Elena mal conseguia respirar. As palavras dos irmãos italianos ecoavam em sua mente, repetindo-se como um mantra de confusão e desespero. Ela sentia o peso de uma responsabilidade que nunca havia pedido ou imaginado carregar. Seu pai, um homem ausente, aparentemente a havia deixado no centro de uma tempestade perigosa. E agora, esses três estranhos, que de repente eram seus meio-irmãos, esperavam que ela confiasse neles. Mas poderia?
A sala estava tomada por um silêncio tenso após a última declaração de Mateo. Os três irmãos a observavam, esperando uma reação. Mas o que eles esperavam? Que ela simplesmente aceitasse essa loucura e seguisse em frente? — Eu... não sei o que dizer — confessou Elena, sua voz mais fraca do que gostaria. — Isso é muito para processar. Primeiro, vocês dizem que meu pai está vivo, depois que ele era parte de uma organização criminosa, e agora eu sou a chave para algo que ele deixou para trás? Vocês percebem o quão insano isso soa? Mateo suspirou, passando a mão pelos cabelos, enquanto Felipo se inclinava para frente, seus olhos escuros fixos nos de Elena. — Sabemos que é muita coisa, e sabemos que não é justo jogar tudo isso sobre você de uma vez. Mas precisamos ser honestos com você. O tempo está se esgotando, e essas pessoas... elas vão vir atrás de você. — E nós — acrescentou Theo, com um tom de voz mais baixo e urgente. — Estamos fazendo tudo o que podemos para mantê-la segura. Mas você precisa nos ajudar, Elena. Não podemos fazer isso sozinhos. — Ajudar vocês como? — Ela balançou a cabeça em frustração. — Eu já disse que não sei de nada. Não sei onde está o que meu pai escondeu, nem sei o que é esse "algo" que vocês continuam mencionando! — Nós entendemos — disse Felipo calmamente. — Mas você é a única pessoa que pode seguir as pistas. Ele te deixou algo, Elena, e não estamos falando apenas de uma carta. Sabemos que ele planejou isso para que você pudesse encontrar. Está nas suas mãos. Precisamos descobrir o que é antes que seja tarde demais. Elena sentiu o desespero crescendo dentro de si. Cada palavra proferida pelos irmãos italianos só tornava a situação mais surreal e opressiva. E, no entanto, uma parte de si sabia que, de alguma forma, isso estava relacionado ao envelope misterioso que ela havia encontrado anos atrás. As palavras de seu pai ainda ecoavam em sua mente: *"Mesmo que diga que estou morto, bambina, sempre estive vivo."* — A carta... — murmurou ela, quase para si mesma. — O que disse? — perguntou Theo, inclinando-se ligeiramente em sua direção. Elena respirou fundo antes de continuar. — A carta que recebi aos 21 anos. Ele me chamou de "bambina" e disse que, mesmo que afirmasse estar morto, ele sempre esteve vivo. Isso foi tudo o que ele deixou. Só que... a carta não fazia sentido. Ela estava cheia de frases desconexas, como se tivesse sido escrita às pressas ou de forma propositalmente confusa. Eu não conseguia decifrá-la. Felipo trocou um olhar significativo com os irmãos, e Mateo se levantou de repente, seus olhos brilhando de determinação. — Isso é exatamente o que estamos procurando — disse Mateo. — A carta é a primeira pista. Ele sabia que você a receberia no momento certo, e agora estamos nesse momento. Elena franziu a testa. — Mas como isso pode ser uma pista? Era só um monte de palavras sem nexo. Como poderia ajudar? — Papai era um homem inteligente — explicou Felipo, sua voz tranquila, mas firme. — Ele sabia que a carta precisaria ser codificada para que apenas você pudesse compreendê-la. O que você achou que eram frases desconexas pode muito bem ser um código que ainda não foi decifrado. Elena olhou para ele, incrédula. — Um código? Como se isso fosse um filme de espionagem? Mateo assentiu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Exatamente, como ele estava envolvido em atividades que exigiam extrema discrição. Ele sabia que qualquer comunicação poderia ser interceptada. A carta é o nosso mapa, Elena. Precisamos dela para descobrir o que ele deixou para trás. Elena cruzou os braços, sentindo uma mistura de frustração e medo crescer dentro de si. Embora tudo aquilo parecesse absurdo, uma parte dela sabia que não tinha outra escolha a não ser seguir em frente. Se estava sendo vigiada, e se seu pai realmente havia se envolvido com pessoas perigosas, sua única opção era descobrir o que ele havia escondido e por quê. — Ok — disse ela finalmente, com um suspiro. — Eu ainda tenho a carta. Está no meu apartamento. Vou buscá-la. Os três irmãos assentiram em uníssono, e Elena se levantou para sair da sala, por segurança Theo se ofereceu para acompanhá-la. Enquanto subiam as escadas para seu apartamento, seu coração batia acelerado. Não conseguia acreditar que estava prestes a entregar um dos poucos vestígios que tinha de seu pai para esses três