Gringo ficou ao lado no topo, a vista dali era esplêndida. Não se via dali casas, só mato verdinho e pedras lá embaixo. Várias tonalidades de verde até onde a vista alcançava, e até o ar era mais gostoso, o vento mais fresco arrulhava nos ouvidos. Centenas de metros separaram os dois das pedras abaixo do penhasco e quando Ruben chegou capengando até o lado dele, olhou lá embaixo e estremeceu, apoiado no fraco pedaço de madeira que o auxiliou um bom pedaço do caminho irregular até ali.— Você não vai fazer isso, cara, não vai fazer mesmo isso comigo. Ele não perguntou, afirmou. Mas ele viu nos olhos ainda inflamados de Gringo que era exatamente isso que faria e ao saber disso, ele riu e disse:— Posso dizer uma coisa antes? – Gringo acenou vagarmente, fitando os olhos nos dele pela última vez, o revólver na cintura, oculto pela camisa.— Ela gostou. A safadinha gritava e pedia mais quando a fodi gostoso! – o sorriso malévolo dele, pedia para que Gringo lhe atirasse na testa, que acab
FRIGIDEZ, PESADELOS E MEDO!— Você está com olheiras, meu amor – foi a primeira coisa que ele lhe disse quando Gringo e Sopapo o levaram para casa e olhou para ela.— Claro, como iria dormir sabendo que você estava lutando pela vida? Estava desesperada, amor! – ela conseguiu disfarçar, pois ele não poderia saber o que lhe aconteceu. Um derramamento de sangue seria inevitável caso ele soubesse e o medo dela era de que o sangue dele também fosse derramado. Sabia que ele perderia a razão e a noção se soubesse.Ela se sentia culpada de tantas formas, não suportaria mais essa. Culpa era sua amiga mais íntima no momento. Não se conformava de não ter conseguido impedir ou retardar o abuso de Ruben, se sentiu fraca por ter sido sobrepujada tão facilmente. Os meses de treinamento não lhe adiantaram de nada!Planejava aumentar as horas de treinos diários. Precisava ser mais forte, mais ágil ainda, mas poderosa. Faria o que tivesse ao seu alcance para se tornar mais forte. Não queria ser um fard
A CANGACEIRACloe em nada se parecia a garota de quatro anos atrás, em nada se parecia a menina que chegou à gangue de Túlio anos atrás. A mudança havia sido radical, e não só pelos cabelos – no momento, azuis, mas já havia trocado tanto de cores, que quem a conheceu nesses últimos quatro anos, nem sabia qual tinha sido a cor original de suas madeixas – , mas suas roupas também haviam mudado. Não era mais a insípida e acuada garota que pulava a cada estampido de tiros que ouvia, não era mais a tímida menina que pensava antes de falar.Estava viciada em exercícios e corria quilômetros todas as manhãs para manter o físico, se sentia mais segura com relação a ser atacada, adiquiria muito mais confiança agora e não era só porque tinha mais companheiros agora, tinha seu próprio séquito de ajudantes, mas sua auto estima havia melhorado bastante depois dos percalços que atravessou para chegar ali.Sua mudança, obviamente, trouxe um peso para sua relação com Túlio e não tinha como ser diferen
— O que a Primeira dama queria? – Diná perguntou e Cloe sabia que ela estava atenta e já sabia o que Shay queria ali. Apelidaram-a de Primeira dama porque todos sabiam que Shay queria ser a mulher de um líder, seja do morro, de uma bocada, não importava, ela queria esse posto.— O de sempre, dizer o quanto sou desprezível, e o quanto não mereço meu homem.— Ah, vamos esquecer isso. Cloe, queremos saber se você vai visitar o Kobe esse fim de semana? – Perguntou Charque.— Acho que não vou conseguir, tenho um encontro com o Beto no sábado – Cloe resolvia coisas na comunidade, pequenas e grandes. – Já vou ver com o Beto se ele consegue liberar o Kobe antes de um ano. Mas você pode ir visitar o Kobe no meu lugar, Charque, e não fale nada sobre estarmos tentando conseguir a soltura dele antes do prazo. Melhor não deixarmos ele lá cheio de esperanças para no final não conseguirmos, né?— Claro, não falarei nada.Kobe tinha sido pego pela polícia federal ano passado e estava difícil consegui
