Eu pulei no pescoço do meu amigo sorrindo enquanto as lágrimas de felicidade escorriam. — Obrigada Arthur! Você é incrível! De repente eu me lembrei de um detalhe. — E a sua namorada? Ela me odeia! Arthur deu uma risada sonora e respondeu: — Ela também me odeia, Nora! Desde que você voltou não foi como antes! Além do mais, ela disse que não iria morar na fazenda comigo de jeito nenhum! Eu fiquei surpresa. — Qualquer moça desta cidade iria querer casar com um fazendeiro jovem e bonito como você! Arthur encheu o peito orgulhoso e brincou: — Verdade, até já estou recebendo algumas cantadas! Eu lhe dei alguns safanões no ombro, falando brincalhona: — É mesmo? Pois diga para essas oferecidas que você já tem dona, ouviu? Arthur me abraçou sorrindo. — Vamos casar logo então? Eu murchei e os meus braços deslizaram. — Casar logo? Por que a pressa? — Vamos ter um filho, não vamos? Eu ri sem jeito. — Esse
Naquela semana, minha mãe se casou no civil com Joaquim e não teve festa, a pedido dele. Ela fazia tudo para lhe agradar. Depois do almoço em família, voltamos para casa. Eu estava exausta, com os pés inchados. Arthur foi comigo e lá anunciou que nos casaríamos em breve. — Victor sabe disso?— minha mãe ficou incrédula. — Não é da conta dele, mulher!— Senhor Joaquim sempre me defendia, parecia meu pai. Arthur me deixou em casa e ainda fez massagem nos meus pés, antes de ir embora. Depois de um tempo, Júnior já dormia no seu quarto, Maria passava um café, quando Ana entrou correndo, dizendo que dois carros pretos pararam na frente da minha casa. Eu saí correndo, imaginei que fosse o Victor. Quem mais chegaria na cidade com escolta? — Alberto! Ele caminhou na minha direção com a sua elegância e tomou a minha mão para beijar. — Então é aqui que a princesa se esconde?— ele disse brincalhão. Ana mediu o visitante de cima a baixo. Maria
Naquele dia, Arthur me achou estranha. Eu estava quieta, distante. — Está assim porque o casamento está próximo, é perfeitamente normal, Nora!— ele disse preocupado. Eu suspirei entristecida o dia inteiro. Arthur perdeu a paciência. — Eu não me importava que desistisse de se casar comigo, se ele ao menos te amasse, Nora! Voltamos para casa mais cedo e tivemos uma despedida fria na porta da minha casa. Eu não queria magoá-lo, mas também não gostava de me sentir daquele jeito. Confusa, perdida. Uma tinha um vazio no peito que me consumia. Fiquei no meu quarto até ouvir o barulho de carros parando na minha porta e corri para a sacada. Ele desceu do carro. Eu vi o meu amor olhando para cima. Ele entregava o Júnior para Ana. Eu desci as escadas correndo, o coração acelerado gritando desesperado para se jogar naqueles braços e dizer que nada mais importava, que eu o amava e que eu só queria o seu amor, eu não podia mais viver sem o seu cheiro.