estranhos, por mais que eles dissessem que eram sua família. Ao entrar em seu quarto, Elena pegou o caderno velho em que havia guardado a carta. Ela o folheou até encontrar o envelope amarelado e já desgastado pelo tempo. As palavras de seu pai a atingiram novamente: "Sempre estive vivo." Aquelas poucas palavras haviam mexido com sua vida de uma forma que ela jamais poderia ter previsto. Segurando a carta com firmeza, ela respirou fundo e caminhou até a sala onde Theo observava com calma a decoração, quando lhe mostrou a carta ele apenas assentiu e eles voltaram ao apartamento dos irmãos, Elena entregou o envelope a Mateo. Ele pegou a carta com cuidado, quase reverente, como se estivesse segurando uma peça crucial de um quebra-cabeça antigo. — Vamos trabalhar nisso — disse Mateo, seus olhos brilhando de excitação contida. — Pode demorar, mas agora temos a chave que precisávamos. Elena observou enquanto os três irmãos se reuniam ao redor da carta, examinando-a de todos os ângulos, discutindo em italiano sobre como poderiam decifrar seu conteúdo. Ela se sentou em um canto da sala, observando-os. Sua mente ainda estava em um turbilhão de emoções e pensamentos conflitantes. Quem eram esses irmãos, realmente? Poderia confiar neles? E, mais importante, o que seu pai havia deixado para ela que era tão valioso — ou tão perigoso? Enquanto essas perguntas continuavam a atormentá-la, Elena sabia que não tinha escolha. Estava agora envolvida até o pescoço em algo muito maior do que ela mesma. E, por mais assustador que fosse, ela teria que seguir em frente, não importava o que o futuro reservasse.Elena não conseguia tirar os olhos dos irmãos enquanto eles examinavam a carta. Era como se o papel amarelado guardasse segredos que somente eles pudessem desvendar. A sensação de estar à mercê de algo maior do que podia compreender era esmagadora. Por mais que tentasse, não conseguia entender como sua vida havia se tornado esse emaranhado de mistérios e perigos. Tudo o que sabia era que nada mais seria como antes.Mateo, Felipo e Theo trocavam palavras rápidas em italiano, suas vozes baixas, mas carregadas de tensão e urgência. O que quer que tivessem descoberto, não seria simples. Elena se levantou e começou a andar pela sala, a ansiedade pulsando em seu corpo. Ela olhava para a janela, observando a noite cair lá fora, o silêncio do prédio só aumentando sua inquietação. Tudo parecia tão normal, tão calmo. Mas dentro de si, ela sabia que estava mergulhada em um abismo desconhecido.— Vocês já conseguiram descobrir alguma coisa? — Ela quebrou o silêncio com a voz tensa.Felipo olhou
O ar estava pesado na sala. Elena olhava para a carta, agora decifrada em parte, com o coração batendo mais forte. "Onset", o início, o ponto de partida. Seu pai havia deixado uma trilha, um enigma para ela resolver, mas a que custo? Ela estava se enredando em algo que mal compreendia, e os três irmãos, por mais que tentassem ser honestos, mantinham uma aura de mistério ao redor deles.— Então, como seguimos daqui? — Elena quebrou o silêncio, tentando não demonstrar o turbilhão de emoções que passava por sua mente.— Sabemos que "Onset" é uma pista — disse Mateo, pensativo. — Mas precisamos entender o que ele quis dizer com isso. Pode ser um lugar, um evento, ou algo que está prestes a acontecer. Temos que buscar mais pistas nas outras partes da carta.Felipo, que tinha se concentrado na carta, levantou o olhar.— Não se trata apenas do que está na carta. Também precisamos considerar o que está fora dela. Papai usava metáforas em seus escritos, e a frase "O som da noite se esconde nas
A adrenalina pulsava nas veias de Elena enquanto ela, Theo, Mateo e Felipo se afastavam rapidamente do prédio. O vento da noite fria chicoteava seu rosto, mas sua mente estava muito ocupada com o pavor crescente para sentir o frio. Eles não tinham tempo a perder. Cada passo parecia ecoar no silêncio da cidade, e a sensação de que seriam alcançados não a deixava.— Temos um carro esperando — sussurrou Theo, sem parar de andar a tirando do mar de profundos pensamentos. — Mas temos que ser rápidos.Elena tentou manter a calma, mas a sensação de que algo estava terrivelmente errado a consumia. Seu telefone ainda pesava em seu bolso, as palavras da misteriosa ligação reverberando em sua mente: "Não confie em ninguém." Ela olhou para os três irmãos à sua frente, e a dúvida começou a surgir em seu coração novamente. Como ela poderia confiar neles, quando todo o seu mundo estava desmoronando em volta?Não saber quem os seguia deixava tudo pior na confusão de pensamentos que Elena estava tendo
