefe, enquanto Mili parece uma e-girl, nossa chefe poderia ter saído de um desfile de moda de alta costura, não que eu preste atenção nisso. Ficar na presença da garota faz tudo ser menos tedioso, ela não para de falar um segundo sequer, e tem assunto para tudo quanto é pauta. Eu já sabia quantos membros tinha sua família, como era o seu relacionamento com a namorada, seus filmes favoritos e mais uma porrada de coisas a seu respeito. O que não me incomodava, estava sendo divertido, seu bom humor e seu falatório talvez seja o
Alicia Pamuk Não sou uma chefe ruim, me preocupo com o bem-estar dos meus funcionários, todos recebem benefícios além de um salário mais do que justo, sei a importância da mão de obra de cada um deles, seja na produção, no marketing ou em vendas.Sou exigente porque preciso ser, já decepcionei meus pais o suficiente e a Pamuk é a maior lembrança de Aslan. — Entra, Alicia, e não repare na bagunça — fala abrindo a porta do seu Audi Q8.Ela tira duas pelúcias do banco para que eu me sente. Donna se casou com vinte e três anos, quando terminava a faculdade de Relações Internacionais, com Hyon Yoon. Ele era um recém-chegado nos Estados Unidos, vindo da Coreia Sul, e se conheceram durante seu estágio em uma grande empresa de tecnologia. Há três anos tiveram um casal de gêmeos, que conseguiram anular minha aversão por crianças, eu sou completamente apaixonada por Kahi e Jon ho. Hyon e Donna são meu casal preferido, sempre irei admirar o relacionamento dos dois, mas não desejo algo assim
Pablo RodriguézMantenho meu corpo inerte enquanto a dondoca permanece me olhando. Já espero o momento que ela vai abrir a boca e falar algo ácido. — Pode ir, Mili, vou pegar minha bolsa e já saio — diz indo em direção a sua sala.Mili assente com a cabeça e abre um dos armários elegantes atrás de sua mesa, tirando uma mochila preta com vários bottons coloridos. — Você sabe o que fazer, não é? — pergunta, colocando a mochila nas costas. Não sei ao que ela está se referindo especificamente, até hoje de manhã eu achava que dirigir para uma dondoca não iria ser um problema, mas depois de ver aquela tal agenda não tenho mais tanta certeza.— Claro — digo ironicamente.— Olha, eu gostei de você, então não seja demitido, por favor — pede juntando as mãos.— Está parecendo minha irmã falando — digo. — Você tem uma irmã? Não me disse nada sobre isso.— E você deu tempo para eu falar alguma coisa? — digo e ela gargalha. Ouço o barulho da porta sendo fechada e vejo Alicia sair de sua sala.
AliciaAbro o Instagram e rolo o feed, abro a câmera e tiro uma selfie para postar nos stories, sendo grata por um ótimo dia de trabalho. Logo começo a receber reacts e ignoro cada um deles, já anoiteceu. Vejo que estamos na rua do meu prédio, percebo que o meu novo motorista fez um bom trabalho, o que é o mínimo, claro. Assim que ele para o carro, me apresso em tirar o cinto. — Pode ir para casa — digo abrindo a porta, não iria esperar que ele o fizesse. Saio sem esperar por qualquer resposta e sigo caminhando rapidamente em linha reta na direção da portaria, quando sinto um aperto no meu braço junto a um puxão, que me faz virar para trás. — Que merda você pensa que está fazendo, Liv? — Paul me encara, apertando meu braço com força, seu olhar está nublado de ódio. — O que você está fazendo? — pergunto, tentando me soltar. — Por que proibiu a minha entrada no prédio? — Aperta meu braço com mais força, me fazendo gemer de dor. — Paul, não temos mais nada e eu quero você longe
