Dez

— Amiga? – Jin abaixou os olhos — sua namorada você quer dizer.

— Ela não é minha namorada – Ele falava a verdade, mas não encarou o Romero nos olhos — Era só uma professora, ela me dava aulas de piano, mas eu odeio pianos, então a gente acabou fazendo um monte de besteira. – Ele ficou em silêncio por um momento e então fitou Adrian que estava surpreso e de boca aberta.

— Eu não acredito que você conseguiu pegar uma professora sua. Eu te odeio seu idiota. – Socou o ombro dele rindo feito um idiota — Todo mundo nessa escola sonha em pegar uma das professoras, mas elas fingem que não se sentem atraídas. – Jin fechou os olhos dando um longo suspiro enquanto Adrian andava de um lado para o outro — A pessoa mais perto que chegou de pegar o numero de uma professora e dar uns beijos foi o Yan, mas ele levou uma surra do… - do alfa. Adrian engoliu a seco e se ajeitou em pé parando em frente ao Jin. — Tá, pode continuar.

— Minha mãe ligou avisando sobre o meu avô Raiden eu peguei minha moto e fui embora, mas eu não estava tão bem. Minha pele continuava queimando mesmo debaixo de chuva, foi quando eu olhei no retrovisor e vi que meus olhos estavam amarelos, amarelos como os seus ontem à noite. Eu fiquei maluco e acabei perdendo a direção, eu cai perto de um muro e minha moto do outro lado do universo eu acho. Acabei machucando minha perna, ralei tudo, talvez tenha quebrado não sei – Jin passou a mão pelo cabelo, meio agoniado — eu liguei pro meu irmão pedindo ajuda enquanto segurava minha perna e do nada, o sangue começou a sumir, as feridas começaram a se curar e eu entrei em choque. Não era a chuva lavando o sangue, ele estava voltando pro meu corpo – Adrian abaixou a cabeça dando uma risada baixa — aí alguém bateu na minha cabeça e eu só acordei na minha cama. Meus pais disseram que tudo que contei foi apenas um sonho, mas não foi um sonho.

— Jin às vezes a-

— EU NÃO QUERO OUVIR QUE ISSO É IMAGINAÇÃO DA MINHA CABEÇA – ele gritou. Era notável seu desespero e Adrian, por um momento sentiu pena do Iakisamoto, agradeceu por todos já terem entrado nas salas e ninguém os incomodaria ali. — Me diz qualquer coisa, menos que é ilusão. E além de tudo, dos seus olhos, e do meu corpo queimando ontem quando eu parei no meio da rua pra esperar o meu irmão a luva que o Gusta tinha me dado estava toda furada nos meus dedos. E sabe onde eu vi isso?

— Em uma série de TV?

— Em um livro. – Ele ergueu o pequeno livro com um lobo na frente, Adrian riu de canto. — Não que eu acredite nessas coisas.

— Você não acredita no mundo sobrenatural? – Adrian tomou o livro e Jin não fez questão de pegar de volta — não acredita em vampiros? Bruxos? Videntes? Lobos? – Jin desviou o olhar. — Vem jogar com a gente hoje, a gente resolve as coisas no campo. – Passou por ele batendo em seu ombro e devolveu o livro.

— Eu não quero entrar no seu time. – avisou e Adrian parou de andar.

— Você vai entrar no meu time – Adrian mandou e virou pra ele — Você quer resposta? Eu vou dar sua resposta…

— Espera, espera – ele parou na frente do ruivo e tentou se manter calmo, — você acredita em mim? Os seus olhos também ficaram amarelos, eu não sou cego.

— Te vejo no campo, Jin – avisou novamente passando pelo moreno e sumiu no corredor o deixando sozinho.

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-

Os olhos grandes e azuis buscaram pacientemente por aquela garota em meio a tantas naquela escola. Todas as pessoas desse mundo poderiam o julgar por correr atrás de uma mulher como a Raíza, mesmo sabendo que ela dormiu várias vezes com seu melhor amigo, e que atualmente beijou o BRUXO, um bruxo muito escroto que ele odiava com toda raiva possível, mas ele não se daria ao luxo de desistir de Raíza. Não depois de tanto tempo para conquistá-la, para conquistar seus pais.

