Todos os olhares eram direcionados a Gale, que comia sentado sozinho à mesa no pavilhão de refeições.O lugar ficava ao norte da cidade e era composto por grandes mesas e bancos enfileirados onde os protetores tinham suas refeições noturnas. Os aprendizes jantavam no acampamento, o que tornava o ambiente um pouco hostil ao seu ver. Poucos ali conheciam o garoto que mal conseguira encostar na sopa enquanto vigiado pelas sombras dos céus negros que não abrigavam nenhuma Luz.Os soldados da Legião de Tarian haviam desaparecido após a batalha, o que era extremamente suspeito. Como um exército e um animal de metal gigante poderiam sumir com tanta facilidade sem deixar rastros?A realidade ainda era difícil de aceitar. A cabeça do rapaz, que já estava confusa aquele dia, agora tinha sido virada do avesso. Os sentinelas possuem uma longevidade maior, por isso, são escolhidos a cada duas gerações de protetores no Santuário da Luz. Gale não deveria chegar assistir a uma consagração de Sentinel
— O que houve com o Outono? — perguntou ele, surpreso e confuso. — Não sabemos — contou Gaheris, agora com as tranças soltas sobre os ombros, que tentava inutilmente encontrar uma posição confortável para se sentar. As chamas da clareira no salão iluminavam seu rosto cansado e deixavam visíveis os fios esbranquiçados em sua barba. — Aparentemente o filho de Luxord se reforjou sozinho. — Terminou o lofidiano. Era visivelmente o mais abalado, Gale julgou por ter sido ele quem destruíra a espada de Kyria, causando a quebra no equilíbrio. — Tentamos usar o chifre de unicórnio para reparar suas feridas, porém, não adiantou. Suas rachaduras permanecem — Acalypha falou, sentida. — Há uma forma de consertá-lo? — perguntou Gale. Os campeões do Senhor da Luz se entreolharam. — O sacerdote Osellnif contou-nos a respeito de uma profecia, que se iniciava com os versos agora gravados do gume de Samhain, mas não temos nada documentado ou conhecimento sobre os próximos dizeres — começou Alastair
Os três silenciaram-se e encararam o Sentinela do Outono, que se encolheu. — O que disse, garoto? — o lofidiano semicerrou os olhos e perguntou com uma voz soturna, amedrontadora o suficiente para fazer o jovem tremer suas pernas e sua voz. — Somente uma pessoa precisa sair do Santuário, posso atravessar as linhas inimigas escondido enquanto eles tentam atacar. Meus braços não seriam de grande ajuda na linha de frente do combate, mas, posso pelo menos tentar restaurar o equilíbrio e trazer a Luz para nós mais uma vez! — É loucura. — Determinou Gaheris. — Não estamos em posição de perder mais nenhum guerreiro, muito menos uma das quatro espadas sagradas. — Que está quebrada — complementou Alastair. Talvez tenha soado em um tom de deboche mais do que deveria. — Você não está me ajudando, pardal. — o Filho do Verão se irritou. A cara furiosa do lofidiano de tranças longas era algo que aterrorizaria até o próprio Luxord. — Talvez não tenhamos escolhas a não ser resistir aos ataques
Aprontou-se: Tirou os fios recém-cortados dos ombros, botou Samhain nas costas, dentro da bainha, e apanhou a mala, que continha um cantil, ração para alguns dias, corda, um conjunto básico de equipamentos para preparar comida e um frasco com água do rio Loskjs, que Jörfann lhe dera para emergências. Por fim, o jovem encarou o colar de Geralt. Decidiu amarrá-lo no pulso esquerdo, para que uma parte do amigo empunhasse a espada junto dele de agora em diante. O Sentinela do Outono partiu em direção ao acampamento dos aprendizes, pois precisava despedir-se de alguém. — Lenora — sussurrou ele na entrada de sua tenda. A garota dormia profundamente em sua cama. As outras duas estavam vazias, pertenciam às amigas dela que agora jaziam no antebraço de Gale. — Lenora! — Tentou mais uma vez, com medo de acordar os outros aprendizes nas tendas ao redor. A garota roncava enquanto estava abraçada a um travesseiro de palha. Era impossível acordá-la de tão longe. O jovem encarou o antebraço e
