Celina caminhava em direção à porta do escritório de Thor, seu coração acelerado e os olhos ardendo de frustração. Ainda sentia o gosto amargo do castigo que ele lhe impusera com o café. Sua paciência estava no limite, e tudo o que queria era sair dali o mais rápido possível.— Volte aqui. Te dei autorização para sair? — A voz fria e autoritária de Thor a fez congelar no lugar.Fechando os olhos por um instante, tentando conter a raiva, Celina girou nos calcanhares e voltou a encará-lo. Ele se levantou da cadeira e caminhou até o armário, abrindo uma das portas com impaciência. Pegou uma pasta pesada, repleta de documentos, e a entregou sem cerimônia.— Escaneie tudo e suba os arquivos para o backup na nuvem. Mas quero que fiquem armazenados na pasta que só eu e você temos acesso. — Sua voz era cortante, sem espaço para objeções.Celina não disse uma palavra. Seu cansaço emocional a impedia de reagir. Apenas pegou a pasta e saiu da sala com passos firmes, tentando manter a compostura.
A médica parou por um instante com o ultrassom, os olhos fixos na tela do equipamento, como se analisasse algo com atenção redobrada. Celina permaneceu deitada na maca, sentindo o coração acelerar com a tensão do momento. Seus olhos estavam fixos no rosto da doutora, buscando qualquer expressão que entregasse o que estava por vir. Quando o silêncio começou a pesar, ela não se conteve.— Doutora, eu prefiro que a senhora dê logo a notícia ruim primeiro. — Sua voz saiu embargada. — Muita coisa ruim tem acontecido na minha vida, então, por favor, me diga de uma vez.Tatiana, que estava ao lado segurando sua mão, apertou-a suavemente, tentando transmitir segurança. A doutora soltou um suspiro antes de falar.— Celina, daqui para frente, você terá que redobrar seus cuidados com a gestação. — Ela olhou para Celina com seriedade. — Isso não significa que antes não precisasse, mas agora a situação mudou.Celina sentiu o sangue gelar. Seu estômago revirou.— Meu Deus! Meu bebê está doente? — S
Celina permaneceu alguns minutos olhando para a tela do celular, indecisa. A mensagem de Gabriel ainda brilhava no visor: “Topa me ver cantando hoje?” O convite simples e direto fazia seu coração bater um pouco mais rápido. Ela sabia que estava vulnerável, sensível, mas ao mesmo tempo sentia que precisava respirar outros ares, viver algo diferente da dor que vinha arrastando.Foi tirada de seus devaneios quando Tatiana entrou no quarto, com o cabelo preso em um coque frouxo e vestindo um pijama florido.— Amiga, fiz um suco e tem torradinhas com geleia. Vem comer alguma coisinha antes de dormir.Celina levantou os olhos e, meio envergonhada, mostrou o celular para a amiga.— Olha o que o Gabriel mandou.Tatiana arqueou as sobrancelhas e leu em voz alta, com um sorriso malicioso.— “Topa me ver cantando hoje?” — Ela olhou para Celina e completou: — Se for uma pessoa confiável, por que não? Vai em frente, amiga. Você precisa refazer sua vida. É jovem, bonita, inteligente...— Ah, Tatá,
Celina riu, um pouco tímida.— Muito. Você canta com alma... E aquela primeira música... foi pra mim mesmo?Gabriel inclinou a cabeça, olhando diretamente em seus olhos.— Se não fosse, não teria graça. Posso sentar?Ela assentiu, e ele puxou a cadeira à sua frente.E naquele instante, no meio do bar, sob as luzes suaves e o som de um piano ao fundo, algo dentro dela começou a mudar.Gabriel com aquele jeito encantador que tinha, puxou assunto.— Então... — disse ele, apoiando os antebraços sobre a mesa, olhando para ela com aquele sorriso que não se esforçava para ser encantador, apenas era. — Gostou mesmo ou está sendo educada?Celina sorriu de lado, girando o canudo no copo com a pontinha dos dedos.— Você quer a verdade?— Sempre. — disse ele, sem rodeios. — Eu não esperava. Nem pela música, nem... por estar aqui. Tudo foi tão de repente. — Celina respondeu com sinceridade. — Às vezes, o que a gente precisa é justamente isso: um pouco de improviso. — Havia leveza na voz de Gabri
