A camponesa hesita por um momento, sua expressão mistura desconfiança e resistência. Quando estendo a mão para ajudá-la a sair da lama, ela a recusa e recua de volta para a poça.
— O que você disse? — pergunto com um sorriso cinicamente.
— Disse que eu não sou sua querida. Você é surdo? — Ela rosnou, a voz carregada de raiva e exaustão. Seus dentes, cobertos de lama, ficam visíveis quando ela fala.
Não consigo evitar uma risada.
— Como pode ser tão rebelde e, ao mesmo tempo, tão bonita? — Comento, notando a clivagem do seu velho vestido rasgado. — Não seja boba, aceite minha ajuda e segure minha mão.
Estendo a mão para ela, tentando parecer menos ameaçador. A menina tem medo de mim, mas é inteligente o suficiente para perceber que não vai conseguir sair sozinha. Depois de hesitar, ela finalmente estende a mão suja e eu a agarro firmemente. Sinto as asperezas e galos em suas mãos, um sinal claro de uma vida difícil. Seus olhos verdes, tão intensos e selvagens, me prendem por um momento. Sem perceber, coloco a outra mão em seu braço para oferecer mais suporte.
De repente, a menina, com a fúria de uma fera encurralada, morde minha mão com uma força inesperada. Num ágil movimento, ela se solta de mim e dispara em direção à floresta. Imediatamente, as duas ovelhas, aparentemente instigadas pela cena, partem em sua perseguição frenética.
— Droga!!! — Grito, ajoelhando-me devido à dor. A mordida é inesperada e dolorosa, mas, apesar da frustração, um sorriso irônico surge em meus lábios.
Vejo-a desaparecer na vegetação, ainda coberta de lama. Apesar da situação, não posso deixar de reconhecer a beleza selvagem da garota, mesmo em meio ao caos. Sua bravura é notável, mas sua reação feroz faz questionar o que poderia ter acontecido com ela se eu não tivesse chegado a tempo.
Penso sobre os homens que a atacavam. Geralmente, os bandidos da região se escondem no lado oeste de Blackwood, e fico surpreso ao ver aqueles homens tão próximos. Suas roupas não indicam que sejam ladrões, mas ninguém exigiria moedas por água a menos que tivesse intenções duvidosas. Talvez sejam pobres e se unam para proteger o que consideram seu território. A maneira como a garota reagiu — mordendo-me como uma fera — parece confirmar isso. Somente alguém acostumado com uma vida dura e injusta agiria dessa forma.
Enquanto me levanto e limpo a lama dos joelhos, minha mente é invadida por perguntas sobre o que realmente acontece naquela terra e o que teria levado a jovem a agir daquela maneira. Com o céu ainda iluminado pelos últimos raios de sol, subo no cavalo e sigo pela estrada de volta ao estábulo. Cavalgo por mais algumas horas antes que a noite caia, perdido em pensamentos inquietos sobre as durezas da vida fora dos limites de Blackwood e sobre o quanto eu realmente conheço o mundo além das muralhas da cidade.
Vejo-me pensando no Baile de Violeta. Ir para lá, depois de tudo o que aconteceu, seria uma ideia sensata?
Volto para casa com um sorriso no rosto, aliviado por estar de volta ao familiar conforto do meu lar. Subo para meus aposentos e toco a campainha, dando ordens aos criados. Minutos depois, Adolfo, a criada Maria e sua filha do meio, uma jovem de não mais que dezesseis anos, aparecem à porta, prontamente a serviço.
Começo a retirar as roupas sujas e sinto o silêncio que paira entre eles. Com um gesto decidido, tiro as botas cobertas de lama e as jogo no canto do quarto.
— Diga-me, Adolfo — começo, lançando um olhar contemplativo para o criado enquanto ele se aproxima. — Sou merecedor da felicidade?
Adolfo, um tanto surpreso com a pergunta, responde com um tom ponderado.
— Sr., todos nós somos merecedores da felicidade, não? — Ele acena para que Maria e sua filha recolham as botas, tentando entender a profundidade da pergunta.
— Hmm... esta tarde, encontrei uma dama, na verdade, uma mulher selvagem, que mordeu minha mão — digo, erguendo a mão e tocando o local atingido. — Ela estava sendo coagida por alguns canalhas. Imagino que a vida dela não seja nada feliz.
— Senhor... o que quer dizer com isso? — Adolfo pergunta, visivelmente confuso.
