Capítulo 3°

Chegou finalmente o dia do meu casamento. Eu não estava feliz como uma noiva deveria estar, mas como me vi em situação pior quando fui comunicada que estava prometida ao homem de pedra, estava no lucro.

Eu só pensava que Arthur era meu amigo e iria me ajudar a se livrar da sorte em que minha mãe me colocou. Tudo de ruim que eu havia ouvido falar de Victor Sorano era suficiente para alimentar o meu trauma de moça simples do interior que até aquela idade não pensava em casar e havia dado apenas alguns beijinhos de leve em alguns rapazes da cidade. Desses que encontramos na praça nos fins de semana com as amigas.

Arthur foi o primeiro a me beijar. Eu só tinha quinze anos, assim como ele. Ainda custava a acreditar que o pai dele fazia gosto no nosso casamento. Nós nem namoramos. Chegamos com a notícia bombástica de que precisávamos nos casar para reparar um erro. Eu era tão boba e ingênua que acreditei. Eu tinha fama de moça rica e estudada que não cairia nas graças de pobre nenhum.

Eu deixava o barco rolar, nem pensava nas consequências de um casamento sem amor, com um amigo que dizia me amar.

Apesar da minha mãe ter optado por um casamento rápido, esse dia só chegou dois meses depois e eu estava me sentindo estranha.

Um dia, estava na cozinha conversando com Maria e Ana quando fui surpreendida por um desejo enorme de vomitar. Corri para o banheiro mais próximo e fiquei ali passando mal.

Ana chegou apavorada falando:

— Meu Deus, menina, você está grávida!

Eu ergui os olhos esbugalhados para ela. Aquilo era terrível.

— Ficou louca, Ana? Não diga uma coisa dessas!

Ana ficou quieta, aparentemente aceitou a minha repreensão. Mas eu estava enganada. No mesmo dia, minha mãe entrou no meu quarto aos gritos.

— Você quer mesmo me destruir, não é Nora? Será que sempre odiou o meu marido? Será que acha pouco ele ter morrido tão jovem?

— Eu não tenho culpa, mãe! Ele infartou!— Eu tentava me defender, mas sabia que ela estava se referindo a minha possível gravidez.

Minha mãe ficou andando em círculo até que disse confusa:

— Preciso avisar ao Victor!

Eu franzi a testa incrédula.

— Não acha que o Arthur devia saber?— eu fui irônica, mas quase levei um tapa.

Fiquei olhando a mão da minha mãe apontando para o meu rosto no alto e esperei conformada. Para a minha surpresa, ela respirou fundo e se retirou em passos largos.

Eu corri para a sacada quando ouvi o som de um carro lá embaixo. Era Antônio que a levava, sabe Deus para onde.

Desci as escadas apressada e encontrei Ana e Maria desesperadas.

— Onde ela foi?— indaguei ofegante.

Maria se sacudiu resmungando:

— Deve ter ido dar satisfação para o noivo renegado. Acho que ela tem medo de que ele saiba pelos outros!

Eu discordei:

— Mas que diferença faz para ele? Eu me entreguei para outro e vou me casar! Onde está a lógica na atitude insana da minha mãe?

Eu fiquei sem resposta. As duas também estavam intrigadas. Ana era mais esperta e arriscou um palpite.

— A resposta deve estar no apoio ao seu casamento. Até por parte do seu sogro eu achei estranho!

Eu cruzei os braços e pensei em dar logo a notícia para Arthur, então saí arrastando Ana pela mão.

— Venha Ana! Preciso falar com Arthur. Pelo amor de Deus, vem comigo!

Ana era corpulenta e já tinha seus quase cinquenta anos e se queixava dos meus arroubos.

— Calma, Nora! Espera menina! Pare de me puxar como se eu fosse uma bolsa a tiracolo!

Chegamos ofegantes em frente ao mercado e Arthur estava despachando um caminhão de entrega. Ele me avistou e veio sorrindo.

— Precisamos conversar! — eu fui logo falando.

Ana ficou na porta do estabelecimento e eu puxei Arthur para a esquina.

— Estou grávida! — disse de uma vez.

Ele sorriu e me deixou aliviada.

— Não está bravo comigo?— eu quis saber.

Arthur desabafou sua satisfação, empolgado como ele só:

— Eu te amo! Sempre te amei, Nora! Estamos construindo uma família! Por que eu ficaria bravo com você?

Eu expliquei calmamente:

— Minha mãe ficou uma fera. Até foi falar com o homem de pedra!

— Com quem?

Eu quase ri com a expressão do Arthur. Eu fui obrigada a falar que para mim nada havia mudado.

— Não se esqueça de que nosso casamento é só faz de contas, Arthur! Eu não gostei do que nós fizemos! Eu achei horrível!

Arthur me olhou como se eu fosse uma menina. Ele tinha a mesma idade que eu mas parecia bem mais maduro, ou eu mesma era muito imatura.

— Está bem, Nora! Não pretendo forçá-la. Vai me desejar como homem, mais cedo ou mais tarde. Eu tenho paciência!

Eu fiquei mais calma e esperei paciente pelo dia do nosso casamento.

Eu estava me arrumando em meio a ansiedade de Maria e Ana.

— Vocês parecem loucas! É só um casamento!

— E você fica nessa calma menina! — Maria era mais brava e falava sempre intimidando.

— Tá bom! Eu só não vejo motivo para tanta euforia!

Ana meneou a cabeça me reprovando. Eu comecei a colaborar antes que elas infartassem.

Na minha casa era só alegria, mas algo terrível estava para acontecer com Arthur. Os pais dele foram na frente para a igreja e ele ficou de ir no próprio carro. Ele não sabia, mas era observado por dois homens num carro preto, parado na esquina da sua rua.

Quando ele saía com o carro, foi fechado e retirado à força. Em seguida colocado para dentro do carro, arrastado pelos dois estranhos.

Eu fiquei esperando um tempo para não chegar muito cedo, porque na verdade eu queria acabar logo com aquilo. Quando eu me preparava para sair, chegou um portador de má notícia. Um vizinho veio contar que Arthur foi sequestrado.

Elevei a mão à boca incrédula.

— Como assim? Quem faria isso com ele, e por que?

O homem respondeu ansioso para que eu valorizasse a informação ficando em desespero:

— Viram! Um vizinho viu! Foram dois Homens num carro preto.

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