Elena estava inquieta desde o encontro com Theo e Felipo. Eles pareciam sempre saber mais do que ela mesma suspeitava que eles soubessem. As palavras que Theo havia pronunciado, combinadas com o sorriso enigmático de Felipo, deixaram claro que algo estava acontecendo. Ela não conseguia afastar a sensação de que aqueles três irmãos tinham alguma conexão com as cartas que vinha recebendo, até porque bambina era italiano.
Naquela noite, Elena não conseguiu dormir direito. A cada som no prédio, a cada ruído vindo do corredor, seu corpo se enrijecia. Sentia-se cercada por sombras, como se o próprio prédio estivesse se fechando ao seu redor. Pela primeira vez, ela considerou a ideia de que talvez estivesse mesmo em perigo. Mas quem poderia estar por trás disso? E por quê? Na manhã seguinte, aproveitando que não teria aula naquele dia durante a tarde, Elena decidiu que precisava investigar. Era impossível continuar vivendo naquela névoa de mistério sem tentar encontrar respostas. Se os irmãos estavam de fato envolvidos em algo obscuro, ela descobriria. – Na faculdade, as aulas pareciam um borrão, e Clara, como de costume, notou a distração de Elena. — Você ainda está com a cabeça nos seus vizinhos misteriosos, não é? — Clara disse, batendo de leve no ombro de Elena. — Talvez... — Elena suspirou, hesitante. — Na verdade, sim. Eles... não sei, mas tem algo estranho neles, Clara. Ontem, Theo me fez uma pergunta que me deixou arrepiada. Ele perguntou sobre correspondência. Como ele saberia da carta que eu recebi? É quase como se eles estivessem me vigiando. Clara franziu o cenho, agora realmente intrigada. — Isso é muito bizarro. Você acha que eles têm algo a ver com a carta do seu... do seu pai? — Clara sabia o suficiente sobre a história de Elena para entender a seriedade do que ela estava insinuando. Elena deu de ombros, com um olhar preocupado. — Eu não sei. Mas acho que preciso descobrir. Não posso continuar vivendo com essa sensação de que estou sendo observada, sem saber de onde vem o perigo. Clara ficou pensativa por um momento, então colocou a mão no ombro de Elena, com um olhar sério. — Seja cuidadosa, ok? Não faça nada arriscado. Eu sei que isso está mexendo com você, mas se esses caras são perigosos, talvez você precise de ajuda... Alguém com quem possa contar. Elena sorriu levemente, agradecida pela preocupação de Clara, mas no fundo sabia que essa era uma jornada que teria que enfrentar sozinha. Não queria envolver ninguém nesse mistério sombrio, especialmente alguém que não entendia a profundidade do que estava em jogo. — Obrigada, Clara. Vou tomar cuidado. – Naquela tarde, ao voltar para o prédio, Elena continuou com sua decisão: investigaria o apartamento dos irmãos italianos. Sabia que seria arriscado, mas também sabia que não poderia continuar vivendo sem respostas. Esperou até que o prédio estivesse mais silencioso, com o mínimo de movimentação possível. Sabia que, naquele horário, os irmãos raramente estavam em casa, já que pareciam sair frequentemente para "trabalhar" — em algo que Elena não conseguia identificar. Ela desceu silenciosamente até o andar intermediário, seus passos ecoando suavemente nos corredores escuros. O apartamento dos três irmãos parecia ainda mais intimidante naquele momento. Respirando fundo, ela se aproximou da porta e tentou girar a maçaneta, sem muito otimismo. Como esperado, estava trancada. Mas Elena estava preparada. Sabia que seria impossível invadir o apartamento sem causar alarde, então tinha um plano alternativo. Virou-se para a janela no fim do corredor. Ela sabia que poderia observar o interior do apartamento dos irmãos pela varanda do lado de fora, sem ser vista. O prédio era velho, e as janelas não tinham grades, o que lhe daria uma visão clara. Com cuidado, ela desceu as escadas externas do prédio e encontrou a janela que dava para a sala de estar dos irmãos. Estava encoberta por cortinas pesadas, mas uma fresta deixava passar luz suficiente para que Elena pudesse ver o interior. Ao espiar pela janela, seu coração disparou. O que ela viu a deixou em completo choque e ainda mais