— Apenas estou refletindo sobre o quão sortudo sou — respondo, com um olhar distante. — Nasci em uma família distinta, sendo sucessor do Conde mais renomado de nossa província, o único cuja linhagem leva o nome da própria província no sobrenome. É fácil esquecer a sorte que se tem, mas encontros como este me lembram de minha própria sorte.
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— Sr. Melarque, realmente és afortunado — Adolfo diz, tentando aliviar a tensão. — No entanto, é também merecedor de seu título. Estudaste durante anos e viajaste por diversos lugares...
— Oh, e como sou afortunado, não é mesmo? — respondo, com ironia, enquanto me dirijo à poltrona próxima à banheira. — Acredito que meu pai não compartilha dessa opinião, já que ele deseja me deserdar. Ele não pode... não deveria sequer cogitar a possibilidade de passar o título de Conde para outro homem. Quem, senão eu, seria tão qualificado, belo e poderoso quanto eu?
A criada, Maria, aproxima-se de Adolfo e pergunta se vou tomar banho. Dou um suspiro profundo e me afundo na poltrona, pedindo que preparem meu banho.
— Adolfo, meu criado mais leal, traga meu melhor terno e meus sapatos mais elegantes. Tenho um Baile para comparecer esta noite.
— O Baile da Madame Violeta? — pergunta Maria, levantando uma sobrancelha. — Ouvi dizer que será benéfico. Sei que o Senhor foi convidado, mas... Vai doar algum dinheiro ou comprar algo no leilão?
— Ora, é claro que farei ambas as coisas — respondo com um sorriso. — Afinal, esta casa terá uma nova esposa em breve, quero dizer, eu vou me casar. Não acha que precisamos reformar algumas coisas?
— Oh... — os criados exclamam em coro. — Então, vai realmente se casar?
— Sim, vou me casar — digo, levantando-me da poltrona com um brilho de satisfação. — Mas, esta noite, será a minha despedida! Portanto, caprichem nas minhas roupas. Não quero ver um único sinal de amassado.
— Sim, senhor! — A filha de Maria diz contente, abrindo a torneira da banheira e ajustando a temperatura da água com cuidado.
Caminho até a banheira, despeço-me das vestimentas e mergulho na água quente, sentindo seu aroma reconfortante.
— Isto é tudo, obrigado — digo, com um suspiro de prazer. — Preparem as roupas e tragam-nas o mais rápido que puderem.
As criadas saem do quarto, deixando escapar suspiros de felicidade. O fato de seu senhor finalmente se casar é para elas quase como um milagre. Penso comigo mesmo: quantas delas oraram para que isso acontecesse? Quantas noites passaram arrumando meu quarto, trocando lençóis, e testemunhando a desordem causada pelas mulheres que passavam pela casa? Tantas coisas que, se eu realmente encontrar uma esposa, parecerão um presente para elas.Parte superior do formulário
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Termino meu banho e Adolfo, ajuda-me a vestir um roupão macio. Sentando-me próximo à escrivaninha do quarto, pego um papel em branco da gaveta e começo a desenhar. Minha mente ainda está agitada com as imagens da tarde.
O esboço que estou criando é da garota que encontrei — a mesma que, com o balde de água e depois no rio, deixou uma impressão duradoura em mim. Tento capturar seus olhos, profundos e marcantes, com sobrancelhas grossas que parecem nunca ter sido cuidadas.
Enquanto desenho, o aroma da água do banho ainda paira no ar, intensificando meus pensamentos.
— Adolfo, venha aqui — chamo, sem tirar os olhos do papel.
Ele se aproxima e eu lhe entrego o esboço.
— Senhor, quem é essa pessoa no desenho? — pergunta Adolfo, claramente confuso. — E por que ela está...
— Suja? Malvestida? — completo, antecipando a dúvida. — Sim, exatamente.
— Sim, suja. Quer que eu a contrate para cuidar dos porcos?
— Não, nada disso — respondo— Ela é a jovem cujo qual mordeu minha mão.
— Oh céus — lamenta Adolfo. — Quer que eu a prenda?
— Não, Adolfo. Quero que você percorra as ruas de Blackwood e a encontre. Não deixe que ela saiba que você a está seguindo. Descubra onde ela mora e qual é o nome dela.
— Mas senhor, desculpe-me... se você não vai contratá-la nem a entregar à Guarda, por que deseja que eu a procure?
