- Vamos! Por favor! Por favor! Por favor!
Tamires pulava na minha frente tentando me convencer a sair para o intervalo. Eu estava sentada na minha carteira no fundo da sala, bem no canto onde não chamasse atenção, mas pudesse ver tudo o que acontecia ali.
- Não quero! - disse com a voz manhosa e fazendo um biquinho. Ela sabia que eu falava sério apesar do tom de brincadeira.
- Mas você não sai dessa sala desde que começou o ano! - Ela se inclinou em minha direção, apoiando as mãos em minha mesa.
Seu cabelo curto tinha uma comprida franja que lhe cobria metade do rosto. Quando éramos mais novas era preto, agora ela o tinha descolorindo até ficar em um tom chocolate quase ruivo. Mantinha o lado contrário à franja atrás da orelha com um grande piercing transpassado. A corrente prateada brilhou sobre a blusa listrada de negro e branco, com as mangas repuxadas para cima do cotovelo.
- Isso não é verdade. Sempre vou à biblioteca antes e depois da aula. - sorri sem mostrar os dentes.
Ela bufou e saiu da sala, me deixando ali com os nerd estudando nas primeiras mesas e uns antissociais escutando musica no fundo perto de mim. Pensando bem, talvez eu esteja virando como eles. Aumentei o volume do Marilyn Manson em meus fones, juntei mais duas cadeiras ao lado da minha e me deitei sobre elas. Fechei os olhos esperando que a música me transportasse para longe de meus problemas, quando sinto meus fones sendo tirados com violência. Abri meus olhos e vi minhas amigas paradas sobre mim, de cabeça para baixo.
- Você vai levantar essa bunda daí e vai dar uma volta com a gente! Qual é o problema com você?
Essa era Franciellen, praticamente minha segunda mãe. Hoje ela usava uma blusa fina bege sob um casaqueto rosinha e os cabelos em uma grossa trança. Era a nossa romântica do grupo, que quando queria sabia usar as palavras mais duras do que eu.
Ela me puxou pelos braços até me fazer levantar. Andei arrastando os pés com preguiça, meu estômago revirando com quem eu poderia encontrar lá fora. Engoli em seco e fiz o caminho do banheiro ao lado delas.
Ali era o nosso refúgio e, parada obrigatória sempre que estivéssemos por perto. Tivemos sorte em pegá-lo vazio, assim o largo espelho foi só nosso. Ajeitei minha franja lateral, sem dar muita atenção ao resto do meu cabelo.
Franciellen passou suas mãos pelo comprimento liso até minha cintura:
- Quer conversar? - perguntou baixinho para que só eu ouvisse.
Já a fiz várias vezes de confidente, mas sou orgulhosa demais para mostrar meu lado fraco para qualquer um.
Até mesmo para ela.
- Não. Estou bem. - dei um pequeno sorriso e ela alisou minha bochecha com um olhar compreensivo. Dando as costas para mim, ela foi em direção às cabines, me deixando sozinha com algumas alunas mais novas e barulhentas.
Dei espaço para elas e me movi até o lado da porta. Queria dar apenas uma espiada para me certificar de que o caminho estava limpo. Talvez pudesse correr até a sala sem topar com aquele ser que me assombrava desde o inicio do ano letivo, há três meses.
Com cuidado para parecer apenas um espio curioso e entediado, deixei me mostrar na porta. Senhor! Minhas pernas ficaram bambas e meu coração disparou para minha garganta.
Lá estava ele. Apoiando as costas na parede oposta ao banheiro, olhando para mim com um sorriso divertido e cafajeste. O cabelo loiro bagunçado, os braços cruzados na frente do corpo que, eu jurava deveria ser muito gostoso, mas não sabia por culpa daquela jaqueta de couro negro. Voltei para dentro do banheiro, traçando meu plano de me esconder discretamente atrás de minha amigas enquanto passávamos por ele. Tamires secava as mãos que tinha lavado em sua calça jeans e me olhava preocupada.
- Você está bem? - me perguntou vindo em minha direção.
Eu assenti.
- Cara, você está pálida!
- Não comi nada desde ontem. - menti. - Deve ser isso.
Sabia que o motivo estava parado há uns quatro metros dali, nada a ver com a comida, porém muito comestível. Hm... Não! O que estou pensando? Desviei meus olhos para Franciellen, desejando sair dali o mais depressa possível. Quando estavam prontas eu as segui do modo como havia planejado, evitando qualquer espiada para o lugar onde eu o vira. Evitando uma espiada para qualquer lugar, já que eu olhava para meus próprios pés.
Tentando minha sorte mais do que podia, trombei forte com alguém. Me desequilibrei e fui para trás. Podia sentir o chão antes mesmo de chegar a ele, porém o que senti foram braços fortes envolvendo minha cintura e me trazendo com certa brutalidade para cima.
