Jânio tinha o costumeiro sorriso debochado nos lábios e antes que pudesse responder, estando a dois passos de Túlio, o rapaz lhe deu um soco no queixo que o derrubou.— Agora sim estamos empatados – falou, tirando os óculos escuros e não se importando se o homem estava ou não com seus capangas. O rapaz chacoalhava o punho dolorido e lhe endereçou também um sorriso debochado.— Não creio que ficaremos empatados com esse soquinho, Boy, ah, mas não creio mesmo! – Jânio se levantou, espanou a poeira de suas calças de brim sociais, mexeu o maxilar para aliviar o golpe, se abaixou para pegar os próprios óculos que caíra no chão e o colocou no de volta aos olhos. O rosto vermelho fazia com que as tatuagens que lhe cobriam boa parte da face se acentuaram.No mesmo momento, Cloe estava falando com Gringo. Tinha ido procurá-lo para saber se ele sabia onde estava Túlio. Encontrou Gringo subindo a rua de carro e pulou na frente.— Está maluca? Eu poderia tê-la atropelado! – Gringo gritou para ela
BRIGA DE GIGANTESO quebra-cabeças não encaixava em seu cabeça. Por mais que repassasse na mente e tentasse descobrir quando foi que ela mudou, era como segurar areia com uma peneira, tudo escorria e ele não via com clareza.Ela o ameaçar com uma faca! Em sua última briga, ela olhou para ele em pânico quando ele a beijou e a tocou, queria fazer as pazes com ela, amá-la, mas ela o repeliu e o ameaçou. Ameaçou esfaqueá-lo! Ele passara horas olhando-a deitada, sabendo que ela estava acordada e tinha uma faca debaixo do travesseiro. Pensou em abraçá-la e lhe dizer que jamais a tocaria contra sua vontade, jamais faria amor com ela sem o consentimento e desejo dela. Claro que não teve medo dela, ela era miúda e não era páreo para ele, sentiu medo por ela ter mudado. Sentiu pânico ao ver o que viu no rosto dela, os olhos inflamados de… medo! Ela sentiu medo dele forçá-la a transar. Sentiu medo de ele a forçar. Por Deus, sim, ela havia sido estuprada! Mas quando? Por quem?Essas coisas lh
REVIVENDO A DORCloe estava devastada por ele ter descoberto, principalmente dessa forma.Gringo a segurou pela cintura, impedindo-a de entrar no meio dos dois, temia que ela fosse atingida pelos golpes desenfreados de Túlio.Todos na rua olhavam espantados. Outras pessoas de ruas circunvizinhas tinham sido alertadas e vieram ver de perto.— Você é desprezível! – Vociferava Túlio enquanto o espancava. – Isso é baixo até para você! Não é um mafioso que se preze, não merece a confiança de ninguém!Cloe conseguiu sair dos braços de Gringo que a segurava firme, mordendo-lhe uma mão e pulou nas costas de Túlio, puxando-o e só quando rasgou a camisa dele foi que o tirou de cima de Túlio.— Amor, vamos embora, por favor, já chega! – Ela gritava tanto para que ele saísse de sua fúria e a escutasse, que sua garganta doía, mas enfim conseguiu. Ele não olhou para ela nem para ninguém quando saiu dali, caminhou até o carro aberto que Gringo e seus amigos tinham chegado até ali, Gringo lhe jogou
— Saia!Formiga entrou rapidamente e Cloe bateu a porta novamente na cara dele.Ainda sentindo angústia, o peito doendo, a respiração entrecortada, os soluços a chacoalhando, ela se deitou na cama com sua cama com sua cadelinha abraçada, parecendo querer confortá-la e chorou como se não houvesse amanhã.Não atendeu a porta na manhã seguinte quando Milla bateu, nem quando Gringo bateu mais tarde, nem para Sopapo e Canibal à seguir. Sentia-se vazia como nunca antes. Chorou a noite toda. Chorou o que não se permitiu quando foi estuprada, o que não se permitiu chorar quando os pesadelos a atacaram logo que sofreu a violência, chorou pelo seu pai, sua mãe, seu irmão, sua vida de antes, sua faculdade, mais chorou principalmente porque amava Túlio.Túlio andava como um ser sem alma, um mendigo, um indigente, andava o dia todo até seus pés doerem e não mais suportá-lo de pé. Não visitou sua avó esses dias, dessa vez, imaginava, que ela realmente teria um enfarto se o visse. Não visitou sua c
