Três

Depois de uma longa conversa com Jin que durou exatamente vinte e dois minutos e nenhum segundo a mais, Riki o viu chutar a porta da frente de casa para sair da mesma sendo seguido por Iori e Akira que tentavam o acalmar. Claro que Jin seria o primeiro a retrucar o fato de que teriam que se mudar. Ele era um dos garotos populares da escola, o capitão do time, pegava mais da metade das garotas e somente Riki e Yoshi sabiam que as aulas de piano eram apenas uma desculpa para foder com a professora de peitos grandes.

Assim que entrou no carro, bateu a porta outra vez como todo adolescente aborrecido com os acontecimentos presentes. Riki o encarou mais vezes que Yuri que tratou de colocar os fones e escutar sua música, aquela discussão familiar ele passaria com gosto. Mais do que qualquer um ali dentro do carro, Yuri queria chegar ao Norte, conhecer o alfa daquelas terras e trazê-lo para enformar, esfolar, esquartejar Takashi o homem que assassinou seu pai, seu alfa, um elo do seu poder.

— Jin – Riki murmurou querendo se aproximar e poucos minutos depois teve os olhos dele em sua direção, sorriu a contragosto. Queria agradá-lo de alguma forma, queria que ele se sentisse bem, mas não sabia como o fazer. — é, vai ficar tudo bem, a mudança é sempre a melhor coisa a fazer depois de algo-

— Não foi um sonho – murmurou de volta chamando atenção de Yuri que só queria esquecer que ainda estavam no carro. — Eu vi tudo nitidamente, eu não ligo para a mudança, quem quer ficar aqui depois que o vovô morreu? – Riki assentiu de boca aberta, queria contar-lhe que tudo não foi um sonho mesmo, que em algum momento algo surreal aconteceria com seu mundo, ele era um lobo, ele tinha que ser um lobo, só não… não despertava. — Mas você também não vai acreditar em mim, não é mesmo?

— Não – Jin estreitou os olhos — quer dizer, sim, eu acredito, mas você acha mesmo que lobisomens existem?

— Você casou com o Yoshi na nossa família e com o vô Raiden sabendo, nada mais é impossível pra mim. Entendeu? – O mais velho revirou os olhos cortando o papo e o contato visual.

— Jin, já que você acredita em lobisomens, porque não faz uma pesquisa mais profunda? – Yuri começou bem a tempo do casal Iakisamoto, sentarem nos bancos da frente — e se acha que é um, é só tentar se transformar. Precisa do que? De uma ferida? De um soco? Que deem uma agulhada na sua bunda? Eu dou, sou sua melhor opção. – Jin o encarou por dois ou mais segundos e voltou para a janela vendo o carro se mover. Seus pais iriam acreditar em si, em algum momento, ele iria.

Enquanto cruzavam a cidade até a barreira que dividia a da estrada, Jin estranhou o fato de alguns lugares que conhecia bem, como sua lanchonete preferida que nunca fechava, ou a soverteria de vinte e quatro horas estarem completamente fechadas com cartazes na frente avisando a todos que não existia mais nada ali. Primeiramente, ele pensou em questionar, mas uma rápida olhada pelo retrovisor da frente o fez prender a língua.

A saída da cidade era de fato estranha, e se sua mãe que amava aquele lugar estava chorando, não iria mais perguntar sobre, ou qualquer coisa do gênero. Engoliu suas perguntas e seguiu o caminho todo sem falar nada.

*

Na entrada da cidade, como prometido, às cinco horas da tarde, todas as barraquinhas de comida ou brincadeiras divertidas já estavam armadas para festejarem junto do povo. Ações de caridade para a cidade ou fora dela sempre eram feitas na mudança de estações, ou quando descobriam que em algum lugar perto dali algo ruim aconteceu. O Norte não era grande, então as noticias sempre corriam muito rápido, e metade da população se conhecia, viviam em harmonia, apesar de algumas jovens, ou adolescentes mais velhos não se darem muito bem.

Mas, as competições mesmo começariam quando as pessoas iam chegando para comprarem e se divertirem como queriam pela noite.

Homens corriam até a barraca das lideres de torcida que depois de Lívia, Raíza e Mika chegaram mais tarde. Todas uniformizadas com sorrisos enormes e se ajeitaram para fazer um único número para chamar atenção, mesmo que não precisasse.