- Cuidado. - ouvi uma risada debochada quase junto ao meu ouvido.
Não havia notado que fechei os olhos para esperar minha queda - que não veio - e os abri. Fruta que caiu! Ele estava me abraçando junto ao seu corpo e, com aquele mesmo maldito sorriso. Meu coração falhou uma batida e meu estômago gelou enquanto tentava pensar com aqueles olhos verdes sobre meu rosto.
- O... Obri... Obrigada. - gaguejei. Merda! Eu nunca gaguejava! Tinha que ser logo agora?
- Disponha.
Fechei minhas mãos em punhos e empurrei seu tórax com cuidado, para que ele me soltasse. Coisa que ele fez aos poucos, apertando os lados da minha cintura antes de me soltar. Me afastei com pressa e fui de encontro com minhas amigas, que me olhavam com as bocas em perfeito 'o' .
- Vamos. - resmunguei. Não sei o porquê, mas agora estou com raiva.
Sempre fui respeitada naquela m*****a escola e agora esse cara chega para acabar com minha m*****a reputação! Tá legal. Eu dou medo nos demais alunos desavisados por que eles me julgam estranha. Qual é? Minhas roupas pretas, meus anéis e correntes, minhas botas, coturnos e Converses, minha maquiagem forte... É tudo uma questão de gosto! Não tenho culpa se olho feio para os outros. Não me sinto fazendo isso, essa sou eu sem querer.
Mas aí me chega o filho de uma égua que me faz sentir pequena, inferior... Que faz meus joelhos ficarem bambos porque sabem que eles têm que se ajoelhar na frente dele... Ah! Como eu gostaria de fazer isso... Não! Não posso fazer isso de maneira alguma!
- Parece que alguém conquistou o novato! - Tamires mexeu comigo.
- Me erra! - bufei.
- Admita. Nós vimos. - Franciellen chegou ao meu outro lado - Ele quer o seu corpo nu!
Parei pensando na situação. Eu, ele, na cama, nus... Imagem que vinha tirando minhas noites e concentração nos últimos meses.
- Allana, você está vermelha! - Franciellen riu, anunciando alto. - Você gosta dele!
- Vão se fuder! - gritei, chamando atenção de quem passava à nossa volta no corredor. Apertei meu passo em direção à sala de aula. Me enfurnei ali até o fim do dia, ignorando qualquer tentativa de aproximação das duas.
*Luan' Pov.*- Allana, você está vermelha! - me virei quando ouvi o nome dela ser dito alto.Ela estava parada a alguns metros de mim, um pouco para trás de suas amigas que a olhavam com dois grandes sorrisos vitoriosos.- Você gosta dele!Uma felicidade se estendeu pelo meu corpo e, eu apenas sorri de canto. Satisfeito com a noticia.- Vão se fuder! - Allana gritou, antes de marchar para a sala dela.Nunca a tinha visto furiosa antes, mas tenho que admitir que ela fica linda assim.Me transferi de escola no começo do ano. Uma questão de qualidade de ensino e blá, blá, blá... Os garotos eram fáceis de formar amizades e, no meu primeiro dia um grupo de quatro garotos me chamou para me enturmar com eles. Não poderia dispensar aliados em território desconhecido. Eles me levaram para a quadra da escola, onde filas j
*Allana' Pov.*Bastardo, filho-da-mãe, vagabundo, conquistador barato! Quem ele pensa que é para fazer isso comigo? Só porque ele tem aquele sorriso de sacana que quer dizer que ele pode fazer o que quiser comigo! Não sou outra vadia dessa escola, se é isso que ele está pensando! Mas que merd@!Olhei para a folha rasgada a minha frente. Coloquei força demais em meu lápis de cor, até que o papel não aguentou.- Venha, pegue outra folha e comece de novo. - disse meu professor de artes, sem sequer me olhar.A sala estava silenciosa, exceto pelo ruído dos lápis de cor em suas sulfites. Me levantei de mal humor e peguei a droga do papel de uma pilha em frente ao professor.- Sem cemitérios dessa vez, por favor. - ele me olhava sobre os óculos na ponta do nariz.Eu mastiguei minha resposta de "Claro, é só o senhor ficar parad
*Allana' Pov.*O maior dos meus sorrisos estava estampado em meu rosto. Finalmente estava um pouco melhor, e melhorava mais a cada vez que pensava no garoto se contorcendo de dor a minha frente. Apertei o Ipod em minha mão enquanto saia da escola para a rua. Poderia fazer isso mais vezes. Ceder às provocações e então, o fazer pagar por ser tão gostoso. Não! O fazer pagar por ser tão idiota e irritante!Sacudi a cabeça tentando por meus pensamentos no lugar. Quando cheguei em casa me enfurnei em meu quarto. Deitada na minha cama e olhando para o teto era o melhor jeito de pensar e entender o que pensava. Sorri quando me lembrei de minha vitória há alguns minutos, fechando os olhos para guardar cada segundo com exatidão.Queria muito me lembrar do motivo pelo qual estava feliz, mas só me vinha a mente quando tive aquela ideia absurda e genial, e o joguei contra a estante mai
