Naquele dia, Arthur me achou estranha. Eu estava quieta, distante. — Está assim porque o casamento está próximo, é perfeitamente normal, Nora!— ele disse preocupado. Eu suspirei entristecida o dia inteiro. Arthur perdeu a paciência. — Eu não me importava que desistisse de se casar comigo, se ele ao menos te amasse, Nora! Voltamos para casa mais cedo e tivemos uma despedida fria na porta da minha casa. Eu não queria magoá-lo, mas também não gostava de me sentir daquele jeito. Confusa, perdida. Uma tinha um vazio no peito que me consumia. Fiquei no meu quarto até ouvir o barulho de carros parando na minha porta e corri para a sacada. Ele desceu do carro. Eu vi o meu amor olhando para cima. Ele entregava o Júnior para Ana. Eu desci as escadas correndo, o coração acelerado gritando desesperado para se jogar naqueles braços e dizer que nada mais importava, que eu o amava e que eu só queria o seu amor, eu não podia mais viver sem o seu cheiro.
Eu olhei para trás assustada. Eu tinha certeza de que eram os carros do Victor. O senhor Joaquim estava tranquilo e achava que era impressão do motorista. As moças ficaram desesperadas e começaram a pedir para o motorista correr. Eu cheguei a pensar que o homem havia sido comprado pelo Victor. Ele falou umas coisas estranhas. — A senhora não sabe de alguém que seja contra o seu casamento, senhora? Eu sei quando alguém está me seguindo! — Victor!— minha boca me traiu. — Victor Sorano? Mas ele não a abandonou nesse fim de mundo?— foi uma das moças quem falou. A outra se desculpou pela colega. — Desculpe senhora! Nós não somos daqui, mas ontem quando chegamos, fomos num bar e esse era o assunto! Disseram até que esse filho é do outro! Senhor Joaquim olhou para trás tranquilamente e depois voltou à posição anterior dizendo: — Não é nada! Eu fechei o semblante e ordenei ao motorista: — Ignore esses carros, senhor, eu tenho convidados de posse que moram na capital! Na verdade,
Parece que foi ontem. Eu me lembro da minha mãe chegar com os olhos aflitos para me dar a notícia. Ela me prometeu em casamento para o rei da soja. Parece brincadeira, mas eu deixei de sentir os meus pés no chão e quase desmaiei. O meu mundinho, no interior da minha pequena cidade do estado do Mato Grosso, se quebrou em mil pedaços. Parecia que eu não ouvia mais a voz da minha mãe. Os olhos encheram-se de lágrimas e o desespero tomou conta de mim. As histórias que eu ouvia a respeito de Victor Sorano eram as piores. Um homem frio e implacável. Todos os fazendeiros o temiam. Eu nunca dei importância àquelas narrativas, mas por mais que parecesse alheia a elas, eu as via voltar na minha mente, afinal, ele era agora o homem com quem eu deveria casar. Minha mãe continuava explicando: — Não se preocupe, ele não é feio e nem velho. Tem apenas trinta e seis anos! Eu ergui os olhos nesse momento. Trinta e seis anos! Meu Deus, ele era muito velho para mim! Eu só
Minha mãe escorraçou Arthur aos gritos. — Você não passa do filho do dono do mercado. Minha filha não vai perder jamais essa oportunidade! Eu não vou deixar! Fora daqui agora! Eu meneava a cabeça desesperada, tentando evitar o delírio da minha mãe. Ela parecia enlouquecida de ódio. Alguns funcionários correram para saber o que acontecia. — Coloquem esse rapaz para fora daqui! Ele está ameaçando o emprego de vocês! O motorista, a cozinheira e a arrumadeira não entenderam bem o que a minha mãe quis dizer, mas seguraram o braço de Arthur e pediram para que se retirasse por bem. — Isso não pode ficar assim! — Arthur gritou antes de sair. Quando minha mãe se achegou para os funcionários e descaradamente começou a explicar a situação, eu subi para o meu quarto envergonhada. — Nora está prometida a Victor Sorano, entenderam? Precisamos evitar que esse rapaz estrague tudo! Eu bati a porta do meu quarto para não ouvir mais a voz da minha mãe. Deitei
