Celina abriu a porta do escritório, e seu mundo desmoronou.
O ar sumiu dos seus pulmões. Seu coração deu um salto doloroso dentro do peito antes de despencar em um abismo de desespero. Ali, diante de seus olhos, estava César, seu marido, o homem que prometeu amá-la e respeitá-la, entrelaçado no corpo de outra mulher. Nicole estava jogada sobre a mesa, os cabelos loiros desarrumados, os lábios entreabertos em puro prazer. As pernas estavam enroscadas na cintura de César, as mãos cravadas em suas costas. A cena era crua, explícita, e Celina sentiu náuseas instantaneamente. Seu corpo congelou. O sangue gelou em suas veias. Ela queria gritar, mas a voz morreu em sua garganta. Queria correr dali, mas suas pernas não obedeciam. Nicole foi a primeira a notar sua presença. Em vez de pânico ou constrangimento, um sorriso surgiu em seu rosto. Um sorriso de satisfação. De triunfo. Celina sentiu o chão ceder sob seus pés. Os olhos de Nicole brilhavam com malícia, como se já esperasse aquele momento, como se quisesse que Celina a visse ali, tomando o que era dela. Foi só então que César percebeu sua esposa parada à porta. Ele se virou lentamente, sem pressa, sem susto. O olhar que lançou para Celina não demonstrava culpa. Não demonstrava arrependimento. Apenas frieza. Como se nada tivesse acontecido. Como se ela não significasse nada. Celina sentiu o estômago se revirar. As lágrimas escorriam quentes pelo seu rosto, e a dor no peito se intensificava a cada segundo. Ela queria que ele dissesse algo. Qualquer coisa. Queria que tentasse se explicar, que negasse, que mostrasse arrependimento. Mas César apenas a encarou, sem emoção. Aquilo foi pior do que qualquer traição física. Era o fim de tudo o que um dia eles foram. Celina deu um passo para trás, sentindo que não suportaria mais um segundo ali. Com os olhos ainda fixos nela, Nicole soltou uma risada baixa e disse: — Bebê, você não vai atrás dela? O coração de Celina parou. O silêncio na sala foi cortante. César ajeitou a camisa com calma e, sem desviar os olhos de Celina, respondeu: — Tenho coisas mais importantes para fazer aqui. A última esperança que restava dentro dela se desfez. Celina virou-se e saiu. Ela entrou no elevador em estado de choque. O peito subia e descia rapidamente, tentando puxar o ar que parecia não existir mais. Quando as portas se fecharam, ela desabou. Um soluço alto escapou de sua boca, e as lágrimas caíram sem controle. O espelho refletia seu rosto devastado, os olhos inchados, a expressão de alguém que acabara de perder tudo. Quando o elevador chegou ao térreo, ela caminhou para fora do prédio como se estivesse flutuando, como se seu corpo já não pertencesse mais a si mesma. Ela entrou no carro e, sem pensar, ligou o motor e acelerou. As ruas de São Paulo passavam em borrões diante de seus olhos marejados. Celina dirigia sem destino, as mãos trêmulas no volante. "Ele nem se importou." A frase ecoava em sua mente como um mantra cruel. "Ele não veio atrás de mim." O choro aumentava. "Ele não ligou." As lágrimas cegavam sua visão, mas ela continuava acelerando. O peito doía de um jeito que ela nunca sentiu antes. Uma dor descomunal, sufocante, que parecia rasgar sua alma de dentro para fora. "Eu fui traída. Eu fui humilhada." Ela não sabia se queria gritar ou simplesmente desaparecer. O sinal à frente estava vermelho, mas Celina não percebeu. De repente, uma buzina alta ecoou, e os faróis de outro carro iluminaram seu rosto. Seu coração disparou. Num reflexo rápido, ela pisou no freio. O carro derrapou, os pneus cantaram no asfalto, mas, por um milagre, parou a tempo. Celina ficou imóvel, com os dedos cravados no volante. Ela respirou fundo, tentando se acalmar. Não podia continuar assim. Ela precisava de um refúgio. De um lugar para afogar aquela dor. Foi então que decidiu. Ela dirigiu até o Hotel Unique. O elevador do hotel subiu suavemente até o topo. Assim que as portas se abriram, Celina foi recebida pelo ambiente sofisticado do Skye Bar. O espaço era elegante e moderno, com luzes amenas e uma vista deslumbrante da cidade. O local estava movimentado, mas não barulhento. O som ambiente era uma mistura sutil de conversas e uma música suave ao fundo, criando um clima envolvente e misterioso. Sentou-se no balcão e pediu um drink forte. O álcool desceu queimando sua garganta, mas não foi suficiente para anestesiar sua dor. Ela pediu outro. E mais um. Quando estava no terceiro copo, sentiu um olhar sobre si. Um arrepio percorreu sua pele, e ela soube, sem precisar olhar ao redor, que alguém a observava. Não era uma sensação