Suspiro, ponderando a razão de meu pedido.
— Simples — digo, com convicção. — Ela é a minha futura esposa.
Adolfo fica horrorizado com a revelação, mas acena em compreensão.
— Faça o que lhe pedi. Cumpra a tarefa o mais rápido possível.
As horas passam rapidamente e, finalmente, meus trajes estão prontos. É um terno extremamente elegante e sapatos de couro.
Movo-me até o espelho, admirando a elegância do conjunto. O terno molda-se ao meu corpo como se tivesse sido feito pela própria mão de Deus, destacando meu porte imponente e a aura de poder que exalo.
A noite promete ser inesquecível, e me dediquei a cada detalhe para garantir que assim fosse. Mas no fundo da minha mente, a imagem daquela jovem persiste. Não é apenas uma questão de orgulho ou poder. É algo mais... uma necessidade visceral de possuí-la, de domar aquele espírito indomável que ousou me desafiar.
Caminho pela sala, sentindo os olhares das criadas pesarem sobre mim como um manto de adoração. Sei que estou irresistível, um homem no auge de sua virilidade e poder, cheio de pensamentos e planos impuros.Meu carro está estacionado em frente ao Jardim, a porta aberta como um convite à noite que me espera. Adolfo, sempre meticuloso, me entrega o casaco, o chapéu e uma matilha de cigarros.— Tenha um boa noite, senhor — diz ele discretamente, sua voz uma sombra de sua devoção. Mesmo se quisesse, Adolfo jamais se oporia aos meus desejos.— Ah, Adolfo... — minha voz é baixa, mas carregada de intenção. — Sobre o almoço de amanhã com meu pai, ligue e garanta que tudo esteja planejado. Diga a ele para trazer o seu melhor vinho, pois brindaremos ao nosso futuro, e eu quero, pelo menos, apreciar uma boa bebida.— Sim, senhor. — Ele abaixa a cabeça, sem ousar questionar.O motorista abre a porta do carro, e eu entro com a confiança de um rei. Acendo um cigarro, ordenando que siga adiante. A no
— Sr. Allan? Estás acordado? — Ouço a voz suave e incerta, acompanhada pelo som acústico do piano, ecoando na sala de jantar. Acordo assustado, removendo os óculos escuros do rosto.Recordo todos os meus atos da noite passada. Não me sinto melhor ou pior do que ontem, mas há uma leve satisfação em saber que pude me relacionar com uma mulher, antes que minha vida sexual se prenda a uma figura de pessoa, se é que posso chamar minha futura esposa de gente.— Adolfo... é claro que estou acordado — respondo, vasculhando o purê de batatas enquanto viro o rosto na direção do cômodo onde meu pai se encontra. Observo-o de longe, com sua postura de fidalga, deslizando os dedos naquele maldito piano. Imagino as atrocidades que passam pela cabeça do velho: punir o único filho homem.Bocejo sonolento, tentando manter os olhos abertos.Recomponho minha postura ao vê-lo levantar-se do banquinho e me lançar um olhar demoníaco. Oh, como eu o detesto! Mas, para conquistar meu triunfo, terei que ser caut
O olhar dela foi desesperador. Sua respiração alterada me fez pensar, que certamente, ela estava morrendo de raiva, por me ouvir dizer que era noivo dela.– Quem é Você? — O seu pai perguntou confuso– O que você quer dizer com noivo?— Ele não é meu noivo, papai! —Belly rosnou para mim como um animal feroz.— Que honra encontrar pessoalmente meu sogro—Estendi a mão para a sua e me aproximei mais.— Belly, você nunca me disse que estava noiva. Estás namorando as escondidas? — O homem perguntou.— Meu senhor, sua filha é uma moça adorável. Ficarei honrando em tê-la como minha esposa.— Tu estás grávida? Belly, me diga a verdade, este senhor engravidou você? -Seu pai a perguntou, mas ela ficou sem reação.— Sim! Sim! Ela está gr
— Belly On —Não foi um príncipe que veio buscar-me. E sim o próprio diabo! Montado no cavalo negro do inferno, roubou minha vida e me fez sua prisioneira. No momento em que ele me levantou para o céu e, sentou-me no seu cavalo, senti a minha vida acabar. Odeio cafajestes. Principalmente os engomados como o Sr. Melarque. As pessoas morrem em Darlan. Elas morrem de fome e, as crianças pobres são chicoteadas. Enquanto os ricos, eles comem e apreciam do nosso trabalho.O Sr. Melarque tinha me capturado e o pior de tudo, é que meu pai, aceitou que eu fosse embora. Ele me disse as palavras: “Este é teu destino agora”. As que eu pensei que jamais me diria.Cavalgamos pela floresta em direção a cidade.O imbecil era grotesco, fazia com que o cavalo corresse, apenas para me ver segurá-lo firme na cintura.Quando chegamos em sua
