No dia seguinte, eu cheguei na fazenda pisando fundo. Arthur subiu as escadas atrás de mim. — O que aconteceu, Nora? Por que não me conta? — Já vai saber!— Eu disse olhando rapidamente para trás. O administrador estava no alto esperando preocupado. — Nossa, menina! Que bicho que te mordeu? Por que está nesse alvoroço todo! Eu passei direto para o escritório e os homens me seguiram. Eu sentei atrás da mesa os encarando, afogada. — Onde está o engenheiro agrônomo? Onde está o Thomas? Joaquim cruzou os braços e respondeu gesticulando suavemente com as mãos: — Ele passou aqui cedo para se despedir. Disse que o seu marido dispensou ele. Eu ia interromper para dizer que Victor não era meu marido, mas deixei ele falar, porque isso não fazia diferença alguma diante do assunto. — Mas ele não estava triste não! Até me pareceu alegre, só disse que lamentava não ter conhecido melhor a patroa! — Ousado!— Arthur exclamou. Eu fiz um g
Depois de uma semana, Victor voltou de viagem e a notícia da minha suposta gravidez, caiu como uma bomba. — O quê? Grávida! Ela está escondendo de mim que está grávida? Diana viu todos os objetos da escrivaninha espalhados pelo chão e segurou o peito, nervosa. — Calma, filho! Não pode falar com ela assim! Ela está magra e abatida! — O que quer que eu faça mãe? Quer que eu deixe ela ter esse filho longe de mim? Eu não devia ter ouvido os seus conselhos! Agora ela vai ter outro filho e se eu for mais trouxa, ela vai se casar com o salvador da pátria, para não ter que voltar comigo! — Do que está falando menino?— Diana se queixou impaciente. — Daquele ex noivo dela, mãe! Ele vive rondando a casa, eu vi! Diana ficou sem jeito, vendo que o filho não sabia de tudo. Victor ficou desconfiado. — O que foi? Tem mais alguma coisa para me contar? Diana fechou os olhos e soltou: — Ele está lhe apoiando e vai a fazenda todos os dias com ela! —
Eu pulei no pescoço do meu amigo sorrindo enquanto as lágrimas de felicidade escorriam. — Obrigada Arthur! Você é incrível! De repente eu me lembrei de um detalhe. — E a sua namorada? Ela me odeia! Arthur deu uma risada sonora e respondeu: — Ela também me odeia, Nora! Desde que você voltou não foi como antes! Além do mais, ela disse que não iria morar na fazenda comigo de jeito nenhum! Eu fiquei surpresa. — Qualquer moça desta cidade iria querer casar com um fazendeiro jovem e bonito como você! Arthur encheu o peito orgulhoso e brincou: — Verdade, até já estou recebendo algumas cantadas! Eu lhe dei alguns safanões no ombro, falando brincalhona: — É mesmo? Pois diga para essas oferecidas que você já tem dona, ouviu? Arthur me abraçou sorrindo. — Vamos casar logo então? Eu murchei e os meus braços deslizaram. — Casar logo? Por que a pressa? — Vamos ter um filho, não vamos? Eu ri sem jeito. — Esse
Naquela semana, minha mãe se casou no civil com Joaquim e não teve festa, a pedido dele. Ela fazia tudo para lhe agradar. Depois do almoço em família, voltamos para casa. Eu estava exausta, com os pés inchados. Arthur foi comigo e lá anunciou que nos casaríamos em breve. — Victor sabe disso?— minha mãe ficou incrédula. — Não é da conta dele, mulher!— Senhor Joaquim sempre me defendia, parecia meu pai. Arthur me deixou em casa e ainda fez massagem nos meus pés, antes de ir embora. Depois de um tempo, Júnior já dormia no seu quarto, Maria passava um café, quando Ana entrou correndo, dizendo que dois carros pretos pararam na frente da minha casa. Eu saí correndo, imaginei que fosse o Victor. Quem mais chegaria na cidade com escolta? — Alberto! Ele caminhou na minha direção com a sua elegância e tomou a minha mão para beijar. — Então é aqui que a princesa se esconde?— ele disse brincalhão. Ana mediu o visitante de cima a baixo. Maria
Naquele dia, Arthur me achou estranha. Eu estava quieta, distante. — Está assim porque o casamento está próximo, é perfeitamente normal, Nora!— ele disse preocupado. Eu suspirei entristecida o dia inteiro. Arthur perdeu a paciência. — Eu não me importava que desistisse de se casar comigo, se ele ao menos te amasse, Nora! Voltamos para casa mais cedo e tivemos uma despedida fria na porta da minha casa. Eu não queria magoá-lo, mas também não gostava de me sentir daquele jeito. Confusa, perdida. Uma tinha um vazio no peito que me consumia. Fiquei no meu quarto até ouvir o barulho de carros parando na minha porta e corri para a sacada. Ele desceu do carro. Eu vi o meu amor olhando para cima. Ele entregava o Júnior para Ana. Eu desci as escadas correndo, o coração acelerado gritando desesperado para se jogar naqueles braços e dizer que nada mais importava, que eu o amava e que eu só queria o seu amor, eu não podia mais viver sem o seu cheiro.