desconfiada. A sala era decorada de forma modesta, mas havia algo que chamava atenção imediatamente: um grande quadro na parede, coberto parcialmente por um tecido escuro. A imagem abaixo parecia um retrato, mas Elena não conseguia ver claramente de quem. O que a perturbava, no entanto, era a mesa ao lado da janela. Ali, espalhados, estavam vários documentos e mapas. Entre eles, havia papéis em italiano, e o mais perturbador: várias fotos suas. Elena ficou paralisada por um momento. Fotos dela, em momentos aleatórios do dia — na faculdade, no supermercado, voltando para casa. Alguém estava, de fato, vigiando-a. Suas mãos começaram a tremer, e o ar ao redor dela parecia pesado, difícil de respirar. Ela se afastou rapidamente da janela, sentindo o pânico começar a tomar conta. Precisava sair dali antes que alguém a visse. Respirando fundo, tentou manter a calma enquanto subia de volta las escadas e entrava em seu apartamento. Trancou a porta atrás de si e encostou-se nela, sentindo o coração batendo forte no peito. Alguém estava a espionando. Mas por quê? E como os três estavam envolvidos nisso? – Nos dias seguintes, Elena tentou manter uma fachada de normalidade, mas por dentro, sua mente estava em constante alerta. Ela evitava cruzar com os irmãos o máximo que podia, mas sentia seus olhares a seguindo sempre que passavam por ela no corredor. Estava ficando insuportável viver naquele prédio, mas sair dali agora não parecia uma opção. Não quando tudo o que ela precisava eram respostas, e ali era o único lugar onde as conseguiria. Foi em uma tarde nublada, enquanto voltava para casa, que a situação tomou um novo rumo. Elena estava prestes a subir as escadas, que levava ao piso intermediário de seu apartamento, quando uma voz familiar a chamou. — Elena! — Era Mateo, o mais velho dos três irmãos. Sua presença sempre foi a mais intimidante. Alto, com uma postura autoritária e olhos frios, Mateo raramente falava com ela, mas quando o fazia, suas palavras carregavam um peso que Elena não conseguia ignorar. — Oi, Mateo — respondeu ela, tentando soar casual, embora soubesse que nada estava normal naquele momento. Mateo a observou por um instante antes de continuar. — Podemos conversar? Em particular. Elena hesitou. Estava prestes a recusar, mas algo no olhar de Mateo a fez mudar de ideia. Talvez ele estivesse prestes a revelar algo importante. Talvez fosse sua chance de entender o que estava acontecendo. — Claro — respondeu ela, sua voz firme, apesar do nervosismo crescente. Ele fez um gesto para que ela o seguisse, e os dois seguiram até o fim do corredor onde ficava o apartamento dos irmãos. Elena sentia seu coração acelerar com cada passo, mas sabia que não poderia demonstrar medo. Mateo abriu a porta do apartamento e a convidou para entrar. O ambiente estava escuro, com luzes fracas iluminando o espaço. Elena olhou em volta, seus olhos rapidamente localizando a mesa onde vira as fotos dias antes. Agora, a mesa estava vazia, limpa como se nunca tivesse sido usada. Mateo a guiou até a sala de estar, onde ele se sentou em uma poltrona e fez um gesto para que ela se sentasse no sofá em frente. — Eu sei que você tem perguntas — começou ele, sua voz calma, mas cheia de gravidade e completamente direto. — E sei que tem percebido coisas que talvez a tenha assustado. Elena não respondeu, apenas o encarou, estava espantada com o fato de Mateo ser direto e esperando que ele continuasse. — Mas antes de continuarmos, preciso que você confie em mim. — Mateo a observava atentamente, como se estivesse tentando medir sua reação. Elena sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Como poderia confiar nele, sabendo que ele e seus irmãos estavam a vigiando? Sabendo que havia algo muito errado acontecendo naquele prédio? E a carta, dizia claramente para ter cuidado em quem confiar! — Confiança é algo difícil de oferecer, considerando as circunstâncias — respondeu ela, finalmente, com a voz firme. Mateo inclinou a cabeça, como se estivesse considerando suas palavras. Depois de um longo silêncio, ele falou novamente. — Entendo sua desconfiança, mas saiba que estamos aqui por uma razão. Uma razão que vai muito além de nós. — Ele parou por um momento, seus olhos fixos nos dela. — Você está no centro de algo muito maior do que imagina, Elena. E acho que já é hora de você saber a verdade.O silêncio pairava pesado no ar. Elena sentia cada batida do seu coração ressoando em seus ouvidos, enquanto Mateo a observava do outro lado da sala. O mistério envolvendo os irmãos italianos parecia, de repente, estar prestes a se desdobrar. E, embora quisesse respostas, o medo de ouvir a verdade a fazia hesitar.