Capítulo 5°

Eu acordei como se tivesse levado uma surra. O corpo todo doía. Maria veio me trazer um chá calmante e me ajudou a sair da cama.

— Venha menina! Precisa ser forte. Vamos comer alguma coisa e irá enfrentar o mundo de cabeça erguida.

Eu olhei curiosa para ela. Claro que Maria e Ana sabiam de tudo o que acontecia. Minha mãe as tinha como fiéis escudeiras.

Ana entrou para arrumar o meu quarto e não me olhou nos olhos. Então eu comecei a falar sem parar:

— O que vocês sabem que eu ainda não sei? O que pode ser pior do que ser deixada no altar? Descobrir que o noivo passou mal e está num hospital? Andem, conte tudo logo de uma vez! Foi armação da minha mãe, não foi?

Maria suspirou me encarando com os braços cruzados, enquanto Ana se aproximava.

— Não tenha pressa, menina! Logo vai saber o tamanho da lambança que a sua mãe e o tal homem de coração gelado foram capazes de fazer.

Eu suspirei resignada e caminhei para fazer minha higiene pessoal. Quando voltei do banheiro, Ana e Maria estavam olhando apreensivas lá para baixo. Eu fui até a sacada para ver o que estava acontecendo e vi Arthur insistindo para entrar.

Instintivamente eu saí correndo do quarto e desci as escadas fazendo muito barulho com os meus chinelos.

A minha mãe me olhou com satisfação e não tentou me impedir de sair correndo pelo jardim para encontrar o meu amigo, o meu noivo desaparecido.

— Arthur! Meu Deus! Estava preocupada com você! O que aconteceu?

Eu abracei o Arthur com tanto desespero que ele quase desistiu de fazer o que havia planejado.

Mas aconteceu. Ele me empurrou bruscamente e começou a me falar coisas que eu jamais pensei ouvir da sua boca.

— Me solte sua adúltera! Não quero ouvir mais falar de você! Eu te odeio! Você é pequena, mesquinha!

— Eu não entendo!— apenas disse sentindo uma pontada no meu ventre.

Arthur me olhou com tanto desprezo que eu senti o chão se abrir e desmaiei.

Quando eu acordei, minha mãe estava sentada à beira do leito de hospital.

— Querida! Que bom que acordou! — ela disse aflita.

— Perdi o bebê?— eu quis saber.

— O médico vem falar com você, filha!

Um homem de jaleco branco entrou no quarto, com expressão de preocupação, o que me deixou desesperada.

— Eu sinto muito, senhorita! — ele disse.

Eu chorei por um longo tempo. A única força que eu tinha era aquela criatura dentro de mim, sem me cobrar nada. Eu queria aquele filho mesmo que para isso tivesse que me casar com aquele ser desprezível.

Eu havia perdido o meu amigo. Eu não tinha mais nada a que me apegar. Não reconhecia mais a minha mãe. Ela só se preocupava em manter o padrão de vida que sempre teve. Eu entendi tudo. Arthur ouviu da boca de Victor coisas horríveis que eu jamais faria. Maria e Ana me contaram os detalhes. Um plano arquitetado pela minha mãe.

Eu estava perdida. A cidade inteira me julgava por eu me deitar com o homem de pedra e ter traído o meu noivo. Havia quem dissesse que eu teria ficado grávida do ditador.

Eu vivi trancada no meu quarto por alguns dias. Não aguentava mais sair na rua e ouvir piadas. Até as minhas amigas me julgavam.

As vezes eu mesma acreditava naquela história absurda.

— Eu nunca me deitei com Victor Sorano! Eu não mereço o que falam por aí!

Minha mãe simplesmente não se importava com a minha dor e se limitava a falar:

— Se você visitasse Victor Sorano para tratar de negócios, ninguém deste lugar teria o direito de te julgar!

Indignada eu respondi:

— Está bem! Está querendo prostituir a sua filha para não viver a ruína que o seu marido nos deixou!

— Não posso obrigá-la a nada! Podemos morar num quarto de pensão, se trabalharmos, quem sabe num balcão de uma loja ou farmácia!

Meu estômago revirou. Era muita humilhação. Aquela cidade me julgando como adúltera e eu os servindo num balcão. Nunca!!

Eu chorei, me descabelei, mas aceitei o convite do infeliz. Eu me arrumei como uma garota de programa. Eu coloquei um batom bem vermelho. Vesti um vestido preto, curto e decotado. Coloquei um salto e desci as escadas rebolando, mascando um chiclete.

— O que é isso?!— minha mãe exclamou horrorizada.

Ah, eu também usava uma bolsa vermelha enrolada nas mãos. Acho que vi isso em algum filme.

— Ele quer uma esposa, não uma prostituta!— minha mãe gritou.

Eu respondi prontamente:

— É o máximo que posso oferecer a um ser tão maquiavélico, o qual não é capaz de conquistar uma moça da sociedade para casar.

Antônio entrou pela porta e se assustou. Eu lhe ordenei, enquanto seguia para a saída:

— Vamos logo, Antônio! Me leve na presença desse velho horroroso! Estou pronta para o abate!

Logo, eu estava a caminho da capital para seguir o meu destino. Pensava que seria apenas um encontro. O pagamento de parte de uma dívida.

— Tem certeza, senhorita?— Antônio falou com voz chorosa.

Eu assenti apenas e ele continuou:

— Eu a vi menina, bem pequena! Não faça o jogo dele!

