O silêncio pairava pesado no ar. Elena sentia cada batida do seu coração ressoando em seus ouvidos, enquanto Mateo a observava do outro lado da sala. O mistério envolvendo os irmãos italianos parecia, de repente, estar prestes a se desdobrar. E, embora quisesse respostas, o medo de ouvir a verdade a fazia hesitar.
— O que você quer dizer com "algo muito maior"? — Elena perguntou, sua voz carregada de incerteza. Mateo se inclinou para frente, seus cotovelos apoiados nos joelhos, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras que diria a seguir. — Há muito tempo, sua..quer dizer a nossa, família foi envolvida em algo perigoso — começou ele, sua voz baixa e grave. — Mais especificamente, seu pai. E quando ele desapareceu da sua vida, não foi por acaso. Elena se endireitou no sofá, sentindo uma onda de adrenalina percorrer seu corpo. O que Mateo sabia sobre seu pai? Ela tinha sido criada pela mãe, que sempre lhe dissera que ele estava morto. Contudo, a carta misteriosa que recebera aos 21 anos parecia desmentir essa história, insinuando que ele ainda estava vivo. E agora, aos olhos de Elena, Mateo e seus irmãos sabiam mais do que ela jamais imaginara, as resposta sobre cada pergunta que fez sobre seu pai. — Como você sabe disso? — Elena perguntou, tentando manter a voz firme. — Quem é você, Mateo? Como sabe quem é meu pai? Mateo a observou por um momento, seus olhos escurecendo. — Nosso pai... — ele começou, suas palavras saindo lentamente, como se tivessem um peso enorme, e tinham. —Você é, tecnicamente, nossa meia-irmã. Elena piscou várias vezes, sem acreditar no que acabara de ouvir. As palavras de Mateo ecoavam em sua mente, mas pareciam impossíveis de aceitar. — O quê? — ela sussurrou, sentindo o chão fugir debaixo de seus pés. — Isso... Isso não faz sentido! Mateo balançou a cabeça, compreensivo com sua reação. — Eu sei que é muita coisa para absorver, mas essa é a verdade. Nossa mãe se casou com nosso pai muitos anos atrás, na Itália. Eles tiveram três filhos: eu, Felipo e Theo. Você foi a única filha que ele teve fora desse casamento. Sua mãe era amante dele. Elena sentiu uma onda de náusea a envolver. A história de sua vida, aquilo que ela acreditava ser a verdade, estava se despedaçando diante de seus olhos. Sua mãe tinha sido a amante de um homem casado? E agora, ela estava frente a frente com seus meios-irmãos? Isso era insano! — Mas... minha mãe nunca mencionou nada sobre isso. Ela sempre disse que meu pai estava morto! — Elena estava confusa, sua mente girando com todas as novas informações. Mateo assentiu lentamente. — Isso foi o que ela achou melhor contar para você. — Ele fez uma pausa, parecendo escolher cuidadosamente suas próximas palavras. — Nosso pai, no entanto, nunca morreu. Ele... desapareceu. E agora, você está sendo envolvida em algo que ele deixou para trás. — Desapareceu? — Elena repetiu, a palavra soando estranha em sua boca. — O que você quer dizer com isso? Mateo se levantou e começou a andar pela sala, com as mãos enfiadas nos bolsos. — Nosso pai estava envolvido com pessoas poderosas e perigosas na Itália. Ele tinha negócios com pessoas que você não vai querer cruzar. Quando as coisas começaram a ficar complicadas, ele foi forçado a fugir. Desapareceu sem deixar rastro, e desde então, todos acreditam que ele esteja morto. Todos, exceto nós. Elena olhou para Mateo para os outros dois, Felipo estava encostado em uma parede com os braços cruzados e uma expressão que Elena nem tentava decifrar, com a cabeça girando com as novas informações, seus olhos encontraram a calmaria enigmática dos olhos de Theo, que estava com o ombro escorado no batente da porta. A ideia de que seu pai estava vivo, que ele fugiu por estar envolvido com criminosos, era algo que ela jamais poderia ter imaginado, ter três irmãos que pareciam saber de sua existência a tempo suficiente sem que ela nem desconfiasse de nada, eram muitas informações. Elena sentia como se tivesse sido empurrada para dentro de um thriller mafioso, onde nada era o que parecia. — E o que isso tem a ver comigo? — ela perguntou, sua voz soando mais desesperada do que pretendia.