Louis Beaumont
Meus passos ecoavam pelo piso de mármore enquanto eu avançava em direção ao elevador, cada batida dos sapatos refletia o peso que sentia no peito. Ao entrar, me deparei com Alexandre, que estava casualmente encostado em um canto, segurando uma pasta. Ele me olhou de soslaio, os lábios se curvando em um sorriso de provocação. — Que cara é essa? Parece até que caiu da cama essa noite — meu amigo riu, mas o som logo morreu quando cruzei seu olhar. Frio. A tensão entre nós tornou-se palpável. — Se eu fosse você, ficaria quieto até que eu saísse deste elevador — murmurei, a voz carregada de ameaça. Alexandre levantou as mãos em rendição, o sorriso se desvanecendo, como se finalmente tivesse entendido a gravidade do momento. Eu sentia a veia na minha testa latejar, como um tambor que ecoava na minha cabeça, aumentando o desconforto. Meu pai havia me ligado poucos minutos antes, com uma notícia que eu preferia nunca ter recebido. Na próxima semana, ele me anunciaria como o novo chefe dos Les Ombres, a organização mafiosa mais influente de toda a França, e o legado da nossa família. Algo que eu sabia que era inevitável, mas que ainda assim, me deixava inquieto. A máfia nunca foi um problema para mim. Pelo contrário, sempre gostei do poder e da influência que ela nos garantia. Mas me tornar o novo comandante de tudo... isso era outra coisa. Ser o CEO da nossa empresa de fachada aqui em Paris já me bastava. Era uma vida confortável. Eu tinha controle, status e todas as festas que quisesse frequentar. Estava nos jornais, nas revistas, sempre comentado. Inclusive, me divertia com as mensagens das mulheres nas redes sociais, fantasiando sobre o que fariam para ter uma única noite comigo. E muitas delas conseguiam. Mas para o meu pai, isso não era suficiente. Na cabeça dele, eu tinha que assumir responsabilidade, fundar uma família e comandar os negócios ilegais que sustentam nossa vida de luxo. Claro, eu entendo a lógica, e até vejo o valor nisso, mas esses não são os meus planos agora. Muito menos tão rápido. Quando finalmente alcancei o escritório do meu pai, empurrei a porta sem bater. Ele estava de costas para mim, observando a vista pela janela enquanto falava ao telefone, a voz baixa, mas autoritária. — …quero os melhores vinhos, entendeu? Sim, canapés também. Não, nada fora do script... Ótimo, ligue para minha esposa, ela ajustará os detalhes finais — ele pausou por um instante e virou-se para mim, o rosto rapidamente perdendo a suavidade e adotando um ar sério. — Agradeço. Au revoir. Ele desligou o telefone e, sem sequer levantar-se, dirigiu-se à cadeira atrás da grande mesa de mogno, como se o mundo inteiro estivesse sob controle. Eu caminhei em direção a ele, tentando manter a raiva contida, mas a cada passo, sentia a pressão aumentando. — Que bom que você chegou, Louis — disse ele, com um tom levemente sarcástico, o que me irritou ainda mais. — Estava falando com Henri sobre os aperitivos para a próxima semana. Alguma preferência? Sua voz carregava uma ironia que me fazia querer socar a parede. O controle que ele tinha sobre tudo, sobre mim, era insuportável. — Alguma preferência? — repeti, forçando um riso sarcástico. Caminhei até a janela e olhei para a cidade, como se ela pudesse me dar alguma resposta para fugir dessa situação. — Que tal um adiamento da festa? Isso, pai, esse é o meu pedido especial! O silêncio que se seguiu foi denso. Eu podia sentir sua paciência se esgotando. — Não me provoque, Louis — ele falou, a voz agora mais grave, quase um rosnado. — Já falamos sobre isso. Eu me virei para ele, minha paciência já esgotada. — Falamos? Quando foi que eu aceitei isso, hein? Porque, se não me falha a memória, em nenhum momento eu concordei com essa m*****a cerimônia! — retruquei, minha raiva finalmente escapando, queimando cada palavra. Ele se levantou de repente, sua postura agora ameaçadora, o ar de calma já desaparecido. — Não é uma questão de aceitar ou não. Isso vai acontecer, quer você queira, quer não! Na próxima semana, durante o evento com nossos aliados, você será nomeado o chefe dos Les Ombres. E ninguém vai questionar essa decisão, muito menos