O Conde de Darlan
O Conde de Darlan
Por: Cris Santos
A aposta

O meu nome é Allan.

Allan Melarque.

Tenho 24 anos e sou um Conde da minha província. Digamos que sou conhecido como um conde perverso, mas a verdade é que não me importo com os nomes que me dão. Eu nunca me importei muito com o amor, sempre tive alguém que me amasse incondicionalmente sem ter que dar algo em troca.

A brisa da manhã entra pela janela do quarto e escuto os pássaros piarem. O mês de Novembro estava terminando.

— Quando nós nos veremos novamente? — a menina pergunta, envolvendo-se nos lençóis. Os cabelos louros e os seios fartos ficarão eternizados na minha pintura. — Talvez amanhã, quem sabe? — Ela pergunta, abrindo um sorriso.

— Hm mm... — toco seus lábios com a ponta do lápis e beijo seu pescoço— Eu não sei, não costumo dormir com a mesma pessoa por duas noites seguidas.

— Mas nós não dormimos. Quero dizer, depende do que você considera ser dormir com alguém— a garota loura sorriu maliciosamente— Meu marido está viajando. Talvez, possamos nos ver amanhã, depois do baile? O que achas?

– Baile? — franzi o cenho, pegando minhas roupas do chão.

— Sim, um baile. E será benéfico, para que possamos ajudar os pobres... —

Ela faz cara de desgosto — É claro, a ideia foi de meu marido. O inútil, sente-se culpado, por ter que cobrar impostos de quem não tem o que comer.

De repente ouvimos alguns passos nos corredores...

— Violeta! Minha querida! Onde está você? A voz masculina ecoou pela casa.

— Oh Deus... Estamos perdidos! É meu marido! — Ela disse sussurrando.

— Mas disseras que ele estaria viajando. O que diabos ele está fazendo aqui? —Sublinhei irritado.

— Eu não sei, talvez ele tenha decidido voltar para o Natal... eu... Eu estou perdida! estamos perdidos!

Abri um sorriso de lado e peguei o meu material de pintura.

— Tu estás perdida. Mas eu não! — digo a ela que me olha confusa. Visto minha roupa de baixo— Foi uma noite maravilhosa, mas eu tenho que sair! Boa sorte com o teu marido!

A maçaneta da porta girou e o homem entrou no quarto.

— Seu desgraçado! — O marido gritou.

– Adeus...

Saltei pela janela.

Violeta correu para a janela e gritou:

– Eu pensei que você me amava!

— Eu não amo ninguém, minha querida! —gritei de volta, correndo seminu.

O marido dela desceu as escadas e saiu pela porta da frente atirando em mim. Havia várias pessoas na rua e algumas delas estavam olhando para mim. Eu aposto que nunca tinham visto uma pessoa nobre correndo sem suas roupas, pela medíocre vila.

Uma bala atingiu o carrinho de um vendedor de maçãs e abaixei-me às pressas.

Corri para um beco e continuei olhando para trás. Ele tinha me perdido de vista ou desistido de me matar.

De repente, esbarrei-me em uma camponesa e caímos. Ela carregava um balde de água e ele caiu sobre nós.

Por alguns minutos, notei aqueles lindos olhos verdes. A camponesa tinha um rosto muito bonito, exceto pela imunes e as sardas. Talvez ela estivesse com fome, pois olhou-me com um olhar faminto.

Eu nunca tinha estado tão perto de um camponês e concluí que tudo o que meu pai dissera era verdade.

Os olhos da jovem moça lançaram uma conjunção furiosa e ela notou o comportamento de minhas vestes. Quando pensei em desculpar-me, pela falta de roupas, escutei o meu inimigo gritar pelo meu nome nas ruas.

Olhei para esfarrapada por mais alguns segundos e acelerei os passos para meu cavalo.

Cavalguei até minha casa. Ainda era de manhã e notei a carruagem de meu pai de pé ao lado dos cavalos.

Vi meu criado aproximando e o chamei curioso para saber o que estava acontecendo.

— Bush...Psiu– Eu assobio.

— Senhor... Senhor! Nosso Deus! Onde estão as tuas roupas? – ele se surpreende, aproximando de mim.

