Carolina Smith
No dia seguinte à notícia que mudaria completamente minha vida, a ficha ainda não havia caído por completo. Estava em Paris – não literalmente, mas tão perto que já podia imaginar. Após um dia inteiro de devaneios sobre a cidade que tanto sonhei, sabia que era hora de contar aos meus pais sobre a mudança repentina nos meus planos. Eles mereciam saber. Respirei fundo e disquei o número da minha mãe. Não tinha falado nada sobre o que aconteceu no último dia, então essa seria uma conversa longa. — Oi, filha! Que surpresa boa, como você está? — Minha mãe atendeu com a animação de sempre, sem fazer ideia da bomba que estava prestes a receber. — Oi, mãe. Eu... estou bem agora, mas tenho algumas novidades para te contar. Senta, porque é muita coisa. — Ah, meu Deus, o que houve? Suspirei. — Fui demitida do meu emprego anteontem, terminei com o Daniel e ainda fui despejada do apartamento. Do outro lado da linha, o silêncio foi imediato. Minha mãe, sempre tão prestativa e protetora, estava claramente processando tudo que eu disse de uma só vez. — Filha... por que você não nos avisou antes? Que coisa... Meu Deus! Como você está lidando com isso? Daniel... o que houve com ele? — Eu estou bem, mãe. Na verdade, melhor do que eu achei que estaria. E quanto ao Daniel, não funcionou. Acho que foi um alívio para os dois, para ser sincera. A questão do trabalho também não foi algo que eu esperava, mas... Acredite, tem uma luz no fim do túnel. — Que luz, minha filha? — Ela estava aflita, mas tentei acalmá-la com um pouco de empolgação na voz. — Eu recebi uma proposta para fazer um intercâmbio de três meses em Paris! Um curso de gastronomia, com tudo pago! Eles me ofereceram uma bolsa integral, e vou morar no campus da faculdade durante esse tempo. — Dizer que você recebeu uma proposta... Como assim, Carolina? É sério? Paris? — A surpresa na voz dela era óbvia, e eu ri um pouco de como isso soava tão inesperado para ela quanto para mim. — Sim, mãe! Eu quase não acreditei quando recebi a ligação. Parece um sonho... Mas é real. O curso começa daqui a um mês. — Meu Deus... Carolina! Isso é maravilhoso! Seu pai e eu sempre soubemos o quanto Paris significa para você. — Ela fez uma pausa, como se estivesse juntando todas as peças na cabeça. — Isso explica porque você não nos contou antes sobre tudo o que estava acontecendo. Você já estava em um turbilhão de emoções, não é? — Exatamente, mãe. Estava um caos, mas essa proposta pareceu como uma resposta para tudo. Você sabe o quanto eu sonhei com isso. Desde criança, sempre quis conhecer Paris, fazer algo grande por lá. Aprendi francês desde cedo, imaginando esse momento. E agora ele chegou. — Filha, que coisa incrível! Paris... Você vai amar! E olha, parece que essa oportunidade apareceu na hora certa. Eu sempre digo que quando uma porta se fecha, outra se abre. Eu ri, concordando. — Acho que você tem razão, mãe. — Claro que tenho! Seu pai vai ficar tão feliz com essa notícia. Aliás, já vou avisar que ele vai te mandar um dinheiro para ajudar com as suas compras para a viagem. Não queremos que você vá despreparada. — Eu vou receber o valor da rescisão, mãe. Mas se vocês quiserem me ajudar, eu não vou reclamar. — Nem pense em negar. Vamos ajudar sim. E quero que aproveite essa fase ao máximo. Depois de mais algumas palavras de carinho e conselhos maternos, desliguei o telefone. A euforia da viagem finalmente começava a parecer real. Paris, a cidade que sempre povoou meus sonhos, agora seria meu lar por três meses. Minha mãe tinha razão – sempre sonhei com isso. Desde pequena, aprendi francês, assistia a documentários sobre a cidade, devorava livros sobre a cultura. E agora estava indo para lá, de verdade. Respirei fundo e me preparei para o próximo passo. Precisava de roupas, uma mala nova, e talvez uma pequena mudança no visual, afinal, essa era uma nova fase. Eu estava pronta para deixar o passado para trás, abraçar essa nova oportunidade e me reinventar. No final da tarde, com a transferência feita pelo meu pai e o valor da rescisão em mãos, fui até o shopping. O primeiro item da lista foi uma mala nova, preta e elegante, que combinava com a atmosfera sofisticada de Paris. Em seguida, fui em busca