— Por que eu me sinto vigiada a todo momento? Por que motivo estariam atrás de mim? Mateo parou de andar e se virou para ela. — Você está envolvida porque nosso pai deixou algo para trás. Algo que ele acreditava que apenas você poderia encontrar. Ele sabia que o passado eventualmente alcançaria você em algum momento de sua vida. Elena piscou, sem entender. — O que você quer dizer? Mateo se aproximou, seus olhos fixos nos dela. — Quando ele desapareceu, deixou pistas, algumas para mim, outras para Felipo e outras para Theo. E essas pistas levaram a algo que muitos ainda procuram. Algo que pode mudar tudo. E em nossas pistas ele deixou claro que uma pista específica estava com você. Elena sentiu um calafrio percorrer sua espinha. — O que ele deixou? Mateo hesitou por um momento. — Um segredo. Um segredo que pessoas perigosas fariam qualquer coisa para encontrar. E agora, você é a chave para isso.— respondeu Felipo no lugar do irmão. — E também a chave para encontrá-lo.— acrescentou Theo em um sussurro — Tire um tempo para pensar. E se mantenha atenta. --- Nos dias seguintes, Elena seguiu o conselho, até porque não conseguia tirar as palavras dos irmãos da cabeça. Ela era a chave para algum tipo de segredo que seu pai havia deixado para trás. Mas o que isso significava? E por que pessoas perigosas estariam atrás dela? A vida de Elena, que já parecia complicada, havia se tornado um caos completo. As perguntas que a atormentavam eram muitas, e as respostas pareciam estar fora de seu alcance. E agora, sabia que não estava apenas sendo observada — estava sendo caçada. Foi em um desses dias, enquanto tentava se concentrar em uma das aulas da faculdade, que algo inusitado aconteceu. Ao sair do campus, notou um carro parado do outro lado da rua. Era um carro preto, com vidros escuros, e o motorista parecia estar observando-a. Elena sentiu um arrepio na nuca, mas tentou ignorar. Continuou caminhando em direção ao ponto de ônibus, mas sua mente estava agora em alerta máximo. Estava sendo seguida? Será que era uma coincidência? Seus passos ficaram mais rápidos, e quando chegou ao ponto, olhou discretamente para trás. O carro ainda estava lá. Respirando fundo, agradeceu mentalmente que o ônibus já estava no ponto, entrou e se sentou na parte de trás, tentando manter a calma. Seu coração estava acelerado, e cada vez mais, tinha a sensação de que seu mundo estava se fechando. Ao chegar no seu ponto de descida, olhou novamente pela janela do ônibus e viu que o carro preto não estava mais seguindo. Talvez fosse apenas paranoia, mas Elena sabia que não poderia se dar ao luxo de ser ingênua. --- Ao chegar em casa naquela noite, encontrou Theo no corredor do prédio, encostado na parede como se a estivesse esperando. — Precisamos conversar — disse ele, antes que ela pudesse passar por ele. Elena parou, sentindo a nostalgia da mesma frase dita pelo outro irmão a poucos dias e o peso de todas as revelações que foram feitas, fazendo o nervosismo crescer em seu estômago. — Sobre o quê? — perguntou ela, tentando manter a voz firme. — Sobre você. E o que está por vir. Ela hesitou por um momento, antes de finalmente concordar. Precisava de respostas, e os irmãos pareciam ser a única fonte de informações que ela tinha, por mais desconfiada que ainda estivesse deles. Theo a conduziu até o apartamento dos três, e eles se sentaram na mesma sala de antes. Desta vez, porém, Felipo não estava presente. Os dois irmãos que estavam ali reunidos, tinham expressões sérias. — Elena — começou Theo, olhando diretamente para ela. — Sabemos que você tem dúvidas. E você merece saber a verdade completa. Ela engoliu em seco, sentindo o peso das palavras. Eles tinham dado tempo para ela se acostumar com as informações, mas agora a porta já estava aberta. — O que eu realmente preciso saber? Theo trocou um olhar com o irmão mais velho antes de continuar. — Há pessoas que acreditam que você sabe onde está o que nosso pai escondeu. Elas acham que, de alguma forma, você tem as respostas que estão procurando. — Mas eu não sei de nada! — Elena protestou, sua voz cheia de frustração. — Eu não sei onde ele está, e certamente não sei o que ele deixou para trás! — Sabemos disso — disse Felipo, entrando na sala. Sua voz era mais suave do que a de seus irmãos, mas havia uma firmeza em seu tom que Elena não pôde ignorar. — Mas essas pessoas não acreditam nisso. Para elas, você é a última peça do quebra-cabeça— O carro preto lá fora é prova disso. — E quem são essas pessoas? — Elena perguntou, completamente em choque, sentindo um arrepio na espinha, suas suspeitas eram reais. — Elas são parte de uma organização muito poderosa na Itália, por assim dizer — explicou Theo. — E, por muito tempo, nosso pai