UM BOM MÉDICOPegou seu celular, uma voz atendeu com um forte sotaque, ao que ele pediu:“ O senhor pode vir à casa de minha vó?” – e desligou.Na próxima meia hora que aguardavam a chegada do tal doutor, Layla despejou uma litania no neto, indiferente aos ferimentos dele, ou acostumada a isso, já que ele vivia, como ela mesmo dizia, enfiado em brigas. Layla estava enfurecida por ele ter levado Cloe com ele em uma de suas brigas. Cloe o defendeu e disse à senhora que ela quisera ir, que brigara com ele e o ameaçara se não a levassem.— Coitadinho dele, né? Foi ameaçado por uma garota quinze centímetros mais baixa que ele, que não pesa cinquenta e cinco quilos – Layla falava irritada e não aceitando a defesa da moça. – Já brigou com mafiosos, já escapou de balas nem sei quantas vezes, já brigou com homens, e mais de um! Homens assustadores e com sangue nos olhos, e foi convencido por você a levá-lo em uma briga?!Túlio ouvia da avó verdades que ele mesmo já sabia, para seu alívio, um
E acabaram fazendo amor após essa conversa.Estavam errados os dois a respeito de Gringo, pois pela manhã ele estava sentado na sala-varanda deles quando abriram a porta.— Chefe, estou indo para Manguai com Milla – foi o bom dia dele e Túlio e Cloe deram uma risada alta ao ouvi-lo dizer isso de supetão. – Qual a graça? — Nada, Gringo, só que Cloe e eu estávamos falando sobre a dureza do coração dos homens, não é, amor? – Túlio olhou para ela que ainda ria e ela acenou a cabeça em concordância. Era obrigada a concordar com ele que estava errada em seu julgamento sobre os sentimentos dos homens.No sábado seguinte um grande churrasco foi feito em homenagem à Milla e Gringo que partiriam na segunda para Manguai. Amigos em peso compareceram na casa do casal. Música alta tocou até quase o amanhecer. Milla ensinava passos de danças mais ousados para Cloe e meio bêbadas, riam demais ao ver as tentativas de Cloe de descer até o chão. Homens da gangue que ela ainda não conhecia também esta
REGRAS SÃO REGRAS— Você não pode estar falando sério! – Cloe largava uma rama que estava enfiando sobre um vaso de terra e olhava a amiga. – Mas o que fiz para ela?— Ela queria seu lugar, sempre quis. Antes de você vir para cá, ela queria ser a mulher de Túlio. Se dizia que seria a Lady Máfia e você ter aparecido, atrapalhou os planos dela.— Meu Deus, eu não imaginava.Cloe passou o resto do dia pensativa. No meio da tarde, resolveu levar o assunto para outro lado com a amiga:— Você e Gringo não estão bem? Não os tenho visto mais juntos.Demorou para Milla responder, afundava uma muda de tomate em um vaso de plástico e quando olhou para Cloe, sorria amigavelmente, antes de responder:— Sabe o que gostei em você, Cloe, sabe porque me aproximei de você depois de quase tê-la espancado no primeira vez que nos falamos e a ameacei?— Não.— Sua pureza. Não me entenda mal, sei o quanto é forte e a admiro por ser até mais forte do que eu.— Não diga isso, amiga, eu é quem a admiro e desej
MALDADEO doutor Zaquim já estava tratando de Túlio, mas Clara ao entrar no consultório e vê-lo desacordado deitado na maca, o carmesim do sangue dele encharcando o papel onde estava deitado, a desfalecer.Gringo e Milla a acompaharam até ali e foram seu suporte, uma de cada lado para que ela não caísse.— Túlio… – ela gemeu, suas pernas fraquejaram e os amigos a ampara, fazendo-a sentar.Ela estava tão perto dele, a alguns passos apenas, mas não conseguia chegar até ele. Gringo a segurava forte.— Deixe-os cuidar dele – pediu Gringo baixinho.Flora, a enfermeira e esposa do dr Zaquim cuidavam de Túlio. Cloe olhava para ele ali desacordado sem acreditar que o homem forte e imponente estivesse assim tão frágil e a mercê de dois pares de mãos que o espetavam, viravam de lado, acudiam-no e tentavam ajudá-lo.Flora falava com o dr no idioma deles e poucas coisas dava para serem entendidas. A enfermeira seguia o que o médico lhe indicava, com uma tesoura rasgou a camiseta de Túlio e jogou
