Celina estava concentrada digitando novos contratos e revisando o que Thor havia dito que estava errado. Passou a manhã inteira focada nisso e só percebeu o tempo passar quando seu estômago roncou, indicando que já era hora do almoço.O telefone em sua mesa tocou, interrompendo seus pensamentos. Ao atender, ouviu a voz autoritária de Thor:— Venha até minha sala imediatamente.Sem tempo para questionar, Celina se levantou e caminhou até a sala do chefe. Ao entrar, ele nem ao menos a olhou, apenas ordenou friamente:— Vá até o restaurante onde costumo almoçar e traga meu pedido.Celina ficou surpresa com a audácia dele e, sem pensar, retrucou:— Como é que é?Thor arqueou a sobrancelha e falou com muita frieza: — Você é surda?Celina respirou fundo para conter sua irritação e respondeu com firmeza:— Não sou surda, senhor. Mas não seria mais prático pedir pelo serviço de entrega?Ele se levantou e se aproximou, ficando a poucos centímetros dela. O olhar intenso de Thor a desafiava.—
As três horas da madrugada, Celina acordou e não conseguiu mais dormir. Estava inquieta, dividida entre duas decisões difíceis: viajar a trabalho ou ir à empresa de seu ex-marido assinar o divórcio. Queria ficar livre de César, mas, ao mesmo tempo, precisava do emprego. Mesmo sendo cada dia mais difícil conviver com Thor, ela sabia que não conseguiria outro trabalho estando grávida e precisava se sustentar. Não tinha família para ajudar e não queria depender totalmente de Tatiana, já estava dando trabalho demais por se hospedar em sua casa A lembrança da foto que viu na gaveta de Thor voltou à sua mente. Será que seu filho já teria um irmão ou irmã? Aquela mulher na foto poderia ser uma irmã de Thor? Movida pela curiosidade, pegou o celular e começou a pesquisar sobre ele. Encontrou vários sites exaltando Thor como um dos magnatas mais ricos do Brasil. Outros abordavam suas conquistas amorosas e noites de luxúria, além de enquetes especulando quem seria a mulher que finalmente prende
Thor entrou no prédio logo depois dela.Sentindo uma onda de ódio percorrer seu corpo, tomou uma decisão impulsiva. Em vez de usar seu elevador privativo, optou pelo elevador dos funcionários, causando assim, uma certa incredulidade aos que já estavam lá, pois ele nunca havia tomado tal atitude. Ele deu um bom dia seco para todos, sem sequer olhar para Celina. A proximidade involuntária, devido ao espaço reduzido, fez com que ela ficasse na frente dele, bem rente, e o perfume dela invadiu seus sentidos. Ele fechou os olhos por um breve momento, tentando controlar a raiva que sentia. Voltou a si quando o elevador abriu as portas saindo o primeiro funcionário. Conforme os andares passavam e as pessoas iam descendo, restaram apenas os dois.De repente, num impulso inesperado, Thor apertou o botão e parou o elevador.Celina o olhou assustada e disse:— O que você está fazendo?Thor a encarou com frieza, sua voz carregada de veneno.— Sua noite foi boa? — Ele perguntou, sem rodeios, sendo
Celina caminhava em direção à porta do escritório de Thor, seu coração acelerado e os olhos ardendo de frustração. Ainda sentia o gosto amargo do castigo que ele lhe impusera com o café. Sua paciência estava no limite, e tudo o que queria era sair dali o mais rápido possível.— Volte aqui. Te dei autorização para sair? — A voz fria e autoritária de Thor a fez congelar no lugar.Fechando os olhos por um instante, tentando conter a raiva, Celina girou nos calcanhares e voltou a encará-lo. Ele se levantou da cadeira e caminhou até o armário, abrindo uma das portas com impaciência. Pegou uma pasta pesada, repleta de documentos, e a entregou sem cerimônia.— Escaneie tudo e suba os arquivos para o backup na nuvem. Mas quero que fiquem armazenados na pasta que só eu e você temos acesso. — Sua voz era cortante, sem espaço para objeções.Celina não disse uma palavra. Seu cansaço emocional a impedia de reagir. Apenas pegou a pasta e saiu da sala com passos firmes, tentando manter a compostura.