Não quando o coração pedia descaradamente por ela, ainda que estivesse machucado. Caminhando pela escola, Fabricio a encontrou no vestuário, seu cheiro não o impediria de se aproximar de qualquer jeito. O vestuário das garotas ficava perto da quadra e certamente a aula de educação física começaria, e obviamente ele não deixaria que ela fizesse aquela aula. Esperou já perdendo toda sua paciência Raíza sair daquele lugar, de todas as garotas que passaram por ele, a única que Fabricio fez questão de não encarar nos olhos foi Aurora.

Embora seu olhar doce e gentil dissesse muitas coisas, a áurea que ela carregava dentro de si era tão pesada que ele se sentia um filhote ao seu lado. Porém, na escola, e nos assuntos do coração, ela não iria se meter. Quando Aurora saiu deixando a porta um pouco mais aberta, ele entrou fechando-a rapidamente e trancou. Olhou para os armários fechados e a sala quase vazia e foi andando pelo pequeno espaço até encontrar sua querida morena sentada em um dos bancos.

Ela sabia que ele estaria ali quando saísse da sala, ela o sentiu; seu corpo estremecia quando ele estava perto, ela conhecia o som de seus passos, o batucar de seu coração era sua alma gêmea, sempre se conectam.

— Eu sabia que você viria.

— Eu sabia que você viria. - ela disse, mas não ergueu a cabeça. Não estava preparada para olhar em seus olhos, os olhos que ela tanto gostava e admirava.

— Você deve saber também que estive no seu quarto à noite - ela assentiu. — Não vai querer saber por que não entrei?

— Por que você sentiu o cheiro do Adrian? - Fabricio não disse nada — Eu não vou te impedir de ficar com outras pessoas se quiser se vingar, mas acontece que eu precisava ter alguém. E não me importei em ser justamente o Adrian. - ela levantou virando pra ele — você me deixou sozinha naquela noite no meio de uma floresta depois de ter brigado horrores.

— A culpa é sua - Raíza riu.

— A culpa é totalmente sua. Você e seu ciúme doentio, você é maluco - Ele desviou o olhar — eu adoro dançar, ser uma líder de torcida. É uma das coisas mais legais que posso fazer sem mostrar o que sou de verdade. Eu pareço uma garota normal no meio do nosso mundo. E você não me pode impedir de fazer isso.

— Eu não quero impedi você de fazer nada, só estava cuidando do que é meu. - Ele se aproximou com o pouco de paciência que tinha. — o que você faria se eu marcasse um ponto e a líder de torcida do time adversário viesse dar seu telefone pra mim?

— Eu mataria você por ter recebido. - Se aproximou mais parando bem a frente do homem. Podia sentir seu cheiro gostoso e isso a enlouquecia, a saudade estava perfurando seu peito com tanta voracidade que mal poderia respira-la. — Mas eu não aceitei. Eu recusei afirmando que tinha um namorado, você não precisava ter me arrastado dali no meio do jogo e me levando pra floresta. Você foi um ogro. Um machista horrível.

— Eu paguei por isso.

— Você sumiu por uma semana mesmo eu indo atrás. E depois viajou para seu retiro de verão em um campo militar com o seu pai. Não disse nada, não pediu desculpas, você sumiu.

— Eu não nego que fiz as piores coisas do mundo pra você - ele tocou no rosto pequeno jogando os cabelos para trás. — Mas acredite em mim quando digo que todos esses dias foram infernais para mim eu pensei em você o tempo todo, e o pior, não tinha como eu falar contigo. E você aqui, de boa, dormindo com o Adrian.

— Eu não entendo como ainda são amigos. - Fabricio revirou os olhos. — O que você quer aqui? Veio reclamar porque me viu beijando o Marcos?

— Tá ficando com o bruxo agora? - questionou se afastando um pouco.

— Foi um acidente, paguei uma aposta com a Lívia. Eu sinto muito - Fabricio não disse nada, e desviou o olhar — Eu vou pra aula.

