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O Dia Em Que A Luz Brilhou Mais Fraca, Parte 2

Olhou ao redor.

Encontrou o painel a sua direita onde estavam o escudo e a espada: Dente de Dragão. Suas armas haviam sido recolhidas na noite anterior para que fossem tratadas especialmente para aquele dia, então ele planejava somente tomá-las na hora do embate com Geralt.

Correu com a arma que acabara de apanhar em punhos.

Acompanhado de um grito, golpeou um soldado no caminho, depois aparou o golpe de outro e contra-atacou, perfurando a cota de malha enferrujada por baixo do corpo do inimigo naquela curta dança de espadas. Enquanto continuava correndo para atravessar o campo ia repelindo ataques e às vezes devolvia o golpe sem perder o fluxo de seus apressados passos até Dente de Dragão.

A poucos metros de distância foi interrompido por um oponente muito habilidoso, qual não dava brecha para um ataque direto. Gale posicionou a espada para trás, abaixo de sua cintura, uma de suas posições favoritas com espadas de duas mãos para surpreender o inimigo. O espadachim adversário tentou atacar com um corte por cima, então o jovem bloqueou o ataque e empurrou a lâmina para o alto até o limite onde seus braços poderiam alcançar, levando as duas espadas para acima da linha da cabeça e abrindo a guarda do homem, que foi empurrado com um chute alto no estômago e golpeado com a queda da arma do garoto sobre sua cabeça, não podendo fazer nada pelo equilíbrio que lhe foi roubado e a defesa extremamente exposta.

O caminho estava livre até que viu um invasor ser arremessado através do pequeno corredor imaginário. Uma abertura no meio do caos da batalha. Virou-se para a direção de onde o encapuzado tinha sido atirado e viu Noran, um já velho Protetor, mas muito forte, que lutava de mãos vazias contra vários inimigos de uma só vez.

— Venham e enfrentem a ira de um filho da Luz! — gritava o velho careca e musculoso enquanto se desviava de um golpe de espada e corria até outro encapuzado para desarmá-lo. — Seus movimentos são fracos demais — disse ao agarrar o mascarado que desarmara e que agora recebia golpes na cabeça do mesmo. Então riu grandiosamente, o que certamente deve ter amedrontado os oponentes, que pensaram duas vezes antes de atacar novamente.

— Senhor Noran! — chamou Gale, que lhe jogou a espada que empunhava e ganhou um honesto sorriso de agradecimento, que para aqueles vestidos em mantos escuros lá deve ter soado aterrorizante de tão prazerosa era a sensação do Protetor ao receber a arma.

— Muito obrigado, meu querido! Agora é hora de brigarmos como homens. Certo, crianças? — perguntou aos invasores. Então investiu contra eles. Pelo que conhecia dele, o jovem poderia afirmar que o velho Protetor não era o maior exemplo de fé dentro do Santuário, ele acreditava nos homens e no peso da espada.

Gale correu para o painel, onde se equipou com o escudo, um elmo e a Dente de Dragão. A espada era feita com ferro tariano, o melhor metal para se forjar de toda Cylch e possuía uma cabeça de dragão entalhada por ele mesmo no pomo do cabo.

Sabia o que fazer, era o único com algum tipo de proteção, já que trajava um peitoral de couro, braçadeira de carvalho guardiano e joelheiras por causa do combate que teria. Era o único que podia abrir caminho pelo túnel até o lado de fora, que supôs estar pior que dentro da Arena das Estrelas. Os filhos da Luz não poderiam ficar ali, era questão de tempo até chegarem mais mascarados e derrotá-los naquele ambiente fechado e sem armamento para se defender.

O aprendiz então brandiu sua espada em direção ao alvo mais próximo e gritou:

— Por Luxord!

Seu grito conseguiu levantar a moral dos que ali estavam, como um pedido para mais um esforço. Até o limite.

Ele correu em direção ao túnel, acompanhado por outros aprendizes e protetores, abrindo caminho. Gale girou a espada em seu punho e estocou um alvo, defendeu um machado vindo da direita com o escudo e golpeou o autor do ataque rapidamente. Sentiu um golpe acertar-lhe a cabeça, o que o fez ficar tonto e embaralhar os sentidos. Cambaleou para o lado e acertou com as costas a parede esquerda do túnel, onde uma batalha violenta acontecia. Quando sua visão começou voltar ao normal, não enxergando versões duplicadas de seus oponentes e aliados, percebeu a lâmina que caía sobre si. Rapidamente o guerreiro se desviou para a direita com o susto, ainda zonzo, mas conseguiu aparar o próximo ataque. Firmou os pés no chão e investiu contra a espada, defendendo-a com seu escudo de madeira e trazendo a Dente de Dragão para frente, perfurando o alvo.

As mortes não estavam tendo mais tempo para causar pesar ou qualquer outro tipo de sentimento punitivo, não se podia pensar mais que o necessário para saber onde acertar o próximo golpe. O aprendiz correu abrindo caminho dentro do túnel junto dos outros, recebendo mais golpes do que gostaria, e conseguiu chegar ao seu fim, vislumbrando a cidade que outrora era maravilhosa, agora não passando de casas e ruas em chamas.

Do lado de fora, os protetores estavam armados e realizando pequenos combates em grupos, o que Gale pensou que deveria estar se estendendo por todo o Santuário. Os que saíram de dentro da Arena iam se juntando às lutas em diferentes lugares. Não ele.

