Alabaster desejava que o tempo que passara afiando sua lâmina na noite anterior se pagasse nos instantes que estaria prestes a viver. Os passos do jovem Wintamer foram mais rápidos, permitindo-o chegar primeiro até a criatura e realizar o ataque inicial, o dyninse o acompanhou. O braço de aço lofidiano aparou o movimento do filho da Luz, abrindo uma brecha para que Digaeth pudesse encontrar um corte no tornozelo de seu oponente. Quando o ser virou para atacar o garoto de cabelos negros, uma flecha disparada por Yew de cima do dragão acertou as juntas do membro metálico, o travando, Gale aproveitou o tempo e a defesa escancarada para atingir com um corte de cima para baixo as costas do inimigo. A criatura se contorceu de dor e girou raivosa, a fim de atingir o Sentinela com seu braço deformado, mas este saltara para a direita e saiu ileso da situação. Os dois seguiram em sincronia, alternando entre os ataques de forma a irem desestabilizando o oponente e cadenciando seu dano pouco a
Samhain irradiou sua Luz dourada disposta a lutar ao lado de seu portador até que não restasse mais vida nos corpos deles. O ciclone voltou a rodear o corpo do jovem humano quando sua marca queimou feito ferro em brasa, porém, não lhe causava dor, somente uma vontade surreal de lutar por seus irmãos. Gale Wintamer encarou os dois Senhores das Trevas que tentavam escapar de sua prisão e os sentiu recuar ante sua presença. Ele se preparou para o corte definitivo de sua vida, o golpe que treinara por quase dez anos para realizar. Tudo se resumia ao próximo movimento com a espada, que daria sentido não só à sua vida, mas também à de todos que vieram antes dele. O Sentinela e o filho de Luxord se prepararam como um e então cortaram os céus. Os Senhores das Trevas tentaram resistir ao golpe de qualquer forma impedindo que Gale prosseguisse, mas o jovem não quis desistir e firmou seus pés no chão. De acordo com ele, tudo o que precisava era de um pouco mais de força. Todo o peso de seu cor
Quando o êxtase da batalha passou, o jovem Sentinela pôde apreciar o sentimento da exaustão. Suas pernas bambearam sem forças. Os braços já não o respondiam mais. O peso da espada puxava seu corpo para baixo. Finalmente sentiu as queimaduras em seu peito. Tombou. Alabaster o amparou antes que chegasse ao chão, embora também estivesse com dificuldades para respirar e com dores em lugares que nem imaginara serem possíveis de sentir. Gale tossiu um pouco de sangue quando tentou rir de sua impotência naquele momento. — Me ajuda a descer até lá embaixo? — disse ele após perceber o caminho que teria de fazer se quisesse deixar aquela montanha. O dyninse tentou dar uma leve risada, mas seu peito dolorido a transformou em um gemido de dor. O Filho do Outono encarou a borda do monte tempestuoso, mais precisamente no ponto aonde observara Guido despencar havia pouco. Uma pedra nasceu em sua garganta, dificultando a passagem do ar até seus pulmões. Ele ainda se culpava por ter deixado o ami
jovens se puserem a descer a montanha o mais rápido que eram capazes enquanto os filhos da Luz preparavam suas piras a fim de cremar seus irmãos falecidos na batalha daquele dia. Acalypha se encarregou do discurso que precedeu a cerimônia, como eles puderam ver ao passo em que desciam. As chamas cresceram grandiosas naquele dia, sabendo que cada soldado que dera sua vida estava se dirigindo para o Salão Dourado após tornar Cylch um lugar melhor. O dever do Filho do Outono era fazer com que essas cinzas que se elevaram aos céus sob as Montanhas Tempestuosas se orgulhassem de terem lutado ao seu lado, e que fossem lembradas até o fim dos tempos. Ainda que todos estivessem felizes com a vitória, havia de se lamentar a perda dessas vidas, assim como Samhain lhe dissera no Santuário, que se entregaram buscando um propósito. Logo os dois alcançaram a areia branca da praia, exauridos pela longa caminhada e ainda sem muitas forças no corpo. A espada de Gale estava muito mais pesada que se
