Ela ficara calada, não dissera mais nada até dormir.Ele pensava nisso e em tantas outras situações que a chocavam no início. Sentia falta da menina inexperiente e curiosa. E não parecia muito tempo. Quatro anos. Em apenas quatro anos ela mudara da água para o vinho. Era como se ele dormisse e acordasse um dia com outra Cloe ocupando o lugar da antiga.A Cloe de agora era ainda mais imperturbável, muito mais imponente e séria.Quando voltou na manhã seguinte para a casa da avó, achou que ela lhe bateria.— Como pode sumir assim e não atender Cloe? – A avó gritou com ele e segurava uma colher de pau na mão, instantaneamente ele se encolheu, sabia que ela lhe bateria com a colher se ele não ficasse esperto. – Isso não se faz, fio!— Vó, eu…— Cale essa sua boca e me respeite! – ela chegou mais perto para ele, fazendo-o se encolher novamente. – Você trouxe essa menina pra cá, transformou-a no que ela é hoje, agora aguente as consequências dos seus atos! Eu avisei que não queria problemas
PALAVRAS IMPENSADASEle disse à Shay que estava tudo bem, que faria isso por qualquer amigo.— Sabe que defendo os meus, né? – ele falou quando ela se desvencilhou dele com os olhos marejados.— Sei disso, Boy, mas, sabe, sei que meu pai tem esse problema, a gente briga muito por conta disso, mas ele…meu pai é tudo o que tenho. Por isso te agradeço demais.Shay saiu enxugando os olhos e Túlio foi para o quartinho da casa de sua avó e, após se deitar, ficou pensando não só no que a garota falou, sobre o pai dela ser tudo o que ela tinha, mas na semelhança dela com Cloe. Sua antiga Cloe. Isso o perturbou e quando percebeu, estava pegando seu capacete e indo falar com Gordo.O homem demorou para atendê-lo dessa vez. Estava ocupado em seu escritório e Túlio ficou batendo bola com os netos dele no quintal até que foi chamado por Estela, a esposa de Gordo, que ao contrário do marido, era imensa. O sobrepeso lhe cobrava o peso e ela parecia uma pata, veio gingando até o quintal e o chamou ca
Ela não saiu lá fora quando ouviu o motor da moto dele. Sentiu o coração se descompassar e fingiu não se importar quando ele afinou a voz no quintal e ficou uns minutos brincando com Formiga que pulava nele latindo de alegria. Ela estava cortando batatas para fazer a janta e continuou o que fazia, encostada na pia, um pé sobre a canela da outra perna.— Quer ajuda? – ele perguntou quando entrou.— Não. Mas estou fazendo uma quantidade só para mim, se quiser também, corte as batatas e carne faça para você – ela respondeu sem se virar para ele, a voz baixa e tranquila. Ela o ouviu puxando uma cadeira da mesa e se sentando.— Minha vó mandou sopa, acho que dá para nós dois.— Ah, que bom! – Cloe falou e passou a guardar as batatas no saquinho de novo para guardá-las e a carne. Ouviu quando Túlio se levantou pelo barulho que o pé da cadeira fez ao se arrastar no chão. O cheiro que desprendia dele, o cheiro que ela mais amava no mundo entrou em seu nariz quando ele abaixou sobre seu pesco
NOSTALGIA— Espairecendo um pouco, nada demais. Ia, na verdade, para um hotel que passei a noite passada.Shay então teve certeza de que ele e Cloe não estavam bem, já que ele estava indo dormir em um hotel.— Quer conversar um pouco? – ela perguntou, tendo o cuidado de não demonstrar a ansiedade e desejo de que ele respondesse sim. – Podemos ir à minha casa, tomar um café ou algo mais forte, depois você vai para o hotel.Ela queria deixar claro que não tinha a intenção de transar com ele, muito embora essa fosse sua real intenção.— Opto por algo mais forte – ele sorriu. – Sobe aí.E ela subiu mais do que depressa. Em minutos estavam na casa de Shay. Ele se lembrava que ela morava com uma amiga da época do colégio e quando entraram com a moto, Junia saiu na porta, alertada pelo barulho do potente motor. Shay a olhou sem que Túlio percebesse e falou sem soltar a voz, somente fez o sinal de : Saia!— Oi, gente, espero que não se importe por estarem chegando e eu saindo, é que… preciso
