Carolina Smith
Hoje faz exatamente uma semana desde que cheguei em Paris, e, apesar de todas as mudanças e dos imprevistos que caíram no meu colo, eu estava gostando do rumo que as coisas estavam tomando. A rotina ainda era novidade: manhãs de aulas intensas de gastronomia, tardes no trabalho para garantir minha permanência aqui e, à noite, a chance de caminhar pela cidade como se eu fosse parte dela. Hoje não era diferente, saí da faculdade e fui direto para o restaurante, pronta para mais uma tarde de correria. Assim que cheguei, notei que o ambiente estava mais agitado que o normal. Os chefs conversavam rápido, os garçons entravam e saíam da cozinha em um ritmo frenético, e senti que algo importante estava para acontecer. — Carolina! — chamou minha chefe, Camille, ao me ver. Ela era uma mulher elegante, com uma postura firme, mas um jeito direto e justo de tratar a equipe. Sorri ao me aproximar, mas percebi pela expressão dela que tinha algo a mais ali. — Hoje à noite teremos um grande evento — ela começou, sem rodeios. — Um dos garçons que iria trabalhar lá ficou doente, então preciso que você vá no lugar dele. — Sem problemas — respondi sem pensar duas vezes. Trabalhar em um evento parecia uma ótima oportunidade para aprender mais e, quem sabe, até fazer contatos interessantes. Camille suspirou, um pouco mais aliviada, e logo em seguida me entregou um uniforme mais elegante do que o que usávamos no restaurante. Era um vestido preto, discreto, mas sofisticado, que deixava claro o nível do evento. — É importante que você chegue ao local às seis da tarde em ponto — continuou ela, enquanto me passava a localização. — E quero você bem arrumada, entendeu? Um cabelo bem feito, uma maquiagem simples, mas elegante. Esse é um dos eventos mais importantes da semana, então cada detalhe importa. Assenti, sentindo um frio na barriga. Nunca tinha participado de um evento desse tipo antes, mas havia algo na forma como Camille explicava que me fazia querer fazer tudo perfeitamente. Passei o restante da tarde no restaurante, focada no trabalho e sem deixar transparecer a ansiedade que começava a tomar conta. Terminei meu turno às três e meia e fui liberada para ir embora e me preparar. Cheguei no dormitório ainda absorvendo a ideia de trabalhar em um evento tão importante. Assim que fechei a porta, me joguei na cama, exausta. Me permiti uns minutos de descanso, fechando os olhos enquanto respirava fundo e tentava controlar a ansiedade que agora me acompanhava. O som do celular vibrando me despertou do meu breve momento de paz. Era uma mensagem de Camille com a localização do evento. Curiosa, abri o mapa e comecei a pesquisar o lugar. Em segundos, uma série de fotos apareceu, e meus olhos se arregalaram ao ver o tamanho e a sofisticação do local: era um salão imenso, com lustres luxuosos e decoração clássica. Claramente, não era um lugar para qualquer evento — aquilo tinha cara de alta sociedade. Sem resistir à curiosidade, digitei o nome do evento. Logo, me deparei com uma matéria que destacava o encontro de vários empresários renomados da França. Passei os olhos rapidamente pela notícia, até que um nome chamou minha atenção: Louis Beaumont. O sobrenome soava familiar, mas não tinha ideia do porquê. Continuei lendo, e logo vi algumas fotos dele. Louis era um homem de presença marcante, daqueles que você só de olhar sabe que tem poder. Tinha um jeito descontraído, mas com um charme e uma intensidade no olhar que era impossível ignorar. Ele parecia sorrir com uma confiança que deixava claro que era alguém acostumado a estar no controle. "Bonito", pensei por um momento. Mas logo deixei a ideia de lado. Eu tinha coisas mais importantes para me preocupar. Fechei o celular, suspirei e fui até o banheiro para tomar um banho. A água quente me ajudou a relaxar e, aos poucos, comecei a me concentrar no que realmente importava: eu precisava me arrumar com capricho e estar impecável para o evento. Depois do banho, coloquei o vestido que Camille me entregou. Quando me vi no espelho, precisei admitir: o tecido ajustava-se perfeitamente ao corpo, valorizando cada curva de um jeito elegante, mas sem exageros. O tecido fluía suavemente, e a cor escura realçava meu tom de pele. Senti-me diferente, quase uma versão mais