Celina ainda sentia o impacto da surpresa enquanto se sentava na cadeira de couro à frente da enorme mesa de mogno. O choque de o encontrar naquele escritório luxuoso, o homem misterioso da noite no hotel a deixou sem palavras por alguns instantes. Ele estava ali, à sua frente, como seu possível chefe.
Thor Miller a olhava fixamente, os olhos intensos examinando cada detalhe de sua expressão. Como se estivesse se divertindo com a situação. Ele não parecia surpreso em vê-la, e isso só a deixava ainda mais nervosa. — Senhorita Bernardes — ele começou, a voz grave e carregada de uma calma irritante. — Por favor, fique à vontade. Celina engoliu em seco e tentou recuperar o controle de si mesma. Endireitou a postura e tentou parecer profissional. — Obrigada — sua voz saiu quase um sussurro Thor se recostou na cadeira, sem desviar o olhar. — Antes de começarmos, vou me apresentar. Sou Thor Miller, CEO da Miller Holdings. Meu avô, Thor Miller, e meu pai, Roberto Miller, construíram esse império, e agora eu estou no comando. Sou presidente da T&R Enterprises e estou pessoalmente conduzindo essa entrevista porque a vaga é para ser minha secretária-executiva. Celina assentiu, sentindo o peso do nome Miller. Aquele sobrenome era gigantesco no mundo dos negócios. Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Trabalhar diretamente para ele? Seu coração acelerou. — A vaga é para ser minha secretária-executiva, e faço questão de selecionar pessoalmente quem ocupará esse cargo — ele continuou. Celina engoliu em seco, tentando se concentrar. — Para prosseguirmos, me fale um pouco sobre sua experiência profissional. Celina inspirou fundo e se concentrou. — Trabalhei em três empresas antes de me afastar do mercado. Iniciei minha carreira como recepcionista em uma empresa de logística e, após um ano, fui promovida a assistente administrativa. Depois, consegui uma oportunidade como secretária-executiva em uma multinacional do ramo farmacêutico, onde fiquei por três anos. Thor escutava atentamente, os olhos semicerrados, analisando cada palavra. — E por que deixou esse último emprego? Celina hesitou. Ela engoliu em seco, mas respondeu com firmeza: — Optei por me dedicar à família. Thor ergueu uma sobrancelha, parecendo interessado. — Entendo… — ele disse, inclinando-se ligeiramente para frente. — Você tem disponibilidade para viagens? — Sim, tenho. — E quanto a idiomas? — Sou fluente em inglês e espanhol. Thor assentiu, analisando o currículo dela no notebook à sua frente. — O RH entrará em contato para falar sobre os benefícios e o salário — disse ele, fechando o arquivo. Celina sustentava a postura profissional, mas sentia um peso esmagador no peito. Ela pensava se ele realmente não ia mencionar nada sobre a noite que tiveram. Mesmo assim se manteve firme, sabendo que ele estava testando-a. Thor, por outro lado, parecia fazer questão de agir como se nunca a tivesse visto antes. Em um determinado momento, ele desviou os olhos para o vidro panorâmico atrás dela e, por um segundo, sua mente o traiu. Ele se lembrou da noite no hotel. Do corpo dela sob o seu, dos gemidos abafados pelo travesseiro, do cheiro doce que impregnava sua pele… Uma onda de excitação percorreu seu corpo, mas ele tinha controle demais sobre si mesmo para deixar transparecer. Endureceu a expressão e disfarçou com naturalidade, retomando a conversa sem qualquer alteração em sua postura. Celina notou quando os dedos dele deslizaram sutilmente sobre a borda do notebook. Foi rápido, quase imperceptível. Mas ela sabia o que aquilo significava. Ele estava lembrando. Tentando se manter firme, Celina cruzou as pernas e ajeitou as mãos no colo. — Agora, me diga… — Thor voltou a falar com a voz carregada de uma nota sutil de ironia. — Depois de cinco anos fora do mercado, o que a fez buscar essa oportunidade? Celina hesitou. — Estou me divorciando — ela respondeu, baixinho. Thor ergueu uma sobrancelha e voltou a olhar para o currículo no notebook. Um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios. Ele deslizou os olhos pelas informações e seu tom ganhou um traço irônico. — Interessante — murmurou, com um tom carregado de sarcasmo. — Aqui não menciona que você é casada. Então, não é senhorita… é senhora Bernardes. Os olhos dele se fixaram nos dela Celina sentiu seu corpo travar. O sangue subiu para o rosto, e suas bochechas arderam. — Achei irrelevante colocar. Thor sorriu de lado, como se soubesse que aquilo a incomodava. Ele fechou o notebook e cruzou os braços. — Se está se divorciando, não seria mais fácil simplesmente viver da pensão do seu marido? — perguntou, com um tom levemente provocativo. — Digo, pelos seus trajes e postura, é notório que você é uma dama