—Belly On—Mantive minha cabeça baixa durante o jantar. Ali, espremida entre Melarque e seus criados, senti que a maioria deles olhavam para mim intimistas. Para eles, eu era uma mulher singela, de fato eu era uma mulher pobre, mas não os deixaria descobrir minhas fraquezas. Eu não comi um grão sequer. O meu estômago remexia de fome e a comida parecia muito apetitosa, mas eu permaneci corajoso na frente deles.Após o falhado jantar, fui levada para meu quarto. Tudo estava tão limpo ... Me deitei na cama e pude sentir a seda contra o meu corpo. Uma cama de madeira pura, impecáveis lençóis e travesseiros que apreciam como pena de semáforo também aconchegantes.... Tudo longe do que tive um dia.A janela aberta no meu quarto, fazia o ar frio entrar. Porém, não parecia tão mortal, quanto a da cabana. Eu nunca tinha sentido um ar frio, que não p
Mais um dia nascia na provínciade Darlan. Acordei com o corpo nu de uma mulher e não sabia ao certo de quem se tratava. Estiquei minha mãoaté o corpo e vi que se tratava de Madame Violeta, tinha esquecido da noite que tivemos. Ela me deu o que eu precisava: prazer e nada mais.Movi os dedos para debaixo dos lenções e toquei sua intimidade. Ela enrijeceu a virilha e abriu os olhos, dando-me a visão de suas íris perversas. Lembrei-me de como fora bom, penetrá-la de quatro, em minha cama.— Bom dia... — a madame disse, sorrindo maliciosa— A nossa noite foi a melhor de todas... —Ela tocou os meus lábios.Penetrei-a com dois dedos e ouvi-a sussurrar pelo meu nome.— Adoro usufruir deste corpo. Mas, levante desta cama e suma! — retirei os dedos e sorri para vagabunda. Levantei-me da cama e procurei por minhas roupas.A madame capturou meu membro com as mãos e impediu-me de continuar a vestir-me.— Nós poderíamos fugir, Allan. — disse benevol
— Belly On— Eu não o suporto. Parece dramático, mas eu prefiro a morte do que ter que me casar com este demônio. Ofegante, grunhi de raiva. Como meu pai, poderia ter me vendido por dez moedas? Talvez, eu estivesse sendo um fardo? Ou ele não podia suportar os comentários sobre o passado ... O meu passado esconde vários segredos, um deles, é a questão de que não sou mais virgem. Oh! Senhor Allan.... você terá uma grande descoberta, quando seu ato for consumado e ver que eu já não sou virgem. Será a minha vingança, já que isto é apenas um jogo miserável. Eu sou parte de um jogo. — Você é surda? — Ele grita na minha orelha. — Não, infelizmente não sou— disse eu, baixando a cabeça. — Bem, então, sua miserável, tenha cuidado. Você me pertence, é minha agora...Eu posso fazer o que quiser com você! — Ele se aproximou de mim colocando seus dedos longos no meu pescoço. Eu tenho medo, mas quero ver o quão longe ele vai. O Sr. Melarque deixa c
Toda ação humana, quer se torne positiva ou negativa, deve depender de uma motivação para que funcione. E, a minha motivação, é o sofrimento dos outros.Pequenos raios de sol, refletiam no cabelo dela, e as órbitas verdes de seus olhos despertavam medo e ingenuidade. Belly me odiaria por um ano, porém não me importava com isso. A sua face estava pálida e seus lábios ressecados. Fiquei instigando-me: Quais seriam os seus pensamentos? Depois da cerimônia, os criados dirigiram meu pai e minha irmã para a sala de jantar. Fiquei surpreso com a velocidade em que os criados conseguiram organizar tudo, talvez devesse dar um aumento.... Não foi fácil convencer o reverendo de que eu precisava me casar, o mais rápido que pudesse. Ordenei para organizarem o lugar com algumas das minhas imagens, bem como pinturas incandescentes e objetos peculiares. O meu pai ficaria a