você! — As palavras dele vieram com a força de um martelo, esmagando qualquer tentativa de resistência. O evento... claro. Sempre há um evento de fachada, para os que não sabem o que se passa nos bastidores. Um encontro entre magnatas, empresários, todos fingindo que estão ali para fazer negócios limpos, enquanto, nos bastidores, acordos muito mais sombrios são feitos. Ele se aproximou de mim, os olhos fixos nos meus, e por um breve momento, me vi confrontado com a inevitabilidade do meu destino. Não importava o quanto eu tentasse adiar, meu futuro já estava traçado, e eu estava prestes a ser jogado no centro de tudo. — O evento será impecável — continuou ele, agora mais calmo, mas com a mesma intensidade. — Todos os nossos aliados estarão presentes. Governantes, empresários, figuras influentes, todos que dependem de nós. E, nesse momento, você assumirá o lugar que sempre foi seu. — Ele caminhou de volta à mesa, mexendo em alguns papéis como se já tivesse resolvido o assunto. — Ninguém precisa saber o que acontece nos bastidores. Para o público, será apenas um encontro de líderes empresariais, uma formalidade entre aqueles que governam o país nas sombras. Eu o observava, sem dizer uma palavra. Havia algo na maneira como ele falava, com tanta certeza, que me fazia sentir ainda mais preso. Ele controlava tudo, até mesmo o meu destino, e nada do que eu dissesse mudaria isso. — E se eu não quiser isso agora? — soltei, mesmo sabendo que era inútil. Ele parou de mexer nos papéis e olhou para mim, um sorriso amargo se formando em seus lábios. — Já está decidido, Louis. Não importa o que você quer. Esse é o preço de ser um Beaumont. Nós não escolhemos nosso destino, ele nos escolhe. E você, meu filho, foi escolhido para liderar. Não fugir. Não há escapatória. Eu sabia que ele estava certo. Parte de mim sempre soube disso. Desde criança, fui moldado para esse papel, para ser o líder da organização que minha família construiu. Sempre admirei o poder, a influência, mas assumir as rédeas da máfia significava sacrificar algo mais profundo: minha liberdade. — A cerimônia será formal — ele retomou, ignorando minha tentativa de resistência. — Teremos ministros, empresários e governantes. Ninguém além de nós sabe o verdadeiro motivo do encontro. É assim que deve ser. — Ele parou por um momento, me olhando com seriedade. — Esse é o momento em que você deixa de ser apenas um nome nas colunas sociais e se torna o homem que nasceu para ser. O homem que eu nasci para ser. Engraçado como ele sempre teve essa visão tão clara de mim, enquanto eu mesmo lutava para encontrar um equilíbrio entre a vida que queria e a vida que me foi imposta. Parte de mim ansiava por aquele poder, por assumir o controle, mas a outra parte, a que gostava das festas, das noites sem compromisso, resistia ferozmente à ideia de me tornar o herdeiro de tudo isso. — Não pense que essa transição será fácil, Louis. — Ele se levantou novamente, caminhando até mim com uma expressão agora mais séria, talvez até um pouco sombria. — Muitos estarão de olho em você. Nem todos acreditam que está pronto. Mas, se mostrar fraqueza, será devorado. Suas palavras não eram apenas um aviso, mas uma verdade que eu já conhecia. No mundo em que estávamos, fraqueza não era uma opção. Uma vez à frente, qualquer sinal de hesitação poderia custar caro. O poder era mantido pela força, pela confiança e, claro, pelo medo. Eu respirei fundo, sentindo o peso da responsabilidade crescendo sobre mim. Talvez não houvesse como fugir. Talvez eu estivesse destinado a ser o chefe dos Les Ombres, a comandar a maior rede de tráfico de armas, drogas e negócios ilegais com o governo da França. — A questão não é o que você quer — ele continuou, colocando a mão no meu ombro com uma firmeza que parecia inquebrável. — A questão é o que você deve fazer. E o que deve fazer, Louis, é aceitar seu lugar. A partir da próxima semana, você será o chefe. E eu estarei ao seu lado, pelo tempo que for necessário, mas é hora de você caminhar sozinho. Ele não estava apenas me empurrando para um papel que eu relutava em assumir. Ele estava me passando as rédeas do império. A partir daquele