da alta sociedade. Celina sentiu o sangue ferver. Com a voz firme, respondeu sem hesitar: — Eu preferia morrer a depender de um homem. Thor arqueou as sobrancelhas, surpreso pela resposta. — Orgulho ferido? — ele rebateu, desafiador. Celina sustentou o olhar dele. — Não. Apenas quero recomeçar minha vida. Thor ficou em silêncio por alguns segundos, avaliando-a. — Entendi — disse ele, finalmente. Mas algo ainda o incomodava. — Seu divórcio já foi finalizado? Celina franziu a testa, começando a se incomodar com o rumo da conversa. — Ainda não. Thor inclinou-se um pouco para frente. — Preciso de alguém que tenha disponibilidade para viagens e, inevitavelmente, você terá que viajar sozinha comigo, seu chefe. Isso não vai ser um problema? Celina engoliu em seco ao ouvir aquilo. A ideia de estar sozinha com Thor em viagens a fez sentir-se desconfortável, mas sua situação não lhe permitia hesitação. — Ex-marido — corrigiu, séria. — E não, isso não será um problema. Thor observou-a mais uma vez, como se quisesse ter certeza de que a decisão dela era definitiva. — Certo — disse ele, finalmente. — Preciso de alguém disponível para viagens, organizada, pró-ativa, paciente e que saiba lidar com imprevistos. A vaga exige boa comunicação e discrição, já que será minha secretária direta — ele disse, entrelaçando os dedos sobre a mesa. Celina endireitou a postura e respirou fundo. — Entendo. — Você se sente apta para essa vaga? Antes que ela pudesse responder, a porta se abriu abruptamente. — Amor! — uma voz manhosa preencheu a sala.Celina se virou e viu uma mulher lindíssima entrar sem hesitação. Sentiu o estômago despencar. A mulher foi diretamente até Thor e, por trás da cadeira, passou os braços ao redor do pescoço dele. — Que saudade, amor — disse ela, inclinando-se para um selinho rápido. Celina ficou paralisada. Seus olhos instintivamente desceram para as mãos de ambos. Ali estavam. As alianças douradas. Thor limpou a garganta e, com visível irritação, afastou a mulher com delicadeza. — Isabela — disse ele, em tom de advertência. — Já te falei que não aceito interrupções quando estou em uma reunião de trabalho. Isabela revirou os olhos e sorriu de lado. — Deixa de ser chato, amor. Ela olhou rapidamente para Celina, seu olhar carregado de desprezo. Celina sentiu como se tivesse levado outro tapa no rosto. Como ela pôde ser tão idiota? Isabela, aparentemente satisfeita, deslizou os dedos pelo ombro de Thor e saiu da sala. Thor ajeitou o paletó e voltou sua atenção para Celina, co
Celina encarava o teste de gravidez sobre a pia do banheiro da empresa, incapaz de desviar o olhar daquelas duas linhas cor-de-rosa. Positivo. Seu coração batia descompassado, e sua mente estava um caos. — O que eu vou fazer agora? — murmurou, passando as mãos trêmulas pelos cabelos. Ela começou a andar de um lado para o outro, sentindo o desespero crescer em seu peito. — Eu posso ser demitida… Não sei nem quem é o pai… Sua respiração estava acelerada. Sua cabeça girava. Não fazia ideia de quantas semanas estava, e essa incerteza a aterrorizava. Se fosse de César, seria um golpe do destino. Um último laço que a ligaria para sempre a ele, quando tudo o que queria era esquecê-lo. Se fosse de Thor… Celina apertou os olhos, recusando-se a terminar o pensamento. As lágrimas escorreram pelo seu rosto. Ela não estava pronta para aquilo. O som do telefone tocando na sala ao lado a fez prender a respiração. Ela ignorou, incapaz de se mover. O telefone tocou novamente. E nova
Celina saiu do consultório médico com as pernas trêmulas, sentindo o coração martelar contra o peito. Cada palavra da ginecologista ecoava em sua mente como um martelo em vidro frágil: "Um mês e três dias." "Precisamos marcar seu pré-natal." Ela entrou no carro quase no automático e fechou a porta com força. Suas mãos tremiam tanto que teve que segurar o volante por um instante antes de ligá-lo. Mas, ao invés de dar a partida, abaixou a cabeça e apoiou a testa no couro frio do volante. — Não… isso não pode estar acontecendo… — sussurrou, sua voz quebrada pelo choque. Fechou os olhos, tentando encontrar uma falha, uma possibilidade de erro. Mas os cálculos eram claros. O pai do seu filho só podia ser uma pessoa. Thor Miller. Seu chefe. O homem que ela odiava com cada fibra do seu ser. O homem arrogante, prepotente, frio e insensível. O homem que a tratava como se fosse descartável, como se sua existência se resumisse ao trabalho que fazia para ele. E agora… Celina