O jovem filho da Luz correu através das ruas, estrategicamente planejadas em padrões geométricos perfeitos, tão rápido que não conseguiam acertá-lo com espadas, lanças ou machados. Gale correu até o único erro de cálculo daquela cidade inteira: O beco sem saída formado pelo encontro de uma casa de ladrilhos amarelos, que possuía um terraço descomunal, e de uma casa branca com o telhado pontiagudo da cor azul. O aprendiz não conhecia os donos daquelas residências, mas preferia a casa amarela, era melhor para ver as estrelas do alto do terraço.

Lá, ele se largou ao chão, conseguiu tirar o elmo com dificuldade, pois estava amassado, e se pôs a respirar. O jovem precisava entender o que estava acontecendo, o Santuário da Luz era o lugar onde os protetores eram treinados para proteger o equilíbrio das Estações e impedir que os Senhores das Trevas retornassem, os únicos que poderiam invadir o lugar seriam marionetes deles.

— Mas isso é impossível, somente filhos da Luz podem achar o caminho até o Santuário — disse o rapaz para si mesmo, tentando se controlar e encontrar lógica em seus próprios pensamentos descontrolados.

Um traidor.

Isso seria mesmo possível? Não podia se dar ao luxo de refletir muito sobre isso naquele momento, precisava voltar à luta.

Antes, decidiu fazer um rápido autoexame, para ter certeza das suas condições físicas. Tirou a braçadeira do braço esquerdo e viu que seu punho estava inchado, o que era um grande problema. Gale era canhoto. O pé direito doía um pouco, talvez tivesse torcido na briga dentro da Arena. Nada demais. Seus ombros doíam e as costelas também, possivelmente estavam fraturadas. Um pequeno desejo de ficar escondido no beco até tudo acabar brotou no fundo de seu coração, o que deixou o aprendiz irado. Mesmo que por um segundo ele pensara em abandonar seus amigos e colegas. Pensou em abandonar Luxord, o Senhor da Luz.

Pôs-se de pé. Botou o escudo no braço apertou Dente de Dragão o mais forte que pôde, para evitar que escapasse. Após isso, não teve mais escolha.

Três invasores vestidos de preto o avistaram no beco e avançaram em sua direção. Gale usou a lâmina para aparar o golpe do primeiro oponente a chegar em seu confronto e bateu com o escudo em seu rosto. Então girou e desviou do golpe do segundo, um corte de cima para baixo e encaixou no corpo exposto uma estocada perfurante. Retirou a lâmina do peito do homem e pulou para trás, esquivando-se do ataque do último e ganhando espaço para uma boa inspirada de ar, então saltou em direção à parede da casa de ladrilhos amarelos e pegou impulso na mesma, para acertar a cravada no rosto do alvo. Dente de Dragão ficou presa. Ainda precisava lidar com o primeiro hostil, que já estava recuperado e investiu contra Gale. O garoto se abaixou para desviar do corte transversal e desferiu soco no estômago do ser de máscara e capuz, que se contorceu, então se levantou e lhe bateu com o escudo. O sujeito bateu com a cabeça contra a parede. O garoto pulou até ele e roubou a espada de suas mãos, qual usou em um giro, cortando a vida daquele homem fora. Largou a arma. A respiração estava descompassada novamente e os pontos de fumaça resultante dos incêndios aumentavam.

Mesmo contra a vontade do próprio corpo, que lhe obrigava a ter o dobro de esforço pela fadiga, o jovem escalou a casa com o telhado azul para poder ver o Santuário melhor. Atualmente estava na região dos protetores, onde havia casas, comércios, ferreiros e estábulos. Até onde o rapaz podia ver, era o ponto de menos caos dentro do lugar. Supôs que por ser onde os guerreiros residem, a resposta ao ataque fora mais rápida e efetiva. Avistou ao sul o lugar onde morava: O acampamento dos aprendizes, que eram compostos por inúmeras tendas e barracas de pele de bisão dos Alpes Voadores e era onde ele passara toda a vida enquanto filho da Luz.

Naquele momento, estava totalmente destruído.

O acampamento ficava muito próximo da entrada secreta do Santuário, então possivelmente era onde o ataque havia começado. O lugar que era verde e abençoado pela grama cheirosa estava queimado, morto. Gale viu Geralt lutando bravamente ao lado do Sentinela do Verão, Gaheris, o portador da espada flamejante conhecida como Litha, a filha de Luxord que representava a Estação mais quente. A pele negra do Sentinela brilhava ao brandir sua espada incandescente contra os adversários que ficavam atônitos vendo-a se transformar em um grande chicote, trazendo desespero aos inimigos do fogo do Verão.

Então o jovem direcionou seu olhar a subir a via principal, composta pela estrada de tijolos de rocha anciã que atravessava a cidade inteira até o centro do Santuário da Luz, onde ficava a majestosa estátua de Luxord e seus quatro filhos. Em volta, uma grande batalha acontecia liderada pela Sentinela do Outono, Kyria, aquela que carregava Samhain. Os guerreiros defendiam a estátua enquanto ela despedaçava os oponentes com o poder de sua espada. O garoto analisou suas possibilidades, pensou nos outros sentinelas que deveriam estar protegendo outros lugares em que sua vista não alcançava dali, então rasgou parte da calça e fez uma tira para amarrar a Dente de Dragão em volta de seu pulso para que esta não escapasse, e correu até o centro para ajudar a Filha do Outono.

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