momento, todas as decisões recairiam sobre mim. Não haveria mais festas inconsequentes, nem a liberdade de um jovem herdeiro brincando de empresário. Seria tudo ou nada. — Entendido — respondi friamente. Não era uma aceitação completa, mas uma compreensão de que o caminho à minha frente já estava traçado, e eu teria que segui-lo. Quer gostasse ou não.Carolina SmithHoje faz exatamente uma semana desde que cheguei em Paris, e, apesar de todas as mudanças e dos imprevistos que caíram no meu colo, eu estava gostando do rumo que as coisas estavam tomando. A rotina ainda era novidade: manhãs de aulas intensas de gastronomia, tardes no trabalho para garantir minha permanência aqui e, à noite, a chance de caminhar pela cidade como se eu fosse parte dela.Hoje não era diferente, saí da faculdade e fui direto para o restaurante, pronta para mais uma tarde de correria. Assim que cheguei, notei que o ambiente estava mais agitado que o normal. Os chefs conversavam rápido, os garçons entravam e saíam da cozinha em um ritmo frenético, e senti que algo importante estava para acontecer.— Carolina! — chamou minha chefe, Camille, ao me ver.Ela era uma mulher elegante, com uma postura firme, mas um jeito direto e justo de tratar a equipe. Sorri ao me aproximar, mas percebi pela expressão dela que tinha algo a mais ali.— Hoje à noite teremos um gr
Louis Beaumont Não posso dizer que estou entusiasmado para essa festa. Pelo contrário. Esses eventos são uma perda de tempo, mas eles parecem sempre encontrar um motivo para uma celebração. Hoje, a desculpa é “a chegada de um novo líder”. Mal sabem eles que a única coisa que estou assumindo é uma fachada. Eu sei o que está por trás dessa festa e o que esperam de mim. Só que eu não vim aqui para agradar ninguém.Respiro fundo e entro no salão, escondendo o aborrecimento com um sorriso. Cumprimento rostos conhecidos e aperto mãos com o máximo de entusiasmo que consigo fingir. Para a maioria aqui, essa é uma noite de negócios e alianças, mas, para mim, é apenas um jogo de aparências.Enquanto caminho pelo salão, um rosto no meio da multidão me faz parar. Ela está em pé, segurando uma bandeja, e, pela primeira vez na noite, meu sorriso não é falso. Ela é... impressionante. Loira, com um coque elegante, maquiagem sutil e um vestido que parece feito para ela. A postura impecável, mas os ol
Carolina Smith Depois do discurso dele, eu me peguei pensando demais naquilo. O jeito como Louis me olhou... não era só um olhar de quem analisa uma pessoa no meio de uma multidão. Havia algo ali, uma intensidade que fez um friozinho percorrer minha espinha. Confesso que não esperava, e muito menos conseguia entender por que estava me sentindo tão... inquieta.Balancei a cabeça, tentando tirar aquilo da mente. Logo Camille apareceu ao meu lado, com um olhar sério.— Carolina, preciso que vá até a cozinha buscar algumas bandejas de petiscos. Temos várias mesas para servir — disse ela, me apressando.— Claro! Já estou indo.Segui até a cozinha, coloquei as bandejas nas mãos e respirei fundo antes de voltar para o salão. O evento estava em pleno vapor, as pessoas pareciam cada vez mais à vontade, conversando, rindo e enchendo os copos. Fui de mesa em mesa, oferecendo as entradas, e de vez em quando recebia um elogio pela aparência ou um sorriso simpático. Apesar de tudo, o trabalho era
Carolina Smith Sábado de manhã em Paris. Acordei com o sol já brilhando forte lá fora, iluminando o quarto de um jeito que só um dia quente prometia fazer. Depois do evento de ontem, com toda aquela correria e tensão, hoje eu só queria um tempo para mim, passear pela cidade e me sentir realmente aqui, de verdade, como se Paris fosse minha.Levantei-me e fui direto para o banho, sentindo a água morna relaxar meus músculos cansados. Lavei o cabelo com calma, aproveitando o momento de paz e tentando afastar as lembranças da noite passada, principalmente, de certo sorriso cafajeste que insistia em aparecer na minha mente. Saí do banho e me sequei devagar, escolhendo um vestido leve e fresco que combinava perfeitamente com o clima quente lá fora. Era uma peça confortável, solta, com um tom de azul suave que me deixava ainda mais animada para o dia.Coloquei alguns acessórios delicados e deixei o cabelo solto, ainda com aquele aroma refrescante de shampoo. Olhei no espelho e sorri, gostand