Celina estava sentada no chão frio, do lado de fora da casa que um dia foi sua. Seu corpo estava ali, mas sua alma parecia ter sido arrancada. As lágrimas escorriam em silêncio, molhando sua pele pálida. Seus pertences estavam espalhados pela calçada como se fossem lixo, roupas misturadas com documentos, sapatos. O vento da noite passava por ela, mas Celina não sentia frio. Não sentia nada além do vazio dentro de si. "Não sou nada. Não tenho ninguém." As palavras de César ecoavam em sua mente, cortando como lâminas afiadas. "Você era um nada quando se casou comigo. E vai continuar sendo." Seus dedos tremiam ao apertar a barra da própria blusa. O que vou fazer? Pra onde vou? Ela não tinha família para acolhê-la. Nenhum porto seguro. Seu mundo, que já estava desmoronando, agora havia ruído por completo. O barulho de um carro se aproximando tirou-a , por um breve momento, do estado de choque. Os faróis iluminaram sua figura encolhida no chão, e Celina ouviu o motor desligand
Ao ouvir toda aquela conversa, Celina tapou a boca para conter o soluço que ameaçava escapar. Ela sentiu a alma se despedaçar. A tontura veio forte, e ela precisou segurar-se na parede. Se Thor descobrisse sobre o bebê… Ele a obrigaria a abortar também. Celina sentiu o pânico tomar conta de seu corpo. Ela não podia contar. Não podia deixar que ele soubesse. Seus olhos arderam, e as lágrimas voltaram a cair. Virou-se e saiu correndo pelo corredor, sentindo o coração esmigalhado dentro do peito. Seu filho nunca poderia saber quem era o pai. E, assim, a decisão foi tomada. Ela protegeria seu bebê. Mesmo que isso significasse carregar esse segredo pelo resto da vida. Ao entrar em sua sala apressada, fechou a porta atrás de si, encostando-se nela como se precisasse de apoio para não desmoronar. Seu corpo tremia. O peito subia e descia de forma descompassada. Então, como se uma represa tivesse rompido, as lágrimas vieram. Ela deslizou até o chão, cobrindo
Celina chegou à casa de Tatiana ainda abalada com tudo o que tinha acontecido naquele dia, sentindo o peso do mundo sobre os ombros. Assim que entrou, desabou no sofá da sala de estar, exausta emocionalmente. Tatiana percebeu o semblante abatido da amiga e se sentou ao lado dela, segurando suas mãos com carinho. — Amiga, me conta tudo. Como foi a conversa com Thor? — Tatiana perguntou, com preocupação. Celina respirou fundo, antes de começar a falar, tentando manter a compostura, mas era impossível. Seus olhos marejaram e sua voz saiu embargada. — Eu ouvi Thor e Isabela conversando hoje... — Ela fez uma pausa, sentindo um nó na garganta antes de continuar. — Ela disse que pode estar grávida. E sabe o que ele respondeu? Que se isso for verdade, ela deve abortar. Ele não quer esse filho, Tatiana. Ele disse isso com uma frieza, uma crueldade... como se estivesse descartando uma vida como se fosse lixo. Tatiana arregalou os olhos, chocada com o que ouvia. — Meu Deus, Celina... —
No outro dia, Celina despertou com um peso no estômago que a fez correr para o banheiro. O enjoo veio com uma força avassaladora, e ela vomitou tanto que precisou sentar no chão frio para se recompor. Sentia-se exausta, mas sabia que precisava levantar. Ligou o chuveiro e entrou debaixo da água quente, deixando-a escorrer pelo corpo. Enquanto a água levava embora o suor e os resquícios da noite anterior, flashes do que aconteceu no hotel voltaram com intensidade. Thor sobre ela, seus olhos fixos nos dela, e a pergunta que ele sussurrou com curiosidade genuína: — Por que você? Por que de todas as mulheres que já passaram pela minha cama, você é diferente? Celina sentiu o arrepio que percorreu sua pele naquela noite. Thor havia deslizado a mão pelo rosto dela, afagando-a com uma suavidade que contrastava com sua usual brutalidade. Depois, ele a beijou, um beijo que fez suas pernas tremerem, um beijo que queimou em sua pele e deixou sua respiração entrecortada. E então ele sussurrou
Celina ficou paralisada. Seu coração batia tão forte que parecia querer sair de seu peito. Arregalou os olhos, incapaz de desviar o olhar da cena que se desenrolava à sua frente.Thor estava ali, com a calça arriada, sua funcionária sentada sobre a mesa, o vestido levantado, as pernas envolvendo sua cintura. A mulher jogava a cabeça para trás, gemendo alto, enquanto Thor, em um tom rouco e carregado de desejo murmurava palavras picantes para ela. O toque possessivo dele, a maneira como a segurava com força, contrastava brutalmente com a lembrança que invadiu a mente de Celina.De repente, flashes de dias atrás a golpearam com violência. Ela viu César no escritório, entrelaçado com Nicole, seu toque lascivo, o riso sarcástico da amante. Viu também Thor no hotel, naquela noite, afagando seu rosto com um carinho inesperado, olhando-a nos olhos como se enxergasse algo além de sua fachada de arrogância e frieza. Como ele podia ser tão bruto e insensível agora, depois daquele momento que co