Eu olhei para trás assustada. Eu tinha certeza de que eram os carros do Victor. O senhor Joaquim estava tranquilo e achava que era impressão do motorista. As moças ficaram desesperadas e começaram a pedir para o motorista correr. Eu cheguei a pensar que o homem havia sido comprado pelo Victor. Ele falou umas coisas estranhas. — A senhora não sabe de alguém que seja contra o seu casamento, senhora? Eu sei quando alguém está me seguindo! — Victor!— minha boca me traiu. — Victor Sorano? Mas ele não a abandonou nesse fim de mundo?— foi uma das moças quem falou. A outra se desculpou pela colega. — Desculpe senhora! Nós não somos daqui, mas ontem quando chegamos, fomos num bar e esse era o assunto! Disseram até que esse filho é do outro! Senhor Joaquim olhou para trás tranquilamente e depois voltou à posição anterior dizendo: — Não é nada! Eu fechei o semblante e ordenei ao motorista: — Ignore esses carros, senhor, eu tenho convidados de posse que moram na capital! Na verdade,
Parece que foi ontem. Eu me lembro da minha mãe chegar com os olhos aflitos para me dar a notícia. Ela me prometeu em casamento para o rei da soja. Parece brincadeira, mas eu deixei de sentir os meus pés no chão e quase desmaiei. O meu mundinho, no interior da minha pequena cidade do estado do Mato Grosso, se quebrou em mil pedaços. Parecia que eu não ouvia mais a voz da minha mãe. Os olhos encheram-se de lágrimas e o desespero tomou conta de mim. As histórias que eu ouvia a respeito de Victor Sorano eram as piores. Um homem frio e implacável. Todos os fazendeiros o temiam. Eu nunca dei importância àquelas narrativas, mas por mais que parecesse alheia a elas, eu as via voltar na minha mente, afinal, ele era agora o homem com quem eu deveria casar. Minha mãe continuava explicando: — Não se preocupe, ele não é feio e nem velho. Tem apenas trinta e seis anos! Eu ergui os olhos nesse momento. Trinta e seis anos! Meu Deus, ele era muito velho para mim! Eu só
Minha mãe escorraçou Arthur aos gritos. — Você não passa do filho do dono do mercado. Minha filha não vai perder jamais essa oportunidade! Eu não vou deixar! Fora daqui agora! Eu meneava a cabeça desesperada, tentando evitar o delírio da minha mãe. Ela parecia enlouquecida de ódio. Alguns funcionários correram para saber o que acontecia. — Coloquem esse rapaz para fora daqui! Ele está ameaçando o emprego de vocês! O motorista, a cozinheira e a arrumadeira não entenderam bem o que a minha mãe quis dizer, mas seguraram o braço de Arthur e pediram para que se retirasse por bem. — Isso não pode ficar assim! — Arthur gritou antes de sair. Quando minha mãe se achegou para os funcionários e descaradamente começou a explicar a situação, eu subi para o meu quarto envergonhada. — Nora está prometida a Victor Sorano, entenderam? Precisamos evitar que esse rapaz estrague tudo! Eu bati a porta do meu quarto para não ouvir mais a voz da minha mãe. Deitei
Chegou finalmente o dia do meu casamento. Eu não estava feliz como uma noiva deveria estar, mas como me vi em situação pior quando fui comunicada que estava prometida ao homem de pedra, estava no lucro. Eu só pensava que Arthur era meu amigo e iria me ajudar a se livrar da sorte em que minha mãe me colocou. Tudo de ruim que eu havia ouvido falar de Victor Sorano era suficiente para alimentar o meu trauma de moça simples do interior que até aquela idade não pensava em casar e havia dado apenas alguns beijinhos de leve em alguns rapazes da cidade. Desses que encontramos na praça nos fins de semana com as amigas. Arthur foi o primeiro a me beijar. Eu só tinha quinze anos, assim como ele. Ainda custava a acreditar que o pai dele fazia gosto no nosso casamento. Nós nem namoramos. Chegamos com a notícia bombástica de que precisávamos nos casar para reparar um erro. Eu era tão boba e ingênua que acreditei. Eu tinha fama de moça rica e estudada que não cairia nas graças de p
Não demorou muito e a minha casa foi praticamente invadida por curiosos. Minha mãe entrou afastando as pessoas. Ela as reprovava impaciente: — Saiam da minha casa, bando de abutres! Eu estava confusa. Não conseguia acreditar no que as pessoas diziam. — Não é verdade, é mãe?— foi a primeira vez em que eu segurei o meu ventre lembrando-me de que carregava um filho ali. — Filha, não acredite nessas pessoas! Não houve sequestro algum! Eu não sabia como minha mãe tinha tanta certeza do que dizia, mas aceitei o seu abraço que era tudo o que precisava naquele momento. Depois de um tempo, Ana e Maria chegaram da cozinha com um copo de água e minha mãe se afastou falando como quem escolhe as palavras: — Eu não queria te deixar triste, filha, mas eu creio que o seu noivo desistiu de se casar. Ele é jovem e deve ter ficado assustado com tanta responsabilidade, ainda mais você estando grávida! Eu olhei para a minha mãe sem acreditar em tamanha crue