Carolina Smith Depois de uma manhã cheia de compras e passeios, caminhamos pelas ruas, aproveitando o charme de Paris e rindo das nossas próprias piadas. O calor estava leve, e o clima perfeito para um almoço em um dos muitos bistrôs da cidade. Jenifer me levou a um restaurante bem famoso, daqueles que tem sempre uma fila de espera e onde as pessoas fazem questão de ser vistas, mas com um toque despretensioso que a tornava ainda mais especial.Quando entramos, o lugar estava elegante e cheio de energia. Jenifer falou animadamente sobre o menu, enquanto eu olhava ao redor, maravilhada. O ambiente era moderno, mas com aquele charme parisiense clássico, e as mesas de fora eram perfeitas para o tipo de dia que estávamos tendo. Foi então que, ao passar pelo salão principal, eu reconheci uma silhueta familiar — Louis.Ele estava em uma mesa no canto, bem no centro do restaurante, com um homem ao seu lado, e um sorriso genuíno no rosto, parecia bem próximo do homem que estava com ele, e ele
Carolina SmithA animação estava estampada no rosto de Jenifer enquanto ela vasculhava o guarda-roupa, tentando escolher um vestido que combinasse com o tema do luau. Já eu, sentada na cama dela com uma toalha enrolada nos cabelos ainda molhados do banho, não conseguia evitar um sorriso. Era bom sentir isso de novo. Amizade, cumplicidade. Fazia tempo que eu não tinha uma amiga tão próxima, e Jenifer parecia determinada a compensar os anos de distância.— O que acha desse? — perguntou ela, segurando um vestido leve, branco, com detalhes em renda.— Perfeito para você — respondi. — É fresco e combina com o tema da festa.Jenifer sorriu satisfeita e o colocou sobre a cama antes de voltar para a busca, agora em uma pilha de acessórios. Enquanto ela se concentrava, eu me levantei para abrir a bolsa que havia trazido e tirei meu vestido. Era simples, mas bonito: em um tom de azul-claro, com alças finas e o comprimento ideal para uma festa descontraída. Ao prová-lo, percebi que havia feito a
Carolina Smith Depois de dançar por um bom tempo e terminar minha bebida, percebi que precisava ir ao banheiro. Avisei Jenifer, que acenou distraída, entretida demais conversando com alguém que havia acabado de conhecer.O caminho até o banheiro era um pouco afastado, e as luzes mais baixas da área davam um ar mais reservado ao ambiente. Estava quase alcançando a porta quando senti uma presença atrás de mim. Antes que eu pudesse me virar completamente, ouvi uma voz baixa e rouca que já reconhecia:— Fugindo da festa ou só precisando de um momento longe de toda aquela agitação?Eu me virei, e lá estava ele. Louis Beaumont, com aquele sorriso meio inclinado que fazia meu estômago dar voltas. Ele estava próximo, talvez mais perto do que o necessário, e seu olhar, como sempre, parecia me ler completamente.— Acho que não devo explicações para você, devo? — retruquei, tentando soar confiante, mas sentindo minha voz trair a leve ansiedade que a proximidade dele causava.Ele arqueou uma sob
Carolina Smith O sol já iluminava o apartamento de Jenifer quando acordei, a cabeça ainda um pouco pesada da noite anterior, mas nada que uma xícara de café não resolvesse. Espreguicei-me e me levantei, indo até a cozinha. O cheiro de café recém-passado tomou conta do ambiente, e Jenifer estava lá, com o cabelo bagunçado e uma camiseta longa, mexendo distraidamente em uma panela. — Bom dia, festeira! — ela brincou, virando-se para mim com um sorriso. — Bom dia — respondi, sentando-me em uma das cadeiras ao redor da mesa. — Parece que você acordou animada. Ela deu uma risadinha enquanto colocava uma xícara de café na minha frente. — Eu diria o mesmo de você, depois da noite que teve. Senti minhas bochechas ficarem quentes e peguei a xícara para disfarçar. Jenifer sentou-se à minha frente, claramente esperando que eu contasse tudo. — Tá, tá bom — comecei, suspirando. — Eu meio que beijei Louis de novo. Os olhos dela se arregalaram, mas não parecia surpresa, apenas curiosa. — De