Celina olhou para o teto por alguns segundos antes de responder. Parecia querer guardar cada pedacinho daquela noite antes de dividir com o mundo — ou, no caso, com Tatiana.— Ele me ouviu. E mais do que isso... ele me viu.— Como assim? — Tatiana perguntou, agora mais curiosa do que antes.— Ele não perguntou sobre o César, sobre o que me fez triste ou de onde vinha a dor nos meus olhos. Ele apenas... esteve ali. Me fazendo esquecer. Me fazendo rir. Me fazendo sentir... — ela hesitou, como se a palavra estivesse tímida dentro da garganta — leve.Tatiana sorriu, mas se manteve em silêncio, permitindo que Celina continuasse.— Foi como respirar depois de muito tempo sufocada. Como se o ar voltasse a entrar nos pulmões e eu lembrasse do que era estar viva. — Ela riu, meio sem graça. — E olha que nem foi nada demais... só uma conversa, umas músicas, um brinde e um beijo na bochecha.— Às vezes é isso que mais toca — Tatiana disse, suave. — A leveza. A ausência de esforço. O oposto do que
O despertador tocou suavemente, mas Celina já estava acordada. Pela primeira vez em semanas, havia dormido bem, sem sonhos turbulentos ou enjoos intensos. Sentia-se mais leve, como se a noite anterior tivesse aliviado parte do peso que carregava nos ombros.Se espreguiçou, pegou o celular e viu uma nova mensagem de Gabriel na tela."Bom dia, linda. Que sua viagem seja incrível. E que você volte logo pra eu poder te ver de novo."Celina sorriu sozinha, sentindo um calor gostoso no peito. Respondeu um simples “Obrigada, Gabriel! Nos falamos depois”, e seguiu para o banho.Depois de se arrumar, tomou um remédio para enjoo – precaução essencial para a longa viagem até Dubai. Desceu as escadas e encontrou Tatiana na cozinha tomando suco.— Dormiu bem? — a amiga perguntou, entregando-lhe um copo de suco de pêssego.— Pela primeira vez em muito tempo — Celina respondeu, sentando-se à mesa.— Deve ter sido influência do cantor bonitão — Tatiana brincou, piscando para ela.Celina riu e negou c
O perfume de Thor naquela manhã — forte, amadeirado, intenso como ele — começou a embrulhar seu estômago. A náusea subia pela garganta e se misturava ao nervosismo de estar ao lado dele, à lembrança do olhar fulminante que ele lançara a Roberto e à pressão que ela mesma colocava sobre si por parecer estar no lugar errado, na hora errada, com a pessoa errada.Tentou respirar fundo. Uma, duas vezes. Em vão.A tensão no carro era quase palpável. E Thor, alheio — ou fingindo estar —, mantinha o olhar fixo na estrada, os punhos apertados no volante, a mandíbula travada. O silêncio era uma tortura. Um campo minado de palavras não ditas e sentimentos reprimidos.Celina fechou os olhos por um instante e levou a mão ao abdômen. O enjoo ganhou força.— Thor... — ela murmurou, com a voz fraca.Ele não respondeu.— Thor, para o carro... por favor... agora.Ele olhou rapidamente para ela pelo retrovisor interno e viu seu rosto pálido, suando frio. Sem pensar duas vezes, puxou o carro para o acosta
Celina pegou os talheres com mais força do que deveria. Começou a comer, mas mal conseguia engolir a comida. O cheiro do molho parecia enjoativo, o gosto nem se destacava. Thor, por outro lado, comia tranquilamente, distraído com algum documentário passando na tela à sua frente.Celina respirou fundo. Será que estou exagerando? — pensou. Ou será que ele está mesmo fingindo que não percebeu?Tentou forçar a barra e comer mais um pouco. Cada garfada parecia pesar uma tonelada. Definitivamente tudo estava sem gosto. A presença incômoda da aeromoça e a maneira como ela flertava descaradamente com Thor, tirou completamente sua concentração, perdendo seu apetite. A dúvida que tinha sobre a postura dele mediante aquela constrangedora cena, a corroía por dentro. Com o seu suposto "incômodo", não estava conseguindo discernir se ele realmente estava alheio ou fingindo não notar. Parecia tranquilo, entretido com um documentário qualquer.Exausta, Celina pegou a taça e bebeu um pouco de água. Em