das roupas. Primavera em Paris pedia vestidos leves, jaquetas finas e sapatos confortáveis, mas que ainda assim transmitissem elegância. Cada peça escolhida me fazia sentir mais próxima da vida que eu imaginava para mim nos próximos meses. Mas o ponto alto do dia foi quando decidi dar uma passada no salão de beleza. A ideia de mudar o visual me parecia uma forma simbólica de encerrar uma fase e começar outra. Meu cabelo sempre foi loiro natural, mas acabei escurecendo um pouco ele a uns meses, minha raiz já estava crescida, revelando o loiro novamente. Então pedi para clarear ele novamente, chegando o mais próximo possível do natural. Enquanto a cabeleireira trabalhava, me olhei no espelho, imaginando como seria minha vida dali para frente. Um novo corte, uma nova cor, uma nova cidade. Aproveitei também para fazer as unhas, sobrancelhas, depilação completa, tudo que eu tinha direito, para chegar em Paris em grande estilo. Terminei o dia renovada, com as compras feitas, uma nova aparência e um sentimento de leveza que há tempos não experimentava. Estava finalmente me despedindo da antiga Carolina e pronta para me entregar completamente ao que Paris tinha a oferecer. Ainda carregada da euforia das compras no shopping, decidi dar um pulo na loja da minha prima, Sabrina. Nós sempre fomos muito próximas, e eu sabia que ela ia ficar empolgada com a minha novidade. Além disso, Sabrina tinha um gosto impecável para roupas, e nada melhor do que uma ajudinha dela para garantir mais alguns itens para a viagem. Assim que entrei na loja, avistei Sabrina organizando algumas peças. Ela me viu e abriu um sorriso largo, acenando para que eu fosse até ela. — Carol! Que surpresa boa! — Ela me abraçou, e seu olhar curioso se acendeu. — Amei o seu cabelo!! Já estava com saudades da Carolina loira! — seu elogio me fez sorrir — Tá com uma carinha de quem tem novidade. — Ah, prima... você não faz ideia! — Sorri, já empolgada para contar tudo. — Então desembucha! O que aconteceu? — Eu vou pra Paris, Sab! — Soltei de uma vez, com a mesma empolgação da primeira vez que falei a frase em voz alta. — Recebi uma proposta de intercâmbio pra fazer um curso de gastronomia lá, com tudo pago! Daqui a duas semanas eu embarco! Os olhos dela se arregalaram e, por um segundo, fiquei preocupada que ela fosse gritar de tão animada. — PARIS?! Carolina, isso é incrível! — disse eufórica — Meu Deus, eu sabia que esse dia ia chegar. Eu sempre falei que você tinha que largar tudo e viver seu sonho de ir pra lá. — Ela segurou meus ombros, com um brilho nos olhos. — Você vai arrasar. Eu ri, sentindo o entusiasmo dela me contagiar ainda mais. — Pois é, parece que tudo mudou do nada. Fui demitida, terminei o namoro, fui despejada... E aí, como que por mágica, essa oportunidade apareceu. — Olha só, hein? Era o universo te dizendo que você merecia algo melhor! — Ela piscou, convencida de sua teoria. — Com certeza. — Concordei, ainda absorvendo tudo. — E agora eu estou me preparando pra viagem. Fiz umas comprinhas no shopping e resolvi passar aqui pra te contar e, claro, ver o que mais posso levar. — Ah, você veio ao lugar certo! — Sabrina já se animava com a ideia de me ajudar a escolher mais coisas. — Vem cá, vamos ver umas peças. Paris exige estilo, e eu tenho certeza de que você vai querer arrasar lá. Ela me guiou até a área de roupas casuais, onde começamos a escolher algumas blusas leves, mais alguns vestidos e umas jaquetas que eu poderia usar durante a primavera. Sabrina, com seu olho clínico, sabia exatamente o que ficaria bom em mim. Depois de algumas peças escolhidas, ela me olhou de maneira marota. — Tá, agora vamos falar de outra coisa. — Sabrina disse, cruzando os braços com um sorriso travesso no rosto. — E as lingeries? Você sabe que Paris é uma cidade de romance, né? E eu não tô dizendo que você tem que arrumar alguém, mas... nunca se sabe. Eu gargalhei, sabendo bem onde aquilo iria parar. Sabrina sempre foi a mais ousada entre nós duas. — Sab, eu não estou pensando nisso agora... — Claro que não está. Mas é sempre bom estar preparada. — Ela riu, me puxando para a seção de lingeries da loja. — Vamos lá, só umas peças novas, por precaução. Vai que rola alguma coisa com um francês