incômoda. Era intensa. O tipo de olhar que se sente antes mesmo de ver. Ela desviou a atenção do copo e olhou lentamente para os lados, tentando encontrar a origem daquela sensação. E então, o viu. Um homem misterioso, sentado alguns bancos à sua direita, a observava com um olhar enigmático. Ele segurava um copo de whisky na mão e inclinava a cabeça levemente, como se a estudasse. Era charmoso. Extremamente charmoso. O tipo de homem que parecia ter um magnetismo natural, alguém que atraía atenção sem precisar se esforçar. Os traços marcantes, a barba bem aparada, o terno impecável que parecia feito sob medida para ele. E aqueles olhos… Olhos que diziam mais do que qualquer palavra. Celina engoliu seco, mas não desviou o olhar. Ele percebeu. Um sorriso discreto e intrigante surgiu e ele levou o copo aos lábios, bebendo lentamente, sem pressa. A tensão entre os dois parecia crescer a cada segundo que se passava. Celina sentiu o peito subir e descer em um ritmo mais acelerado. E então, ele se levantou. Com passos firmes, caminhou em sua direção, sem tirar os olhos dela. Celina sentiu o estômago revirar. Ele parou ao lado dela e inclinou-se ligeiramente, aproximando-se de seu ouvido. Sua voz era profunda, envolvente, carregada de uma confiança natural. — Posso te pagar uma bebida?Celina arqueou uma sobrancelha, avaliando-o por um instante. Ele não era como os homens que geralmente tentavam abordá-la. Não parecia apressado. Não usava uma cantada barata. Apenas oferecia algo simples, com uma confiança desconcertante. E, talvez pelo álcool, ou talvez porque precisava desesperadamente se sentir desejada depois de ser descartada como lixo, ela sorriu de canto. — Aceito. O homem inclinou levemente a cabeça, o sorriso de canto quase desafiador. — Você não parece do tipo que aceita bebidas de estranhos. Celina soltou um riso baixo, sem humor. — Talvez hoje eu seja. Ele a observou atentamente, os olhos escuros estudando cada detalhe de seu rosto. — Então hoje é um dia atípico. — Pode apostar que sim. O homem ergueu uma mão, chamando o garçom, e sem nem precisar olhar o cardápio, pediu: — O melhor drink do bar para esta senhorita. Celina observou enquanto o garçom assentia e se afastava. O homem então puxou um banco e se sentou ao lado dela, casua
A claridade atravessava as janelas, filtrando a luz do amanhecer e iluminando suavemente o ambiente luxuoso da suíte. O céu de São Paulo exibia tons alaranjados misturados ao azul suave do início da manhã, e a cidade começava a despertar abaixo dela. Celina despertou devagar sentindo-se desorientada, seu corpo afundando na cama macia, o lençol de algodão egípcio cobrindo sua pele desnuda. Piscou algumas vezes, tentando se situar. O teto alto, os móveis sofisticados, o cheiro amadeirado no ar… nada daquilo lhe era familiar, nada era seu Virou o rosto para o lado e sentiu o coração falhar uma batida. Ali, ao seu lado, o homem do bar ainda dormia profundamente. O peito largo subia e descia em uma respiração lenta e tranquila. Os lençóis cobriam a parte inferior de seu corpo, mas deixavam à mostra a pele quente e tatuada de seu braço, repousado sob a cabeça em um gesto despreocupado, como se nada no mundo pudesse perturbá-lo. Celina engoliu em seco, sentindo um turbilhão de e
Celina estacionou o carro na garagem da mansão e ficou ali por alguns instantes, respirando fundo. As mãos ainda tremiam no volante, e sua mente estava um turbilhão. A noite anterior parecia um borrão, um sonho — ou talvez um pesadelo. Desceu do carro com passos incertos e entrou na casa em silêncio. A mansão estava mergulhada na escuridão, apenas algumas luzes de presença iluminavam discretamente o caminho até o quarto. Subiu as escadas devagar, o coração acelerado. A cabeça martelava, reflexo da bebida e da falta de sono. Quando empurrou a porta do quarto e entrou, encontrou tudo escuro. Suspirou aliviada, pensando que poderia deitar e tentar esquecer tudo. Mas então, um clique suave ecoou no ambiente. A luz do abajur ao lado da poltrona foi acesa, e Celina conteve um grito ao ver a silhueta de César sentado ali, à sua espera. Os olhos dele estavam sombrios, o rosto rígido, uma expressão de puro ódio. — Onde você passou a noite? — a voz dele cortou o silêncio como uma l