CAOSAntes que fizesse algo pelo qual se arrependeria mais tarde, Túlio se levantou do sofá de Shay e se foi, sem sequer se despedir, deixando-a sem entender. Não podia ir para o hotel que passara a noite anterior, pois tinha se excedido na cerveja, preferiu enfrentar a avó.Mesmo desligando a moto no portão, viu quando ela acendeu a luz de fora e quando encostava a moto no muro, foi que ela começou:— Não acredito que esteja vindo aqui uma hora dessas! Olha, eu não vou viver muito, na verdade, vou morrer logo porque você está acelerando minha morte…Ela foi falando e falando enquanto ele tirava a roupa e entrava no banheiro, ela continuou falando enquanto ele tomava banho e até quando ele se deitou em seu quartinho no quintal dela.— Talvez eu morra bem antes da senhora, vó – ele soltou já de olhos fechados e sabia que se falasse isso ela se calaria e foi o que aconteceu.— O que está querendo dizer? – ela o empurrou para se sentar na beirada da bi cama dele.— Não estou querendo diz
— Ei, chefe, tá tudo na paz aqui, mano! Esse cuzão quer vir tomar o Sopro de novo, tá ligado? – Zacarias gritava no meio da rua, sangue escorria de seu braço, seu olho estava fechado de inchado e ele segurava uma arma potente no braço bom.— Tô ligado, mano – respondeu Túlio, se aproximando rodeado de seus homensAo que parecia, Silas já havia sido neutralizado e estava caído em uma poça.— Vou liberar a ambulância pra pegar o corpo do SilaS, falou,mano? E vamos conversar, ok? – gritou Túlio.— Pode crer, chefe, deixe os homens subir e levar o cuzão, mas já vou avisando que se outro quiser tomar meu pedaço aqui, vou crivar de balas! – Zacarias avisou e Gringo fez uma ligação rápida para que os outros liberassem a rua lá embaixo para que a ambulância pudesse pegar o homem caído.Quando a ambulância chegou, Túlio deu um tapa no capô, dizendo para desligarem as luzes e enquanto os paramédicos amedrontados faziam seu trabalho em Silas, notaram que ele estava vivo ainda.— Que porra é essa
A VERDADE VEIO À TONATúlio sabia que Bore não lhe diria facilmente onde poderia encontrar Jânio, sendo assim, saiu dali com a cabeça quente. Cloe não estava indiferente ao que acontecia. Não a deixaram ir com eles nos ataques que estava indo e sua situação com Túlio não estava legal. Ela não queria bater de frente com ele, não dessa vez.Foi à casa de Milla e mal a amiga lhe viu, já foi falando:— Cloe, amiga, está tudo muito complicado agora. O Boy deve estar com a cabeça cheia e antes que me pergunte o que está acontecendo, lembre-se de como ele pune. — Milla, não quero me envolver, prometo que não vou me envolver dessa vez, mas ele saiu no meio da madrugada e não voltou. Estou preocupada.Cloe entrou na casa da amiga atrás dela. O pânico em seu rosto fez Milla sentir pena dela.— Lembra-se de da vez que conseguiu que ele não me punisse por ter intervir em suas vidas? – Milla falou de novo.— Como poderia esquecer, Milla? Quase me mijei toda aquele dia! Mas não deixei que ele a
Jânio tinha o costumeiro sorriso debochado nos lábios e antes que pudesse responder, estando a dois passos de Túlio, o rapaz lhe deu um soco no queixo que o derrubou.— Agora sim estamos empatados – falou, tirando os óculos escuros e não se importando se o homem estava ou não com seus capangas. O rapaz chacoalhava o punho dolorido e lhe endereçou também um sorriso debochado.— Não creio que ficaremos empatados com esse soquinho, Boy, ah, mas não creio mesmo! – Jânio se levantou, espanou a poeira de suas calças de brim sociais, mexeu o maxilar para aliviar o golpe, se abaixou para pegar os próprios óculos que caíra no chão e o colocou no de volta aos olhos. O rosto vermelho fazia com que as tatuagens que lhe cobriam boa parte da face se acentuaram.No mesmo momento, Cloe estava falando com Gringo. Tinha ido procurá-lo para saber se ele sabia onde estava Túlio. Encontrou Gringo subindo a rua de carro e pulou na frente.— Está maluca? Eu poderia tê-la atropelado! – Gringo gritou para ela