O silêncio após o anúncio de Lorenzo parecia congelar o ar. Elena olhou em volta, o coração disparado, enquanto os dois carros pretos bloqueavam qualquer possível rota de fuga. As ruas de Roma, que até então haviam sido um cenário histórico e imponente, um sonho que Elena pensava que seria perfeito, agora pareciam uma prisão sem saída. Mateo, no banco da frente, fechou os olhos por um breve momento, claramente frustrado com a situação. Theo ao lado de Elena, permaneceu em alerta, com os olhos fixos nos carros à frente. Felipo, que até então parecia o mais calmo, estava com os punhos cerrados, pronto para o que viesse.— Não podemos ficar aqui — disse Mateo, com a voz dura, quebrando o silêncio. — Eles não vão hesitar em nos arrastar para fora e acabar com isso.Lorenzo assentiu. — Não temos escolha a não ser lutar. Vou tirar vocês daqui, mas será complicado.Antes que Lorenzo pudesse continuar, as portas dos dois carros pretos se abriram simultaneamente. Vários homens, todos vestind
Elena mal teve tempo de processar o que estava acontecendo antes de ouvir o som ensurdecedor da porta do armazém sendo arrombada. O estrondo ecoou pelas paredes desgastadas, e uma rajada de vento frio invadiu o espaço escuro, seguida pelos homens armados de Don Vitale. O coração de Elena disparou. Ela sentiu o pânico tomar conta de seus pensamentos, mas sabia que não podia se dar ao luxo de perder o controle agora.Lorenzo rapidamente se colocou entre Elena e os homens, caminhando para trás de uma pilha de caixas. Ele levantou a arma que trazia, mas mesmo assim Elena sabia que estavam em desvantagem. Eram muitos. A tensão no ar era palpável, e o silêncio que precedia o caos era ensurdecedor.— Vocês vieram longe demais — a voz do líder dos capangas ecoou, grave e cortante. Ele estava no centro do grupo, com uma postura relaxada, como se tivesse todo o tempo do mundo. — Mas realmente achavam que poderiam fugir de Don Vitale? Ele sabe de cada passo que vocês dão.Lorenzo manteve a arma a
O ar parecia ter sido sugado da noite quando Don Vitale desceu do carro, caminhando em direção a Theo e Elena. Seus passos eram lentos e deliberados, como se quisesse prolongar o momento, saboreando o medo crescente nos olhos de sua presa. Elena sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O homem que estava diante dela, com um terno impecável e uma expressão fria, exalava uma autoridade sombria, algo que ia além do simples poder que tinha. Era como se ele estivesse jogando um jogo cujo desfecho já conhecia.Theo respirou fundo ao lado dela, seus punhos cerrados sobre o volante. Ele sabia que qualquer movimento imprudente poderia custar suas vidas. A tensão no ar era palpável, cada segundo esticando-se em uma eternidade.— Elena — Don Vitale falou, sua voz profunda e controlada, como se estivesse cumprimentando uma velha amiga. — Finalmente nos encontramos.Ela tentou manter a cabeça erguida, apesar do pavor que sentia ao vê-lo tão de perto. O pouco que ouvira sobre ele era aterrorizante
Mateo foi o primeiro a se mover. Ele guardou a arma e se aproximou do carro onde Theo e Elena ainda estavam escorados, Elena tentando absorver toda a confusão que sua vida pacata se transformou. Seu rosto estava marcado pelo cansaço e a tensão, mas ele tentou esconder a preocupação.As sirenes ficaram mais altas conforme se aproximavam, mas Elena não conseguia tirar os olhos da estrada onde Don Vitale desapareceu. As palavras dele ainda ecoavam na mente de Elena: "Você vai entender tudo." O que isso significava? E por que seu pai parecia estar no centro de tudo isso? Ela tentou reorganizar os pensamentos, mas parecia impossível diante do caos à sua volta.— Precisamos sair daqui — disse Mateo, a voz firme, mas baixa. — A polícia pode nos fazer perguntas que não queremos responder agora.Theo balançou a cabeça em concordância, mas era evidente que ele ainda estava absorvendo o que havia acontecido.— Certo — murmurou Theo. — Mas para onde vamos?Felipo, que até então havia permanecido
A pequena casa onde eles pararam era um refúgio temporário, mas Elena sentia que não importava onde estivessem, a sombra de Don Vitale os perseguiria. O peso das revelações sobre seu pai continuava a reverberar em sua mente, e a urgência de descobrir a verdade a deixava cada vez mais inquieta.Dentro da casa, Mateo e Felipo começaram a discutir estratégias, mas Elena mal conseguia prestar atenção. As paredes estreitas do lugar, combinadas com o silêncio, faziam com que ela se sentisse sufocada. Theo, percebendo o desconforto de Elena, se aproximou e sugeriu que ela desse uma volta do lado de fora para clarear a mente.Ela acenou com a cabeça, agradecida por um pouco de espaço para processar tudo. Caminhou para fora, a brisa noturna tocando seu rosto e seus pensamentos correndo soltos. As estrelas brilhavam no céu, um contraste gritante com o caos que sentia em seu interior. Ela parou a alguns metros da casa, tentando controlar a respiração e organizar as ideias. As perguntas rodopiava