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Capítulo 04 - Sem outra alternativa.

Louis Beaumont

Meus passos ecoavam pelo piso de mármore enquanto eu avançava em direção ao elevador, cada batida dos sapatos refletia o peso que sentia no peito. Ao entrar, me deparei com Alexandre, que estava casualmente encostado em um canto, segurando uma pasta. Ele me olhou de soslaio, os lábios se curvando em um sorriso de provocação.

— Que cara é essa? Parece até que caiu da cama essa noite — meu amigo riu, mas o som logo morreu quando cruzei seu olhar. Frio. A tensão entre nós tornou-se palpável.

— Se eu fosse você, ficaria quieto até que eu saísse deste elevador — murmurei, a voz carregada de ameaça. Alexandre levantou as mãos em rendição, o sorriso se desvanecendo, como se finalmente tivesse entendido a gravidade do momento.

Eu sentia a veia na minha testa latejar, como um tambor que ecoava na minha cabeça, aumentando o desconforto. Meu pai havia me ligado poucos minutos antes, com uma notícia que eu preferia nunca ter recebido. Na próxima semana, ele me anunciaria como o novo chefe dos Les Ombres, a organização mafiosa mais influente de toda a França, e o legado da nossa família. Algo que eu sabia que era inevitável, mas que ainda assim, me deixava inquieto.

A máfia nunca foi um problema para mim. Pelo contrário, sempre gostei do poder e da influência que ela nos garantia. Mas me tornar o novo comandante de tudo... isso era outra coisa. Ser o CEO da nossa empresa de fachada aqui em Paris já me bastava. Era uma vida confortável. Eu tinha controle, status e todas as festas que quisesse frequentar. Estava nos jornais, nas revistas, sempre comentado. Inclusive, me divertia com as mensagens das mulheres nas redes sociais, fantasiando sobre o que fariam para ter uma única noite comigo. E muitas delas conseguiam.

Mas para o meu pai, isso não era suficiente. Na cabeça dele, eu tinha que assumir responsabilidade, fundar uma família e comandar os negócios ilegais que sustentam nossa vida de luxo. Claro, eu entendo a lógica, e até vejo o valor nisso, mas esses não são os meus planos agora. Muito menos tão rápido.

Quando finalmente alcancei o escritório do meu pai, empurrei a porta sem bater. Ele estava de costas para mim, observando a vista pela janela enquanto falava ao telefone, a voz baixa, mas autoritária.

— …quero os melhores vinhos, entendeu? Sim, canapés também. Não, nada fora do script... Ótimo, ligue para minha esposa, ela ajustará os detalhes finais — ele pausou por um instante e virou-se para mim, o rosto rapidamente perdendo a suavidade e adotando um ar sério. — Agradeço. Au revoir.

Ele desligou o telefone e, sem sequer levantar-se, dirigiu-se à cadeira atrás da grande mesa de mogno, como se o mundo inteiro estivesse sob controle. Eu caminhei em direção a ele, tentando manter a raiva contida, mas a cada passo, sentia a pressão aumentando.

— Que bom que você chegou, Louis — disse ele, com um tom levemente sarcástico, o que me irritou ainda mais. — Estava falando com Henri sobre os aperitivos para a próxima semana. Alguma preferência?

Sua voz carregava uma ironia que me fazia querer socar a parede. O controle que ele tinha sobre tudo, sobre mim, era insuportável.

— Alguma preferência? — repeti, forçando um riso sarcástico. Caminhei até a janela e olhei para a cidade, como se ela pudesse me dar alguma resposta para fugir dessa situação. — Que tal um adiamento da festa? Isso, pai, esse é o meu pedido especial!

O silêncio que se seguiu foi denso. Eu podia sentir sua paciência se esgotando.

— Não me provoque, Louis — ele falou, a voz agora mais grave, quase um rosnado. — Já falamos sobre isso.

Eu me virei para ele, minha paciência já esgotada.

— Falamos? Quando foi que eu aceitei isso, hein? Porque, se não me falha a memória, em nenhum momento eu concordei com essa m*****a cerimônia! — retruquei, minha raiva finalmente escapando, queimando cada palavra.

Ele se levantou de repente, sua postura agora ameaçadora, o ar de calma já desaparecido.

— Não é uma questão de aceitar ou não. Isso vai acontecer, quer você queira, quer não! Na próxima semana, durante o evento com nossos aliados, você será nomeado o chefe dos Les Ombres. E ninguém vai questionar essa decisão, muito menos você! — As palavras dele vieram com a força de um martelo, esmagando qualquer tentativa de resistência.