EU SINTO MUITO…Layla, sua avó, estava acostumada aos sumiços dele porque desde os treze anos ele fazia longas viagens com Bore e Paco. Ela foi obrigada a se acostumar.Ele bebeu a garrafa toda que pediu na noite anterior à recepção e estava tonto quando ligou o celular que já tinha carregado e mal o ligou e o aparelho tocou.Ele tinha o contato da maioria das pessoas em seu aparelho, mesmo as que nunca lhe ligavam ou as que ele nunca atendia e Shay era uma dessas pessoas. Que ele nunca ligou, que nunca havia ligado para ele, mas tinha o contato dela salvo e quando o número dela apareceu, ele ficou curioso e atendeu. “ Oi, Túlio.” – ela procurou dar uma voz calma e meio infantil, chamou-o pelo nome porque ele lhe pediu que não o chamasse mais de Boy, ela foi toda carinhosa na ligação. “ Só estou ligando para saber como você está.”“ Oi, Shay, estou bem, obrigado.”Ele era sempre assim. Sempre seco e não perdia tempo com falação, ela bem sabia, mas estava até a tratando bem. Nunca ti
DURA SOBRIEDADESonhos perturbadores povoaram o sono de Túlio a noite toda. Como a dias ele não dormia bem, ainda que bêbado e se sentindo muito mal e cansado, dormiu pelo menos umas duas horas daquela vez. Foi tão real ter amado Cloe novamente. Sentir sua pele em suas mãos, sentir os beijos dela, a resposta dela. Antes de abrir os olhos para uma dor de cabeça monstra, pois ele já a sentia espreitar, por trás de seus olhos eram só dor e secura. A cabeça latejava e tonteava. Imaginava que ao abrir os olhos e os colocasse em foco, a dor explodiria. Por que estava fazendo isso a si mesmo? Pensava desanimado.A boca estava amarga, a garganta tão seca que lhe dava a impressão de que a língua tinha dobrado de tamanho e pousava grossa e pegajosa em sua boca. Foi mesmo sonho? Eles estavam bem de novo, Cloe e ele? Ela o havia perdoado por ser um maldito insensível? O perdoara por tantas crueldades que ele vinha fazendo a ela? A sensação em seu corpo era a de que fizeram amor horas atrás e só i
Olhando para suas roupas jogadas no chão, ele as vestiu rapidamente, encontrou seu celular no bolso da calça, foi ao banheiro com o celular no ouvido, já tendo discado, enquanto aliviava a bexiga, a ligação se completou:“ Boy?”“ Fredo, venha à casa de sua filha.”“ Ela está bem?” – A voz do pai da garota estava trêmula e fraca.“ Acho que ainda respira, procure ser rápido!”Fez mais uma ligação rápida, que por sorte também foi atendida rápida por Flora:“ Pois não, Túlio.”“ Vou enviar um endereço para vocês, peça ao Zaquim que venha dar uma olhada.”‘ Ok, poderei ser eu, ele está…”“ Não! A não ser que entenda de ressuscitação, terá que ser um médico.”“ Entendi, já estamos indo.”Ele desligou o celular e enviou o endereço, saiu da casa e voltou, não para sua casa, mas ligou para Gringo enquanto caminhava pela rua. Estava de volta, voltou à gangue e aos seus trabalhos. — Oi, chefe. Vamos fazer um tour pelas adjacências? – Perguntou Gringo assim que o viu.— Chame os outros e por t
UM POUQUINHO DE COLO— Está, fia, jamais esconderia de você se algo acontecesse a ele. Tenha sempre isso em mente. Sei o quanto ama meu neto, aquele cabeça dura que não a merece, sei o quanto o ama e está sofrendo, então jamais ia deixar que não soubesse se fosse o contrário.Cloe desabou. As lágrimas reprimidas na presença da senhora, caíram livrementes.— Ele me merece sim, Layla, eu o amo e ele me ama.— Amor não basta, meu bem. Quem nos ama também pode nos ferir e às vezes tem o poder de nos magoar mais do que os que nos odeiam! Sei que dessa vez ele a magoou demais e está confusa, não é? Não fique, minha querida. Não fique confusa, não se culpe porque você é boa demais, não tem culpa de nada e é uma pessoa maravilhosamente boa. Foi assim que Cloe soube que ela fora estuprada. Os olhos vermelhos e encharcados miravam os aquosos olhos da velha senhora.— Você…— Soube. Sim, eu soube, meu bem e juro para você que se houvesse uma forma de trocar de lugar com você, eu trocaria em um