trabalhou para elas. Mas ele as traiu, e agora elas querem vingança. O problema é que elas acham que ele deixou algo muito valioso para trás, algo que poderia desmantelar toda a operação delas. Elena mal conseguia processar o que estava ouvindo. O pai que ela nunca conheceu estava envolvido com uma organização criminosa? E agora ela estava sendo arrastada para o meio disso? — Nós estamos aqui para protegê-la — disse Mateo, sua voz firme. — Mas você precisa confiar em nós. Sabemos que isso tudo é assustador, mas estamos do seu lado. Elena olhou para os três irmãos, sentindo uma mistura de medo e confusão. Poderia confiar neles? E, mais importante, o que aconteceria se ela não conseguisse encontrar o que todos estavam procurando? O destino de Elena estava agora completamente ligado ao passado de seu pai, e as sombras ao seu redor estavam se tornando cada vez mais perigosas.Elena mal conseguia respirar. As palavras dos irmãos italianos ecoavam em sua mente, repetindo-se como um mantra de confusão e desespero. Ela sentia o peso de uma responsabilidade que nunca havia pedido ou imaginado carregar. Seu pai, um homem ausente, aparentemente a havia deixado no centro de uma tempestade perigosa. E agora, esses três estranhos, que de repente eram seus meio-irmãos, esperavam que ela confiasse neles. Mas poderia?A sala estava tomada por um silêncio tenso após a última declaração de Mateo. Os três irmãos a observavam, esperando uma reação. Mas o que eles esperavam? Que ela simplesmente aceitasse essa loucura e seguisse em frente?— Eu... não sei o que dizer — confessou Elena, sua voz mais fraca do que gostaria. — Isso é muito para processar. Primeiro, vocês dizem que meu pai está vivo, depois que ele era parte de uma organização criminosa, e agora eu sou a chave para algo que ele deixou para trás? Vocês percebem o quão insano isso soa?Mateo suspirou, passando a m
Elena não conseguia tirar os olhos dos irmãos enquanto eles examinavam a carta. Era como se o papel amarelado guardasse segredos que somente eles pudessem desvendar. A sensação de estar à mercê de algo maior do que podia compreender era esmagadora. Por mais que tentasse, não conseguia entender como sua vida havia se tornado esse emaranhado de mistérios e perigos. Tudo o que sabia era que nada mais seria como antes.Mateo, Felipo e Theo trocavam palavras rápidas em italiano, suas vozes baixas, mas carregadas de tensão e urgência. O que quer que tivessem descoberto, não seria simples. Elena se levantou e começou a andar pela sala, a ansiedade pulsando em seu corpo. Ela olhava para a janela, observando a noite cair lá fora, o silêncio do prédio só aumentando sua inquietação. Tudo parecia tão normal, tão calmo. Mas dentro de si, ela sabia que estava mergulhada em um abismo desconhecido.— Vocês já conseguiram descobrir alguma coisa? — Ela quebrou o silêncio com a voz tensa.Felipo olhou
O ar estava pesado na sala. Elena olhava para a carta, agora decifrada em parte, com o coração batendo mais forte. "Onset", o início, o ponto de partida. Seu pai havia deixado uma trilha, um enigma para ela resolver, mas a que custo? Ela estava se enredando em algo que mal compreendia, e os três irmãos, por mais que tentassem ser honestos, mantinham uma aura de mistério ao redor deles.— Então, como seguimos daqui? — Elena quebrou o silêncio, tentando não demonstrar o turbilhão de emoções que passava por sua mente.— Sabemos que "Onset" é uma pista — disse Mateo, pensativo. — Mas precisamos entender o que ele quis dizer com isso. Pode ser um lugar, um evento, ou algo que está prestes a acontecer. Temos que buscar mais pistas nas outras partes da carta.Felipo, que tinha se concentrado na carta, levantou o olhar.— Não se trata apenas do que está na carta. Também precisamos considerar o que está fora dela. Papai usava metáforas em seus escritos, e a frase "O som da noite se esconde nas
A adrenalina pulsava nas veias de Elena enquanto ela, Theo, Mateo e Felipo se afastavam rapidamente do prédio. O vento da noite fria chicoteava seu rosto, mas sua mente estava muito ocupada com o pavor crescente para sentir o frio. Eles não tinham tempo a perder. Cada passo parecia ecoar no silêncio da cidade, e a sensação de que seriam alcançados não a deixava.— Temos um carro esperando — sussurrou Theo, sem parar de andar a tirando do mar de profundos pensamentos. — Mas temos que ser rápidos.Elena tentou manter a calma, mas a sensação de que algo estava terrivelmente errado a consumia. Seu telefone ainda pesava em seu bolso, as palavras da misteriosa ligação reverberando em sua mente: "Não confie em ninguém." Ela olhou para os três irmãos à sua frente, e a dúvida começou a surgir em seu coração novamente. Como ela poderia confiar neles, quando todo o seu mundo estava desmoronando em volta?Não saber quem os seguia deixava tudo pior na confusão de pensamentos que Elena estava tendo