Pablo RodriguézPor um motivo que não entendia, olhei na direção de Alicia antes de ligar o carro para ir embora, foi quando a vi acuada com aquele homem a sacudindo. Jamais ficaria quieto vendo uma mulher em uma situação como aquela, então, sem pensar duas vezes, abri o carro e fui até lá para tirar Alicia das garras daquele covarde.Não esperava que meu primeiro dia no novo emprego fosse recheado de adrenalina, também não imaginava ver Alicia praticamente sendo abusada por um cretino. Ver a forma violenta que ele puxou seus cabelos fez meu estômago embrulhar, enquanto meu corpo era acometido por um ódio fora do normal. Desde que voltei da Síria, tive alguns problemas para controlar minha fúria, fui parar em uma cela na delegacia na maioria das brigas em que entrei por passar dos limites, acabei levando alguns caras para o hospital e fui dormir na cadeia.Dando trabalho para Brenda, por ter que me tirar de lá.O medo refletido nos olhos de Alicia foi o que me impediu de quebrar al
Pablo RodriguézEstou com uma irritabilidade acima do normal, sem falar nas dores de cabeça constantes. Sei que tudo isso é derivado da abstinência, mas mesmo que isso me incomode, preciso me manter firme e dizer não às fraquezas. Meus avós e Brenda precisam de mim, e sóbrio. Outro lado ruim de estar limpo é voltar a sentir a dor que o álcool e as drogas anestesiavam.Já era sexta-feira e, por um milagre do universo, eu tinha continuado no trabalho, talvez por ter me esforçado ao máximo para não ser escorraçado por Alicia .Tinha passado por inúmeras guerras, visto cenas aterrorizantes, não esperava terminar como um motorista de gente rica, carregando inúmeras sacolas de marca, buscando café...Depois do episódio em frente ao prédio, Alicia evitou ao máximo olhar na minha direção, e eu busquei fazer o mesmo, ainda que minha curiosidade sobre quem era o cretino fosse grande, eu sabia que não era da minha conta e isso não deveria ocupar espaço na minha mente. Eu não era nada além do
Alicia PamukPassei toda a semana evitando Pablo, temendo que ele dissesse algo sobre o que aconteceu com Paul. Não que ele precisasse de uma explicação, não é como se eu me importasse com o que meu motorista pensa. A única coisa que explicaria meu incômodo é a falta de sanidade.Agora eu estou batendo o pé no chão do elevador, tentando não me ridicularizar por ter dito boa noite para meu motorista e ele não só ter ignorado, mas ainda debochado. Eu não consegui formular uma frase para responder sua prepotência.Nunca hesitei em demitir qualquer funcionário, mas agora teimava em manter o sujeito.Qual é o meu problema?É cansaço, apenas isso. A discussão com um dos fornecedores Turcaes me desgastou muito e isso não estava me deixando pensar com exatidão.Só precisava da minha banheira e de uma taça do meu melhor vinho para relaxar. Talvez uma barra de chocolate também...A claridade faz meus olhos arderem, então cubro meu rosto com o travesseiro. — Que horas são? — pergunto em voz
Pablo RodriguézTive que fazer um grande esforço para não rir da cara de Alicia ao vê-la constatando que estava descalça, aparentemente ele não está em um dia muito normal, assim como eu.Não esperava que fosse subir no apartamento da minha chefe, muito menos que a encontraria somente de toalha.Tudo bem, ela estava de roupão, mas na minha mente aquilo era uma toalha. Quase tive um infarto na hora, meu coração começou a bater em um ritmo fora do normal, ao mesmo tempo que meu pau acordou. Eu sou o cara mais ferrado da face da terra. Seria mais fácil ser motorista de uma senhora de mais de sessenta anos. Por que Alicia tinha que ser tão bonita? Eu poderia ter ficado por horas olhando para ela, do jeito que ela estava quando abriu a porta, sem toda aquela maquiagem, com as pequenas sardas na área das bochechas, algo que achei um charme, até suas olheiras são bonitas.Ela é linda...E por que Alicia teve que ser gentil justo hoje? Ela deveria ter me escorraçado da porta do seu apar