Ele estendeu a mão para ela e ela apertou, os olhos dele eram estranhos, como se ele quisesse descobrir a alma do interlocutor.— Ele já está bem – foi a resposta dela e se sentou, não queria ficar conversando, sua cabeça estava a mil e queria ver Túlio. Percebendo que o rapaz queria esticar a conversa e se sentindo mal por não estar afim, pois certamente conhecia Túlio e queria notícias dele, ela se afastou e foi até a recepção.— Sei como são essas esperas – ele tinha pressa, precisava agir logo antes que algum dos caras do boy aparecesse. O corredor estava vazio. – Tome um café para mantê-la mais ativa, comprei um para mim também.Ele ofereceu-lhe um copo de isopor com tampa, estava quente ainda. Comprara o no bar da esquina e temia ela não aceitar. Teria que improvisar se ela não aceitasse. Usando o método que tinha o costume de usar com mulheres, que era não encará-las nos olhos e mostrar certa timidez, ele se sentou e estendeu o copo como se não se importasse se ela aceitaria ou
CHAMAS!Gringo chegou ao chalé com os pneus da caminhonete que usaram para chegar até lá levantando cascalhos no chão e nem desligou-a ao descer correndo. Voltou à caminhonete e deu ordem aos três caras que tinha levado. – Quero-os longe daqui, entrem na mata, andem por aí, mas não fiquem por perto por pelo menos uma hora! – E quando um deles fez menção a falar algo, os três não entendiam como ele poderia querer ficar só com Calo, ele fez uma cara de ódio que os assustou. – Vão!Arrancando o trinta e oito da cintura, ele nem bateu na porta, com um chute ao meio da madeira, ele arrancou-a do batente, mais um chute e a porta estava no chão. Ia subir ao andar de cima, mas Ruben vinha nu descendo as escadas, assustado por ter sido encontrado e pelo barulho. Um lençol amarrado à cintura e o tiro no joelho o fez gritar e cair.Gringo chegou até ela com sangue nos olhos, os dentes trincando, o maxilar cerrado. A poça de sangue já empoçava debaixo dele, molhando a madeira, o lençol esquecido
Gringo ficou ao lado no topo, a vista dali era esplêndida. Não se via dali casas, só mato verdinho e pedras lá embaixo. Várias tonalidades de verde até onde a vista alcançava, e até o ar era mais gostoso, o vento mais fresco arrulhava nos ouvidos. Centenas de metros separaram os dois das pedras abaixo do penhasco e quando Ruben chegou capengando até o lado dele, olhou lá embaixo e estremeceu, apoiado no fraco pedaço de madeira que o auxiliou um bom pedaço do caminho irregular até ali.— Você não vai fazer isso, cara, não vai fazer mesmo isso comigo. Ele não perguntou, afirmou. Mas ele viu nos olhos ainda inflamados de Gringo que era exatamente isso que faria e ao saber disso, ele riu e disse:— Posso dizer uma coisa antes? – Gringo acenou vagarmente, fitando os olhos nos dele pela última vez, o revólver na cintura, oculto pela camisa.— Ela gostou. A safadinha gritava e pedia mais quando a fodi gostoso! – o sorriso malévolo dele, pedia para que Gringo lhe atirasse na testa, que acab
FRIGIDEZ, PESADELOS E MEDO!— Você está com olheiras, meu amor – foi a primeira coisa que ele lhe disse quando Gringo e Sopapo o levaram para casa e olhou para ela.— Claro, como iria dormir sabendo que você estava lutando pela vida? Estava desesperada, amor! – ela conseguiu disfarçar, pois ele não poderia saber o que lhe aconteceu. Um derramamento de sangue seria inevitável caso ele soubesse e o medo dela era de que o sangue dele também fosse derramado. Sabia que ele perderia a razão e a noção se soubesse.Ela se sentia culpada de tantas formas, não suportaria mais essa. Culpa era sua amiga mais íntima no momento. Não se conformava de não ter conseguido impedir ou retardar o abuso de Ruben, se sentiu fraca por ter sido sobrepujada tão facilmente. Os meses de treinamento não lhe adiantaram de nada!Planejava aumentar as horas de treinos diários. Precisava ser mais forte, mais ágil ainda, mas poderosa. Faria o que tivesse ao seu alcance para se tornar mais forte. Não queria ser um fard