— Como sempre, elas chamam atenção com corpos bonitos e aquelas rabas balançando. Ah! – Gusta se juntou aos amigos um pouco longe das garotas. — Eu adoro vê-las jogando aquelas mãozinhas para o alto e não se esquece das reboladas – Adrian suspirou — e a mais linda com certeza é a Aurora.

— Hey! – Adrian acordou do seu quase sono enfrentando o moreno de olhos claros que riu pedindo para ir mais devagar — não fala da minha irmã. Tá ouvindo? Ninguém fala da minha irmã.

— Todo mundo fala da sua irmã, babaca – Yan se encostou na parede tomando o último gole de sua cerveja — fala o quanto é gostosa, e uma patricinha da quinta geração Romero. – Adrian voltou-se para a barraca — parece um cristal que não pode ser quebrado. Um anjo que caiu do céu, a gêmea do Adrian que ninguém consegue chegar perto. – Eles se encararam. — sonho de consumo? A virgem? A garota que eu particularmente gosto, é tudo isso.

— Yan, se você fosse o destinado da Aurora, isso já tinha ficado claro pra todo mundo, vocês teriam o momento de vocês e pronto. Supera. - Gusta debochou do ruivo que não reclamou.

— Cala a sua boca também – Adrian murmurou bravo, claro. Além de saber que Yan estava certo, não gostava que falassem da sua irmã.

— Vamos parar de graça – Gusta se meteu entre os dois abrindo outra cerveja — parece que teremos convidados, fui informado depois de um uivo esplendido que a chegada dos Iakisamoto no nosso território é a novidade do ano – Os três ficaram sérios — como mataram o alfa deles?

— Raiden Iakisamoto era o mais antigo da família, e o alfa mais respeitado do lado Sul. – Yan murmurou dando uma última olhada em Aurora e virou para os meninos — Takashi Yumura matou o alfa para tomar o poder e mandou todos da alcateia sumirem o mais rápido possível. – Gusta entreabriu os lábios achando tudo àquilo totalmente… maluco.

— O Iakisamoto que veio na frente disse que Raiden mandou que eles fossem embora, que viessem para o lado Norte. Eu também viria, nosso Alpha é reconhecido, e todos aqui conheceram Raiden, ele esteve com o nosso Alpha, passaram algumas semanas conversando tem meses, eles eram aliados, talvez esse fosse algum plano que nunca vamos saber por que o Alpha não falaria nada. - Adrian voltou a falar.

— Pelo menos vocês tem acesso a mais coisa que todo mundo. - Gusta murmurou — Eu sinto muito pela morte dele.

— Ele quis proteger sua alcateia. Se ficassem e lutassem, morreriam. Todo mundo eu acho, a família é grande e tem várias pessoas que não são lobos. – Adrian voltou a falar, calmo e encarou os dois com seus olhos amarelados — Jin Iakisamoto, um lobo que não se transformou, ele nem sabe da existência, mas pode descobrir depois de uma surra. Ou ele fica vivo e se cura, ou morre humano. E nós vamos fazer isso.

— Eu? Credo – Gusta se afastou da parede quebrando o contato visual – eu não quero me meter nessas suas loucuras de surrar os outros para apressar a transformação. Tem gente que tem o mesmo sangue, mas não se transforma em porra alguma – Sorriu para ele dando uma piscadela formal do ruivo em sua frente para a irmã que animava alegremente em frente a sua barraca junto das amigas e foi em direção a elas.

— QUER SABER? EU NÃO PRECISO DE VOCÊ NÃO. EU TENHO O FABRICIO, ELE VAI CHEGAR. VOCÊ NÃO FAZ PARTE DO MEU TRISAL – Gritou o mais alto que pode e chamou atenção ao seu redor, inclusive para Yan que revirou os olhos os fechando rapidamente — não que ele pudesse fazer parte. – foi diminuindo o tom de voz e as pessoas comentando… voltou para a parede — ele não faria parte do meu trisal. – Yan o encarou.

— E quem é o seu trisal? Raíza, Lívia e você? – Adrian pensou um pouco na possibilidade, seria loucura. Mas…!

— Estou falando do alfa – Yan se ajeitou no lugar arrumando os ombros — de mim, de você, e do Fabricio.

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