— Vou explicar noutra hora. Agora me diga, é meu pai? Quem chegou nesta carruagem?

— Sim senhor — o empregado afirmou—Ele está furioso! O teu pai sabe de suas aventuras com a condessa Madeleine de Valha.

— Siga-me pelas costas e preciso que me traga roupas. O que disse ao meu pai? — perguntei, saindo do cavalo.

— Oras a verdade–ele respondeu.

—O que? Disse que estive com Violeta? –Retruquei.

— Senhor... Senhorita Violeta, também? — O criado diz assustado— Violeta é casada e seu marido é um dos clientes de seu pai.

— Eu sei disso, não me dê nenhum sermos!

Caminhei para os estábulos, onde esperei por minhas roupas.

O criado trouxe vestes limpas e água para lavar-me o rosto. Afinal, teria que parecer sóbrio e muito elegante.

Entrei pela porta da frente e fingi ter acabado de chegar.

Entreguei meu casaco e meu chapéu ao criado que me esperava na porta.

O meu pai estava sentado próximo ao piano tocando algumas partituras empoeiradas. Era típico dele. Sempre que vinha em minha casa, ele tocava meu piano. Meu instrumento, que um dia, também fora de minha mãe.

— Onde esteve? Com qual cadela você passou a noite? — ele perguntou. Ríspido e sem cautela.

— Que deplorável. Meu pai, não me acuse sem provas...— cruzei os braços, colocando o jornal sobre a mesa de centro– Eu estava tratando de negócios em Paris, acabei de chegar de lá.

— Mesmo? — O velho deu gargalhadas e parou de tocar piano— Então, por que meus servos te viram correndo quase nu pelas ruas de Darlan?

— Você deve ter me confundido com outro homem. Eu nunca teria caído nesta posição, não sou um mendigo, para vagar pelas ruas.

– Não minta para mim! — o meu pai apertou os punhos contra as teclas do piano — Você era meu filho. Eu o vi nascer com meus próprios olhos.

— Como assim? Era? — franzi o cenho em desdém— Quer dizer, que não sou mais teu filho?

— Desde que você tomou sua porcentagem na herança, tudo o que me deras é desgosto— ele vaga em círculos pela sala— Eu decidi, que se não tomar um curso na tua vida, vou abandonar-te!

— Você não pode fazer isso!!!— exclamei—Não depois que você me deu a minha parte! Isso é impossível!

– Não, não é! Meu filho, se tu fosses pelo menos casado...Talvez ainda tivesse uma reputação.

— Ora, sabe que eu nunca me casarei! — sorrio impacientemente— Tu sempre soubeste disso, não venha me acusar de netos! Você tem minha irmã, por que não a casa?

— Tua irmã tem apenas quatorze anos! Ela é uma menina, as rédeas dela nunca desceram... Você sabe como é difícil para ela? Ter um irmão com a reputação que você tem?

– Droga! — Eu explodi.

— Vou fazer-te uma proposta–Meu pai disse.

— Quer dizer, uma aposta? Quer apostar o que? – cruzei os braços.

— Aposto todo o meu dinheiro que você não consegue ficar um ano casado.

Dei risadas.

— Você está brincando, não está? Isso não pode ser uma aposta.

— Sim, acredite. Estou falando de todo o meu dinheiro, incluindo todo o meu negócio. Desde Darlan à Paris.

— Eu teria que me casar? – recuei, já imaginando minhas intenções.

Ele não respondeu e acendeu um charuto.

O velho observou as pinturas na parede e as estátuas.

— Teria que se casar com uma menina abaixo de tua casta e manter esse casamento por um ano. Sem nenhum comentário indevido sobre sua conduta e traições.

— Quer que eu me case, com uma mera camponesa? — Arfei irritado.

— Sim. E como eu duvido, que você seja capaz, não há razão para estar tão zangado.

– Eu vou aceitar. Mas e se eu perder? O que pretende?

— O que eu tenho pensado há muito tempo: desertar você!

Ele levantou-se – Vou pedir aos meus servos que providenciem a papelada. Irei trazer toda a documentação pela manhã.

— Marcarei minha assinatura com sangue!

O silencio nos rodeia e eu penso no que havia feito.

Aquela era a aposta da minha vida.

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