Celina ainda sentia o impacto da surpresa enquanto se sentava na cadeira de couro à frente da enorme mesa de mogno. O choque de o encontrar naquele escritório luxuoso, o homem misterioso da noite no hotel a deixou sem palavras por alguns instantes. Ele estava ali, à sua frente, como seu possível chefe. Thor Miller a olhava fixamente, os olhos intensos examinando cada detalhe de sua expressão. Como se estivesse se divertindo com a situação. Ele não parecia surpreso em vê-la, e isso só a deixava ainda mais nervosa. — Senhorita Bernardes — ele começou, a voz grave e carregada de uma calma irritante. — Por favor, fique à vontade. Celina engoliu em seco e tentou recuperar o controle de si mesma. Endireitou a postura e tentou parecer profissional. — Obrigada — sua voz saiu quase um sussurro Thor se recostou na cadeira, sem desviar o olhar. — Antes de começarmos, vou me apresentar. Sou Thor Miller, CEO da Miller Holdings. Meu avô, Thor Miller, e meu pai, Roberto Miller, construíra
Celina se virou e viu uma mulher lindíssima entrar sem hesitação. Sentiu o estômago despencar. A mulher foi diretamente até Thor e, por trás da cadeira, passou os braços ao redor do pescoço dele. — Que saudade, amor — disse ela, inclinando-se para um selinho rápido. Celina ficou paralisada. Seus olhos instintivamente desceram para as mãos de ambos. Ali estavam. As alianças douradas. Thor limpou a garganta e, com visível irritação, afastou a mulher com delicadeza. — Isabela — disse ele, em tom de advertência. — Já te falei que não aceito interrupções quando estou em uma reunião de trabalho. Isabela revirou os olhos e sorriu de lado. — Deixa de ser chato, amor. Ela olhou rapidamente para Celina, seu olhar carregado de desprezo. Celina sentiu como se tivesse levado outro tapa no rosto. Como ela pôde ser tão idiota? Isabela, aparentemente satisfeita, deslizou os dedos pelo ombro de Thor e saiu da sala. Thor ajeitou o paletó e voltou sua atenção para Celina, co
Celina encarava o teste de gravidez sobre a pia do banheiro da empresa, incapaz de desviar o olhar daquelas duas linhas cor-de-rosa. Positivo. Seu coração batia descompassado, e sua mente estava um caos. — O que eu vou fazer agora? — murmurou, passando as mãos trêmulas pelos cabelos. Ela começou a andar de um lado para o outro, sentindo o desespero crescer em seu peito. — Eu posso ser demitida… Não sei nem quem é o pai… Sua respiração estava acelerada. Sua cabeça girava. Não fazia ideia de quantas semanas estava, e essa incerteza a aterrorizava. Se fosse de César, seria um golpe do destino. Um último laço que a ligaria para sempre a ele, quando tudo o que queria era esquecê-lo. Se fosse de Thor… Celina apertou os olhos, recusando-se a terminar o pensamento. As lágrimas escorreram pelo seu rosto. Ela não estava pronta para aquilo. O som do telefone tocando na sala ao lado a fez prender a respiração. Ela ignorou, incapaz de se mover. O telefone tocou novamente. E nova
Celina saiu do consultório médico com as pernas trêmulas, sentindo o coração martelar contra o peito. Cada palavra da ginecologista ecoava em sua mente como um martelo em vidro frágil: "Um mês e três dias." "Precisamos marcar seu pré-natal." Ela entrou no carro quase no automático e fechou a porta com força. Suas mãos tremiam tanto que teve que segurar o volante por um instante antes de ligá-lo. Mas, ao invés de dar a partida, abaixou a cabeça e apoiou a testa no couro frio do volante. — Não… isso não pode estar acontecendo… — sussurrou, sua voz quebrada pelo choque. Fechou os olhos, tentando encontrar uma falha, uma possibilidade de erro. Mas os cálculos eram claros. O pai do seu filho só podia ser uma pessoa. Thor Miller. Seu chefe. O homem que ela odiava com cada fibra do seu ser. O homem arrogante, prepotente, frio e insensível. O homem que a tratava como se fosse descartável, como se sua existência se resumisse ao trabalho que fazia para ele. E agora… Celina
Celina estava sentada no chão frio, do lado de fora da casa que um dia foi sua. Seu corpo estava ali, mas sua alma parecia ter sido arrancada. As lágrimas escorriam em silêncio, molhando sua pele pálida. Seus pertences estavam espalhados pela calçada como se fossem lixo, roupas misturadas com documentos, sapatos. O vento da noite passava por ela, mas Celina não sentia frio. Não sentia nada além do vazio dentro de si. "Não sou nada. Não tenho ninguém." As palavras de César ecoavam em sua mente, cortando como lâminas afiadas. "Você era um nada quando se casou comigo. E vai continuar sendo." Seus dedos tremiam ao apertar a barra da própria blusa. O que vou fazer? Pra onde vou? Ela não tinha família para acolhê-la. Nenhum porto seguro. Seu mundo, que já estava desmoronando, agora havia ruído por completo. O barulho de um carro se aproximando tirou-a , por um breve momento, do estado de choque. Os faróis iluminaram sua figura encolhida no chão, e Celina ouviu o motor desligand