— O que a Primeira dama queria? – Diná perguntou e Cloe sabia que ela estava atenta e já sabia o que Shay queria ali. Apelidaram-a de Primeira dama porque todos sabiam que Shay queria ser a mulher de um líder, seja do morro, de uma bocada, não importava, ela queria esse posto.— O de sempre, dizer o quanto sou desprezível, e o quanto não mereço meu homem.— Ah, vamos esquecer isso. Cloe, queremos saber se você vai visitar o Kobe esse fim de semana? – Perguntou Charque.— Acho que não vou conseguir, tenho um encontro com o Beto no sábado – Cloe resolvia coisas na comunidade, pequenas e grandes. – Já vou ver com o Beto se ele consegue liberar o Kobe antes de um ano. Mas você pode ir visitar o Kobe no meu lugar, Charque, e não fale nada sobre estarmos tentando conseguir a soltura dele antes do prazo. Melhor não deixarmos ele lá cheio de esperanças para no final não conseguirmos, né?— Claro, não falarei nada.Kobe tinha sido pego pela polícia federal ano passado e estava difícil consegui
UMA MULHER DIFERENTETúlio e Cloe tentavam não se distanciarem, cada um tenha agora seus afazeres, a máfia não era para quem queria ter uma vida sossegada. Liderar tantas pessoas, cuidar de tantas outras, obviamente cobrara o preço na relação dos dois. O amor era o mesmo e até parecia aumentar cada vez mais, porém como ele mesmo dissera uma vez, o amor só não bastava e era verdade.Ela o via olhando-a quando pensava que ela não percebia e o mesmo acontecia com ela. Gostava de vê-lo dormir, quando a insônia, sua amiga mais cruel desde o ataque de Ruben; por vezes ela nem tentava dormir, por medo dos pesadelos que a assombrava no mundo dos sonhos.— Quem é Calo? – uma noite em que tentou dormir, acordou com Túlio olhando para seus olhos bem de perto. Ela gritara o nome do canalha que a estuprar, e no pesadelo, o chamava pelo nome que ele se apresentara à ela. Os pesadelos eram quase sempre os mesmos. Ela estava no centro de atendimento do doutor Zaquim e Ruben-Calo a levava drogada e a
— Oi, meu bem – Flora falava o idioma de forma mais razoável agora e Cloe a entendia melhor. – O que a traz até aqui? — Queria falar com o dr Zaquim, Flora, ele está muito ocupado?— Vamos à cozinha? – Flora a levou ao local que funcionários usavam para lancharem, almoçarem ou jantarem. Era um cômodo amplo com mesas e cadeiras, uma geladeira e um micro-ondas. Sentaram-se e Flora lhe perguntou. – Há alguma coisa que eu possa ajudá-la?Cloe sabia que mesmo tendo mais médicos no centro, o tempo deles era escasso, muitos pacientes, agendas lotadas e filas de espera.— Vocês enfermeiras também têm que cumprir o sigilo médico-paciente?— Claro! Como os médicos, temos sigilo, meu bem, mas se quiser falar com Zaquim, darei um jeito.— Não, talvez depois, mas prefiro falar com uma mulher, se não se importar – antes de falar, Cloe já se sentia mal. Olhar para o rosto amigável da mulher que se transformara em sua amiga nesses quatro anos, ajudou-a a se abrir e lhe contar tudo. A mulher estava
GRANDES NEGOCIAÇÕESCloe se sentia estranha por não estar mais dividindo nada com seu amor. Mas preferia assim, não era mais a garotinha inocente que ele conhecera, não era mais uma menina medrosa e assustada, Milla dizia que ela estava com o couro grosso e era verdade, porque ela, além de não dividir tudo com ele, nem seus sentimentos ela dividia mais com ele. Eram seus apenas. Antes, ela mal se aguentava para compartilhar qualquer coisa com ele, qualquer coisa que acontecia, a saudades que sentia de seus pais e seu irmão. Peter tinha agora dezoito anos e para protegê-lo, ela nem o tinha em suas redes sociais. Se envolver com pessoas perigosas “da pesada”, como sua mãe costumava dizer e para quê iria querer o irmão ao seu lado, sabendo de sua vida agora, já que ela não era mais a irmã mais velha delicada e calma dele? Já perder a conta de quantas solicitações de amizade lhe chegara do irmão, muitas vezes, ela ignorava nomes e Nicks que ela sabia serem dele. Aquela vida antiga ficara