UMA MULHER DIFERENTETúlio e Cloe tentavam não se distanciarem, cada um tenha agora seus afazeres, a máfia não era para quem queria ter uma vida sossegada. Liderar tantas pessoas, cuidar de tantas outras, obviamente cobrara o preço na relação dos dois. O amor era o mesmo e até parecia aumentar cada vez mais, porém como ele mesmo dissera uma vez, o amor só não bastava e era verdade.Ela o via olhando-a quando pensava que ela não percebia e o mesmo acontecia com ela. Gostava de vê-lo dormir, quando a insônia, sua amiga mais cruel desde o ataque de Ruben; por vezes ela nem tentava dormir, por medo dos pesadelos que a assombrava no mundo dos sonhos.— Quem é Calo? – uma noite em que tentou dormir, acordou com Túlio olhando para seus olhos bem de perto. Ela gritara o nome do canalha que a estuprar, e no pesadelo, o chamava pelo nome que ele se apresentara à ela. Os pesadelos eram quase sempre os mesmos. Ela estava no centro de atendimento do doutor Zaquim e Ruben-Calo a levava drogada e a
— Oi, meu bem – Flora falava o idioma de forma mais razoável agora e Cloe a entendia melhor. – O que a traz até aqui? — Queria falar com o dr Zaquim, Flora, ele está muito ocupado?— Vamos à cozinha? – Flora a levou ao local que funcionários usavam para lancharem, almoçarem ou jantarem. Era um cômodo amplo com mesas e cadeiras, uma geladeira e um micro-ondas. Sentaram-se e Flora lhe perguntou. – Há alguma coisa que eu possa ajudá-la?Cloe sabia que mesmo tendo mais médicos no centro, o tempo deles era escasso, muitos pacientes, agendas lotadas e filas de espera.— Vocês enfermeiras também têm que cumprir o sigilo médico-paciente?— Claro! Como os médicos, temos sigilo, meu bem, mas se quiser falar com Zaquim, darei um jeito.— Não, talvez depois, mas prefiro falar com uma mulher, se não se importar – antes de falar, Cloe já se sentia mal. Olhar para o rosto amigável da mulher que se transformara em sua amiga nesses quatro anos, ajudou-a a se abrir e lhe contar tudo. A mulher estava
GRANDES NEGOCIAÇÕESCloe se sentia estranha por não estar mais dividindo nada com seu amor. Mas preferia assim, não era mais a garotinha inocente que ele conhecera, não era mais uma menina medrosa e assustada, Milla dizia que ela estava com o couro grosso e era verdade, porque ela, além de não dividir tudo com ele, nem seus sentimentos ela dividia mais com ele. Eram seus apenas. Antes, ela mal se aguentava para compartilhar qualquer coisa com ele, qualquer coisa que acontecia, a saudades que sentia de seus pais e seu irmão. Peter tinha agora dezoito anos e para protegê-lo, ela nem o tinha em suas redes sociais. Se envolver com pessoas perigosas “da pesada”, como sua mãe costumava dizer e para quê iria querer o irmão ao seu lado, sabendo de sua vida agora, já que ela não era mais a irmã mais velha delicada e calma dele? Já perder a conta de quantas solicitações de amizade lhe chegara do irmão, muitas vezes, ela ignorava nomes e Nicks que ela sabia serem dele. Aquela vida antiga ficara
Ela não contava a ele os rolos em que se enfiava em alguns dias, não contara a ele sobre o tiro que dera no pé de Albert, o cara folgado que espancava a vizinha por ter pegado amoras em sua árvore sem permissão. O homem era ignorante e mente tacanha e quando ela foi até lá a pedido da vizinha com o olho roxo lhe reclamar – e se tivesse sido o contrário e a vizinha tivesse agredido o homem, ela agiria da mesma forma. – Tendo ido falar com o arrogante senhor, ele a atendeu gritando: — Nem vem, sua boceta larga! Meu negócio é falar com macho, mande o Túlio vir aqui e falo com ele. Essa outra arrombada aí tá colhendo todas minhas frutas como se fossem… Cloe nem pensou duas vezes, tirou a arma da cintura e acertou o dedão dele que foi abocanhado por um gato que passava. O homem era sério, um senhor uns cinquenta anos que furava bolas de crianças quando estavam por ali brincando, atiçava o cachorro em quem lhe incomodasse. Era agressivo, principalmente com mulheres. Ele não acreditava que