Chegou finalmente o dia do meu casamento. Eu não estava feliz como uma noiva deveria estar, mas como me vi em situação pior quando fui comunicada que estava prometida ao homem de pedra, estava no lucro. Eu só pensava que Arthur era meu amigo e iria me ajudar a se livrar da sorte em que minha mãe me colocou. Tudo de ruim que eu havia ouvido falar de Victor Sorano era suficiente para alimentar o meu trauma de moça simples do interior que até aquela idade não pensava em casar e havia dado apenas alguns beijinhos de leve em alguns rapazes da cidade. Desses que encontramos na praça nos fins de semana com as amigas. Arthur foi o primeiro a me beijar. Eu só tinha quinze anos, assim como ele. Ainda custava a acreditar que o pai dele fazia gosto no nosso casamento. Nós nem namoramos. Chegamos com a notícia bombástica de que precisávamos nos casar para reparar um erro. Eu era tão boba e ingênua que acreditei. Eu tinha fama de moça rica e estudada que não cairia nas graças de p
Não demorou muito e a minha casa foi praticamente invadida por curiosos. Minha mãe entrou afastando as pessoas. Ela as reprovava impaciente: — Saiam da minha casa, bando de abutres! Eu estava confusa. Não conseguia acreditar no que as pessoas diziam. — Não é verdade, é mãe?— foi a primeira vez em que eu segurei o meu ventre lembrando-me de que carregava um filho ali. — Filha, não acredite nessas pessoas! Não houve sequestro algum! Eu não sabia como minha mãe tinha tanta certeza do que dizia, mas aceitei o seu abraço que era tudo o que precisava naquele momento. Depois de um tempo, Ana e Maria chegaram da cozinha com um copo de água e minha mãe se afastou falando como quem escolhe as palavras: — Eu não queria te deixar triste, filha, mas eu creio que o seu noivo desistiu de se casar. Ele é jovem e deve ter ficado assustado com tanta responsabilidade, ainda mais você estando grávida! Eu olhei para a minha mãe sem acreditar em tamanha crue
Eu acordei como se tivesse levado uma surra. O corpo todo doía. Maria veio me trazer um chá calmante e me ajudou a sair da cama. — Venha menina! Precisa ser forte. Vamos comer alguma coisa e irá enfrentar o mundo de cabeça erguida. Eu olhei curiosa para ela. Claro que Maria e Ana sabiam de tudo o que acontecia. Minha mãe as tinha como fiéis escudeiras. Ana entrou para arrumar o meu quarto e não me olhou nos olhos. Então eu comecei a falar sem parar: — O que vocês sabem que eu ainda não sei? O que pode ser pior do que ser deixada no altar? Descobrir que o noivo passou mal e está num hospital? Andem, conte tudo logo de uma vez! Foi armação da minha mãe, não foi? Maria suspirou me encarando com os braços cruzados, enquanto Ana se aproximava. — Não tenha pressa, menina! Logo vai saber o tamanho da lambança que a sua mãe e o tal homem de coração gelado foram capazes de fazer. Eu suspirei resignada e caminhei para fazer minha higiene pessoal. Quando vo
Eu entrei em casa bufando e encontrei a minha mãe com ar de satisfeita. — Quem são esses seguranças na porta? São homens dele, não é?— eu fui logo falando. — Sim, são homens do seu noivo!— minha mãe respondeu tranquilamente enquanto examinava as unhas da mão. — Estou presa em minha própria casa, é isso?— questionei irritada. — Eles sempre estiveram aí, querida. Você é que nunca percebeu! Eu ainda fiquei confusa na minha ingenuidade. Claro que esses homens nunca estiveram ali. Victor ligou para minha mãe e lhe deu ordens para me guardar. Eu subi as escadas batendo os pés com força no assoalho. Ana veio correndo atrás de mim. Ela fechou a porta atrás de si e foi falando: — Foi isso mesmo, Nora! O homem ligou aqui e avisou que estava mandando esses seguranças para evitar que você fugisse. Sua mãe mandou mensagem para o Antônio atrasar um pouco a viagem para que vocês fossem ultrapassados. Eu consegui me lembrar que Antônio parou numa loja de conven