charmoso e misterioso? Não custa nada. — Você é impossível. — Ri de novo, mas acabei cedendo, vendo as peças que ela sugeria. — Tá, vou levar algumas. Mas é só porque você insistiu! — Isso aí! Agora você vai estar preparada para tudo. Saí da loja com um sorriso no rosto e algumas sacolas a mais do que planejava. Sabrina sempre soube como me fazer relaxar e aproveitar o momento, e eu estava começando a sentir que Paris seria mais do que um simples intercâmbio.Carolina Smith Acordei com o sol entrando pela janela, iluminando meu quarto de uma forma que parecia mágica. Era o dia da minha viagem para Paris. O tempo passou tão rápido que mal consegui acreditar que finalmente estava prestes a embarcar. A adrenalina misturada com uma pitada de nervosismo me acompanhou enquanto eu me vestia. Escolhi uma roupa confortável: um jeans leve, uma blusa branca e uma jaqueta de couro que eu sabia que daria um toque europeu ao meu visual.Chegando ao aeroporto, a atmosfera estava repleta de movimentação. O som das malas sendo arrastadas, os anúncios das partidas e chegadas, e o cheiro de café fresco deixavam tudo mais emocionante. Meus pais estavam ao meu lado, com sorrisos nervosos. Eu podia ver o orgulho nos olhos deles, mas também um toque de preocupação.— Mãe, está tudo bem — eu disse, tentando confortá-la. — Eu vou ficar bem.— Eu sei, querida. É só que, você sabe, é uma nova fase, e estamos tão felizes por você — ela me abraçou com força, e eu sen
Louis BeaumontMeus passos ecoavam pelo piso de mármore enquanto eu avançava em direção ao elevador, cada batida dos sapatos refletia o peso que sentia no peito. Ao entrar, me deparei com Alexandre, que estava casualmente encostado em um canto, segurando uma pasta. Ele me olhou de soslaio, os lábios se curvando em um sorriso de provocação.— Que cara é essa? Parece até que caiu da cama essa noite — meu amigo riu, mas o som logo morreu quando cruzei seu olhar. Frio. A tensão entre nós tornou-se palpável.— Se eu fosse você, ficaria quieto até que eu saísse deste elevador — murmurei, a voz carregada de ameaça. Alexandre levantou as mãos em rendição, o sorriso se desvanecendo, como se finalmente tivesse entendido a gravidade do momento.Eu sentia a veia na minha testa latejar, como um tambor que ecoava na minha cabeça, aumentando o desconforto. Meu pai havia me ligado poucos minutos antes, com uma notícia que eu preferia nunca ter recebido. Na próxima semana, ele me anunciaria como o nov
Carolina SmithHoje faz exatamente uma semana desde que cheguei em Paris, e, apesar de todas as mudanças e dos imprevistos que caíram no meu colo, eu estava gostando do rumo que as coisas estavam tomando. A rotina ainda era novidade: manhãs de aulas intensas de gastronomia, tardes no trabalho para garantir minha permanência aqui e, à noite, a chance de caminhar pela cidade como se eu fosse parte dela.Hoje não era diferente, saí da faculdade e fui direto para o restaurante, pronta para mais uma tarde de correria. Assim que cheguei, notei que o ambiente estava mais agitado que o normal. Os chefs conversavam rápido, os garçons entravam e saíam da cozinha em um ritmo frenético, e senti que algo importante estava para acontecer.— Carolina! — chamou minha chefe, Camille, ao me ver.Ela era uma mulher elegante, com uma postura firme, mas um jeito direto e justo de tratar a equipe. Sorri ao me aproximar, mas percebi pela expressão dela que tinha algo a mais ali.— Hoje à noite teremos um gr
Louis Beaumont Não posso dizer que estou entusiasmado para essa festa. Pelo contrário. Esses eventos são uma perda de tempo, mas eles parecem sempre encontrar um motivo para uma celebração. Hoje, a desculpa é “a chegada de um novo líder”. Mal sabem eles que a única coisa que estou assumindo é uma fachada. Eu sei o que está por trás dessa festa e o que esperam de mim. Só que eu não vim aqui para agradar ninguém.Respiro fundo e entro no salão, escondendo o aborrecimento com um sorriso. Cumprimento rostos conhecidos e aperto mãos com o máximo de entusiasmo que consigo fingir. Para a maioria aqui, essa é uma noite de negócios e alianças, mas, para mim, é apenas um jogo de aparências.Enquanto caminho pelo salão, um rosto no meio da multidão me faz parar. Ela está em pé, segurando uma bandeja, e, pela primeira vez na noite, meu sorriso não é falso. Ela é... impressionante. Loira, com um coque elegante, maquiagem sutil e um vestido que parece feito para ela. A postura impecável, mas os ol