sofisticada de mim mesma. Decidi prender meus cabelos loiros em um coque alto e bem arrumado. Um penteado simples, mas que dava um toque de classe. Em seguida, comecei a maquiagem. Passei sombras em tons dourados e marrons, deixando os olhos bem marcados, mas sem pesar. Finalizei com um batom cremoso de tom rosa claro, que dava um ar natural e sofisticado ao mesmo tempo. Estava contente com o resultado. Por fim, calcei meu par de saltos com sola vermelha — o mais caro que já comprei. "Se algum dia eu for precisar desse tipo de sapato, esse é o momento", pensei com um sorriso. Eles completavam o look perfeitamente, dando um toque de elegância e confiança. Coloquei um par de brincos dourados e um relógio elegante, que combinavam com os detalhes do vestido. Olhei mais uma vez no espelho, surpresa com o que via. Era como se aquela versão de mim mesma estivesse pronta para qualquer coisa que Paris pudesse oferecer. Peguei minha bolsa e coloquei apenas o necessário: carteira, celular e um batom extra. Conferi mais uma vez minha aparência no espelho, respirei fundo e saí do dormitório. Ao caminhar pelo campus, senti vários olhares em minha direção, alguns surpresos, outros curiosos, mas todos intensos. Aquilo me fez sorrir internamente. A produção havia ficado realmente boa. Cheguei ao portão e logo avistei um táxi. Entrei e mostrei o endereço ao motorista, sentindo um misto de ansiedade e excitação. A cada rua que passávamos, o coração parecia bater mais rápido. Ao chegar, desci do táxi e olhei ao redor. O local era ainda mais imponente do que parecia nas fotos, colunas de mármore, janelas altas e detalhes dourados por toda parte. O evento claramente era de alto padrão. Quando entrei, só os funcionários estavam presentes, finalizando os últimos preparativos. Dei uma rápida olhada nas outras garçonetes e garçons e me senti aliviada ao ver que todos estavam igualmente bem arrumados. Escolhi a produção certa. Caminhei até Camille, que parecia bem focada, dando as últimas orientações para alguns funcionários. Quando me viu, ela assentiu com um pequeno sorriso de aprovação. — Então, Carolina — ela começou, me entregando uma bandeja vazia — Quero que você fique na entrada primeiro, recebendo os convidados e oferecendo bebidas. Quando todos estiverem acomodados e o evento começar, você vai se deslocar para a ala leste, onde os empresários vão se reunir para o jantar. Assenti, absorvendo todas as instruções e me preparando mentalmente para o que estava por vir. — Tudo bem, acho que consigo lidar com isso — respondi, mantendo um sorriso profissional no rosto. — Ótimo — Camille respondeu, colocando uma mão no meu ombro como incentivo. — E lembre-se de ser discreta e educada. Esse é um evento muito importante, então é essencial que todos estejam confortáveis. Assenti novamente, pronta para começar. Estava decidida a fazer meu melhor. Assim que os primeiros convidados começaram a chegar, eu endireitei a postura e coloquei um sorriso educado no rosto, tentando ao máximo parecer profissional e tranquila. Servi as primeiras taças de champanhe, recebendo alguns elogios de homens e mulheres que comentavam sobre o meu visual e o quanto eu estava elegante. Cada elogio era um pequeno estímulo, e eu começava a me sentir mais confiante e satisfeita com a minha escolha de ter aceitado essa oportunidade. Após um tempo de serviço, ao olhar na direção da entrada, um novo grupo de convidados entrou. Entre eles, eu o vi. Ele era inconfundível: o rosto conhecido das fotos que eu tinha visto mais cedo. Louis Beaumont. E, para minha surpresa, ele era ainda mais impressionante pessoalmente. Ele era um homem maduro, e seu porte exalava confiança e um certo mistério perigoso. Alto, com ombros largos e um corpo que parecia perfeitamente esculpido, ele se movia com a postura firme de alguém acostumado a comandar. A elegância do terno que ele usava, perfeitamente ajustado ao seu corpo definido, deixava claro que ele era um homem de gostos refinados. Mas havia algo mais em sua aparência — um ar sensual e um toque de cafajeste que só tornavam sua presença ainda mais intrigante. Seu cabelo escuro estava levemente bagunçado, como se cada fio estivesse ali por pura intuição, dando a ele um charme despretensioso. E aquele sorriso… Era o tipo de