— O que você quer dizer com "algo muito maior"? — Elena perguntou, sua voz carregada de incerteza.Mateo se inclinou para frente, seus cotovelos apoiados nos joelhos, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras que diria a seguir.— Há muito tempo, sua..quer dizer a nossa, família foi envolvida em algo perigoso — começou ele, sua voz baixa e grave. — Mais especificamente, seu pai. E quando ele desapareceu da sua vida, não foi por acaso.Elena se endireitou no sofá, sentindo uma onda de adrenalina percorrer seu corpo. O que Mateo sabia sobre seu pai? Ela tinha sido criada pela mãe, que sempre lhe dissera que ele estava morto. Contudo, a carta misteriosa que recebe
Elena mal conseguia respirar. As palavras dos irmãos italianos ecoavam em sua mente, repetindo-se como um mantra de confusão e desespero. Ela sentia o peso de uma responsabilidade que nunca havia pedido ou imaginado carregar. Seu pai, um homem ausente, aparentemente a havia deixado no centro de uma tempestade perigosa. E agora, esses três estranhos, que de repente eram seus meio-irmãos, esperavam que ela confiasse neles. Mas poderia?A sala estava tomada por um silêncio tenso após a última declaração de Mateo. Os três irmãos a observavam, esperando uma reação. Mas o que eles esperavam? Que ela simplesmente aceitasse essa loucura e seguisse em frente?— Eu... não sei o que dizer — confessou Elena, sua voz mais fraca do que gostaria. — Isso é muito para processar. Primeiro, vocês dizem que meu pai está vivo, depois que ele era parte de uma organização criminosa, e agora eu sou a chave para algo que ele deixou para trás? Vocês percebem o quão insano isso soa?Mateo suspirou, passando a m
Elena não conseguia tirar os olhos dos irmãos enquanto eles examinavam a carta. Era como se o papel amarelado guardasse segredos que somente eles pudessem desvendar. A sensação de estar à mercê de algo maior do que podia compreender era esmagadora. Por mais que tentasse, não conseguia entender como sua vida havia se tornado esse emaranhado de mistérios e perigos. Tudo o que sabia era que nada mais seria como antes.Mateo, Felipo e Theo trocavam palavras rápidas em italiano, suas vozes baixas, mas carregadas de tensão e urgência. O que quer que tivessem descoberto, não seria simples. Elena se levantou e começou a andar pela sala, a ansiedade pulsando em seu corpo. Ela olhava para a janela, observando a noite cair lá fora, o silêncio do prédio só aumentando sua inquietação. Tudo parecia tão normal, tão calmo. Mas dentro de si, ela sabia que estava mergulhada em um abismo desconhecido.— Vocês já conseguiram descobrir alguma coisa? — Ela quebrou o silêncio com a voz tensa.Felipo olhou
O ar estava pesado na sala. Elena olhava para a carta, agora decifrada em parte, com o coração batendo mais forte. "Onset", o início, o ponto de partida. Seu pai havia deixado uma trilha, um enigma para ela resolver, mas a que custo? Ela estava se enredando em algo que mal compreendia, e os três irmãos, por mais que tentassem ser honestos, mantinham uma aura de mistério ao redor deles.— Então, como seguimos daqui? — Elena quebrou o silêncio, tentando não demonstrar o turbilhão de emoções que passava por sua mente.— Sabemos que "Onset" é uma pista — disse Mateo, pensativo. — Mas precisamos entender o que ele quis dizer com isso. Pode ser um lugar, um evento, ou algo que está prestes a acontecer. Temos que buscar mais pistas nas outras partes da carta.Felipo, que tinha se concentrado na carta, levantou o olhar.— Não se trata apenas do que está na carta. Também precisamos considerar o que está fora dela. Papai usava metáforas em seus escritos, e a frase "O som da noite se esconde nas