A Lua selvagem iluminava aquela noite estrelada na ilha do Pai das Estações. Os dois das centenas de seres ali presentes, nenhum entendeu de onde surgira aquele homem alto e de cabelos cacheados que trazia consigo folhas secas à sua volta, muito menos quem viria a ser ele. Os três sentinelas levaram alguns poucos instantes para conceber a ideia de estarem em frente ao deus filho de Luxord, porém se ajoelharam mesmo boquiabertos. Tentavam encontrar palavras para dizer, mas suas línguas pareciam terem sido arrancadas por uma lâmina cega. — Gostei da pedra, garota. Ela é tão bonita quando você — Outono disse a Helena, que não dobrara seus joelhos para ele e carregava sua pedra de Embaixadora, o que o fazia gostar dela duas vezes. — E olhem só para vocês, que vergonha! Querendo arrumar confusão logo com o meu garoto triste! Tem sorte de serem amigos de Kyria, senão já teria os mandado para a perdição! Os sentinelas mantiveram suas cabeças abaixadas, temendo a punição que poderiam sofrer
— Imagino que devamos nos reunir para um conselho, a fim de montar uma estratégia de como iremos operar a partir de então — declarou Acalypha, que sorria de canto. — Mas não hoje, caro Gale — aliviou-o.— E também precisamos encontrar um jeito de fazer os sacerdotes a nos apoiarem — o Filho do Inverno disse preocupado.— Que se danem os sacerdotes, Alastair! — Helena exclamou enquanto voltava para as festividades.— Gosto dela. — Gaheris sentiu que era a hora de uma taça de vinho. Talvez duas. — Tratem de ficar bem. Resistam e Incandesçam.— Também irei me retirar, foi um dia complicado. — Acalypha abraçou Gale com cautela. — Kyria estaria orgulhosa de você. Resista e Incandesça, irmão.— Se quiser apostar algumas estrelas, fale com o Durant. É um anão da quarta brigada. — O Sentinela do Inverno piscou para ele. — Mas eu não te disse nada disso, certo? Ah! Mais tarde vamos ter uma corrida de pégasos, se quiser participar com aquela coisa dali… — Apontou para Lucy, que comia grande par
A Lua permanecia cheia nos céus, atraindo os olhares dos quatro que ficaram em silêncio por um longo tempo até que este se tornasse desconfortável. A festa estava bem longe de acabar, talvez durasse mais de um dia caso os anões não tomassem toda a bebida nas próximas horas, então ainda poderiam aproveitar a companhia uns dos outros por mais tempo. — O que faremos agora? — o dyninse indagou inquieto. — Podemos tentar convencer Lucy a entrar na corrida de pégasos. — Gale parecia animado. — Quem é Lucy? — A garota não fazia ideia do que conversavam. — O dragão. — O Sentinela apontou para o monte tempestuoso, onde a criatura repousava satisfeita após a refeição. — Quem é o idiota que batiza um dragão de Lucy? — Yew se revoltou em saber o nome da criatura que até agora chamava de “dragão”. — Samhain. — Imaginei. — Vocês sabem que ela está dormindo agora, certo? — Alabaster não sabia ao certo o quão longe poderia ir à insanidade daqueles dois. — E que a pessoa que controlava ela vir
Uau! E pensar que nós dois conseguiríamos chegar até o fim dessa aventura, não é? Escrever O Filho do Outono foi o processo mais dolorido e prazeroso que pude viver nesse curto espaço da minha existência. Afinal, sempre tive vontade de contar histórias e fazer arte (Tá no sangue da família), mas nunca pensei no quão complicado isso seria. Os últimos anos foram os mais importantes para mim enquanto pessoa e artista, pois neles me descobri e redescobri diversas vezes. Posso dizer que esse sonho engavetado meu foi trazido à luz na hora certa, mas não por mim, por Gale Wintamer. É muito louco de pensar em como os personagens falam com a gente e, em determinado momento do processo criativo, você já não está mais no controle. Era um momento muito conturbado para mim, que além da pandemia do COVID-19, enfrentava todos os dramas que um jovem cursando os últimos anos do colégio pode viver, com todos os clichês escrachados e mais bobos. E então, Gale falou comigo. O chamado veio como viera