*Allana' Pov.*Andrew Six gritava em meus ouvidos no meio da aula. Rolei o botãozinho dos meus fones, o pondo no máximo. Estava rabiscando um desenho qualquer no meu caderno enquanto a professora explicava o que aquelas linhas no quadro tinham a ver com matemática. Meu celular vibrou e eu o abri sob a mesa. Uma sms que abri na mesma hora.“Te ajudo a esconder o corpo”Era de Rosevani, minha outra amiga que estava sentada com a carteira colada na minha. Olhei para ela que me deu uma piscadela. Tirei um de meus fones e perguntei:- Como assim?- Está óbvio que você quer matar alguém desde o momento em que pus meus olhos em você. Até em seu desenho você mata ele...Ela espichou os olhos para meu caderno, vendo o desenho de um homem enforcado sendo comido por abutres.- É o Luan?- Quem?- Não se fa&cced
Li rápido o que estava escrito ali. Romantismo. Vanguarda. Surrealismo. Quinhentismo. Minha esperança desapareceu. Seria uma aula muito pior do que pensei.- Vamos ficar com Surrealismo. – Luan falou escrevendo alguma coisa no próprio caderno.- Deveríamos entrar em acordo sobre o tema.- Surrealismo é legal. Vi um quadro que parece com Silent Hill.Rolei meus olhos.- Mas a teórica é entediante. Segunda geração Romântica é mais interessante.Ele ergueu as sobrancelhas.- Não parece o tipo romântica. – inclinou o corpo para mais perto de mim – Gosta de flores? – perguntou em um sussurro.- Não. E é sobre a era gótica, com muita morte e depressão. Não sobre romances tapados.Ele juntou as sobrancelhas, pensativo. Voltou para seu cadern
* Allana Pov. *- Tá pronta pra ferver? – perguntei para Vany no outro lado da linha.Estava usando um jeans simples, tênis e uma blusa qualquer sob o casaco. Já tinha posto minhas roupas dentro de uma mochila e buscava minha escova no banheiro que havia no meu quarto.- Só falta a maquiagem, amor. – ela me respondeu – Já tá vindo?- Saindo daqui agora. Me dá uns dez minutos e vou estar na sua porta.- Tá bom.Desliguei o telefone, o guardando no bolso de trás do meu jeans e descendo as escadas com minha mochila sobre o ombro.- Já tô indo, mãe! – gritei.- Tudo bem. – ela me gritou de volta da cozinha – Divirtam-se vocês duas.Sai dali caminhei até o ponto de moto táxi que havia a duas quadras de casa. Minha mãe pensava que eu estava indo a uma fes
- Vamos subir. – a tomei pelo pulso e a levei para o elevador, apertando o número do andar. Os números passavam lentos e isso me deu muita raiva. A espiei e ela assistia os números vermelhos subirem, já não parecia tão bêbada assim. As portas se abriram e ela se apoiou em meu braço para caminhar. Fomos até meu apartamento e ela entrou assim que eu abri a porta.Era só uma sala/cozinha pequena e meu quarto com banheiro ao lado. Liguei a luz e a encontrei entrando em meu quarto. A segui, mas estava escuro lá dentro. Já entrava no cômodo quando ela me jogou contra a parede, me beijando e tirando minha jaqueta. O sabor de álcool era forte, mas mais inebriantes eram as mãos dela invadindo minha camiseta e me arranhando.Agarrei com força os pulsos dela e a empurrei para a cama. Um sorriso malicioso passou pelos lábios dela de novo. Ela se sentou enquant
* Allana Pov. *Acordei com muita sede. Meus olhos vagaram pelo quarto escuro tentando se acostumar com as sombras.Uma porta aberta na parede à minha esquerda deixava alguma luz entrar ali, mas só confundia mais minha visão. Me sentei e minha cabeça latejou, um sinal claro que bebi demais. Olhei para meu lado direito na cama, e um homem loiro dormia de bruços, nu como veio ao mundo.Tentei girar minhas pernas para fora da cama, porém as senti pesadas e um pouco dormentes. Sorri. Me lembrava em partes da minha noite anterior, principalmente que o sexo foi ótimo. Seja lá quem for ele, tinha uma língua dos deuses!Encontrei meu short caído no chão aos pés da cama. O vesti ainda sentada, ele não havia tirado o resto da minha roupa, do modo como gosto. Subi o pequeno zíper e tateei a procura do botão sem sorte. Cadê aquela coisinha?Ah! Minha