Floresta de Niwloedd, 64 dias antes da invasão ao Santuário da Luz Era quase noite quando o chão se tornou visível através das brumas da floresta. Alabaster, um aprendiz mais novo, acompanhava dois protetores em uma expedição até Dynion, sua terra natal. O jovem menino conquistara esse privilégio ao se mostrar um ótimo estrategista em batalha nos jogos de guerra, que haviam ocorrido na semana anterior dentro do acampamento. Por mais que não tenha lutado muito, os protetores responsáveis notaram sua capacidade de liderança somada à facilidade com que entendia processos e criava novas táticas, características que já vinham sendo observadas. A missão a princípio deveria ser designada a Gale Wintamer, um aprendiz próximo à sua graduação, que recusou a oportunidade por este mesmo motivo. Alabaster Starrock então se tornou a escolha mais sensata, pois, era jovem, habilidoso e nativo da localidade hostil para onde iam. Perfeito. Após ser preparado, o garoto poderia desempenhar um melhor
Ao final do jantar, a filha fez questão que dormissem no depósito, mesmo com seus pais insistindo muito novamente. Os três filhos da Luz se dirigiram até o pequeno local com prateleiras e ferramentas largadas pelo chão. O Protetor mais velho se encolheu perto de um ancinho e fechou os olhos. Era impressionante a habilidade que tinha para dormir tão rápido. — Trate de dormir, rapaz. Amanhã teremos um dia complicado — falou Jillian, fitando o teto. Seus finos lábios esboçavam uma tentativa de sorriso que ela não deixava escapar, certamente estava feliz por poder reencontrar os pais depois de tanto tempo. — Há quanto tempo não os via? — Alabaster era curioso demais. Quando a mulher o encarou, seu rosto passou queimar e ele se encolheu. — Perdão pela minha insolência, não devia… — Não, está tudo bem — disse ela, tranquilizando-o. — Já faz mais de vinte anos desde que o Santuário me levou embora daqui. Retornei uma vez, mas não os encontrei na ocasião — suspirou. — E você não sentiu fa
Dynion era uma ilha isolada no mar de Niwloedd que não recebia a Luz do Sol por conta de uma antiga maldição gerada há mais de cinquenta anos, e os habitantes suspeitavam ter sido atirada por um Sentinela. A terra lá era bastante afetada por não ter iluminação natural. Tudo era muito escuro, o ar sujo, as pessoas mais fracas por não receber o fortalecimento do astro celeste em sua essência e não se podia plantar nada, deixando o lugar sem vida e tornando o povo essencialmente dependente da boa vontade do Santuário para lhes ajudar. A única real independência do povo local de verdade era com a pesca. Mesmo possuindo o mar mais perigoso e cheio de mistérios em Cylch, os dyninses se sentiam familiarizados com as criaturas marinhas, sendo o único sinal de vida por perto. Lá, o povo não acreditava em Luxord, também desprezavam os filhos da Luz, sendo sempre violento quando crianças eram escolhidas para se tornarem protetores a cada geração. Isto nunca foi um problema para a maioria dos ha
O grande salão, que antes era ocupado por quatro pessoas, foi cercado pelo encapuzados do sonho de Alabaster, que agora usavam máscaras. Os Protetores ficaram de costas um para o outro. Jillian sacou sua maça e Jules os dois machados, eles olharam juntos para o garoto que havia paralisado com a cena. Guiltry Starrock se pronunciou: — O Santuário da Luz não passará de escombros quando eu tiver acabado. Enquanto isso, irão pagar por sua soberba. Os encapuzados sacaram suas lâminas e ignoraram o herdeiro do clã Starrock enquanto avançavam diretamente em direção aos dois filhos da Luz que estavam prontos para lutar até a morte, que lhes abraçou rapidamente. — SEU DESGRAÇADO! — Guiltry tirou o filho de seu transe anestesiado quando o acertou um golpe com o pé que preenchia quase todo o tronco do pequeno garoto. — AGORA MORRERÁ COM SEUS “IRMÃOS”! — O homem levantou com força bruta a grande espada, que, apesar de usar com a mão trocada, não necessitava do mínimo de técnica. Alabaster fe