A médica parou por um instante com o ultrassom, os olhos fixos na tela do equipamento, como se analisasse algo com atenção redobrada. Celina permaneceu deitada na maca, sentindo o coração acelerar com a tensão do momento. Seus olhos estavam fixos no rosto da doutora, buscando qualquer expressão que entregasse o que estava por vir. Quando o silêncio começou a pesar, ela não se conteve.— Doutora, eu prefiro que a senhora dê logo a notícia ruim primeiro. — Sua voz saiu embargada. — Muita coisa ruim tem acontecido na minha vida, então, por favor, me diga de uma vez.Tatiana, que estava ao lado segurando sua mão, apertou-a suavemente, tentando transmitir segurança. A doutora soltou um suspiro antes de falar.— Celina, daqui para frente, você terá que redobrar seus cuidados com a gestação. — Ela olhou para Celina com seriedade. — Isso não significa que antes não precisasse, mas agora a situação mudou.Celina sentiu o sangue gelar. Seu estômago revirou.— Meu Deus! Meu bebê está doente? — S
Celina permaneceu alguns minutos olhando para a tela do celular, indecisa. A mensagem de Gabriel ainda brilhava no visor: “Topa me ver cantando hoje?” O convite simples e direto fazia seu coração bater um pouco mais rápido. Ela sabia que estava vulnerável, sensível, mas ao mesmo tempo sentia que precisava respirar outros ares, viver algo diferente da dor que vinha arrastando.Foi tirada de seus devaneios quando Tatiana entrou no quarto, com o cabelo preso em um coque frouxo e vestindo um pijama florido.— Amiga, fiz um suco e tem torradinhas com geleia. Vem comer alguma coisinha antes de dormir.Celina levantou os olhos e, meio envergonhada, mostrou o celular para a amiga.— Olha o que o Gabriel mandou.Tatiana arqueou as sobrancelhas e leu em voz alta, com um sorriso malicioso.— “Topa me ver cantando hoje?” — Ela olhou para Celina e completou: — Se for uma pessoa confiável, por que não? Vai em frente, amiga. Você precisa refazer sua vida. É jovem, bonita, inteligente...— Ah, Tatá,
Celina riu, um pouco tímida.— Muito. Você canta com alma... E aquela primeira música... foi pra mim mesmo?Gabriel inclinou a cabeça, olhando diretamente em seus olhos.— Se não fosse, não teria graça. Posso sentar?Ela assentiu, e ele puxou a cadeira à sua frente.E naquele instante, no meio do bar, sob as luzes suaves e o som de um piano ao fundo, algo dentro dela começou a mudar.Gabriel com aquele jeito encantador que tinha, puxou assunto.— Então... — disse ele, apoiando os antebraços sobre a mesa, olhando para ela com aquele sorriso que não se esforçava para ser encantador, apenas era. — Gostou mesmo ou está sendo educada?Celina sorriu de lado, girando o canudo no copo com a pontinha dos dedos.— Você quer a verdade?— Sempre. — disse ele, sem rodeios. — Eu não esperava. Nem pela música, nem... por estar aqui. Tudo foi tão de repente. — Celina respondeu com sinceridade. — Às vezes, o que a gente precisa é justamente isso: um pouco de improviso. — Havia leveza na voz de Gabri
Celina olhou para o teto por alguns segundos antes de responder. Parecia querer guardar cada pedacinho daquela noite antes de dividir com o mundo — ou, no caso, com Tatiana.— Ele me ouviu. E mais do que isso... ele me viu.— Como assim? — Tatiana perguntou, agora mais curiosa do que antes.— Ele não perguntou sobre o César, sobre o que me fez triste ou de onde vinha a dor nos meus olhos. Ele apenas... esteve ali. Me fazendo esquecer. Me fazendo rir. Me fazendo sentir... — ela hesitou, como se a palavra estivesse tímida dentro da garganta — leve.Tatiana sorriu, mas se manteve em silêncio, permitindo que Celina continuasse.— Foi como respirar depois de muito tempo sufocada. Como se o ar voltasse a entrar nos pulmões e eu lembrasse do que era estar viva. — Ela riu, meio sem graça. — E olha que nem foi nada demais... só uma conversa, umas músicas, um brinde e um beijo na bochecha.— Às vezes é isso que mais toca — Tatiana disse, suave. — A leveza. A ausência de esforço. O oposto do que