Capítulo 4°

Não demorou muito e a minha casa foi praticamente invadida por curiosos.

Minha mãe entrou afastando as pessoas. Ela as reprovava impaciente:

— Saiam da minha casa, bando de abutres!

Eu estava confusa. Não conseguia acreditar no que as pessoas diziam.

— Não é verdade, é mãe?— foi a primeira vez em que eu segurei o meu ventre lembrando-me de que carregava um filho ali.

— Filha, não acredite nessas pessoas! Não houve sequestro algum!

Eu não sabia como minha mãe tinha tanta certeza do que dizia, mas aceitei o seu abraço que era tudo o que precisava naquele momento.

Depois de um tempo, Ana e Maria chegaram da cozinha com um copo de água e minha mãe se afastou falando como quem escolhe as palavras:

— Eu não queria te deixar triste, filha, mas eu creio que o seu noivo desistiu de se casar. Ele é jovem e deve ter ficado assustado com tanta responsabilidade, ainda mais você estando grávida!

Eu olhei para a minha mãe sem acreditar em tamanha crueldade.

— Como pode pensar uma coisa dessa! O Arthur nunca faria isso comigo!

Eu aceitei a água das mãos de Maria, depois subi as escadas como um robô. Estava desolada, mas acreditava que Arthur chegaria no dia seguinte com uma desculpa convincente.

Aquela noite foi uma das mais difíceis que eu já vivi. Acordava assustada e pensava que tudo não passou de um pesadelo.

Eu nem imaginava, mas pesadelo mesmo era o que Arthur estava vivendo. Ele foi levado para longe e colocado na presença do todo poderoso Victor Sorano.

— O que quer de mim? Por que me sequestrou? O que espera com isso?

Victor com olhar sombrio do outro lado da mesa, respondeu seco:

— Não acho que mereça ser enganado, rapaz! Precisa saber tudo a respeito da sua noiva.

Arthur ouvia cheio de ódio. Ele não queria ouvir coisa alguma. Tudo o que desejava era estar se casando com a mulher amada.

— Nada que disser irá me fazer desistir de Nora! Eu a amo desde que ainda éramos crianças!

Victor riu sarcástico e retrucou:

— Aos meus olhos, ainda são!

— E por que quis casar-se com ela?— Arthur quis saber.

Victor se levantou, inclinou o corpo na direção do seu oponente e esbravejou:

— Ela me pertence! Não entende de negócios!

— Entendo de mulheres, de amor!

Victor voltou a sentar, sentindo-se derrotado. Ele não entendia mesmo nem de mulher e muito menos de amor. Mulher era um prazer comprado e amor, fantasia da cabeça de lunáticos.

— Ela espera um filho meu!— Victor disse sério encarando Arthur.

— Ficou louco? Ela é minha mulher! Eu fui o primeiro. Nora é uma mulher decente. Não vai me convencer do contrário!

Victor insistiu convincente:

— Você foi apenas o primeiro. Tivemos alguns encontros. A mãe dela a trouxe aqui. Mesmo que tenha sido para aliviar a dívida que elas têm comigo, mas foi o suficiente para gerar o meu herdeiro.

Arthur lembrou-se de que a sogra fez questão de avisar Victor da gravidez da filha. Na época, isso não fazia o menor sentido, mas agora, ouvindo palavras tão convincentes, estava confuso.

— Isso não me importa! — ele disse levantando-se.

Victor ficou surpreso e Arthur continuou:

— Se ela se vendeu, foi por necessidade. Você é o vilão dessa história! Você compra as pessoas. Tudo para você não passa de negócios!

Victor se levantou irritado e jogou a última carta:

— Está bem! Então vá e se case com a mãe do meu filho. Ao menos não está sendo enganado, graças a mim! Cuide bem do meu filho. Não se preocupe, não deixarei que nada lhe falte!

Arthur ficou paralisado e Victor continuou sentindo-se vitorioso:

— Melhor assim, meu rapaz! Ao menos quando ela vier me procurar para aliviar um pouco mais a divida que tem comigo, não o estará traindo mais! Agora você já sabe de tudo!

Arthur acompanhou com o olhar os passos de Victor que foi lhe abrir a porta do escritório.

— Vá! Se case com a minha mulher! Agora sabe que ela me pertence. Boa sorte!

Arthur sentiu uma dor muito grande, mas não demonstrava seus sentimentos àquele ser frio e amargo. Saiu correndo e entrou no carro preto onde era esperado.

— Vamos! Me levem de volta para a igreja! Vamos logo!— ele falava desesperado.

Como Victor morava na capital, claro que a essas alturas não seria possível mais haver casamento.

Arthur foi deixado na porta da igreja onde não havia mais ninguém. Sua casa não era longe e ele fez o trajeto a pé e chorando. Chegou em casa desolado e recebeu o abraço dos pais.

Para sua surpresa, o seu pai lhe falou, depois que se acalmou:

— Eu entendo que não entraria nessa canoa furada, filho!

— Não supõe que eu possa ter sido sequestrado? Por que tem tanta certeza de que eu simplesmente desisti.

A mãe de Arthur ficou inquieta e acabou por confessar.

— Nós sabemos de tudo. Sabíamos que não se casaria. Victor Sorano nos procurou pessoalmente e nos contou a respeito da dívida que a família da sua noiva tem com ele.

— Fingiram que aceitaram meu casamento?— Arthur indagou incrédulo.

O pai dele esclareceu toda a história:

— Ele nos preparou. Disse para não contrariar você, para que não se casasse por capricho! Ele nos contou que se Nora não te contasse a verdade, ele contaria, mas que você não faria papel de bobo nesta história.

Arthur se afastou falando alterado:

— Vocês se venderam! Deixaram que eu ficasse na ignorância, dependendo de uma mulher adúltera! Quanto eles pagaram para vocês? Ele compra todo mundo!

A mãe de Arthur tentou se justificar:

— Aquela moça nunca te amou filho! Ela é rica, bem criada, nós somos trabalhadores, não nascemos em berço de ouro! Esse casamento nunca daria certo!

Arthur se dirigiu ao seu quarto esbravejando:

— Deixaram que eu fizesse papel de idiota todo esse tempo, enquanto Nora pagava a divida com o seu corpo! Deixaram que ele me contasse! Vocês são desprezíveis!

O pai de Arthur ainda tentou tranquilizar o filho piorando a situação que já não estava boa:

— Precisávamos daquele dinheiro, filho! Ele nos ofereceu muito pelo nosso silêncio. Ele nos garantiu que não se casaria com essa moça!

Arthur se trancou no quarto e adormeceu fazendo planos de falar poucas e boas para seu amor de infância.

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