A adrenalina pulsava nas veias de Elena enquanto ela, Theo, Mateo e Felipo se afastavam rapidamente do prédio. O vento da noite fria chicoteava seu rosto, mas sua mente estava muito ocupada com o pavor crescente para sentir o frio. Eles não tinham tempo a perder. Cada passo parecia ecoar no silêncio da cidade, e a sensação de que seriam alcançados não a deixava.— Temos um carro esperando — sussurrou Theo, sem parar de andar a tirando do mar de profundos pensamentos. — Mas temos que ser rápidos.Elena tentou manter a calma, mas a sensação de que algo estava terrivelmente errado a consumia. Seu telefone ainda pesava em seu bolso, as palavras da misteriosa ligação reverberando em sua mente: "Não confie em ninguém." Ela olhou para os três irmãos à sua frente, e a dúvida começou a surgir em seu coração novamente. Como ela poderia confiar neles, quando todo o seu mundo estava desmoronando em volta?Não saber quem os seguia deixava tudo pior na confusão de pensamentos que Elena estava tendo
O silêncio após o anúncio de Lorenzo parecia congelar o ar. Elena olhou em volta, o coração disparado, enquanto os dois carros pretos bloqueavam qualquer possível rota de fuga. As ruas de Roma, que até então haviam sido um cenário histórico e imponente, um sonho que Elena pensava que seria perfeito, agora pareciam uma prisão sem saída. Mateo, no banco da frente, fechou os olhos por um breve momento, claramente frustrado com a situação. Theo ao lado de Elena, permaneceu em alerta, com os olhos fixos nos carros à frente. Felipo, que até então parecia o mais calmo, estava com os punhos cerrados, pronto para o que viesse.— Não podemos ficar aqui — disse Mateo, com a voz dura, quebrando o silêncio. — Eles não vão hesitar em nos arrastar para fora e acabar com isso.Lorenzo assentiu. — Não temos escolha a não ser lutar. Vou tirar vocês daqui, mas será complicado.Antes que Lorenzo pudesse continuar, as portas dos dois carros pretos se abriram simultaneamente. Vários homens, todos vestind
Elena mal teve tempo de processar o que estava acontecendo antes de ouvir o som ensurdecedor da porta do armazém sendo arrombada. O estrondo ecoou pelas paredes desgastadas, e uma rajada de vento frio invadiu o espaço escuro, seguida pelos homens armados de Don Vitale. O coração de Elena disparou. Ela sentiu o pânico tomar conta de seus pensamentos, mas sabia que não podia se dar ao luxo de perder o controle agora.Lorenzo rapidamente se colocou entre Elena e os homens, caminhando para trás de uma pilha de caixas. Ele levantou a arma que trazia, mas mesmo assim Elena sabia que estavam em desvantagem. Eram muitos. A tensão no ar era palpável, e o silêncio que precedia o caos era ensurdecedor.— Vocês vieram longe demais — a voz do líder dos capangas ecoou, grave e cortante. Ele estava no centro do grupo, com uma postura relaxada, como se tivesse todo o tempo do mundo. — Mas realmente achavam que poderiam fugir de Don Vitale? Ele sabe de cada passo que vocês dão.Lorenzo manteve a arma a
O ar parecia ter sido sugado da noite quando Don Vitale desceu do carro, caminhando em direção a Theo e Elena. Seus passos eram lentos e deliberados, como se quisesse prolongar o momento, saboreando o medo crescente nos olhos de sua presa. Elena sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O homem que estava diante dela, com um terno impecável e uma expressão fria, exalava uma autoridade sombria, algo que ia além do simples poder que tinha. Era como se ele estivesse jogando um jogo cujo desfecho já conhecia.Theo respirou fundo ao lado dela, seus punhos cerrados sobre o volante. Ele sabia que qualquer movimento imprudente poderia custar suas vidas. A tensão no ar era palpável, cada segundo esticando-se em uma eternidade.— Elena — Don Vitale falou, sua voz profunda e controlada, como se estivesse cumprimentando uma velha amiga. — Finalmente nos encontramos.Ela tentou manter a cabeça erguida, apesar do pavor que sentia ao vê-lo tão de perto. O pouco que ouvira sobre ele era aterrorizante