O silêncio após o anúncio de Lorenzo parecia congelar o ar. Elena olhou em volta, o coração disparado, enquanto os dois carros pretos bloqueavam qualquer possível rota de fuga. As ruas de Roma, que até então haviam sido um cenário histórico e imponente, um sonho que Elena pensava que seria perfeito, agora pareciam uma prisão sem saída. Mateo, no banco da frente, fechou os olhos por um breve momento, claramente frustrado com a situação. Theo ao lado de Elena, permaneceu em alerta, com os olhos fixos nos carros à frente. Felipo, que até então parecia o mais calmo, estava com os punhos cerrados, pronto para o que viesse.— Não podemos ficar aqui — disse Mateo, com a voz dura, quebrando o silêncio. — Eles não vão hesitar em nos arrastar para fora e acabar com isso.Lorenzo assentiu. — Não temos escolha a não ser lutar. Vou tirar vocês daqui, mas será complicado.Antes que Lorenzo pudesse continuar, as portas dos dois carros pretos se abriram simultaneamente. Vários homens, todos vestind
Elena mal teve tempo de processar o que estava acontecendo antes de ouvir o som ensurdecedor da porta do armazém sendo arrombada. O estrondo ecoou pelas paredes desgastadas, e uma rajada de vento frio invadiu o espaço escuro, seguida pelos homens armados de Don Vitale. O coração de Elena disparou. Ela sentiu o pânico tomar conta de seus pensamentos, mas sabia que não podia se dar ao luxo de perder o controle agora.Lorenzo rapidamente se colocou entre Elena e os homens, caminhando para trás de uma pilha de caixas. Ele levantou a arma que trazia, mas mesmo assim Elena sabia que estavam em desvantagem. Eram muitos. A tensão no ar era palpável, e o silêncio que precedia o caos era ensurdecedor.— Vocês vieram longe demais — a voz do líder dos capangas ecoou, grave e cortante. Ele estava no centro do grupo, com uma postura relaxada, como se tivesse todo o tempo do mundo. — Mas realmente achavam que poderiam fugir de Don Vitale? Ele sabe de cada passo que vocês dão.Lorenzo manteve a arma a
O ar parecia ter sido sugado da noite quando Don Vitale desceu do carro, caminhando em direção a Theo e Elena. Seus passos eram lentos e deliberados, como se quisesse prolongar o momento, saboreando o medo crescente nos olhos de sua presa. Elena sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O homem que estava diante dela, com um terno impecável e uma expressão fria, exalava uma autoridade sombria, algo que ia além do simples poder que tinha. Era como se ele estivesse jogando um jogo cujo desfecho já conhecia.Theo respirou fundo ao lado dela, seus punhos cerrados sobre o volante. Ele sabia que qualquer movimento imprudente poderia custar suas vidas. A tensão no ar era palpável, cada segundo esticando-se em uma eternidade.— Elena — Don Vitale falou, sua voz profunda e controlada, como se estivesse cumprimentando uma velha amiga. — Finalmente nos encontramos.Ela tentou manter a cabeça erguida, apesar do pavor que sentia ao vê-lo tão de perto. O pouco que ouvira sobre ele era aterrorizante
Mateo foi o primeiro a se mover. Ele guardou a arma e se aproximou do carro onde Theo e Elena ainda estavam escorados, Elena tentando absorver toda a confusão que sua vida pacata se transformou. Seu rosto estava marcado pelo cansaço e a tensão, mas ele tentou esconder a preocupação.As sirenes ficaram mais altas conforme se aproximavam, mas Elena não conseguia tirar os olhos da estrada onde Don Vitale desapareceu. As palavras dele ainda ecoavam na mente de Elena: "Você vai entender tudo." O que isso significava? E por que seu pai parecia estar no centro de tudo isso? Ela tentou reorganizar os pensamentos, mas parecia impossível diante do caos à sua volta.— Precisamos sair daqui — disse Mateo, a voz firme, mas baixa. — A polícia pode nos fazer perguntas que não queremos responder agora.Theo balançou a cabeça em concordância, mas era evidente que ele ainda estava absorvendo o que havia acontecido.— Certo — murmurou Theo. — Mas para onde vamos?Felipo, que até então havia permanecido