Eu olhei para trás assustada. Eu tinha certeza de que eram os carros do Victor. O senhor Joaquim estava tranquilo e achava que era impressão do motorista. As moças ficaram desesperadas e começaram a pedir para o motorista correr. Eu cheguei a pensar que o homem havia sido comprado pelo Victor. Ele falou umas coisas estranhas. — A senhora não sabe de alguém que seja contra o seu casamento, senhora? Eu sei quando alguém está me seguindo! — Victor!— minha boca me traiu. — Victor Sorano? Mas ele não a abandonou nesse fim de mundo?— foi uma das moças quem falou. A outra se desculpou pela colega. — Desculpe senhora! Nós não somos daqui, mas ontem quando chegamos, fomos num bar e esse era o assunto! Disseram até que esse filho é do outro! Senhor Joaquim olhou para trás tranquilamente e depois voltou à posição anterior dizendo: — Não é nada! Eu fechei o semblante e ordenei ao motorista: — Ignore esses carros, senhor, eu tenho convidados de posse que moram na capital! Na verdade,
Parece que foi ontem. Eu me lembro da minha mãe chegar com os olhos aflitos para me dar a notícia. Ela me prometeu em casamento para o rei da soja. Parece brincadeira, mas eu deixei de sentir os meus pés no chão e quase desmaiei. O meu mundinho, no interior da minha pequena cidade do estado do Mato Grosso, se quebrou em mil pedaços. Parecia que eu não ouvia mais a voz da minha mãe. Os olhos encheram-se de lágrimas e o desespero tomou conta de mim. As histórias que eu ouvia a respeito de Victor Sorano eram as piores. Um homem frio e implacável. Todos os fazendeiros o temiam. Eu nunca dei importância àquelas narrativas, mas por mais que parecesse alheia a elas, eu as via voltar na minha mente, afinal, ele era agora o homem com quem eu deveria casar. Minha mãe continuava explicando: — Não se preocupe, ele não é feio e nem velho. Tem apenas trinta e seis anos! Eu ergui os olhos nesse momento. Trinta e seis anos! Meu Deus, ele era muito velho para mim! Eu só
Minha mãe escorraçou Arthur aos gritos. — Você não passa do filho do dono do mercado. Minha filha não vai perder jamais essa oportunidade! Eu não vou deixar! Fora daqui agora! Eu meneava a cabeça desesperada, tentando evitar o delírio da minha mãe. Ela parecia enlouquecida de ódio. Alguns funcionários correram para saber o que acontecia. — Coloquem esse rapaz para fora daqui! Ele está ameaçando o emprego de vocês! O motorista, a cozinheira e a arrumadeira não entenderam bem o que a minha mãe quis dizer, mas seguraram o braço de Arthur e pediram para que se retirasse por bem. — Isso não pode ficar assim! — Arthur gritou antes de sair. Quando minha mãe se achegou para os funcionários e descaradamente começou a explicar a situação, eu subi para o meu quarto envergonhada. — Nora está prometida a Victor Sorano, entenderam? Precisamos evitar que esse rapaz estrague tudo! Eu bati a porta do meu quarto para não ouvir mais a voz da minha mãe. Deitei