Ela não contava a ele os rolos em que se enfiava em alguns dias, não contara a ele sobre o tiro que dera no pé de Albert, o cara folgado que espancava a vizinha por ter pegado amoras em sua árvore sem permissão. O homem era ignorante e mente tacanha e quando ela foi até lá a pedido da vizinha com o olho roxo lhe reclamar – e se tivesse sido o contrário e a vizinha tivesse agredido o homem, ela agiria da mesma forma. – Tendo ido falar com o arrogante senhor, ele a atendeu gritando: — Nem vem, sua boceta larga! Meu negócio é falar com macho, mande o Túlio vir aqui e falo com ele. Essa outra arrombada aí tá colhendo todas minhas frutas como se fossem… Cloe nem pensou duas vezes, tirou a arma da cintura e acertou o dedão dele que foi abocanhado por um gato que passava. O homem era sério, um senhor uns cinquenta anos que furava bolas de crianças quando estavam por ali brincando, atiçava o cachorro em quem lhe incomodasse. Era agressivo, principalmente com mulheres. Ele não acreditava que
LEMBRANÇASAinda que a ideia dada por ela na reunião foi a melhor e todos, após ela sair os deixar, resolveram colocá-la em prática, Túlio estava profundamente irritado com ela.— Chefe, a ideia é boa e devíamos levá-la a cabo – falou Gringo. – Temos ao menos três, que me vem à mente agora que poderiam ficar no lugar de Kobe e assumir a culpa.— Acha que isso pode ser possível, Valdo? – Túlio perguntou ao advogado.— Sim, é bem possível se vocês tiverem alguém para assumir a culpa no lugar dele. Tudo teria que ser feito o mais rápido possível, antes da próxima audição que terei com o promotor.E tudo ficou acertado. Túlio pediu aos seus homens que fizessem um levantamento e vissem quem poderia se apresentar o mais rápido possível.Ele foi para sua casa de moto, adorava acelerar ao máximo quando estava com tantas coisas na cabeça como agora. Passou direto por sua casa, pegou uma rodovia e pilotou por mais de duas horas, até seu corpo estar exaurido e a bunda dura. Não voltou para casa
Ela ficara calada, não dissera mais nada até dormir.Ele pensava nisso e em tantas outras situações que a chocavam no início. Sentia falta da menina inexperiente e curiosa. E não parecia muito tempo. Quatro anos. Em apenas quatro anos ela mudara da água para o vinho. Era como se ele dormisse e acordasse um dia com outra Cloe ocupando o lugar da antiga.A Cloe de agora era ainda mais imperturbável, muito mais imponente e séria.Quando voltou na manhã seguinte para a casa da avó, achou que ela lhe bateria.— Como pode sumir assim e não atender Cloe? – A avó gritou com ele e segurava uma colher de pau na mão, instantaneamente ele se encolheu, sabia que ela lhe bateria com a colher se ele não ficasse esperto. – Isso não se faz, fio!— Vó, eu…— Cale essa sua boca e me respeite! – ela chegou mais perto para ele, fazendo-o se encolher novamente. – Você trouxe essa menina pra cá, transformou-a no que ela é hoje, agora aguente as consequências dos seus atos! Eu avisei que não queria problemas
PALAVRAS IMPENSADASEle disse à Shay que estava tudo bem, que faria isso por qualquer amigo.— Sabe que defendo os meus, né? – ele falou quando ela se desvencilhou dele com os olhos marejados.— Sei disso, Boy, mas, sabe, sei que meu pai tem esse problema, a gente briga muito por conta disso, mas ele…meu pai é tudo o que tenho. Por isso te agradeço demais.Shay saiu enxugando os olhos e Túlio foi para o quartinho da casa de sua avó e, após se deitar, ficou pensando não só no que a garota falou, sobre o pai dela ser tudo o que ela tinha, mas na semelhança dela com Cloe. Sua antiga Cloe. Isso o perturbou e quando percebeu, estava pegando seu capacete e indo falar com Gordo.O homem demorou para atendê-lo dessa vez. Estava ocupado em seu escritório e Túlio ficou batendo bola com os netos dele no quintal até que foi chamado por Estela, a esposa de Gordo, que ao contrário do marido, era imensa. O sobrepeso lhe cobrava o peso e ela parecia uma pata, veio gingando até o quintal e o chamou ca