sorriso que misturava um quê de mistério com uma confiança quase insolente, como se ele soubesse exatamente o efeito que causava nas pessoas. Ele parecia absorver tudo ao seu redor, cada detalhe, e eu tive a sensação de que nada escapava àquele olhar astuto e penetrante. Quando seus olhos escuros percorreram o salão, senti um leve arrepio, mesmo sabendo que ele provavelmente nem havia notado minha presença ali. Mas o magnetismo dele era inegável. Era como se toda a sala diminuísse, e só ele estivesse em foco, capturando o ambiente com uma presença que era impossível ignorar.Louis Beaumont Não posso dizer que estou entusiasmado para essa festa. Pelo contrário. Esses eventos são uma perda de tempo, mas eles parecem sempre encontrar um motivo para uma celebração. Hoje, a desculpa é “a chegada de um novo líder”. Mal sabem eles que a única coisa que estou assumindo é uma fachada. Eu sei o que está por trás dessa festa e o que esperam de mim. Só que eu não vim aqui para agradar ninguém.Respiro fundo e entro no salão, escondendo o aborrecimento com um sorriso. Cumprimento rostos conhecidos e aperto mãos com o máximo de entusiasmo que consigo fingir. Para a maioria aqui, essa é uma noite de negócios e alianças, mas, para mim, é apenas um jogo de aparências.Enquanto caminho pelo salão, um rosto no meio da multidão me faz parar. Ela está em pé, segurando uma bandeja, e, pela primeira vez na noite, meu sorriso não é falso. Ela é... impressionante. Loira, com um coque elegante, maquiagem sutil e um vestido que parece feito para ela. A postura impecável, mas os ol
Carolina Smith Depois do discurso dele, eu me peguei pensando demais naquilo. O jeito como Louis me olhou... não era só um olhar de quem analisa uma pessoa no meio de uma multidão. Havia algo ali, uma intensidade que fez um friozinho percorrer minha espinha. Confesso que não esperava, e muito menos conseguia entender por que estava me sentindo tão... inquieta.Balancei a cabeça, tentando tirar aquilo da mente. Logo Camille apareceu ao meu lado, com um olhar sério.— Carolina, preciso que vá até a cozinha buscar algumas bandejas de petiscos. Temos várias mesas para servir — disse ela, me apressando.— Claro! Já estou indo.Segui até a cozinha, coloquei as bandejas nas mãos e respirei fundo antes de voltar para o salão. O evento estava em pleno vapor, as pessoas pareciam cada vez mais à vontade, conversando, rindo e enchendo os copos. Fui de mesa em mesa, oferecendo as entradas, e de vez em quando recebia um elogio pela aparência ou um sorriso simpático. Apesar de tudo, o trabalho era
Carolina Smith Sábado de manhã em Paris. Acordei com o sol já brilhando forte lá fora, iluminando o quarto de um jeito que só um dia quente prometia fazer. Depois do evento de ontem, com toda aquela correria e tensão, hoje eu só queria um tempo para mim, passear pela cidade e me sentir realmente aqui, de verdade, como se Paris fosse minha.Levantei-me e fui direto para o banho, sentindo a água morna relaxar meus músculos cansados. Lavei o cabelo com calma, aproveitando o momento de paz e tentando afastar as lembranças da noite passada, principalmente, de certo sorriso cafajeste que insistia em aparecer na minha mente. Saí do banho e me sequei devagar, escolhendo um vestido leve e fresco que combinava perfeitamente com o clima quente lá fora. Era uma peça confortável, solta, com um tom de azul suave que me deixava ainda mais animada para o dia.Coloquei alguns acessórios delicados e deixei o cabelo solto, ainda com aquele aroma refrescante de shampoo. Olhei no espelho e sorri, gostand
Carolina Smith Depois de uma manhã cheia de compras e passeios, caminhamos pelas ruas, aproveitando o charme de Paris e rindo das nossas próprias piadas. O calor estava leve, e o clima perfeito para um almoço em um dos muitos bistrôs da cidade. Jenifer me levou a um restaurante bem famoso, daqueles que tem sempre uma fila de espera e onde as pessoas fazem questão de ser vistas, mas com um toque despretensioso que a tornava ainda mais especial.Quando entramos, o lugar estava elegante e cheio de energia. Jenifer falou animadamente sobre o menu, enquanto eu olhava ao redor, maravilhada. O ambiente era moderno, mas com aquele charme parisiense clássico, e as mesas de fora eram perfeitas para o tipo de dia que estávamos tendo. Foi então que, ao passar pelo salão principal, eu reconheci uma silhueta familiar — Louis.Ele estava em uma mesa no canto, bem no centro do restaurante, com um homem ao seu lado, e um sorriso genuíno no rosto, parecia bem próximo do homem que estava com ele, e ele