Carolina Smith Depois do discurso dele, eu me peguei pensando demais naquilo. O jeito como Louis me olhou... não era só um olhar de quem analisa uma pessoa no meio de uma multidão. Havia algo ali, uma intensidade que fez um friozinho percorrer minha espinha. Confesso que não esperava, e muito menos conseguia entender por que estava me sentindo tão... inquieta.Balancei a cabeça, tentando tirar aquilo da mente. Logo Camille apareceu ao meu lado, com um olhar sério.— Carolina, preciso que vá até a cozinha buscar algumas bandejas de petiscos. Temos várias mesas para servir — disse ela, me apressando.— Claro! Já estou indo.Segui até a cozinha, coloquei as bandejas nas mãos e respirei fundo antes de voltar para o salão. O evento estava em pleno vapor, as pessoas pareciam cada vez mais à vontade, conversando, rindo e enchendo os copos. Fui de mesa em mesa, oferecendo as entradas, e de vez em quando recebia um elogio pela aparência ou um sorriso simpático. Apesar de tudo, o trabalho era
Carolina Smith Sábado de manhã em Paris. Acordei com o sol já brilhando forte lá fora, iluminando o quarto de um jeito que só um dia quente prometia fazer. Depois do evento de ontem, com toda aquela correria e tensão, hoje eu só queria um tempo para mim, passear pela cidade e me sentir realmente aqui, de verdade, como se Paris fosse minha.Levantei-me e fui direto para o banho, sentindo a água morna relaxar meus músculos cansados. Lavei o cabelo com calma, aproveitando o momento de paz e tentando afastar as lembranças da noite passada, principalmente, de certo sorriso cafajeste que insistia em aparecer na minha mente. Saí do banho e me sequei devagar, escolhendo um vestido leve e fresco que combinava perfeitamente com o clima quente lá fora. Era uma peça confortável, solta, com um tom de azul suave que me deixava ainda mais animada para o dia.Coloquei alguns acessórios delicados e deixei o cabelo solto, ainda com aquele aroma refrescante de shampoo. Olhei no espelho e sorri, gostand
Carolina Smith Depois de uma manhã cheia de compras e passeios, caminhamos pelas ruas, aproveitando o charme de Paris e rindo das nossas próprias piadas. O calor estava leve, e o clima perfeito para um almoço em um dos muitos bistrôs da cidade. Jenifer me levou a um restaurante bem famoso, daqueles que tem sempre uma fila de espera e onde as pessoas fazem questão de ser vistas, mas com um toque despretensioso que a tornava ainda mais especial.Quando entramos, o lugar estava elegante e cheio de energia. Jenifer falou animadamente sobre o menu, enquanto eu olhava ao redor, maravilhada. O ambiente era moderno, mas com aquele charme parisiense clássico, e as mesas de fora eram perfeitas para o tipo de dia que estávamos tendo. Foi então que, ao passar pelo salão principal, eu reconheci uma silhueta familiar — Louis.Ele estava em uma mesa no canto, bem no centro do restaurante, com um homem ao seu lado, e um sorriso genuíno no rosto, parecia bem próximo do homem que estava com ele, e ele
Carolina SmithA animação estava estampada no rosto de Jenifer enquanto ela vasculhava o guarda-roupa, tentando escolher um vestido que combinasse com o tema do luau. Já eu, sentada na cama dela com uma toalha enrolada nos cabelos ainda molhados do banho, não conseguia evitar um sorriso. Era bom sentir isso de novo. Amizade, cumplicidade. Fazia tempo que eu não tinha uma amiga tão próxima, e Jenifer parecia determinada a compensar os anos de distância.— O que acha desse? — perguntou ela, segurando um vestido leve, branco, com detalhes em renda.— Perfeito para você — respondi. — É fresco e combina com o tema da festa.Jenifer sorriu satisfeita e o colocou sobre a cama antes de voltar para a busca, agora em uma pilha de acessórios. Enquanto ela se concentrava, eu me levantei para abrir a bolsa que havia trazido e tirei meu vestido. Era simples, mas bonito: em um tom de azul-claro, com alças finas e o comprimento ideal para uma festa descontraída. Ao prová-lo, percebi que havia feito a