O evento... claro. Sempre há um evento de fachada, para os que não sabem o que se passa nos bastidores. Um encontro entre magnatas, empresários, todos fingindo que estão ali para fazer negócios limpos, enquanto, nos bastidores, acordos muito mais sombrios são feitos.

Ele se aproximou de mim, os olhos fixos nos meus, e por um breve momento, me vi confrontado com a inevitabilidade do meu destino. Não importava o quanto eu tentasse adiar, meu futuro já estava traçado, e eu estava prestes a ser jogado no centro de tudo.

— O evento será impecável — continuou ele, agora mais calmo, mas com a mesma intensidade. — Todos os nossos aliados estarão presentes. Governantes, empresários, figuras influentes, todos que dependem de nós. E, nesse momento, você assumirá o lugar que sempre foi seu. — Ele caminhou de volta à mesa, mexendo em alguns papéis como se já tivesse resolvido o assunto. — Ninguém precisa saber o que acontece nos bastidores. Para o público, será apenas um encontro de líderes empresariais, uma formalidade entre aqueles que governam o país nas sombras.

Eu o observava, sem dizer uma palavra. Havia algo na maneira como ele falava, com tanta certeza, que me fazia sentir ainda mais preso. Ele controlava tudo, até mesmo o meu destino, e nada do que eu dissesse mudaria isso.

— E se eu não quiser isso agora? — soltei, mesmo sabendo que era inútil.

Ele parou de mexer nos papéis e olhou para mim, um sorriso amargo se formando em seus lábios.

— Já está decidido, Louis. Não importa o que você quer. Esse é o preço de ser um Beaumont. Nós não escolhemos nosso destino, ele nos escolhe. E você, meu filho, foi escolhido para liderar. Não fugir. Não há escapatória.

Eu sabia que ele estava certo. Parte de mim sempre soube disso. Desde criança, fui moldado para esse papel, para ser o líder da organização que minha família construiu. Sempre admirei o poder, a influência, mas assumir as rédeas da máfia significava sacrificar algo mais profundo: minha liberdade.

— A cerimônia será formal — ele retomou, ignorando minha tentativa de resistência. — Teremos ministros, empresários e governantes. Ninguém além de nós sabe o verdadeiro motivo do encontro. É assim que deve ser. — Ele parou por um momento, me olhando com seriedade. — Esse é o momento em que você deixa de ser apenas um nome nas colunas sociais e se torna o homem que nasceu para ser.

O homem que eu nasci para ser. Engraçado como ele sempre teve essa visão tão clara de mim, enquanto eu mesmo lutava para encontrar um equilíbrio entre a vida que queria e a vida que me foi imposta. Parte de mim ansiava por aquele poder, por assumir o controle, mas a outra parte, a que gostava das festas, das noites sem compromisso, resistia ferozmente à ideia de me tornar o herdeiro de tudo isso.

— Não pense que essa transição será fácil, Louis. — Ele se levantou novamente, caminhando até mim com uma expressão agora mais séria, talvez até um pouco sombria. — Muitos estarão de olho em você. Nem todos acreditam que está pronto. Mas, se mostrar fraqueza, será devorado.

Suas palavras não eram apenas um aviso, mas uma verdade que eu já conhecia. No mundo em que estávamos, fraqueza não era uma opção. Uma vez à frente, qualquer sinal de hesitação poderia custar caro. O poder era mantido pela força, pela confiança e, claro, pelo medo.

Eu respirei fundo, sentindo o peso da responsabilidade crescendo sobre mim. Talvez não houvesse como fugir. Talvez eu estivesse destinado a ser o chefe dos Les Ombres, a comandar a maior rede de tráfico de armas, drogas e negócios ilegais com o governo da França.

— A questão não é o que você quer — ele continuou, colocando a mão no meu ombro com uma firmeza que parecia inquebrável. — A questão é o que você deve fazer. E o que deve fazer, Louis, é aceitar seu lugar. A partir da próxima semana, você será o chefe. E eu estarei ao seu lado, pelo tempo que for necessário, mas é hora de você caminhar sozinho.

Ele não estava apenas me empurrando para um papel que eu relutava em assumir. Ele estava me passando as rédeas do império. A partir daquele momento, todas as decisões recairiam sobre mim. Não haveria mais festas inconsequentes, nem a liberdade de um jovem herdeiro brincando de empresário. Seria tudo ou nada.

— Entendido — respondi friamente. Não era uma aceitação completa, mas uma compreensão de que o caminho à minha frente já estava traçado, e eu teria que segui-lo. Quer gostasse ou não.

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