Carolina SmithA animação estava estampada no rosto de Jenifer enquanto ela vasculhava o guarda-roupa, tentando escolher um vestido que combinasse com o tema do luau. Já eu, sentada na cama dela com uma toalha enrolada nos cabelos ainda molhados do banho, não conseguia evitar um sorriso. Era bom sentir isso de novo. Amizade, cumplicidade. Fazia tempo que eu não tinha uma amiga tão próxima, e Jenifer parecia determinada a compensar os anos de distância.— O que acha desse? — perguntou ela, segurando um vestido leve, branco, com detalhes em renda.— Perfeito para você — respondi. — É fresco e combina com o tema da festa.Jenifer sorriu satisfeita e o colocou sobre a cama antes de voltar para a busca, agora em uma pilha de acessórios. Enquanto ela se concentrava, eu me levantei para abrir a bolsa que havia trazido e tirei meu vestido. Era simples, mas bonito: em um tom de azul-claro, com alças finas e o comprimento ideal para uma festa descontraída. Ao prová-lo, percebi que havia feito a
Carolina Smith Depois de dançar por um bom tempo e terminar minha bebida, percebi que precisava ir ao banheiro. Avisei Jenifer, que acenou distraída, entretida demais conversando com alguém que havia acabado de conhecer.O caminho até o banheiro era um pouco afastado, e as luzes mais baixas da área davam um ar mais reservado ao ambiente. Estava quase alcançando a porta quando senti uma presença atrás de mim. Antes que eu pudesse me virar completamente, ouvi uma voz baixa e rouca que já reconhecia:— Fugindo da festa ou só precisando de um momento longe de toda aquela agitação?Eu me virei, e lá estava ele. Louis Beaumont, com aquele sorriso meio inclinado que fazia meu estômago dar voltas. Ele estava próximo, talvez mais perto do que o necessário, e seu olhar, como sempre, parecia me ler completamente.— Acho que não devo explicações para você, devo? — retruquei, tentando soar confiante, mas sentindo minha voz trair a leve ansiedade que a proximidade dele causava.Ele arqueou uma sob
Carolina Smith O sol já iluminava o apartamento de Jenifer quando acordei, a cabeça ainda um pouco pesada da noite anterior, mas nada que uma xícara de café não resolvesse. Espreguicei-me e me levantei, indo até a cozinha. O cheiro de café recém-passado tomou conta do ambiente, e Jenifer estava lá, com o cabelo bagunçado e uma camiseta longa, mexendo distraidamente em uma panela. — Bom dia, festeira! — ela brincou, virando-se para mim com um sorriso. — Bom dia — respondi, sentando-me em uma das cadeiras ao redor da mesa. — Parece que você acordou animada. Ela deu uma risadinha enquanto colocava uma xícara de café na minha frente. — Eu diria o mesmo de você, depois da noite que teve. Senti minhas bochechas ficarem quentes e peguei a xícara para disfarçar. Jenifer sentou-se à minha frente, claramente esperando que eu contasse tudo. — Tá, tá bom — comecei, suspirando. — Eu meio que beijei Louis de novo. Os olhos dela se arregalaram, mas não parecia surpresa, apenas curiosa. — De
Carolina Smith Depois de três horas intensas de aula de confeitaria, saí da escola com as mãos ainda cheirando a baunilha e açúcar. Peguei o metrô em direção ao bistrô onde trabalho, na esperança de que o ritmo acelerado do restaurante me ajudasse a desligar um pouco a mente. As últimas noites tinham sido um turbilhão de emoções e dúvidas, mas eu estava decidida a focar no que realmente importava: meu curso, meu trabalho e meu sonho de me tornar chef. Cheguei ao bistrô com tempo suficiente para um rápido almoço antes de começar o turno. Enquanto mordiscava um pedaço de quiche, me forcei a não pensar nele. Louis. A lembrança dos beijos na festa ainda queimava minha pele, mas as palavras de Jenifer ecoavam como um alerta. Ele era o tipo de homem que eu sempre prometi evitar, e estava disposta a manter minha promessa. Coloquei o avental, amarrei o cabelo e comecei meu turno. O restaurante estava movimentado como sempre, cheio de turistas, estudantes e locais. Entre pedidos apressados