Eu não respondi. Segurei o choro para não borrar a maquiagem e fiquei em silêncio durante todo o trajeto

— “Dane-se! Nunca amei Arthur!”— eu pensava, para não me recriminar.

Eu sabia que sexo era horrível, doloroso, nojento, então vesti o personagem e fui.

O carro entrou numa mansão incrível. Fiquei boquiaberta com tanto luxo. O jardim bem cuidado, não tinha mais fim. A piscina era gigante, maravilhosa, daquelas que eu via nas revistas.

Eu desci do carro e procurei lembrar de rebolar o mais vulgar que eu pudesse. Queria que o homem de pedra sentisse nojo de mim, assim como eu sentia dele.

Antônio ficou no carro e eu fui conduzida para dentro da casa por um segurança. O homem me tratava como uma rainha, embora eu estivesse tentando parecer exatamente o contrário.

Eu fui levada para dentro de uma sala, que seria na verdade o escritório, onde o todo poderoso tratava de negócios.

Ele estava lá de costas, atrás da mesa. Eu comecei a desmontar. Senti um medo terrível. Aquele velho asqueroso iria querer me usar ali mesmo. As pernas me traiam e tremiam insistentemente. Eu me deixei cair na poltrona sem tirar os olhos do infeliz.

Ele virou-se de frente e eu não acreditei no que os meus olhos viram. Ele era simplesmente lindo. Um príncipe.

A minha boca não fechava. Os olhos bem verdes e misteriosos me olhavam curiosos. A boca deliciosamente entreaberta. Ai meu Deus, lembrei das conversas com as amigas na praça, no centro da minha pequena cidade. Por que aquela estátua de pedra não fez juz aquele homem tão perfeito.

Além de tudo, era elegante. Usava um terno azul marinho impecável. A gravata de seda, afrouxando ao toque das mãos sutis. O queixo bem definido. Um Deus grego. Eu senti vergonha dos meus trajes, mas como queria mesmo ser insultada, sustentei o personagem.

Ele se aproximou de mim e pôs-se a me examinar dos pés à cabeça. Eu senti os olhos dele pousando no meu decote de onde surgia parte dos meus seios.

— Quer ser usada, senhorita?— ele indagou, provocando arrepios.

Eu não respondi e então senti o meu vestido sendo arrancado com violência.

Eu fiquei nua em questão de segundos. Tive vontade de cobrir os seios com as mãos, mas sabia que ele esperava por isso.

— Quer transar comigo para se vingar do seu noivo idiota que acreditou em tudo o que eu lhe falei?— ele falou isso se colocando no meio das minhas pernas.

Eu fechei os olhos e assenti com a cabeça, sentindo muita vergonha e medo. Vontade de sair correndo não me faltou.

Eu suspirei quando ele ajeitou os joelhos para separar mais as minhas coxas. Ele estava de pé na minha frente. Aquele homem bem vestido, lindo e eu desejando que me fizesse mulher de uma vez por todas.

Mas ele me surpreendeu:

— Vista-se! Não faz o meu tipo!

Eu arregalei os olhos e me inclinei para apanhar o meu vestido no momento em que ele saiu da minha frente.

Victor parou segurando a porta para que eu me retirasse e disse me olhando, enquanto eu me vestia desesperadamente:

— Eu preciso de uma esposa, não uma de uma garota de programa. Quando preciso, pago a melhor!

Eu passei por ele ouvindo absurdos.

— Não preciso de uma piralha inexperiente na minha cama.

Eu quase parei na porta para encará-lo, mas o desejo de sair correndo dali era prioridade para mim naquele momento.

Enquanto meus cabelos voavam ao vento, ouvia as últimas barbaridades que saiam da boca do homem de pedra:

— Tratarei com a sua mãe a respeito do nosso casamento!

Eu entrei no carro onde Antônio já me esperava e desabei no choro. O que seria da minha vida agora? Era julgada pelas pessoas da minha cidade, tinha uma mãe fria e calculista. A dor de perder o meu pai depois de tantos anos voltou mais forte.

Eu já fazia planos de sumir daquela cidade, de sair pelo mundo sem rumo. Eu pensava em fazer uma pequena mala e seguir meu destino, mas o que eu não sabia era que Victor Sorano não aceitaria a minha recusa tão fácil e que minha vida ainda se tornaria um inferno.

Logo que chegamos na frente da minha casa, percebi que a mesma estava fortemente guardada por muitos seguranças do homem de pedra.

Eu não tinha ideia do quanto tinha deixado Victor irritado com a minha visita inusitada. Ele lembrava do meu corpo despido e sentia mais ódio por mim.

— Pirralha insolente! Vai implorar o meu toque no seu corpo! Vai se arrepender por não ter-se guardado para mim!

Victor empurrava tudo que havia na sua mesa com a força das mãos nervosas.

— Droga! Eu não ia te usar! Droga! Eu ia te respeitar! A infeliz tinha que ser gostosa desse jeito! Eu vou me controlar! Eu vou! Não vou tocá-la! Ela vai implorar para se deitar comigo! E se ela se apaixonar por mim, vou fazê-la derramar lágrimas de sangue! Eu juro.

Eu estava cheia de ódio, mas não tirava da cabeça aqueles olhos verdes, aquele jeito sedutor. Victor havia me despido sem que eu pudesse esboçar qualquer reação! Que homem era aquele! Meu Deus! Estava perdida! Ele tinha o poder, a sedução e o ódio. Eu seria presa fácil!

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