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O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR
O CHEFE QUE EU ODIEI AMAR
Por: Débora Oliveira
1 - A DESCOBERTA DA TRAIÇÃO

O silêncio da manhã foi a primeira coisa que atingiu Celina ao despertar. O lençol de cetim frio sob sua pele revelava que César não estava ali.

Ela abriu os olhos lentamente, piscando contra a claridade difusa que entrava pelas cortinas entreabertas. Virou-se para o lado, confirmando o que já sabia: a cama ao seu lado estava intacta, como se ele sequer tivesse deitado ali naquela noite. Nos últimos meses, isso havia se tornado rotina: ele saía cedo e voltava tarde da noite, sempre alegando estar sobrecarregado no trabalho.

Um suspiro escapou de seus lábios.

Levantou-se devagar, os pés descalços encontrando o carpete macio enquanto caminhava até as grandes janelas do quarto. Puxou as cortinas, revelando a paisagem cinzenta lá fora. O céu carregado de nuvens, cinzento, trazia uma sensação estranha, uma melancolia que parecia invadir seu peito. Aquele céu refletia exatamente como ela se sentia por dentro.

Suspirou fundo e murmurou para si mesma, quase sem perceber:

— Agora ele sai cedo e chega tarde… Virou uma rotina.

A frase pairou no ar como uma verdade que ela evitava encarar. Nos últimos meses, César havia se tornado um homem distante, frio. As desculpas de trabalho sempre estavam na ponta da língua, mas Celina sabia que havia algo além disso.

O celular em cima da cômoda vibrou, tirando-a de seus pensamentos. Pegou o aparelho e deslizou os dedos pela tela até encontrar o contato de Tatiana. Digitou rapidamente uma mensagem

"Acordei com uma melancolia hoje. Vamos ao shopping? Preciso de compras para melhorar o humor."

A resposta veio quase instantaneamente.

"Compras? Estou dentro! Te encontro lá em duas horas!"

Celina jogou o celular sobre a cama e seguiu para o banho. Precisava se sentir melhor.

A água quente escorria por seu corpo, levando consigo o peso da manhã. Mas, mesmo sob o jato relaxante, a inquietação não a abandonava.

Duas horas depois, já no shopping, encontrou Tatiana na entrada de uma loja de grife. Ela analisava a amiga com olhar atento.

— Pronta para gastar dinheiro e afogar as mágoas? — Tatiana brincou, sorrindo.

— Acho que só isso pode me ajudar hoje — Celina respondeu, tentando forçar um sorriso.

Enquanto passeavam entre as araras de roupas sofisticadas, Celina suspirou, hesitante, antes de soltar o que realmente a incomodava.

— Tatá… eu acho que o César tem outra mulher.

Tatiana parou imediatamente e virou-se para a amiga com os olhos arregalados.

— Como é que é?! De onde você tirou isso?

— Ele está diferente. Distante. Sai cedo, chega tarde… E quando está em casa, parece que a cabeça dele está em outro lugar.

Tatiana franziu o cenho, cruzando os braços.

— Amiga, pode ser só o estresse do trabalho. Você sabe como esses homens se afundam na empresa e esquecem do resto do mundo.

— Pode ser… — Celina murmurou, sem muita convicção. — Mas eu conheço meu marido, e algo não está certo.

Tatiana a observou por um instante e então sorriu de lado.

— Então faz alguma coisa, ué. Surpreende ele! Compra uma lingerie sexy e aparece no escritório dele sem avisar.

Celina arregalou os olhos.

— Você acha que isso resolveria?

— No mínimo, você vai descobrir o que está acontecendo. Ou ele vai te agarrar de imediato, ou vai ficar nervoso porque tá escondendo algo. De qualquer forma, é melhor do que viver na dúvida.

Celina mordeu o lábio, pensativa.

— Eu não sei… e se for uma péssima ideia?

Tatiana revirou os olhos e puxou um vestido da arara.

— A única péssima ideia é você continuar se corroendo por dentro sem fazer nada. Agora experimenta esse aqui! Tá perfeito pra você.

Celina pegou o vestido e entrou no provador. Assim que vestiu a peça, olhou-se no espelho e sentiu um frio na barriga. O corte realçava suas curvas de maneira impecável, e o tecido caía com elegância.

— E então? — Tatiana perguntou do lado de fora.

Celina saiu do provador e se olhou no espelho da loja.

— Acho que está perfeito…

— Perfeito para ir até a empresa do seu marido — Tatiana completou, piscando.

Celina sorriu de leve. Talvez fosse mesmo uma boa ideia.

— Agora só falta uma lingerie à altura — Tatiana disse, puxando Celina pela mão em direção a outra loja.

Dentro da boutique de lingerie, Celina se sentia um pouco constrangida. Tatiana, por outro lado, parecia completamente à vontade, analisando cada peça com um olhar crítico.

— Essa aqui é ousada demais — Celina comentou ao ver um conjunto vermelho minúsculo.

Tatiana pegou outra peça, de renda preta, e segurou contra o corpo da amiga.

— E essa? Sexy, sofisticada… Perfeita!

Celina corou um pouco, mas pegou a peça.

— Não sei…

— Ai, amiga, não vai bancar a puritana agora, né? Você é casada, pelo amor de Deus!

Celina riu, ainda envergonhada.

— Tá bom, tá bom… Vou levar essa.

— Ótima escolha! Nada como algo novo para apimentar a relação.

Mais tarde, Celina passou a tarde no salão de beleza.

Fez as unhas, o cabelo, depilação, massagem… Se sentia renovada. A cada momento, enviava mensagens para Tatiana, mostrando os detalhes de sua transformação. Quando saiu de lá, estava impecável. Pegou o celular e enviou uma mensagem para Tatiana junto com uma foto.

"Agora sim, pronta para acabar com qualquer desconfiança!"

"Isso aí, amiga! Vai lá e mostra pra ele o que tem em casa. Vai com tudo!"

Respirando fundo, Celina pegou as chaves do carro e dirigiu até a Brown Advocacia.

O coração batia acelerado enquanto estacionava diante do prédio. Ela queria acreditar que tudo aquilo era apenas paranoia. Que, no momento em que visse César, ele a envolveria nos braços e tudo ficaria bem.

Com passos firmes, entrou no edifício.

Quando chegou, pegou o elevador e seguiu até a sala da presidência.

Mas antes de abrir a porta, algo a fez hesitar.

Ruídos vinham lá de dentro.

Sons abafados, um tipo de barulho estranho.

Seu coração começou a bater mais rápido.

Ela girou a maçaneta.

E então…

Seu mundo parou.

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