— Nós precisamos conversar. Eu errei no passado, mas quero tentar consertar as coisas. Raí eu sou apaixonado por você. - ela sorriu, sabia disso nunca duvidou daquele amor. — Eu quero você de volta.

— Vai com calma Fabricio. Porque eu posso sentir as melhores coisas por você, mas não vou tolerar namorar uma pessoa que não me dar espaço pessoal, que não me deixa ser eu mesma na frente das pessoas. - Fabricio apertou os lábios em um bico. — tá vendo? Você não quer receber ordens e nem aceita o que estou propondo.

— Tudo bem. O Alpha disse para eu ser uma pessoa melhor e eu preciso ser se não vou perder você.

— Não tem que ser bom porque o Alpha mandou. Tem que ser bom porque quer isso. - deu as costas pegando suas coisas e saiu do vestuário deixando o loiro sozinho.

*

Em outra sala, Jin ainda matutava na cabeça a conversa que teve com Adrian. Não sabia o que exatamente aquele ruivo quis dizer.

Conhecer o sobrenatural?

Acreditar em vampiros, lobisomens, bruxos?

Por acaso ele estava tirando uma com sua cara? Mas de uma coisa ele tinha certeza, sua pele ferida cicatrizando não era coisa desse mundo. Então por que acreditar em coisas desse mundo? O primeiro dia como Adrian mesmo falou, era mais pra conhecer os alunos e professores. Infelizmente, Jin Iakisamoto era o único novato em anos naquela escola, era diferente ter um rosto novo, ou melhor, uma carranca nova para as garotas olharem.

Quando a aula acabou, Jin saiu da sala sabendo que seu destino era a quadra, os testes começariam depois do almoço e ele participaria com toda certeza. Por todo aquele vai e vem de pessoas, ele conseguiu achar Aurora, o que não era difícil quando no meio do corredor entre os seres mortais, estava um anjo de cabelo rosa dentro de um short curto mostrando suas pernas e seu corpo cheio de curvas. Tentador. Ele se aproximou sem se dar conta que era vigiado pelo ruivo mais louco daquele colégio, mas também, o que descarregaria todo seu ciúme pela irmã no campo.

— Tentei não achar você, mas seu espírito é tão brilhante que acabei achando no fim do túnel que é essa porcaria de escola. - Aurora riu virando para encontrar os olhos bonitos e escuros de Jin.

— Isso foi uma cantada ou uma crítica ao nosso colégio? - ela fechou o armário trazendo consigo apenas um casaco para amarrar na cintura — o primeiro dia é o mais chato, acredite, as coisas vão melhorar.

— Aposto que sim. Na verdade, a única coisa boa que aconteceu hoje foi falar com você - eles entraram na cantina e Jin a seguiu sem contestar — Mesmo que o primeiro dia não tenha me surpreendido, o cardápio parece bem interessante.

— Sabia que ia gostar. Essa escola é a única que carrega o ensino médio, conta com ajuda dos pais e do estado. Ou seja, temos a melhor educação e as melhores sobremesas também - avisou ao colocar uma torta de framboesa em sua bandeja, Jin concordou. — Já que você é novato, eu te deixo sentar comigo, só porque não conhece ninguém.

— Quem disse que eu não conheço ninguém? - Aurora quis rir ao sentar se à mesa de sempre, bem no meio do refeitório — Eu conheço o Gusta, que ao menos foi gentil ontem. E o seu irmão, eu falei com ele antes da segunda aula. E também me deram esses três números de celular - Ele tirou do bolso pequenos pedaços de papéis com nomes e números de três garotas diferentes. — Tem gente muito interessada em me levar pra conhecer a cidade.

— Ah - Aurora leu os nomes rapidamente e o encarou — Achei que ser popular não estava nos seus planos.

— E não estar. Não ligo pra esse tipo de coisa - Ele desdenhou os números — Não estou interessado em garotas no momento.

— E exatamente no que está interessado agora? - Aurora perguntou em sussurro, querendo se aproximar, Jin riu achando aquele olhar pequeno e curioso o mais lindo do mundo.

— Você acredita no sobrenatural?

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